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N.º 29

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Novembro de 1981 

Ovar e a sua comarca

Por Arada e Costa

A Câmara Municipal de Ovar, da presidência de António Coentro de Pinho, comemorou condignamente em 1952 o milenário de Ovar e o centenário da Comarca e Concelho.

D. Maria II visitou Ovar em 22 de Maio de 1852. Dessa visita a soberana avaliou o valor desta Terra, o seu manifesto progresso, população e indústria, destacando-se a pesca, a olaria e outras. Nesse ano estavam em laboração 22 olarias.

Sem dúvida, Ovar ficou a dever a D. Maria a sua ascensão administrativa e jurídica, desanexando da Feira e extinguindo o Julgado de Pereira Juzã as freguesias que ainda hoje fazem parte do seu concelho.

A vila de Ovar já tinha a sua emancipação administrativa, com juiz próprio, como centro urbano que era, em 1251. Assim o afirmam as Inquirições de D. Afonso III desse ano e, mais tarde, os Inquirições de D. Dinis.

Cercada em parte pelo verde-escuro dos pinheirais, pelo seu solo serpenteiam férteis ribeiros e o pomar, a horta e a sementeira são um mimo. Banha-a em parte a Ria, esse paraíso edénico, que o poeta chamou de «Bela desconhecida»! Nas suas margens, no lugar do Torrão do Lameiro, fica a graciosa praia do Areinho, onde se encontra conforto e beleza.

Embala-a ainda a canção do oceano ao beijar as areias doiradas da sua praia – o Furadouro – onde o luar é mais brilhante e sedutor, e as dunas cobertas de plantas marinhas estendem-se em sinuoso recorte, parecendo ameias de velho castelo feudal, por onde espreitam moiras encantadas!

Completa o cenário desta praia de encanto a mata, onde se respira a maresia, a resina e o eucalipto!

Até na doçura esta Ovar é pródiga! O Pão de Ló, verdadeiro manjar dos anjos, que as contas das nossas multisseculares Confrarias já na era de 17 a ela se referem.

As tradições aqui não morreram!

O Carnaval, que já vem de há mais de cem anos, em que o povo se divertia a seu modo, representações de autos e exibição de contradanças, deram lugar ao Carnaval dos nossos dias.

Depois vem a penitência e na segunda dominga quaresmal desfila a majestosa procissão dos Terceiros, rica e austera pelos seus quatorze andores e preciosas alfaias. Na 4.ª dominga a importante Procissão de Passos cuja fama percorreu Portugal. Antigamente era precedida de uma feira de oito dias onde eram expostos artigos de ourivesaria e artesanato.

Depois vem a Semana Santa. Na Quinta-feira Maior, alta noite sai o Terro-Terro. Já o viste, leitor amigo? Pelas ruas sinuosas do velho burgo vareiro vai uma verdadeira labareda dantesca. Distingue-se entre as chamas e fumaça dos archotes as silhuetas semi-nuas das imagens do Senhor amarrado à coluna e do Senhor da cana-verde. Espectáculo deslumbrante que a lua cheia espreita por detrás do casario! Na Sexta-feira Santa, aí pelas 7,30 horas vai pelas ruas a Via-Sacra dos irmãos Terceiros. Que parada singela, tão significativa e poética! Ao cair da tarde, filas de homens de opas roxas e círios acesos precedem o esquife. Atrás vem o andor da Virgem encostada à cruz. É o Enterro do Senhor.

Nas noites de 5 e 6 de Janeiro, vivendo uma tradição muito antiga, percorrem as casas trupes de Reis. No princípio deste século, alguns literatos, autodidactas e poetas deram aos agrupamentos um molde cultural e artístico.

Maravilhas de Ovar!

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A situação geográfica de Ovar é de 23º de latitude e 2º,8' de longitude do meridiano de Lisboa. Fica 161 metros sobre o nível do mar. A sua área tem um / 6 / raio de aproximadamente 5 quilómetros. O último censo deu 16004 habitantes. (1)

A balança comercial e industrial é das mais pesadas do distrito.

Do passado, mais do que milenário, não ficaram monumentos a atestar tão grata efeméride.

Brasões, por aqui, contaram-se pelos dedos das mãos. O lema deste povo foi sempre a Honra, Trabalho e Fé.

Pelo trabalho, desbravaram a duna estéril e magriça em prado verdejante e produtivo, levantaram esta grandiosa Terra, tudo obra sua!

Pela Fé aí se vê numerosos templos, Santa Catarina, século XVI, Santo António, século XVII; S. Miguel, século XVIII e muitos outros dentre os quais merece destaque a Igreja Matriz, terceira reconstrução, grandioso templo, de três naves, onde predomina a dureza do granito e a talha renascentista. É ainda digno de menção o altar-mor e o altar de S. Francisco da capela de Nossa Senhora da Graça, obra de 1600, uma beleza da renascença e ainda a imagem da titular, uma relíquia do século XV em pedra, da escola coimbrã.

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OVAR – Capela do Calvário

As sete Capelas dos Passos, únicas no género, consideradas monumentos de interesse nacional, edificadas em 1755 e custeadas pela mercê do Senhor D. João V que concedeu em 1747 o imposto de um real em cada quartilho de vinho vendido em Ovar e seus termos. Este benefício correu durante 30 anos em favor da Irmandade dos Passos.

No campo cultural e desportivo a Banda Ovarense – 1812, Banda Boa União – 1898; Orfeão de Ovar – 1921; Sporting Club de Ovar – 1915 (já extinto); Associação Desportiva Ovarense – 1921; Outros Clubes já extintos, União Sporting Ovarense, Sport Club de Ovar, Estrela Futebol Club, Aliança Futebol Club, Artístico Futebol Club, Avis Futebol Clube e Grupo Desportivo «Onze Verdes». Também extinta a Associação de Socorros Mútuos e Familiar.

Confrarias em exercício: Irmandade de Nosso Senhor dos Passos, Irmandade do Santíssimo Sacramento e Irmandade de Nossa Senhora da Graça, século XVI; Ordem Terceira de S. Francisco de Assis, 4 de Dezembro de 1659.

Temos dois Museus. O Museu de Ovar reúne um vasto espólio de pintura, medalhística e etnografia. A Casa-Museu da Ordem Terceira de S. Francisco, museu de arte-sacra, tem um precioso recheio, imagens, paramentos de brocado e matiz, pintura, faianças e outros valores artísticos.

O Concelho é constituído, além da sede, pelas freguesias de Arada, Cortegaça, Esmoriz, Maceda, S. Vicente de Pereira e Válega.

 

ARADA – Esta freguesia tem dentro da sua área alguns centros industriais de grande projecção. Além disso é essencialmente agrícola. Povoação antiga pertenceu / 7 / à Ordem de Malta não só a sua Igreja como grandes parcelas de terrenos e herdades.

 

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OVAR – Jardim dos Campos

CORTEGAÇA – Freguesia progressiva, industrial e agrícola. Há divergências quanto à data do seu conhecimento.

Mas seja como for, o certo é que ela tem uma história bem antiga, que pela sua originalidade poderiam os estudiosos reunirem em volumes os amores de D. Sancho I com D. Maria Pais Ribeiro – a poetisa Ribeirinha – a quem foram dadas pelo referido monarca grandes propriedades em Cortegaça.

Além do Bussaquinho, um recanto de graça e repouso, Cortegaça tem uma encantadora praia, onde está bem patente o bairrismo de seus filhos. Anualmente, no primeiro domingo de Setembro, realizam a sua típica Festa do Mar.

Faz parte do concelho de Ovar desde 1875.

 

ESMORIZ – A vila de Esmoriz, situada em fértil planície, tem a espraiar-se na sua frente a Barrinha e a sua importante praia.

Centro industrial de largo alcance é uma das mais importantes freguesias do concelho. A sua população é de 7942 habitantes e deixou de pertencer ao concelho da Feira para se incorporar em Ovar em 1875.

 

MACEDA – O bairrismo dos seus filhos levou-os a reivindicar direitos de livre acesso ao mar. A sua maior riqueza é a agricultura. Como Arada pertenceu à Ordem de Malta.

 

S. VICENTE DE PEREIRA – D. Rodrigo da Cunha, 57.º Bispo do Porto, segundo no nome, afirma na sua obra editada em 1623, «Catálogo dos Bispos do Porto», que S. Vicente de Pereira foi doado em 1121 por Paio Diogo ao Bispo D. Martinho Pereira.

Fez parte do Julgado de Pereira Juzã, extinto por D. Maria II em 1852 e incorporado no concelho de Ovar.

Meio rural, do seu solo é extraído o barro branco, caulino, para a confecção das porcelanas da Vista Alegre.

 

VÁLEGA – Em área é a mais extensa freguesia. Rica e próspera na agricultura, Válega orgulha-se do número elevado dos seus filhos que tem subido às mais altas esferas sociais, quer nas letras, medicina e sacerdotal.

Desnecessário será focar pontos da sua história pois é sobejamente conhecida pela pena brilhante do seu dedicado filho, Monsenhor Miguel de Oliveira, sacerdote, escritor e historiador.

Faz parte do Concelho de Ovar desde 1853.

Ovar, Abril de 76.

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(1) – (1970).

 

páginas 5 a 7

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