O Professor Rogério
Capítulo
5
Mais tarde, em 1890, quando surgiu o Ultimatum Inglês, reclamando
para a Coroa Imperial Britânica a posse dos territórios africanos
situados entre Angola e Moçambique, o chamado Mapa Cor-de-Rosa, os
republicanos, que atribuíram a afronta à inabilidade diplomática do Rei
D. Carlos, revoltaram-se no Porto. Dois rapazes de Quinta do Frade que
andavam na tropa viram-se envolvidos. Foram presos, julgados e
condenados – o que incendiou os ânimos na aldeia e dividiu monárquicos e
republicanos, com os primeiros a considerá-los criminosos, enquanto para
os segundos não passavam de vítimas inocentes das circunstâncias.
O
anticlericalismo dos republicanos, cujas perseguições padre António
começara a sentir ainda seminarista, levava-o a afastar-se daqueles que
apregoavam ou praticavam esses ideais. Contudo, havia na aldeia uma
pessoa que se apregoava republicana convicta mas cuja vida era exemplar.
Tratava-se do professor Rogério. Era um homem profundamente apaixonado
pela educação das crianças, tarefa a que se dedicava de corpo e alma.
Enquanto professor, não se limitava a ensinar a ler, escrever e contar.
Queria construir homens de corpo inteiro. Além de despertar nas crianças
o gosto pela leitura, ensinava-lhes também o respeito pela natureza:
aprendiam que a floresta é essencial na renovação de oxigénio do ar que
respiramos. Celebrava todos os anos o Dia da Árvore, levando os seus
alunos a plantar algumas. Na escola, organizava anualmente uma sessão
para premiar os alunos que mais se distinguissem nos estudos. Colaborava
com a Junta de Freguesia na distribuição de vestuário, livros e material
escolar às crianças mais desfavorecidas. Numa palavra, fazia tudo o que
era humanamente possível para cumprir a divisa que apregoava: “A
Escola é o mais poderoso meio de evitar a Taberna e o Vício”.
Contudo,
para padre António era realmente imperdoável que o velho professor
Rogério se afirmasse republicano. Tinha tal fobia aos republicanos que a
sua simples referência o levava a procurar novos argumentos para lhes
denegrir a imagem. Porém o povo, que conhecia bem o professor, não
ligava a isso. Os mais novos tinham sido seus alunos. Todos respeitavam
a sua figura, independentemente de o abade gostar ou não gostar que ele
fosse republicano. Sentiam a importância fundamental do seu trabalho na
formação da juventude da terra e tinham-no, por isso, na mais alta
consideração.
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