Introdução a um
colóquio sobre
«Aveiro, Rumo ao
Futuro»
A salinagem ancestral em Aveiro.
Mais de um milénio documentalmente
certificado testifica a existência de uma Aveiro desabrochante – uma
incipiente e indiferenciada povoação alavariense, nascida sob o
signo do sal e, acaso, das suas propiciações.
À ilharga de Salla, e das
salinas dela própria, que o topónimo enganosamente pareceria
sugerir, situava-se Aveiro – quer dizer, Allavario, que ainda era o
nome em desabrolho sem a lima que o afeiçoasse do linguajar
canhestro à fala adulta que hoje subsiste, fonética e graficamente
fixada.
E também a Alavarium dos primórdios
do agregado, e delas germinada, com marinhas de sal, já retalhadas
verosimilmente em quadrículas, como as janelas do céu que nelas quis
ver com seus dons de penetração ultrapassantes dos comuns o artista
Almada Negreiros.
Proporcionavam, desde logo, as
fulcrais salinas, o elemento para temperar as berças e o conduto
parco, ao habitante arribado com o só capital dos seus braços e da
sua vontade de sobrevivência. E, paralelamente, com realçar das
possibilidades gustativas de uma alimentação de monótona composição
e simpleza, lhes vinha dar possibilidades de cura conservante às
viandas dos dias assinaláveis, quem sabe se de cerdo – nessa época
em que, a um tiro de besta, ou pouco mais distância, se adensava
também com sua fauna adomesticada a Mata dos Ursos, cuja
reminiscência subsiste na toponímia de uma povoação do alfoz
citadino.
E instilava um travo espevitador,
esse mesmo elemento que foi o longínquo gene da cidade actual, às
línguas desentravadas do homem que lhe fruía o paladar no caldo e no
pouco mais da apertada dieta – e, por essa via, e na constância
ininterrompida, viria a atiçar-lhe a argúcia para novos misteres, e
perspectivas de mais largo raio, e alguma nova etapa de ambição.
E, naturalmente, acabaria por
transmitir ao primitivo marnoto alienígena, nos cristais que extraía
da água marinha, por virtude de intrínsecos predicados
transcendentes, lucidez e sabedoria. E, através desta, por
conferir-lhe moderação nos eventuais golpes lampejantes do chiste ou
do faceto sarcasmo, e, em identidade com o agente estimulador, a
congregação numa cordialidade fraterna.
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O sal, porventura, conjuga uma dupla
personalidade, como os homens que normalmente patenteiam uma certa
feição à flor da pele e não logram refolhar a que lhes emana dos
esconsos, latente ou latejante, imanente ou em sub-reptícia actuação
constante que se instila, e domina, e comanda. Como um leme
desproporcionadamente minúsculo em relação à nau transoceânica que,
com um curto desvio de ângulo, lhe altera o rumo.
O sal, a par das virtudes mágicas de
que imbui, pode atrair e ser veículo de augúrios malfazejos e reais
malefícios, pela prática de intencional malquerença despertadas. E,
em contraste, admite seus ritos propiciatórios, que dele anulem as
potencialidades deletérias.
A existência de salinas implica a
óbvia existência de quem as amanhasse. O sal, para cristalizar à luz
solar na calidez dos dias estivais, com as brisas do Atlântico –
ainda então não domado pelos nautas lusos – ou os ventos dissecantes
da Meseta, e, para na tremonha cintilar como os diamantes,
necessitava de que os homens o lavrassem com saber, método e
pertinácia, e quase o lapidassem à maneira de joalheiros. Como as
pérolas que precisam de uma ostra, e um grão de areia catalizador
dentro dela, que as gere, e pacientemente lhes dê forma, e,
inspiradamente, o tom de beleza singular.
Antes que as químicas inventassem
processos rigorosos de análise, os salineiros (que chegaram a Aveiro
não se sabe ao certo de onde, nem como, e lhe deram o nome e nela se
integraram), no tacto e nas papilas gustativas se afinaram.
Apuraram-se para deslindar as percentagens convenientes, quer para a
saúde própria e de semelhante, quer para outras habituais
utilizações do sal, dos sódios pretendidos e dos magnésios nefastos,
e para, pelo refinamento de um paladar de apurados provadores e da
sensibilidade táctil, conferir à água, submetida a evaporações
sucessivas, os doseamentos exactos.
Aveiro, terá então exercido a
primeira influência e mutação no homem rude descido da serra pelos
caminhos que o Vouga lhe inculcara.
Ignora-se, salvo Rómulo, o
fratricida de Remo, que a loba dos bons fados amamentou para a
criação de Roma, ou outros casos comparáveis, quem fundou essas
terras antigas que não tiveram um nascimento predestinado e
patrocinado pelos deuses.
A terra escreve ela própria, em si
mesma, a sua história, hora a hora, para lhe podermos ler, ou
soletrar, os sumários de séculos ou milénios de decorrências. Porque
nós, mesmo com os nossos penetrantes e potentes meios modernos, não
lhe alcançamos o pormenor dessa escrita de caracteres extremamente
difusos, e infindos, momento a momento acumulados. Mas tem,
incontestável, a sua história exacta, em que o próprio remexer
representa um mero episódico, epidérmico embora, mas que fica
inscrito.
O homem, esse, deixou lacunas
imensas, no trânsito das gerações, nessas épocas longínquas em que
quase apenas o conhecimento era de outiva, e só oralmente se
transmitia o dia o dia e o pretérito.
E, aqui, neste solo de aluvião,
congregado com matérias desagregadas que os caudais de água
carrearam, e nos quais as próprias areias do mar terão sido
obstáculo bastante para lhes determinar o depósito e a sedimentação,
aqui, o homem não brotou, espontâneo, como as algas. Não há um
«homem vacuense», como há um «homo taganus», por exemplo.
Veio de algures, descido da serra ou
pelas rotas marítimas, sem passaporte, nem carta de chamada – nem
registo de entrada que persistisse.
A terra era branda como uma
alcatifa, ou areia fulva e ainda movediça. Carecia de pedras
perduráveis onde insculpisse alguma memória, e as próprias pegadas,
que se afundavam no solo inconsistente, mais maleável e fluido que o
barro de mais provecta sedimentação, a formação aluvionar,
ininterrompida, as apagava. E as toscas moradias, de torrão e
cobertas de colmo, frágeis e de perecíveis materiais, o tempo as
desfez e lhes apagou o rasto.
Se bem procurarmos a identificação
da gente alienígena ao meia lagunar, de progressivos assoreamentos,
e em crescença sucessiva com a invasão de novos materiais
desagregados, e de chão fofo e dócil, talvez encontremos uma razão
plausível de ecologia humana para a fixação dos primeiros povoadores
do ermo adaptado.
Os pés que entram nesse solo com um
homem a pesar-lhes por cima, como que se afundam. No chão de lodo,
como captadoras antenas ao invés, recebendo uma mensagem. De algum
modo, serão raízes e sorverão o húmus, virgem de humanos rastros. E
a partir do que se embebem originarão seivas de adaptação e
identificação.
Os pés apegam-se, e com eles os
homens que neles se apeiam, e, com os homens, as almas dos homens.
E sempre um esforço se exige para do
lodo os retirar. Ainda quando a água abunda, e lava e escarola, por
um qualquer lapso de tempo se verificou uma adesão e uma osmose, uma
penetração germinadora, um apegar, – um ficar da terra.
Aliás, os espíritos também de algum
modo se assemelham ao barro e também se amoldam. E, com
determinantes comuns, terão sido para eles congéneres os efeitos, na
circunstância em foco.
Os homens que, como o Vouga, e, na
sua senda insinuadora, aqui desaguaram, ou aportaram nesta
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Mesopotâmia atlântica, rasa mas abrigada no mediterrâneo plácido, ou
provindos de mares bravios da Flandres – tanto ou mais que «o bravo
mar da Costa Nova» que por meados do século dezanove ficaria na
retentiva de Eça de Queirós como termo de comparação –, dos
lendários viquingues – que nos teriam deixado elementos de
mestiçagem para esses espécimes superlativamente elegantes, ambíguos
na arquitectura naval, chamados «moliceiros», e que começam a rarear
neste capricho da Natureza que é a Ria – esses homens, fundadores
mas alienígenas, enterraram os pés. Enterraram-nos e prenderam-se à
terra. Colaram-se à terra, como esta se lhes apegou aos pés,
descalços e permeáveis.
O que é menos coeso e duro,
penetra-se sem violência. Como que afaga, e abraça, e vincula.
Na terra de ao rez da água, o peixe
mais que desafia, oferece-se ao mero lançamento de qualquer tosca
rede – a uma qualquer incipiente rede que imediatamente suceda à
palma da mão que recolhe, enquanto a água se escoa por entre os
dedos semicerrados.
E a luz vibrante, que o espelho da
água empoaIhadora, de gotículas lenticulares, superlativa,
potencializadora, empolga como uma hossana, como um hino de alegria
e exaltação.
Ela, a terra rasa, é como a mão –
que terra e mão simbioticamente se influenciam – espalmada, e como
ela aberta. Mostra certas linhas cambiadas em veios de água, com
também a sua quiromancia, a prenunciarem o futuro. A terra, na
horizontalidade desabafada de obstáculos, é, na luminosidade
fulgurante que a exalta, o espiritualizador cantochão da paisagem.
O homem da serra, que no agro
ribeirinho, embebido de humidade e dócil, brande a enxada com
economia de esforço e, agora, aprendiz das fainas da salinagem –
provavelmente de didáctica árabe, na tecnologia que permaneceu com
mínimo aperfeiçoamento até aos nossos dias celeremente evolutivos –
encontrou-se sem limitações de horizontes. E, naturalmente, sem ecos
para suas rogações nas emergências angustiosas, e para as
imprecações bramadas.
O rumor do mar e o espaço sem
entraves deixam descarregar iras, expandir alegrias, elevar preces,
cantar e gritar, mas os sons esvaem-se, alargam-se, diminuídos de
intensidade, em ondulações de cada vez mais largo diâmetro e mais
suave curvatura e não regressam. Não teimam, não perduram. Não
encontram obstáculos a repercutir as vozes – nem a limitar as
vistas.
Não sofreram, esses homens
recém-vindos, a persuasão insinuante dos ecos insistentes e
infiltrantes, que instilam a perseverança e a inabalabilidade. O
berro, a diatribe, a própria oração, sem nada que os devolvesse,
amorteciam no espaço desabafado, e extinguiam-se.
O ambiente que aliás forçará à luta
constante, é antagónico com a obsessão contumaz.
Areja e abre. Volubiliza,
porventura, porque a terra é mole, e a água fluida, e a luz como que
uma imaterialização em contínua instabilidade.
E o homem fala, e brama, e roga,
mas, porque a voz não reverte, não toma as palavras, e as ideias e
sentimentos que elas traduzem, perpétuas como as Escrituras. Não
encontra no eco uma confirmação, e propende, humildemente, para a
convicção de que, na livre natureza sem peias, a expansão do
espírito constitui uma constante e o estaticismo é um contra-senso.
Não cabem neste volitar, nem o meu
cabedal os contém, aprofundamentos. Não topamos, no âmbito a que me
confino, vestígios pré ou proto-históricos que nos habilitem a
considerar um homem, digamos, autóctone, e a caracterizá-lo.
Aliás, a formação de Aveiro e do seu
redor, porque o recorte reconhecido da sua costa o evidencia, é por
demais recente para remontarmos a tão transactas eras.
Tomando mesmo de barato que
pré-celtas ou celtas, ou lusitanos celtizados tenham descido dos
Hermínios, ou da região que os circunda, curiosos, perscrutadores –
e de que um outro elemento neolítico que nos haja surdido em
prospecções efectuadas no nosso derredor nos atestem a existência de
vida humana nessas longínquas épocas – esses núcleos só muito
dubitativamente se poderão tomar como o substrato da população
aveirense.
A gente de Aveiro não tem
significado etnológico próprio. Resulta de um afluxo, provindo de
diversos quadrantes, e de uma mescla. A dolicocefalia dominante não
passa de uma característica geral do país e das raças – se é
legítimo empregar este termo tão indefinido quanto à espécie humana
– que na região estanciaram com maior ou menor permanência.
Das gentes que povoam o Baixo Vouga
– e com maioria de razão Aveiro, seu centro principal e mais aberto
à confluência de migrantes, por via terrestre e marítima – escreveu
lucidamente Jaime de Magalhães Lima: «Etnicamente serão uma
farmácia, copiosamente provida de símplices, nem um só dos quais
poderá já encontrar-se claramente estremado e dominante, tão antiga
é a série de composições e reacções em que anda diluído. Não há
lugarejo onde não se achem amalgamadas as raças vindas dos quatro
ventos da Europa, sem dúvida entremeadas de nutridas brisas de
África». (1)
O citado pensador aveirense, numa
sedutora incursão pelos domínios da etnologia, mais intuitiva que
científica, mas recheada de válidas sugestões, pretende que
/ 40 /
«dois e só dois caudais de diferente cor e diversa substância
alimentam essas multidões (as que povoam o Baixo Vouga): tem um a
veia mãe em Ílhavo, e o outro na Murtosa».
Aos primeiros, da Ílhavo marinheira,
atribui como proveniência «os mareantes que vieram do sul e
aprenderam cedo o caminho de tão vasto abrigo», como era, a
constituir-se ainda, e sempre em evolução – que vimos procurando
incessantemente orientar em nosso proveito – esta «larga baía aberta
ao mar pelo poente e resguardada por montes altos de nascente».
Nos da Murtosa e sua ampla esfera de
penetração considerou os mareantes que arribaram do Norte. E,
doseando-lhes os cruzamentos ambivalentes, acrescentava-lhes «a
visita de um ou outro raro vagabundo que desceu das montanhas e se
quedou nas praias, seduzido pelos regalos e riquezas das cidades».
Aceite-se que, na base de certas
predominâncias de características da gente a ter propriamente como
de Aveiro, a estatura e o porte, a musicalidade da fala e certas
propensões estejam em parcela influente esses dois meios de mais
transcorrente caudal, e a sua junção e caldeamento. Aceite-se, com
alguma reserva. Nem o ílhavo tem pegadas mais remotas na terra onde
se radicou, nem, em épocas recuadas, excedentes que se disseminem
por toda a região que começava a ter algum, ainda que modesto,
significado de geografia física, mas também humana. Na velha muralha
do Infante D. Pedro – o esclarecido e estimulador donatário
quatrocentista de Aveiro – a preferencial designação de porta de
Vagos a uma das entradas na já predominante vila comercial marítima,
indica uma supremacia sobre Ílhavo. Aliás, ainda em meados do século
passado, se discutia, ao pensar-se na extinção de um dos concelhos,
qual das respectivas sedes dispunha de mais convincentes condições
para a manutenção.
Outro tanto se poderá observar no
que respeita à Murtosa, de formação geológica idêntica à aveirense,
e, mesmo não sendo contemporânea desta, de pouco antes de certo na
constituição de um aglomerado que se difunda e dê semeadura
fertilizadora de outros chãos recém-surdidos, a terá precedida.
Aceitem-se, todavia, essas duas
correntes factoriais, se não com predominância de evidência
incisiva, como agentes – talvez, mais exactamente, com influência
recíproca – determinadores, em considerável parcela.
Mas o aveirense – aquele que virá a
ser susceptível como que de uma abstracção de paradigmático
significado simbólico – constituir-se-ia através de mais complexa
miscigenação.
Um porto de mar, e por via dele a
atracção de possibilidades artesanais e mercantis – como, não
obstante a sua tese, o insigne escritor aveirense, não deixou de
considerar – foram sucessivamente criando pescadores e mareantes –
de que seriam uma prova a importante confraria, de feição
corporativa, em que se agrupavam já pelo século XIV, sob a égide de
Nossa Senhora da Alegria – e uma pequena burguesia de mercadores
operosos. Estes, quando não provindos deliberadamente para exercer
um mister já experimentado, de outras paragens, emanariam, pela
propiciação complexiva de novas condições, daquelas profissões e dos
próprios marnotos.
Encontramos, pois, as profissões
marítimas agrupadas na sua corporação – ou o que o mesmo é, na sua
confraria – no século XIV, com sua sede na Capela de Nossa Senhora
da Alegria, ainda subsistente, mas que nós nos esquecemos de
proteger com o desvelo devido não só como uma relíquia histórica,
mas como um documento vivo da nossa evolução social e económica.
Nos tempos em que ainda nem Fernão
Vaz de Agonide teria a piedosa e benemérita magnanimidade de criar a
Albergaria de S. Brás,
(2) nem mesmo existia hospital
público – pois só muito mais tarde, em meados do século XVI, como é
sabido, se fundaria a Misericórdia – os nautas aveirenses, pilotos
das naus e caravelas que desvendaram mares desconhecidos e
comerciaram com portos nacionais e estrangeiros – e os pescadores,
que haviam sido dos primeiros a frequentar os pesqueiros de bacalhau
da Terra Nova, graças à experiência aqui alcançada – mantinham já o
seu hospital privativo.
Colocaram-no sob o patrocínio de
Nossa Senhora da Graça, na chamada capela – há tanto desaparecida
como tantos dos nossos marcos mais representativos de Nossa Senhora
da Graça do Hospital, não está apurado se então erguida, se
preexistente à obra de assistência, predecessora concludente da
mutualidade dos nossos dias.
A gente separa-se. Separa-a a
Ribeira e o seu prolongamento para o esteiro das Azenhas – que ainda
não se enfeitavam com a obsessiva e desajustada maqueação de
paradigmáticas e pretensiosas similitudes venezianas, e, assim, com
a talvez mais eufónica, mas também mais prosapiosa e mais
generalizadamente inexpressiva de canais.
Separam-na e unem-na. Dividem-na e
constituem um traço de união.
De um lado, intramuralhas, dentro
dos espessos muros que o Infante D. Pedro tomara a iniciativa de
erguer para afrontar algum eventual invasor e os vindouros tempos –
e os tempos, e os homens, não obstante a solidez que lhes conferiu
demonstraram no seu desaparecimento quanto as obras materiais são
efémeras –, de um lado, dizíamos, viviam as gentes principais.
Habitavam nobres, a cleresia numerosa da matriz de S. Miguel, os que
à sombra de uns e outros subsistiam, e, ao derredor, os primitivos
oleiros, e, ainda,
/ 41 / num desvão, entre as portas da
Vila e as de Vagos, insulados na segregação que na época se lhes
impunha, os judeus, que as potencialidades mercantes solicitavam.
Para além da outra margem da Ribeira
– hoje chamada Canal Central – lentamente ia surgindo a Vila Nova,
com a gente entregue às actividades do mar ou da laguna, à
construção naval que aquelas exigiam, às fainas do fabrico e
reparação de redes e outros apetrechos náuticos.
Da nítida diferenciação de estilos
de vida e concomitantes gradações sociais, que não apenas dessa como
que fronteira natural formada pelo veio de água, se terá
estabelecido, numa dualidade que não implica restringimentos de
unidade no comum e essencial, a distinção, dos apodos que uns a
outros se jogariam, em propósitos mais gracejadores que pejorativos,
de cagaréus e ceboleiros.
Aliás, a prevalência generalizada a
todos os aveirenses da primeira das duas alcunhas constituíra
demonstração da unidade bipartida, que nem a constituição de quatro
freguesias na segunda metade do século de quinhentos, pelo bispo D.
João Soares – consagrando o desenvolvimento da então vila,
florescente e de mais de uma dúzia de milhares de habitantes –
alteraria.
Socorro-me de Rocha e Cunha, a quem
se ficaram devendo os mais meticulosos e reveladores estudos sobre a
história de Aveiro. O esclarecido e benemérito aveirense observa que
a constituição do cordão litoral, formando a laguna, e com ela um
magnífico porto «criara no litoral de Aveiro condições de
prosperidade e, concomitantemente, determinara o início do declínio
dos portos do norte»
(3). Do norte do país, entenda-se.
Naquela época, como se verifica do
documento que subdivide a primitiva e única freguesia de S. Miguel
em mais três, a vila conta numerosos comerciantes estrangeiros –
ingleses e flamengos na maioria. Plenamente o justificava o intenso
e ininterrupto movimento do porto, e constituía um novo factor para
imbricar a genealogia do aveirense.
Entretanto surgia e aumentava, com
as possibilidades que o porto proporcionava uma burguesia marítima e
mercante, já, digamos, autóctone – que, nesta altura, com todos os
caldeamentos verificados e numa fixação perdurável, o termo toma
propriedade de acepção – já por novos afluxos de gente tentada pelas
perspectivas económicas aliciadoras.
O mesmo ponderado e consciencioso
autor qualifica essa burguesia em progressão numérica e de crescente
importância, como «activa, inteligente, cheia de iniciativa,
conhecedora de técnica comercial pela experiência de gerações, em
contacto directo com o comércio estrangeiro e por via dele com
civilizações mais adiantadas».
(4)
Completa um concludente quadro das
forças produtoras aveirenses desses tempos «com mareantes e
pescadores arrojados, experimentados marnotos, construtores navais
peritos na arte, profissionais de todos os ofícios subsidiários das
construções e armamentos marítimos, artífices de ofícios
indispensáveis à vida urbana, o pequeno comerciante intermediário,
enfim, todos os elementos componentes de uma população intensamente
laboriosa». (5)
E, se a vila concentrara o seu
esforço nos trabalhos e tráfico do mar, a «actividade agrícola da
região circunvizinha, alargando a capacidade de compra – e,
certamente, fornecendo a sua quota parte para o aumento da população
de Aveiro – prestava sólida colaboração à actividade mercantil».
(6)
Dessa colaboração, cessada com as
crises da barra – sobrevindas a partir de 1575 – traduzir-se-ia em
mais imbricadas mesclas, a que um carácter dominante de integração
conferiria, com o renovo de sangue e introdução de genes, os mais
díspares, como que uma especificidade comunitária aveirense.
No cadinho de mil ingredientes, no
rodar do tempo, o homem de Aveiro foi tomando feição para um certo
modo de viver em sociedade, e a sua forma de solidariedade, as suas
usanças próprias, os seus gostos peculiares – e até umas
particulares características físicas que diferenciavam o homem de
Aveiro – o homem e não menos a mulher, tricana ou salineira entre os
dois espécimes, porventura, mais extremados e identificáveis do
ílhavo ou do murtoseiro.
No aveirense, já de cepa local, os
traços seriam menos evidenciados do que naqueles, como em todas as
médias, onde todas as agudezas se esbatem, e, mais temperado por
outros cruzamentos, a que estava notoriamente mais aberto, e mais
polido pelas circunstâncias de meio daí mesmo resultantes, quando
não somaticamente, na maneira de estar no mundo e enfrentá-lo.
Nas vicissitudes calamitosas que a
vila experimentou, e lhe reduziriam, em dois séculos, o número de
habitantes a cerca de uma quarta parte, permaneceram, não os nobres,
nem os burgueses abastados, mas aqueles que mais estavam, apesar das
condições pouco propícias especialmente para eles, estreitamente
ligados às fainas da laguna, então safara e insalubre. Ficou o povo
estreme, o que fundamentalmente constituiria o que Homem Cristo
considerava, dando ao termo extensão despida de rigor científico,
mas indiscutivelmente expressiva, a «raça nativa de Aveiro».
Sigamo-lo, no seu incisivo e
inconfundível estilo de panfletário desprezador de eufemismos:
«...os ínfimos do povo – reportava-se aos meados do século passado –
que restavam da inteligente e forte população do período áureo da
vila, ficaram limitados à missão
/ 42 /
– e vamos que era honrosa – de perpetuar a beleza tradicional da
raça, especialmente a das mulheres, que em todos os tempos fora
memorável». (7)
Confronta-os mesmo com os que haviam
arribado a Aveiro nos começos do ressurgimento consequente à
abertura da Barra Nova, em 1809, por Luís Gomes de Carvalho – os «arribistas»
como os apoda, no seu pendor de etiquetar com alcunhas. E comenta,
com aquele proverbial modo desembaraçado de quem diz as coisas pelos
nomes mais expressivos, e sem papas na língua: «...esses
adventícios, além de brutos, eram feios /.../ verdadeiros ursos,
e da mesma forma as mulheres, perfeitas pandorcas – ainda
conheci algumas – que os acompanhavam».
Descontemos o exagero para relevar o
facto concreto.
E, sem elementos antropométricos,
sem mensurações ou índices deliberada e cuidadosamente obtidos para
comprovar a asserção do penetrante observador, não podemos deixar de
tomar como evidente um certo tipo genérico de aveirense. Ou talvez
dois: um predominantemente semelhável ao homem mediterrânico, de tez
tisnada, olhos mais escuros e cabelos negros; e outro, mais
frequente no Alboi, onde houve uma Rua dos Ingleses, de feição
aloirada, pele mais clara e rosada, olhos azuis ou verdes claros.
Abono-me ainda com o depoimento de
um escritor de ascendência e coração aveirenses, Luís de Magalhães,
numa página das mais belas e exactas, imprescindível em qualquer
antologia sobre a paisagem, os costumes e a gente de Aveiro. Aí
aponta os barqueiros, não apenas pela sua agilidade, mas pela sua
«nobre esbelteza de Iinhas». Fixa-os na sua descrição, «erectos e
firmes sobre a proa do barco, no movimento de lançar a vara, esses
homens parecem de longe, nos seus trajos brancos, serenas estátuas
de mármore, correndo sobre a borda, a percha contra o peito, o tórax
saliente, os rins violentamente dobrados, toda a rija musculatura
das pernas contraída em relevos poderosos». E acrescenta:
«...oferecem por vezes aos nossos olhos essas linhas admiráveis em
que o cinzel helénico fixou, como um cânone imortal, toda a estética
do nobre esforço humano».
(8)
As tricanas – que o polemista famoso
de «O Povo de Aveiro», medularmente aveirense, mesmo quando nos seus
arrebatamentos acerbamente criticava, por amor dela, a sua terra,
classificou, reportando-se à sua infância, pela formosura decantada,
de «lendárias» – o romancista de «O Brasileiro Soares», enaltece-as
em expressivos termos, que lhes fixam a gracilidade e o quase
patrício porte.
Viu-as e descreveu-as «graciosas, de
uma elegância magra e nervosa, marchando num ritmo curto e ligeiro
sobre as pontas das minúsculas e agudas chinelas, e todas esguias em
seus longos xailes caídos, e nas suas longas e compridas saias, que
se lhes colam à linha fina das pernas, como as roupagens de
estatuetas de Tanagras».
São hoje uma recordação de
revivescência circunstancial preparada com finalidades de folclórico
retrospecto, essas tricanas prestigiadoras, expoente aveirense de
beleza feminina. Desapareceram os seus xailes, a seguir às
postergadas mantilhas do século XIX. Foram abandonadas as chinelas,
que, com requintes de elegante equilíbrio, em ritmos de leveza
alada, moviam, apenas sustidas nas pontas dos dedos dos pés,
levitantes e lestos.
As tricanas diluíram-se na massa
uniforme das raparigas, todas iguais de indumentária e de
predilecções e estilo de vida na incaracterização do nosso tempo. O
próprio sangue na tricana, especificadamente aveirense, e a
distinção do porte que constituía um dos seus mais evidentes
atributos, sofreram novas mesclas medianizadoras, destipificantes,
peculiares aos nossos dias, em que o mundo todo tende a tornar-se a
terra de toda a gente, tão rapidamente se difundem e interpenetram,
e uniformizam os costumes e as causas que as determinam, com as
facilidades de comunicações e dos múltiplos motivos de sugestão
generalizados e das mudanças das infixas residências.
Volvamos, todavia, aos barqueiros,
que seriam os ascendentes daqueles que, um quarto de século mais
tarde surpreende na sugestiva plenitude da faina e descreve,
dinamizados, em todo o vigor plástico, como um cinzelador, o poeta
Eugénio de Castro:
(9) «...Não se cansavam os meus olhos de admirar a elegância
nervosa e máscula dos barqueiros, que, tendo por vestuário a camisa
e as manaias apenas, curvados para a frente, retesando as pernas e
fazendo prodígios de equilíbrio, fincavam valentemente na areia a
extremidade inferior de uma longa vara e amparavam a superior com
uma elegância carinhosa de abraço, nela aplicando ao mesmo tempo a
pressão hercúlea dos seus peitos acobreados».
E também ele é suscitado pelas
reminiscências de paradigmáticas obras de escultura: «O ímpeto dessa
atitude fez passar no meu espírito a imagem da famosa estátua que se
vê no Louvre e representa um gladiador combatendo, estátua em que o
seu autor maravilhosamente fixou no mármore a atitude violenta e
instantânea de um belo corpo de homem».
O filho de José Estêvão exprimiria
as suas impressões em equivalentes termos de realce e estabeleceria
um cotejo contrastante: «Se o homem propriamente da água, o
pescador, o marnoto, o mercantel, tem, assim, a elegância flexuosa
de um tritão, o barqueiro – lavrador, gafanhão ou mirão, talvez,
oriundo da Beira e descido das suas montanhas em demanda de terras
melhores,
/ 43 / ostenta, ao contrário, a maciça
e tosca rudeza de um sátiro. É pesado, lento, desgracioso, de
feições vulgares e incaracterísticas».
(10)
Observe-se, num parêntesis, que, em
três quartos de século, a evolução foi muito profunda, e a apontada
diferenciação, rigorosa na época em que escreveu o autor do poema
«D. Sebastião» – Luís Bandarra lhe chamaram, por esse motivo, Eça de
Queirós e outros insignes amigos e homens de letras – diluiu-se com
o tempo e as consequências promocionais do extraordinário caso de
colonização interna espontâneo que na Gafanha se verificou.
Nestes três últimos quartéis, por
influência de uma mesologia geo-social em progressiva evolução, num
local sáfaro (com o esforço do braço humano e o infiltrar do suor
que por via dele brota, transformado e enriquecido através de
enlaces sucessivos), e novos afluxos para novas profissões, tendo
como ponto de partida e mola de empreendimento as actividades
marinheiras e piscatórias exercidas preliminarmente e, em chão
firme, dia a dia mais consistente, a terra, e com ela a gente,
tomaram novos aspectos. E na transposição de características,
promocionária e limadora de rudezas, verificaram-se os efeitos
dessingularizantes.
O gafanhão – ou, talvez, de
preferência o gafanhense, porque o gafanhão, no sentido
sócio-antropológico que se lhe atribuía de tipo humano regional
menos evoluído, praticamente é hoje infundamentado – pode
considerar-se indiferenciado, ou pouco menos, do aveirense ou do
ílhavo, em cujo alfoz jurisdicional e económico se sateliza. Aliás,
esses mesmos, propendem também, e cada vez mais aceleradamente, para
uniformidade que os vem a confundir – no aspecto somático, no cantar
da fala que afina pelos diapasões generalizados, nos trajes e
costumes pré-universalizados, nos gostos que se imbuem,
paralelamente, cada vez mais do estandardizado padrão unímodo,
prefabricado e contagiante.
A seu turno, às tricanas, raparigas
do povo – no intermédio do estreme dele e das classes burguesa e,
ora pela sua gentileza a estas ascendendo, ora, com a idade e
consequente perda de gracilidade e mais predicados para a superação,
revertendo ao genuíno povo de onde provinham – a essas lhes
cantaram, em uníssono, a distinção, a quase patrícia e deslumbrante
gentileza, como um dom e um atributo, os nossos escritores e os
estranhos.
|
Os citados e, por exemplo, Tomás de
Carvalho, lente de medicina e homem de letras, ainda ao dobrar para
a segunda metade do transacto século de oitocentos, quando chama a
Aveiro «Paris Descalço» e nesse símile gradativo as situa como
factor primacial. «Esse tipo imortal da beleza feminina» é o
qualificador que atribui à tricana de Aveiro, e a cuja formosura
considera inexcedida no país. Descreve-a com superlativa admiração
de «olhos vivos, alegres e travessos, dentes de uma alvura de jaspe,
incomparáveis; feições regularíssimas, o corpo estatuário. A tricana
é positivamente um enxerto da Geórgia ou da Circássia».
|
Salineira e tricana – duas feições
do mesmo tipo de beleza feminina. |
E relevava-lhe os dons que a
tornariam famosa: «Agora acrescentai, que, com quanto de uma vida
dura e cortada de trabalho, o seu trato é por extremo polido e
delicado, as maneiras palacianas, o conversar finíssimo e
espirituoso – A tricana é o enlevo dos olhos –. Isto vem da
raça». (11)
A todos excedendo na devoção de
aveirismo exalçante, Alberto Souto tornou-a um cartaz das mais
intrínsecas e significativas peculiaridades etnográficas, pela
palavra escrita e falada, que aprimoradamente cultivava, e
trazendo-a à ribalta em retrospectivos desfiles.
Esses barqueiros, que os escritores
estetas compararam a esculturas gregas, eram os mordomos das
Entregas dos Ramos e das procissões inultrapassáveis de aprumo e
pompa. Os que na borda dos mercantéis tomavam as plásticas atitudes
das estátuas dos mais perfeitos cânones com que os confrontaram, e
na indumentária das horas de gala, com calções, meias altas de seda
e sapatos reluzentes de fivela de prata, com fato impoluto e de
impecável linha, prestavam culto ao orago das festividades
tradicionais com a compostura de palacianos.
E, todavia, reverentes sem
contumélias nem subserviências, em digna e espontânea vertical idade
– a dos mastros das embarcações que governavam e as varas dos pálios
– e erectos sem empertigamento.
Descendiam, aliás, directamente, dos
que não haviam acompanhado o êxodo determinado pelas críticas
contingências da barra e pela penúria delas resultante.
Esses, a par dos mareantes, que
simbolizamos em João Afonso de Aveiro, e simultaneamente com os que
se consagraram às actividades do tráfego comercial haviam recebido
influxos de civilizações diferentes e beneficiado de uma maior soma
emancipante de liberdades. Como lucidamente observou Rocha e Cunha,
a importância social adquirida pela burguesia marítima
assegurava-lho, do mesmo passo que havia «multiplicado as
actividades e criara (nos séculos pretéritos) desafogo e conforto»
e, assim, tornara as veias marítimas centros de aspiração das
populações rurais, que sofriam uma vida dura de trabalho, servidão e
privações.
|
|
A tricana é o «enlevo dos olhos». |
As tendências liberais do povo
aveirense enraízam nessas épocas e firmaram-se, com as mesmas seivas
então sorvidas. O espírito insubserviente, cordato sem doblez,
intrinsecamente insubmisso, mesmo que refreado nas exteriorizações,
cioso da sua independência e dos seus direitos de cidadania proveio
da burguesia emergida do povo, e ao povo se transmitirá.
/
44 /
Quando um dia os intérpretes dos
sentimentos da comunidade na missão de liderança ou os mentores
surgem para a luta, encontram, predisposto, quem os acompanhe, no
povo estreme, num povo que é, em toda a extensão, um somatório de
homens, com consciência e vontade.
Que, perpassando, numa fugaz
evocação algumas das figuras aveirenses de maior evidência,
deparam-se-nos umas quantas das de maior projecção e
representatividade que se não acomodavam aos ambientes coetâneos,
aos costumes em voga, às ideias dominantes, às regras cívicas ou
políticas consideradas convenientes para não abalar a quietude da
apaziguante estagnação.
Por um outro traço, esta ou aquela
atitude ao arrepio das tendências e hábitos prevalecentes, pela
independência de pensar e proceder, tinham o ousio de dissentir. E,
divergindo, a virtude de serem mais efectivamente prestadios ao
comum. Não se poderão, nesse sentido apontar todos os de maior
evidência como homens estritamente do povo, na rigorosa acepção do
termo. Mas podem incluir-se alguns que não pertençam propriamente a
essa escala social nos que, num breve relance se podem apontar como
expoentes da colectividade aveirense genuína, produtos do meio ou
nele integrados, e por ele tomados como inspiradores e paladinos.
Há, decerto, entre os aveirenses
nossos maiores os que afinam pelo diapasão e compasso dos que regem
a governação e o pensamento, e, solistas embora, participam no coro
geral. /
45 /
Assim, por exemplo, Aires Barbosa, o
«Mestre Grego» por antonomásia, lente e lustre da Universidade de
Salamanca, preceptor de príncipes. Apegara-se conservadoramente às
ideias, digamos, oficiais do tempo, que sofriam as primeiras fendas.
Esse mesmo, todavia, para defender o imobilismo do pensamento
radicado, sai à liça e quebra lanças. Não se cala, reponta. Não
deixa correr, aperta os freios e pospõe obstáculos, que suporá
irremovíveis, às novas correntes desgarradas. É do seu tempo,
integralmente, e não vislumbra o futuro de que apontam os arrebois,
mas corre como que uma cortina para não ver, nem deixar que se veja
uma nova aurora, com novas luzes mais cintilantes.
Já no Padre Fernão de Oliveira (ou
Fernando de Oliveira, como alguns autores preferem chamar-lhe), o
homem que primeiro codifica em letra de forma a linguagem
portuguesa; não só o nosso primeiro gramático (1536), mas quem pela
primeira vez, segundo tudo faz crer, estabelece em vernáculo as
normas técnicas de construção naval – com o seu «Livro da Fábrica
das Naus» – e as da «Arte da Guerra no Mar», na qual lhe cabe também
o primado cronológico, e não apenas o rasgo de algumas ideias
inovadoras mas a penetração de percursor de outras adoptadas em
nossos tempos –; esse vulto a que não tem sido dada a merecida
posição, pelos apontados apanágios, supor-se-ia um homem de regra
estrita. Imaginar-se-ia um homem de medida, de horário, de rigores
de disciplina e era um irrequieto, multímodo e versátil nos seus
gostos predilectos.
Nautógrafo meticuloso, pioneiro
nessa como nas apontadas e díspares especialidades em que se mostra
penetrante e douto, foi como, expressivamente o retratou o seu mais
aprofundado biógrafo:
(12) «Filólogo como João de
Barros, aventureiro como Fernão Mendes Pinto, perseguido pela
Inquisição como Damião de Góis, navegador como D. João de Castro,
porventura o único dos escritores de arquitectura naval do seu tempo
e do seu país, ele tem além disso para recomendá-lo à consideração
da posteridade uma vida tão cortada de peripécias, que constitui um
verdadeiro romance. Foi clérigo e foi soldado, foi marinheiro e foi
diplomata, esteve prisioneiro em mãos de ingleses e em mãos de
turcos, gemeu nos cárceres do Santo Ofício, teve relações com homens
eminentes do seu século...»
Para além de todas essas facetas,
teria alguma vez enveredado pela espionagem. Permeável a
heterodoxias, não se peja, sacerdote que é, de trajar como os leigos
e, para maior escândalo e transviação, como a inglesia dissidente.
Não alinhava, nem tinha relego na
língua. Aos próprios inquisidores incomplacentes, que o chamaram a
prestar contas de imprudentes escorregadelas suspeitas de heresia, e
o tiveram a aboborar as ideias nos cárceres onde punham de molho e
amoleciam os entendimentos tresvariados e empedernidos, respondia
com cauta e calculada moderação, mas algumas vezes sem ladeantes
subterfúgios e acutângulo.
Observa-lhe e realça-lhe esse traço
de temperamento o autor atrás citado:
(13) «O carácter irrequieto e
pouco maleável de Fernando de Oliveira /.../ afigura-se incompatível
e duplicidades a que obriga a profissão de espia. Veremos com efeito
em vários pontos da sua vida, e sobretudo no processo inquisitorial,
provas de uma franqueza quase temerária nas circunstâncias realmente
ameaçadoras que atravessava. Nas próprias obras de erudito clérigo,
destaca-se a cada passo o propósito firme de dizer a verdade a
respeito de tudo e contra quem quer que seja».
Outro aveirense – cavaleiro «talabrico-Iusitanus»
se diz ele, no abrir de um chorrilho de honrosíssimos títulos com
que acompanha o nome na portada da sua «Mineralogy», a quem um dos
seus biógrafos, revalorizador do seu nome injustamente deslenderado,
chamou «um trabalho beneditino», frisando que o elaborou, sem pensar
em auxílio ou remuneração ou mais exactamente, para se servir da
própria prosa do biografado, «With hopes either of a pecuniary or
even honorary nature» – podemos, para a circunstância, relevar.
/ 46 /
E afirmava-se, daquele modo,
aveirense, numa obra escrita e publicada em Inglaterra e para correr
mundo, mais de meio século depois de ter deixado a terra natal, e de
arejar, e enriquecer incessantemente a bagagem científica nos meios
europeus mais evoluídos e de certo para um homem de curiosidade
aberta e ávida, mais apegadores e proveitosos – o cientista João
Jacinto de Magalhães
(14), a quem nos queremos referir.
Também era clérigo, entrado muito
jovem para a congregação dos cónegos regrantes de Santo Agostinho.
Mas, como a propósito de Frei Luís de Sousa, manifestava, ao
prefaciar-lhe uma edição francesa da «Vida de Frei Bartolomeu dos
Mártires, a sua fundamentada condenação pelo modo imadurecido com
que se faziam os votos religiosos.
Ricardo Jorge,
(15) no estudo biográfico que lhe
dedica, observa que «não se lhe ajusta o hábito, e tanto aporfia
pelo despir que da Cúria romana alcança breve de secularização;
mudava o hábito de Agostinho pela batina vulgar, um pouco mais
elástica. Mas a inquietação do seu espírito não se apazigua com a
anulação dos votos e a troca de vestimenta; não se satisfez,
enquanto não mudou de terra».
E retomando o mesmo mote, na
evocação da profissão do mesmo Manuel de Sousa Coutinho, esse
insigne mestre de medicina e prosador, acrescentava: «Treme neste
trecho o cérebro rebelde que sentia sobre os lobos através do crânio
a úlcera insanável da coroa aberta. Erguia-se dentro dele o espectro
de Frei João de Nossa Senhora do Desterro. A batina, mesmo do «abbé»
o apertava nas costuras, até que um dia de sufocado a rasgou,
atirando os farrapos às urtigas da heresia».
(16)
Do século de Verney ou Ribeiro
Sanches, com quem manteve relações de amizade, que não apenas no
âmbito da ciência, e do acerado Cavaleiro de Oliveira, como eles
estrangeirado, não divorciado das humanidades, mas especialmente
voltado aos nossos métodos e descobertas científicas, surde-nos
também dissonante da massa monocórdica, de ideias e certezas que lhe
bastavam.
E aparece (esse de quem Ricardo
Jorge diria: «A tanto trabalhar, lutar e sofrer, pôs termo a
redenção biológica da morte: /.../ o português desterrado, o neto de
Magalhães, o frade de Aveiro, o académico cosmopolita, o físico
experimentador, o naturalista consumado, o cientista ardente
expirava sábia e santamente, longe e bem longe do cérebro e do
coração da pátria»)
(17), nesse século XVIII em que Aveiro entra no pendor
acelerado para a sua mais grave crise.
A vila – só lá para depois de
passada a meia centúria setecentista erigida em cidade –
atravessava, desde o século anterior, um período de desdita, de
retrocesso indetível, de decadência desalentadora, e se bem que
guardando as latentes energias ressurgidoras, entregava-se às
preces, às procissões e penitências, às construções de novos
templos. Ao mesmo tempo, porque de esperança mais forte, fidelidade
mais firme e raízes mais fundas, nessa época, em que se roga do céu
o que a terra nega, os que permaneceram criam tradições como as das
Entregas dos Ramos, e, a par dos torneios da fidalgaria que resta e
se exibe no Rossio de S. João em pomposos torneios de equitação,
nalgum dia em que dominam os prolongados sentimentos de desdita,
aprimoram as arruadas, mas agasalham-se nos gabões – como que um
traje talar de remota inspiração monástica, de cultuação, nos
costumes locais generalizados, ao primeiro berço.
Aveiro é para João Jacinto de
Magalhães um meio demasiado sáfaro para os latentes anelos e
propensões de dilatar e divulgar os conhecimentos, logo mesmo que
desabrochantes: da Química moderna, que tivera como grande obreiro
Lavoisier, com quem manteria contactos; das experiências de Volta ou
de Priestley, ou dos mais famosos sábios do tempo, com quem se
corresponde de igual para igual, de quem recebe e a quem fornece
informações, dá conta de seus próprios trabalhos – e exerce, e
recebe, e esclarecidamente a aceita, a crítica dos seus pares.
Não era homem propriamente do povo,
mas, para lhe criar novas condições, na ciência e suas aplicações
práticas trabalhou infatigavelmente, sem arrefecimento apesar das
dificuldades de recursos com que se debateu, mormente nos finais da
vida tão laboriosa e prestadia.
Se não era de origem popular, o
sangue dos mareantes, dos desvendadores das decisivas rotas
marítimas, de proveniência aveirense, e assim, de uma terra de onde
saíram pilotos e outros nautas para darem a sua quota parte às
tarefas dos descobrimentos, andava-lhe nas veias.
Este gentilhome portugais,
«uma verdadeira celebridade, notabilizada e autenticada no mais alto
meio científico do seu tempo» – sobrinho trineto do circum-navegador
Fernão de Magalhães – não teria autêntico cerne aveirense, mas seria
um expoente do espírito de Aveiro.
A terra natal, para as suas
aspirações de saber e comunicar, com o sentido largo da
universalidade da ciência, era mesquinho canto estiolador, mas o
próprio país, quedo e satisfeito, na época, com a sua ignorância
suficiente para a rotina, estreito de vistas e iniciativas, não
correspondia às suas exigências intelectuais. Deixa o país, para o
ilustrar. O país, aliás, a que nunca negou o seu contributo, mas que
julga esterilizador e sem o mínimo de condições para desenvolver as
suas actividades predilectas.
/ 47 /
Poderia mencionar, se não fosse
despiciendo numa tribuna aveirense falar dos homens de 1828, Joaquim
José de Queirós ou Gravito, Clemente de Morais ou José Henriques
Ferreira, rebeldes por generosidade de ideais, e a gente humilde que
os secundou.
E, depois, José Estêvão, o expoente
maior das tendências do meio natal, estímulo e símbolo, figura
tutelar-patrono cívico de Aveiro, como é costume chamar-lhe –
campeão audaz e inquebrantável das regalias populares e do progresso
da sua terra, orador insuperável e soldado intrépido, sempre na liça
e na primeira fila. Com ele, na sua cola, gémeo nas ideias, nas
lutas e nas contingências delas, Mendes Leite, o homem que fez
vingar a abolição da pena de morte por crimes políticos, também
precursor, também condenador do sediço e propugnador do pensamento
novo.
E, mais para cá, poderia citar esse
aveirense estranho, medular, quase patologicamente independente,
Augusto Soromenho, que, de guarda-barreiras – como o designou Camilo
quando se desavieram – chegou à cátedra universitária, eriçado de
espinhos, que não poupava os próprios amigos a quem mais devesse se
acaso cometiam algum ligeiro desvio do que tinha pelo recto caminho.
Esse aveirense com um quase doentio
conceito de dignidade, que sobrepunha uma farisaica noção do dever
às normas e inclinações de afecto e gratidão, rebarbativo e
implacável na animosidade, interveniente nas famosas Conferências do
Casino, como autor de uma delas, mostra-se em todo o sentido, o
homem que não vai na corrente, que a ladeia ou defronta, nas ideias,
e nos gostos, e nos actos, à custa mesmo dum azedume constante que o
infelicite.
E, naturalmente, logo depois, e
ainda acima, ressalta a alusão ao refilão-mor, o mais agreste dos
fundibulários nacionais e, como, por exemplo, o qualificava Raul
Brandão, «o maior jornalista português do seu tempo», o
desmancha-prazeres sem contemplações, que dizia às escâncaras, sem
papas na língua nem eufemismos o que os outros teimosamente
cochichavam a furto, o derrubador de mal alicerçadas reputações, a
voz mais colérica, que seguiu na esteira, e superlativou, até a
extremos para que ninguém tinha fôlego para o acompanhar, o que está
na tradição psicológica da gente da sua terra, à qual tão benemérita
e devotadamente serviu – o panfletário Homem Cristo.
Foi o mais independente dos
jornalistas portugueses da sua época de renhidas pugnas de Imprensa,
que não só o mais ardoroso, e ao mesmo tempo – homem de Aveiro
medularmente, esse singular homem de «O Povo de Aveiro»; foi o
doutrinador e polemista mais transparentemente acessível ao povo, do
qual se comprazia em dizer que provinha e a cuja promoção
praticamente consagrou toda a sua vida de pelejador sem quartel.
E para referir apenas as figuras
neste aspecto de identificação com o comum dos conterrâneos,
poderei, citar, para finalizar, a própria padroeira, aveirense de
adopção, na sua humildade, na sua renúncia aos esplendores da corte
e prerrogativas de sangue, a Santa Joana Princesa que, a seu modo,
foi inabalavelmente revel. A sua vinda para Aveiro, vila pobre e
refece, segundo os qualificativos depreciativos da cronista da
virtuosa vida da irmã do Príncipe Perfeito, significa uma vontade e
uma atitude de liberdade de opção, de independência serena mas
pertinaz, intransigente com a adversa vontade de dois reis – o pai e
o irmão – e contra o declarado, quase peremptório parecer da
população do reino. Este considerava a Infanta da corte, de acordo
com os soberanos, e os conselheiros e áulicos, e os próprios
prelados de melhor aviso, como ao reino vinculada, como reserva que
assegurasse a continuidade dinástica.
Lutava, para realizar os seus
anseios pessoais, a que tudo e todos procuravam impedi-la,
postergando os direitos individuais a favor das eventuais
necessidades do país, contra os próprios habitantes da vila de
Aveiro, de que era donatária. Acima do que representava a sua
presença, e as repercussões dela, de que podiam blasonar e
beneficiar, e dos seus próprios conceitos de liberdade individual,
situavam as conveniências da Nação. Verifica-se, assim, um caso
flagrante de resistência às imposições, no voluntário
enclausuramento cenobítico da filha do Rei Africano, da brandura que
não quebra, e do triunfo da liberdade de cada um dispor do que é o
seu direito pessoal.
Também a Princesa-Infanta, aveirense
de adopção, que Aveiro estimava como a sua «Lisboa, a pequena», e de
quem a gente de Aveiro tomou o patrocínio religioso, nessa recusa de
anuir a ditames contrários à sua consciência, exprime e fortalece
essa faceta do carácter da gente da terra onde se acolheu, e morreu,
e é objecto de veneração.
Mas de rebeldia, com fins
anti-rotineiros, de arejamento e objectivos de renovação construtiva
é exemplo flagrante esta mesma prestimosa colectividade, este tão
estremadamente aveirense Clube dos Galitos – sob cuja égide foram
redigidas estas linhas e que nos sumaria e connosco, aveirenses, se
identifica no que nos é comum de afeição e afeiçoamento à sua e
nossa terra.
Nasceu de uma dissidência
congregadora, aveirense a fazer Aveiro mais Aveiro, mais
caracterizada e inspiradora de devoção, com elos novos e mais
fortes, e enleadores, assente nas tradições e nos costumes e numa
colectiva psicologia de uma gente
/ 48 /
conscientemente livre, e que sem arrogâncias nem intolerâncias, nem
excessos de temperamento, pode calar as tendências temporariamente,
mas não abdica.
O Clube dos Galitos, que pode
apontar-se como um exemplo de gregarismo prestante, nasceu da
rebeldia contra a inacção, a incapacidade empreendedora ou a
repetição até à saciedade das mesmas realizações insignificativas.
Fez da cisão um aliciamento e da divisão um elemento unificador.
Persiste e torna renovados e mais promissores alentos de propulsão.
E não se substitui a nenhuma entidade nem a qualquer usurpa a função
e a representatividade. Exerce a sua e tempera-nos as fibras do
aveirismo escorreito.
E esse é o papel que a cada um e a
todos os aveirenses compete desempenhar, nesta parcela do país e do
mundo e a que mais fortes ou mais ténues laços os ligam.
O tempo das duas freguesias e das
instituições rivais aos pares – clubes e bandas; corporações de
bombeiros e irmandades; dois Senhores dos Passos a olharem-se,
malquistados, de soslaio; de cá e de lá das pontes; de cagaréus e
ceboleiros – perdeu o sentido, quando a cidade na proporção em que
se expandiu, reduziu as distâncias e diluiu as distinções. A cidade
é o denominador comum da sua população.
Não deverá, de certo, sem se trair,
prescindir de quanto identifica o homem, no que tem de particular e
o torna aveirense. Porque apenas uma razão existe, como
reiteradamente venho frisando, para que as terras tenham um nome
individualizador, e não sejam seca e inexpressivamente designadas
por um número – para que possuam e preservem a sua fisionomia e as
suas peculiaridades, o seu estilo e a sua personalidade.
Para Aveiro permanecer como tal,
necessita que os aveirenses não se desnaturem nem a destipifiquem.
Que tão pertinazmente a mantenham no essencial, como a refaçam, e
actualizem, e encaminhem para um futuro de reacrescedora
prosperidade. E tenham sempre presente o que a sua terra representa
de luta, de perseverança contra as vicissitudes. Aveiro cresceu e
caiu em ruínas. O seu homem – «se a ria adoece, o homem
adoece com ela», como observou Raul
Brandão, nas páginas que sobre ela escreveu, com as tintas dela
arrancadas, e da luminosidade que sobre ela se derrama – perdidos os
traços urbanos atestadores do passado, perseverou; restabelecida a
terra, restabeleceu-se, realentado, e não a deixou extinguir –
refê-Ia.
Perdeu quase os vestígios da época
de esplendor – da era de quinhentos em que terá sido mais compósito
o caldeamento do homem aveirense – e, assim, muralhas, templos,
casas nobres, e, em larga parte, mosteiros.
Mas o homem de Aveiro, o mais
humilde talvez mas o que garantiu a continuidade – refê-la, com
efeito, nova e, todavia como que é permanente e essencial: a água, a
luz, a proximidade do mar, que são dons gratuitos mas cumpre não
desprezar; e as insinuações que daí resultam para o sentimento e a
vontade; e uma maneira de ser e agir com uma transparecedora
singularidade, mais de sentir que de definir; e nas relações das
gentes. Na fisionomia que lhe imprimiu, por intuição ou deliberado
propósito de cumprir as obrigações de fidelidade filial, ao longo do
ressurgente século XIX, actualizou-a, e, na modéstia dos recursos de
que dispunha, manteve-se com a sua feição própria, inconfundível.
Ao homem de Aveiro de hoje nada
mais, pois, se exigirá do que, sendo do seu tempo – e neste dispondo
dos meios muito mais poderosos – siga e cultive o exemplo que lhe
foi legado, e não perdeu, intrinsecamente a validade, mudadas embora
as circunstâncias.
Mesmo quando o próprio signo do sal
tende a perder o significado vivo e marcado de progenitura e de
singularização panorâmica, e de oficina estatuária de homens
sadiamente verticais, somática e espiritualmente; e os barcos trocam
as velas silenciosas pelos motores ronronantes, e os remos
propulsores, a favor ou contra a maré, se abandonam – e com eles
aquela expressiva legenda da genealogia do genuíno aveirense, que
«ou rema ou remou» – e não há gabões nem há tricanas, e se esfumam
costumes. Aveiro persiste, personalizada, e os aveirenses continuam
aveirenses. E solidários, membros de uma comunidade, com o
sentimento do que ela tem de igual a todas e de todas distinta, e
apegados, quase devotos da sua terra.
______________________
NOTAS
(1)
– Jaime de Magalhães Lima – «Os Povos do Baixo Vouga»,
1968, pg. 25.
(2)
– É do ano 1582 o breve do Papa Paulo III que acede à criação desta
AIbergaria, com seis camas, para pernoita de passageiros pobres, a
que se forneceriam medicamentos se deles tivessem necessidade.
(3)
– Rocha e Cunha – «Relance da História Económica de Aveiro»,
1930, pág. 11.
(4)
– Idem, idem, pg. 16.
(5)
– Idem, idem, pg. 16.
(6)
– Idem, idem, pg. 17.
(7)
– Homem Cristo – «Notas da Minha Vida e do Meu Tempo»,
I, pg. 64.
(8)
– Luís de Magalhães – in «A Arte e a Natureza em Portugal»,
transcrito no «Guia de Portugal», 3.º voI., pág. 508.
(9)
– Eugénio de Castro – «Cartas de Torna Viagem», VoI. I, pág.
242.
(10)
– Luís de Magalhães – L.º cit.
(11)
– ln “Campeão do Vouga”, n.º 58, de 31-10-1852, artigo intitulado
Aveiro no Circo.
(12)
– Henrique Lopes de Mendonça – «O Padre Fernando de
Oliveira e a Sua Obra Náutica», Lisboa, 1898, pg. 2.
(13)
– Ob. cit., pg. 6.
(14)
– Nasceu em Aveiro a 4-11-1722 e foi baptizado na desaparecida
matriz de S. Miguel a 22. Morreu em lslington, nos subúrbios de
Londres, a 7-2-1970.
(15)
– Amigos do Ribeiro Sanches» (Y. H. de Magellan), Separata da
«Medicina Portuguesa», 1910, pg. 6.
(16)
– Ob. cit., pg. 10,
(17)
– Ob. cit., pg. 25.
(18)
– Raul Brandão – «Memórias». Vol. I, 2.ª ed., pg. 247. |