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N.º 30

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Junho de 1982 

Os Passos de Ovar

Por Arada e Costa

A devoção dos Passos de Ovar vem da primeira metade do século XV.

Desde a fundação da Casa da Feira, 1452 foi dada pelos seus titulares grande protecção à Irmandade dos Passos e aos mesmos se deve a organização e aprovação da Instituição.

Temos presentes os Estatutos da Confraria reformados em 11 de Setembro de 1727. Abrem com esta cláusula: «E porque esta Irmandade foi erigida com a protecção dos Condes da Feira, que de presente se acham extintos, no caso que pelo decurso do tempo tornem a haver na Casa da Feira, os Irmãos da Mesa serão obrigados a oferecer à sua ilustre protecção esta Irmandade que era costume eleger para protectores dela aos sobreditos Condes; e isto no caso que haja Conde no Castelo e Casa da Feira, ficando sempre em seu vigor a forma da eleição e o mais disposto nos Estatutos».

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Relicário do Santo Lenho
(articulado, em ouro e pedras preciosas)

De todo o bem que fizeram à Confraria oferecendo-lhe valiosas jóias do culto, destaca-se o precioso relicário do Santo Lenho (ver foto anexa) com trinta e quatro pedras preciosas, topázios, rubis e esmeraldas a resguardarem as relíquias, oferta do último Conde D. Fernando Forjaz Pereira Pimentel de Menezes.

As sete Capelas dos Passos, dispersas pelas ruas do velho burgo vareiro, foram iniciadas em 1747, ano em que foi concedido pelo Rei o imposto de um real em cada quartilho de vinho que se vendesse em Ovar e seus termos, cujo produto foi aplicado na referida construção, concluída em 1755.

As figuras, em puro castanho, foram pintadas por mestre António José Pintor, artista de nomeada, natural da freguesia de Válega, a quem o Provedor de Esgueira recomendou se esmerasse na pintura.

Das capelas, únicas no género em Portugal, destaca-se a do Pretório da Matriz, um mimo de arte em talha rocócó, onde predomina, em destaque, os quatro retábulos representando a Oração no Horto, o Beijo de Judas, o Lava-pés e a Última Ceia.

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Igualmente merece menção especial a Capela do Calvário, majestosa e imponente na sua arquitectura, a bem lançada escadaria granítica de largos patamares / 56 / no topo dos seus cinco lanços, o frontispício quase todo de cantaria, onde se abrem em artístico relevo os emblemas da Paixão, o interior, onde impera a cantaria e a talha já referida e, por fim, o monte calvário de numerosas figuras escultóricas, onde domina a imagem de Cristo, uma obra prima considerada por Teixeira Lopes uma das boas maravilhas peninsulares.

Através da sua vida secular tem sido contemplada com muitos legados. Destacamos da sua curiosa história o legado feito em 1780 da quantia de 600$000 reis, feito pelo Piloto-mor da Foz do Douro, Francisco da Silva.

Senhor dos Passos.

Da sua vida de piedade constava o Auto do Descimento da Cruz feito por artistas em Sexta-feira Santa. A procissão de Passos, que ainda se efectua na quarta dominga quaresmal. Esta Procissão, que alcançou justificada fama, outrora era precedida de uma feira onde se vendiam peças de artesanato, ourivesaria e muitos outros artigos. Promove-se ainda a Procissão do Enterro em Sexta-feira Santa.

O Papa Inocêncio X concedeu-lhe graças e privilégios em 23 de Novembro de 1840. Mais tarde, igualmente o fez, 8 de Abril de 1892, o Papa Gregório XVI.

Em 1940, o Governo da Nação decretou que as capelas dos Passos de Ovar eram consideradas monumentos de interesse Nacional.

Ovar, Fevereiro de 1976.

 

páginas 55 e 56

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