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N.º 4

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1967 

 

As «Janeiras», as «Pastoras» e os «Reis»

Pelo Dr. António Tavares Capão

Professor do Liceu Nacional de Aveiro

(Continuação do número anterior)

PERSONAGENS

Baltazar

Gaspar Belchior

Anjo

Cabo da Guarda

Herodes

Secretário

Pastores

 

ENCONTRO NA CANTALEIRA (1)

 

BALTAZAR – Quem és tu?

GASPAR – Eu sou o Gaspar, o rei da Pérsia, o senhor da Média (2); um sinal de Deus me veio anunciar a vinda do Senhor e é quem eu procuro para ir adorar.

BALTAZAR (para Belchiôr) – E tu quem és?

BELCHIOR – O rei da Líbia, senhor imenso. Na minha pátria também eu vi um sinal de Deus, porque foi visto pelos meus avós e é quem eu procuro para ir adorar.

BALTAZAR – Bem sei que estamos todos para o mesmo fim; seguimos aquela estrela que nos conduzirá ao nosso destino, para que os nossos desejos se cumpram.

 

Fala o anjo da estrela.

ANJO – Pastores e pastorinhas, venho trazer-vos a notícia que, na cidade de David, nasceu o Messias, o criador, o salvador de todo o mundo.

Vinde, vinde, que o deveis encontrar em pobres palhas deitado; seguimos todos esta estrela e vamos todos adorá-lo.

 

Depois seguem todos em direcção ao palácio de Herodes. Chegada ao palácio; brado de armas.

 

CABO DA GUARDA – Quem sois vós, majestades?

Os TRÊS – Três reis do Oriente.

BALTAZAR – Em que país nos encontramos?

CABO DA GUARDA – No país de nossa real majestade rei Heirodes.

BALTAZAR – Diz-lhe que estão aqui três personagens que desejam falar a Vossa real majestade (3).

CABO DA GUARDA (bate à porta do palácio de Heirodes).

HEIRODES – Quem está lá, cabo da guarda?

CABO DA GUARDA – Cabo da Guarda.

HEIRODES – Que desejais?

CABO DA GUARDA – Estão aqui três personagens que desejam falar a vossa real majestade.

HEIRODES – Pergunta se vêm para paz ou para guerra?

CABO DA GUARDA – Vêm para paz ou para guerra?

OS TRÊS – Para paz.

HEIRODES – Examina-os bem, Cabo da guarda, se vêm armados ou desarmados!...

CABO DA GUARDA – Apenas trazem três espadas.

HEIRODES – Então que se aproximem.

 

Depois Heirodes abre a porta e fita-os.

– Quem sois vossas majestades? (4)

OS TRÊS – Três reis do Oriente.

HEIRODES – Quem és tu?

GASPAR – Eu sou Gaspar, o rei da Pérsia, o senhor da Média; no meu país que é distante, foi visto um sinal do Senhor. Uma estrela divina nos veio anunciar a vinda do Redentor do Mundo, como nos tinha sido predito pelos profetas. Fomos seguindo essa estrela até chegarmos ao teu país, onde deve ter nascido o homem por que há quarenta séculos, espera o mundo inteiro. Diz-me se sabes onde nasceu essa criança, para lhe oferta mos o nosso incenso, o nosso ouro e a nossa / 56 / mirra, e podermos adorá-lo como nosso Deus que é, o Redentor do Mundo.

HEIRODES – E tu?

BELCHIOR – Eu sou o Belchiôr, o rei da Líbia, senhor imenso. É árido o solo da minha Pátria, que purifica os espíritos e calcina as almas. É lá que os meus vassalos vão caçar as feras dos meus sertões; não precisam de ser trazidas para os circos, porque assim poderão viver sem mortificar. Os homens da minha cor são tão dignos como os imperadores de Roma; na minha pátria também houve um sinal de Deus, porque foi visto pelos meus avós. Agora, grande rei, dizem-nos ter nascido um menino que é o Salvador de todo o mundo; ensina-me, pois, o caminho, porque o quero ir adorar (5).

HEIRODES – E tu quem és?

BALTAZAR – Sou Baltazar, o rei da Arábia, desse grande país que separa o Egipto da Ásia pelos lados do Oriente. Os homens do meu país são grandes sábios e grandes guerreiros. É lá que os romanos vão buscar os seus cavalos e os perfumes para ungirem os seus mortos; tudo no meu país é grande e majestoso.

Foi lá anunciado pelos profetas a vinda do Senhor; (6); e uma estrela divina, com o seu brilho incomparável, até hoje desconhecida pelos meus astrólogos que todos os dias estudam a imensidade dos céus, anunciou-nos o nascimento do Messias e indicou-nos com o seu clarão o caminho que me conduziu ao teu país. A essas longínquas passagens (7) de onde venho guiado pela minha fé e pelo sinal do Senhor, tem chegado a fama do teu despotismo, Tetarca (8) da Galileia. Desmente-me com um gesto só essa calúnia que assombra a tua grandeza. Diz-me se sabes onde nasceu o Redentor do mundo. Eu acredito na tua palavra de rei e seguirei as tuas determinações, porque estou no teu país. Mas não me mintas, rei da Galileia, e diz-me onde nasceu o Messias, porque o quero ir adorar.

HEIRODES – Enganastes-vos no caminho, reis do Oriente. Não é neste país que deveis procurar esse menino de que me falais. Eu sou o Tetarca da Galileia senhor absoluto das doze tribos de Irrael, por graça suprema de Octávio César Augusto, imperador e Senhor dos Romanos.

Neste país, desde o Tigre ao Ofrates (9) desde o Jordão ao Mar Vermelho, o único rei senhor, sou eu. Faço dispor da vida dos meus vassalos, das suas riquezas e das suas mulheres, para que ninguém tente usurpar um poder que só a mim pertence.

Mas, visto vós me afirmardes que neste país nasceu um rei, eu vou inquirir quem foi esse rei que nasceu e depois vo-lo direi. No entanto vós, segui, eu não quero perturbar a vossa fé; segui o caminho que vos indiquei, que vos conduzirá até onde, suponho esteja, o anunciado pelos vossos profetas. Essa estrada que atravessa todas as cidades de Irrael vai entrar em Roma pela Via Ápia e assim deveis encontrar o que procurais.

Cabo da guarda... Chama-me o meu secretário.

CABO DA GUARDA (Vai chamar o Secretário).

HEIRODES – O meu secretário vai ler um édito que publicou com autorização de Octávio César Augusto, cuja execução imediata fará aumentar muitíssimo o senso da população – Secretário, quero que leias o código da lei na presença destas majestades.

SECRETÁRIO – Heirodes Amen, Tetarca da Galileia, senhor de todo o mundo, intima todas as mães de Irrael que tenham meninos de leite até à idade de dois anos, que os apresentem no seu palácio, para que entre eles seja reconhecido o Messias que os profetas anunciaram há perto de dois mil anos. Para que estas determinações se cumpram, intima todos os leitores e escrivães e centuriões para que façam chegar a justiça a todos os tribunais.

Heirodes Amen, Tetarca da Galileia.

BALTAZAR – Agradeço as tuas palavras, grande rei; diz-me também, como, num país tão vasto, podeis descobrir entre tantos meninos de mães hebraicas aquele que o Senhor de Messias e Abrão (10) destinou para remir o pecado de Adão, nosso primeiro pai...

HEIRODES – Agora segui o caminho que vos indiquei e que os vossos desejos se cumpram; se o encontrarem, vinde-me dizer, porque eu também o quero ir adorar.

(Heirodes fecha a porta).

Os três reis seguem à procura da estrela, e pouco depois voltam defronte ao palácio de Heirodes onde fala Baltazar.

BALTAZAR – Heirodes... Heirodes! Traíste a palavra dada; mentiste, Rei da Galileia, mentiste à nossa fé. Heirodes. Heirodes! Tu sabes onde existe o grande rei; o Redentor do mundo. Acusa-lo traidor, mas o poder do Senhor ofusca a tua tirania e tu vingas-te, mentindo aos reis do Oriente.

Aparece a estrela e ele continua:

– Bendito o Senhor que nos guia com a sua luz. Heirodes, Heirodes, diz-me o que fizeste a teu filho Antipas, mas não mintas ao Senhor teu Deus.

Enfrenta com os pastores e diz:

– Avante, companheiros, por Deus e pela nossa fé.

Depois o cortejo dirige-se para a Igreja onde o Anjo canta pela segunda vez.

 

                    JUNTO AO PRESÉPIO, NA IGREJA: (11)

GASPAR:

Eu vos ofereço o meu incenso e a minha mirra

Do meu poder e tesouro;

Rainha dos Céus e da terra,

Eu vos ofereço o meu ouro.

/ 57 /

BELCHIOR:

Este tributo de amor,

Doce mãe, recebereis,

Que o meu vassalo vos of'rece

Ao filho, o rei dos Reis.

 

BALTAZAR:

Jesus, Redentor dos homens,

Filho de eterna pureza,

Aceitai este tributo

que vos traz a realeza. 

 

OS «REIS» NA BORRALHA

CONCELHO DE ÁGUEDA (12)

O manuscrito da festa dos Reis da aldeia da Borralha, no concelho de Águeda, dá-nos também indícios seguros de ter sido aproveitado um plano anterior, e somos mesmo levados a crer que esse plano fosse o dos papéis dos Reis de Nariz.

A estrutura é igual; há uma ou outra parte igual também aos papéis dos Reis da Palhaça; as falas parecem-me mais equilibradas; algumas situações foram muito melhor aproveitadas, não nos apresentando o pretensiosismo da peça palhacense. Quer dizer, se os papéis dos Reis de Nariz estão reduzidos à sua expressão mais simples, se não há nada de complicado, se mostram um assunto muito mais apreensível por parte do auditório, pela simplicidade quase ingénua das expressões e dos cânticos, pelo tom naturalmente claro e simples de conversa popular; se os papéis dos Reis da Palhaça pecam por uma preocupação exagerada de erudição por falas excessivamente longas, tocando autênticos discursos e talvez por uma ânsia de arte que está para além do realismo vivido e natural da gente popular –, o manuscrito dos Reis da Borralha ocupa entre ambos aquela mediania simpática e equilibrada que permite uma audição agradável. Vejamos, pois, para podermos fazer um juízo mais ou menos perfeito, o manuscrito da Borralho.

 

PERSONAGENS

Anjo da Aparição

Sentinela ou Cabo da Guarda Herodes

Gaspar

Belchior

Baltazar

Dr. Rabi

Secretário

Pastores

 

APARIÇÃO DO ANJO AOS PASTORES – (Organizado o cortejo, prevenido o Anjo da estrela para a levantar logo que comece a falar o Anjo da Aparição... surgem também os Magos a visar a Estrela...).

ANJO – Ó pastores e pastorinhas, venho anunciar-vos uma grande alegria: na cidade de David já nasceu o MESSIAS, o Redentor!

Vinde, vinde pastorinhos! Haveis de encontrá-lo, envolto em humildes fachas e em pobres palhinhas deitado. Sigamos aquela estrela e vamos todos adorá-lo (O cortejo desloca-se com a Estrela à frente, depois os Magos, depois os Anjos aparecidos aos pastores, os pastores e pastorinhas e a orquestra. Entretanto ouvem-se os versos dos pastores: vid. adian.).

SENTINELA DO PALÁCIO DE HERODES (Avistando os Magos ao longe, grita:) – Às ar...mas! (Acode uma força armada, formando em sentido e o cabo da guarda dirige-se ao encontro dos Magos ...).

CABO DA GUARDA (Para os Magos) – Queiram parar! Que desejais? (13)

MAGOS – Desejamos falar a Herodes, rei da Galileia.

CABO DA GUARDA – (Deixa os Magos e vai bater às portas do palácio...) – Truz, truz, truz!

HERODES (De dentro) – Quem está lá? (Fala alto).

CABO DA GUARDA – Cabo da guarda!

HERODES – Que desejas?

CABO DA GUARDA – Estão ali três personagens que desejam falar a V. Real Majestade.

HERODES (ainda de dentro) – Pergunta-lhe (14) se veem (15) para paz ou para guerra. Se veem (16) armados ou desarmados. Examina-os bem, cabo da guarda.

CABO DA GUARDA (aproxima-se dos Magos e examina-os atentamente sem nada dizer. Volta ao palácio e bate:) – Truz, truz!

HERODES – Quem está lá?

CABO DA GUARDA – Cabo da guarda! Vêm para paz! trazem apenas consigo, cada um, a sua espada.

HERODES (Com a porta meio aberta) – Então que se aproximem. (Abre as portas e sobe ao estrado).

CABO DA GUARDA (Manda aproximar os Magos) Queiram aproximar-se. (E retira-se para o seu lugar e manda descansar os soldados).

HERODES (sobe ao palco e depois para os Magos) Quem sois vós?

MAGOS – Somos três reis do Oriente.

HERODES (Para Gaspar) – Tu quem és?

GASPAR – Sou Gaspar, Rei da Pérsia e Senhor da Média. No meu país que é distante foi visto um sinal do Senhor: uma estrela bendita nos anunciou a vinda do Redentor do mundo; fui seguindo essa estrela até que cheguei ao teu país, onde deve ter nascido o homem / 58 / por quem há quarenta séculos o mundo inteiro espera. Diz-nos se sabes onde nasceu essa criança porque queremos ofertar-lhe o nosso ouro, o nosso incenso e a nossa mirra para depois, o adorar como Deus que é, o REDENTOR DO MUNDO.

HERODES (Para Belchior) – E tu quem és?

BELCHIOR – Sou Belchior, Rei da Líbia, senhor imenso e ávido. O sol da minha pátria purifica os espíritos e calcina as almas. É lá que os meus vassalos vão caçar as feras dos meus sertões as quais não precisam de ser trazidas para os círculos, (16) porque assim, poderão viver sem se danificar. Os homens da minha cor são tão dignos como os imperadores de Roma. Lá, na minha pátria, também existe o sinal do Senhor, porque foi visto pelos meus avós: diz-nos ter nascido um menino que será o Redentor do Mundo. (Indica-nos o caminho, grande Rei, que queremos ir adorá-lo. (17)

HERODES (Para Baltazar) – E tu?

BALTAZAR – Sou Baltazar, rei da Arábia, desse grande país que separa o Egipto da Ásia pelas bandas do Oriente. Os homens do meu país são grandes sábios e grandes guerreiros. É lá que os Romanos vão buscar os seus cavalos, e os seus perfumes para ungirem os seus mortos. Tudo no meu país é grande e majestoso!

Foi lá anunciada pelos profetas a vinda do Senhor. E uma estrela divina, com um brilho incomparável, até hoje desconhecida pelos meus astrólogos que todos os dias estudam a imensidade do Céu, anunciou-nos o nascimento de Messias, e indicou-nos, com o seu clarão fulgente, o caminho que nos conduziu ao teu País. A essas longínquas paragens donde venho, guiado pela minha fé e pelo sinal do Senhor, tem chegado a fama do teu despotismo, tetrarca da Galileia! Desmente-nos com um gesto só essa calúnia que assombra a tua grandeza. Diz-nos se sabes onde nasceu o Redentor do Mundo. Eu acredito na tua palavra de Rei, seguirei as tuas determinações porque estou no teu País. Mas não me mintas, Rei da Galileia. Diz-me onde nasceu o Messias porque quero ir adorá-lo.

HERODES – Enganaste-vos no caminho, Rei do Oriente (18). Não é neste País que deveis procurar o menino de que me falais. Eu sou Herodes, tetrarca e Rei da Galileia, Senhor absoluto das doze tribos de Israel, por graça suprema de Octávio César Augusto, Imperador e Senhor dos Romanos. Neste país, desde o rio Tigre ao Eufrates, desde o Jordão ao Mar Vermelho, o único Rei e Senhor sou eu. Posso dispor da vida dos meus vassalos, das suas riquezas e de suas mulheres, para que ninguém tente usurpar o poder que só a mim pertence. Mas, no entanto, visto me falares que neste país nasceu um Rei eu vou inquirir quem seja esse rei que nasceu, do lugar onde nasceu, e depois vo-lo direi. Mas, também não quero perturbar-vos na vossa fé. Segui por este caminho que vos conduzirá até onde suponho que esteja aquele que vossos profetas vos anunciaram – por essa estrada que atravessa todas as cidades de Israel, vai entrar em Roma pela via Ápia e, aí, deveis encontrar o que procurais.

BALTAZAR – Agradeço as tuas palavras, grande Rei. Diz-nos, ainda, como num país tão vasto podereis descobrir, no meio de tantos meninos nascidos de mães Hebraicas, aquele que o Deus de Moisés e Abraão escolheu para remir o pecado de Adão, nosso primeiro pai.

HERODES – Podeis então seguir esse caminho que vos indiquei. Essa estrela vos guiará ao vosso destino e se encontrarem o menino vide pelo meu palácio dizer-me onde ele está porque também o quero ir adorar.

BALTAZAR – Avante companheiros por Deus e pela nossa Fé. (Herodes recolhe-se e vai logo reunir-se com os doutores da Lei para saber do Messias. Os Doutores da Lei reunidos em assembleia recebem Herodes... Estão a estudar).

HERODES – Que sabeis do nascimento do Messias, Doutor Rabi?

DOUTOR RABI Sabia V. Real Majestade que o profeta MIQUEIAS nos diz o seguinte.

HERODES Lê.

DOUTOR RABI – E tu Belém, terra de Judá, tu que és a mais pequena entre as demais cidades, de ti é que há-de sair o Messias, aquele que há-de reinar em Israel, e cuja geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade. Deus vos terá abandonado aos vossos inimigos até ao tempo em que der à luz aquela Virgem, a qual dará à luz o DOMINADOR e, então, as relíquias de vossos irmãos se juntarão aos filhos todos de Israel..

HERODES (Levanta-se e diz para o secretário) – Secretário lê o meu Édito Imperial. Quero que seja cumprido rigorosamente.

SECRETÁRIO – (Lê, sentado o Herodes) – Determino que por ordens recebidas de Octávio César Augusto, Imperador de Roma e Senhor do Mundo: – Que todas as mulheres que tenham crianças do sexo masculino até à idade de dois anos, as apresentem no nosso Palácio para entre elas ser reconhecido o Messias que os profetas anunciaram à perto de dois mil anos. E para que estas determinações se cumpram as leio na vossa presença, conforme as determinações aprovadas para todas as tribos do mundo.

Sua majestade,

            Herodes Tetrarca da Galileia.

(Desfaz-se o cenário. Aparecem de novo os Magos pernoitando debaixo de alguma árvore).

/ 59 / Anjo que avisa (em sonhos) os Magos.

ANJO – Magos do Oriente! (à maneira de grito). Herodes traiu-vos na palavra dada. Ele sabe onde deve nascer o Messias, mas o poder do Senhor ofuscou a sua tirania e eis porque se vingou, mentindo-vos. Fugi e ide por outros caminhos porque Herodes quer matar o Menino.

MAGOS (Levantam-se exclamando:) – Bendito o Senhor que nos guia com a sua Luz.

(Desaparecem e o cortejo das pastorinhas segue para a igreja).

 

CÂNTICOS ENTOADOS DURANTE A MARCHA LENTA DO CORTEJO, NOS INTERVALOS EM QUE NÃO HÁ FALAS: (19)

AS POMBINHAS

 

I

   

As pombinhos vão voando

Voando vão à porfia

A ver qual chega primeiro
Aos pés de Virgem Maria

}

bis
 

Pois veio um Anjo do Céu

Cantando Ave-Maria

Dizer-nos que em Belém
Nasceu Jesus de Maria

}

bis
 

II

   

Vamos em bando pastores

Vamos todos a Belém

Adorar o Deus Menino
Nos braços da Virgem Mãe

}

bis
 

Ó meu menino Jesus

Eu vos irei entregar

esta linda pomba branca
Para o menino brincar

}

bis

 

   

III

Não esvoaces, ó pombinha,
Quero dizer-te um segredo

É preciso ser mansinha
p'ro Menino não ter medo

}

bis
 

Irei daqui a Belém

Embora chegue cansado

Ofertar este cordeiro
Ao Deus Menino Adorado

}

bis
 

           REIS

 

Dize tu, ó povo eleito

Onde o Messias é nado

Já no Céu vimos a estrela

Que anuncia Ele ter chegado

 

Mas a estrela escureceu

Não sabemos por onde ir

Dizei vós, dizei, dizei.

Por que caminho seguir

 

 

           PASTORES

A caminho vamos nós

O Deus Menino Adorar

Vinde connosco, ó Reis Magos

Não vos tornareis a enganar

 

 

           REIS

 

Pastorinhas do deserto

É, pois, certo – É, pois, certo

Que na noite de Natal

Num curral – Num curral

Baixou o filho de Deus

Lá dos Céus – Lá dos Céus

 

 

 

 

                DIALOGO

 

Reis – Quem nos deu tanta alegria?

Pastores – É Maria, é Maria?

R – E quem nos deu tanta luz?

P – Foi Jesus, foi Jesus!

R – Onde nasceu tanto bem?

P – Em Belém, em Belém!

R – Quem à graça nos conduz?

P – É Jesus é Jesus!

R – Quem fez a Terra e os Céus?

P – Foi só Deus. foi só Deus!

 

TODOS – Cantemos os seus louvores.

                   Ó pastores, ó pastores!

 

CÂNTICOS DAS PASTORINHAS

Pastores e Pastoras

Pastoras – cantemos, cantemos

Pastores         »                »

Pastoras – Com os Anjos de Deus

Pastores       »    »      »      »      »

Pastoras – Glória a Jesus

Pastores –    »      »      »

Pastoras – Na Terra e nos Céus

Pastores   »        »   »   »     »

Pastoras – Os Anjos, as Virgens

Pastores    »     »       »          »

Pastoras – Em terno candor

Pastores     »     »          »

Pastoras – Cantam nas alturas

Pastores       »         »        »

Pastoras – Glória ao Senhor!

 

 

 

          PASTORES

 

São chegados os três Reis

Da parte do Oriente

Visitar o Rei da Glória

Nosso Deus Omnipotente

 

A caminho de um ano

Gastaram só treze dias

com favor muito soberano

do Infante Rei Messias

 

 

          REIS

 

Glória ao Pai, Glória ao Filho

Ao Espírito Santo louvor

Glória, Glória ao Messias

Glória, Glória ao Salvador

 

 

          PASTORAS

 

Glória, Glória, etc, etc.

Eles ouviram dizer

Há presépio em Belém

Onde estava o Deus nascido

Remédio para nosso bem.

 

Guiados por um estrela

Que a todo o mundo dá luz

Vamos ver outra mais bela

Que é o Menino Jesus

 

 

          REIS

 

Glória, etc...

 

Ó meu Menino Jesus

Em que palhas estais deitado

Sendo vós o Criador

Que o mundo tínheis criado.

 

A estrela se escondeu

Chegados a uma cabana

Logo os três Reis adoraram

A Jesus neto de Ana.

          REIS

 

Glória, etc...

 

Ofereceram ao Menino

Cada um por sua vez;

Por a lapa ser pequena

Não cabiam todos três.

 

Ofereceram ouro fino

Como Rei Oriental

Incenso como Divino

E mirra como mortal.

 

          REIS

 

Glória, etc...

 

Porta aberta e mesa posta

Cantemos com alegria

Nado é o Rei da Glória

Filho da Virgem Maria

 

Que nasceu em Belém

Para todos nos salvar

Entre a mula e o boi lente

Que o estava a bafejar

 

          REIS

 

Glória, etc...

 

Patriarca S. José

Pegai no vosso menino

Que nas palhas está deitado

A chorar, que é pequenino

 

          TODOS

 

Adeus Pai, adeus Filho

E Jesus Cristo também

Glória seja ao Espírito

Se Para todo o sempre, Além

 

Um facho de Luz Divina

Que brilhou no azul dos Céus

Deu a nova peregrina

De nascer o homem Deus

 

Esse farol que nos guia

A fé que nos ilumina

Traz às almas a alegria

Uma alegria Divina

 

/ 60 /

 

           CORO

Vamos à lapinha

Ver a Virgem Mãe

Ver a homem Deus

Que nos traz o bem;

 

Desceu das alturas

Incarnou, nasceu,

Vem remir os homens

E nos traz o Céu (19)

 

As profecias cumpriram-se

Linda estrela já brilhou

Vamos todos a Belém

Ver o que ela anunciou

 

           CORO

Vamos alegres

Ver o Menino

Levar-lhe prendas

Cantar o hino

 

Pastorinhas do deserto

Caminhai e ide ver

A pobreza da lapinha

Onde Jesus quis nascer

 

Vamos alegres

etc., etc.

 

Pastorinhas do deserto

Caminhai para Belém

Adorar o Deus Menino

Nos braços da Virgem Mãe

Vamos alegres

etc., etc.

 

Pastorinhas do deserto

Cantai hinos de louvores

Guardai o vosso rebanho

Louvai o grande pastor.

 

Vamos alegres

etc., etc.

 

Vimos muito cansadinhos

Mas chegamos o Belém

Adorar o Deus Menino

S. José e a Virgem Mãe.

 

 

           CORO

Glória a Deus no Céu

Paz aos homens sobre a Terra

No mar, na Serra,

Glória a Deus,

Glória a Deus...

 

Adoraremos o Menino

Adoraremos o Redentor

Que desceu do Céu à Terra

Somente par nosso Amor.

 

Glória a Deus no Céu

etc., etc.

 

 

Do que me propus apresentar alguma coisa aí fica; de muita riqueza etnográfica, folclórica e linguística que jaz enterrada nas nossas aldeias e que não chega ao conhecimento de todos, muitas vezes por questiúnculas despropositadas e por caprichos mesquinhos, bom era que pessoas de boa vontade e com muito carinho a reconhecessem, pois se encontra ameaçado e em vias de desaparecimento, Não perde a terra a originalidade se os seus usos, costumes e tradições forem publicados, antes ganha, pois que passa a ser mais conhecida; e o nosso distrito tem muito para se conhecer; muitas manifestações de pensar e de sentir que devem ficar religiosamente guardadas. Não haja medo de incongruências, de anacronismos, de erros históricos ou geográficos; recolha-se tudo e publique-se com ordenação e esclarecimento; de tudo isso, pode o estudioso tirar suas conclusões, E saiba-se que nesse mundo de irrealidade popular há muito que fortaleceu os ânimos, muito que ajudou a acalentar fé e esperança nos destinos da Pátria; muito que ajudou a estruturar a alma autêntica mente portuguesa,

Chama-se Eufrates a EfrataBelém, cidade onde nasceu Jesus por causa do nome desse rio asiático tão importante na antiguidade, que esse facto nada vem roubar à glória tão vivamente sentida pelo nosso povo da revelação de Jesus, Dê-se um revolver ou um relógio

a Herodes que nada disso vem transformar a ideia histórica sobre a vida sanguinária dessa figura hedionda. Atrás de tudo isso está o sentir humano e universalmente conhecido da vida de Cristo e vivamente sentido pela raça lusíada.

Os três manuscritos desta região de Aveiro aí ficam; e com eles fica também alguma coisa de um caçador desordenado de imagens, fracas embora, mas tanto quanto possível completas na projecção da luz, da cor e do som. Que tudo isso seja estímulo e fonte de entusiasmo para a fixação de outras potencialidades que a técnica e o progresso, sem disso nos apercebermos, vão relegando para um plano tão instável que leva ao esquecimento.

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BIBLIOGRAFIA

Capão, António Tavares Simões – «A Bairrada». Estudo linguístico, histórico e etnográfico, Dissert. dactilografada. Coimbra, 1959, VI + 329 pgs., com um aditamento de 25 pgs., inédito.

Cascudo, Luís da Câmara – «Dicionário de FolkIore brasileiro», Rio de Janeiro, 1954.

Chaves, Luís – «A arte popular. Aspectos do problema», Porto, 1959.

Coimbra, Armando – «Os Presépios» ou «Autos Pastoris», da Figueira da Foz, separata da «Labor», Aveiro, 1938.

Escrich, Pérez – «O Mártir do Gólgota», 3 vol., Porto, s/d.

Figueiredo, Fidelino de – «História Literária de Portugal» (séculos XII-XX). Coimbra, 1944.

Jesus, Frei Tomé de – «Trabalhos de Jesus», 2 vol., Porto, 1951.

Ramos, Arthur «Estudos de Folk-Iore», Rio de Janeiro, s/d.

Santo António, Maria de – «Reisadas», artigo in «Diário da Manhã», de 7-1-964,

Soares, P.e Matos – «Bíblia Sagrada-Novo Testamento»,Porto, 1954.

Vasconcelos, José Leite de – «A Barba em Portugal. Estudo de Etnografia comparativo», Lisboa, 1925.

 – «Opúsculos» vol. II.

Vicente, GiI «Obras Completas», da colecção Clássicos Sá da Costa, vol. I.

Wallace, Lewis – «Ben Hur», Ed. Romano Torres, Lisboa.

 

NOTAS

Para melhor compreensão dos textos achamos que são necessárias algumas notas explicativas, pois aparecem no discurso nomes de regiões, de cidades, de montanhas, de rios, etc., que só se conhecem através da Sagrada Escritura, mas de que por vezes não se faz  / 61 / uma ideia da importância dessas citações para o desenrolar dos acontecimentos.

Há necessidade de saber que certas frases não são exactas e isso corresponde à falta de conhecimentos geográficos sobre o Próximo Oriente, região cuja história é absolutamente necessária para o conhecimento da evolução dos povos que aí têm vivido, e muito especialmente para a compreensão do livro sagrado dos hebreus – a Sagrada Escritura.

No texto da Palhaça, quando um dos Doutores da Lei lê a Herodes a profecia que indica onde nascerá o Menino, diz: «...nascerá uma estrela... em ti Belém, chamada Eufrates». Ora isso não está correcto; com o nome de Belém havia mais do que uma povoação: uma na Galileia e outra na Judeia. Belém ou Betleem (de nome oficial Beit Lahon) é palavra hebraica que significa casa do pão; a cidade de David, situada a nove quilómetros de Jerusalém, também foi chamada Belém de Judá e, anteriormente, Efrata. A outra era uma cidade da tribo de Zabulon, situada entre Nazaré e o monte Carmelo, e foi pátria do juiz Abesan. Ora a palavra Eufrates, indicando um rio que desagua no Golfo Pérsico, nada tem que ver com a cidade onde nasceu Jesus; aparece-nos aqui por confusão com o artigo nome Efrata.

Informações erradas são várias: há a ideia de que os Reis Magos viajaram muito tempo juntos, o que só é verdade em parte, porque, segundo o próprio texto, um era de Hidaspe, outro da Arábia, outro do Egipto, portanto de regiões opostas. Por outro lado, Cingo informa Herodes de que os Magos chegaram às Portas de Damasco, o que nos leva a compreender que Herodes se encontrava então nessa cidade.

É pois, com a intenção de esclarecer que juntamos as seguintes notas. Mas tenhamos em conta que os anacronismos têm um sabor especial, representam uma sabedoria sui-generis que merece ser compreendida com benevolência.

ABRAÃO – Uma das maiores figuras da Bíblia, patriarca, antepassado dos Hebreus, nascido em Ur, na Caldeia.

ANTIPAS – Herodes, filho de Herodes, o Grande, e irmão de Herodes Filipe; foi tetrarca da Galileia e reinou de 4 a. C. a 39 d. C., julgou Jesus Cristo e mandou matar S. João Baptista. No texto de Nariz fala-se nele como sendo uma das crianças vítimas na matança dos Inocentes, ordenada pelo próprio pai.

ARÁBIA – Península a Oeste da Ásia meridional. limitada ao Norte, pelo Iraque ou Mesopotâmia; a Este pelo Golfo Pérsico; a Sul pelo Oceano Índico; e a Oeste pelo Mar Vermelho, a Palestina e a Síria.

ÁZIMOS – Pão ázimo quer dizer pão sem levedura. Os israelitas chamavam pão ázimo àquele que mandavam cozer na véspera da Páscoa, em memória do que os seus antepassados, quando deixaram o Egipto, tinham feito para uma refeição, sem fermento. Chamava-se a este dia a Festa dos Ázimos que é o Páscoa dos Judeus.

BABILÓNIA – Cidade da Antiguidade, cujas ruínas, na margem do Eufrates, estão a cento e sessenta quilómetros a sudeste de Bagdad. O texto chama babilónios e caldeus aos Reis Magos – o que não está certo, pois um deles, Belchior, é do Egipto. A ser assim. essas palavras indicavam da Babilónia ou da Caldeia, portanto como tendo vindo da parte inferior da Mesopotâmia.

BELÉM – Cidade da Palestina da tribo de Judá, onde nasceu Jesus Cristo.

CARMELO – Montanha da Palestina da cordilheira do Líbano. Esta montanha representou um importantíssimo papel na história do povo Judeu.

DAMASCO – Actual capital da Síria. Evangelizada por S. Paulo, conquistada pelos árabes em 639, tornou-se residência dos califas omíadas que mandaram construir a grande mesquita. Damasco foi inutilmente cercada em 1148 por Luís VII e Conrado III. É no caminho para Damasco que S. Paulo tem a visão e ouve o Senhor dizer-lhe: «Saulo, Saulo, por que me persegues?». Desde então tornou-se apóstolo do Cristianismo, deixando de ser seu perseguidor.

DAVID – Rei de Israel, sucessor de Saul; fundou Jerusalém e venceu os Filisteus. Foi profeta e poeta; da sua actividade poética, deixou-nos inspiradíssimos

salmos. Da sua vida dá-nos a Bíblia alguns factos singulares: o seu combate com o gigante Golias, morto por uma pedrada; David tocando harpa diante de seu sogro Saul; David dançando diante da Arca da Aliança. Esta figura, pela sua virilidade e pelo seu temperamento poético diz muito à maneira de ser da gente popular que conhece os seus feitos e o faz entrar vivamente no cortejo dos Magos, tocando harpa e dançando com as pessoas do seu séquito.

EGIPTO – País muito antigo, compreendendo sobretudo, o vale do rio Nilo.

ELAM – O mesmo que Susiana. Antigo estado vizinho da Caldeia que tinha por capital Susa. Os seus reis conquistaram a Caldeia, mas mantiveram, depois, Babilónia contra a Assíria.

EUFRATES – Rio da Ásia, que nascendo na Arménia, atravessa o Tauro e reune-se ao Tigre para formar o Chatt el-Arab. Babilónia. antiga capital da Caldeia, estava construída na margem do Eufrates.

GALlLEIA – Região ao norte da Palestina, perto do Lago Genezaré, teatro principal das prédicas de Jesus Cristo. / 62 /

HÉBRON – Cidade das montanhas de Judá, fundada segundo diz a Bíblia, sete anos antes de Tanis, a mais antiga cidade do baixo Egipto. Tornou-se a segunda pátria de Abraão, depois que lá arranjou um túmulo para si e para a sua família. O actual nome árabe é EI Khalil, como chamam os muçulmanos a Abraão. querendo estas palavras significar amigo de Deus. Como curiosidade histórica apresenta esta cidade os Túmulos dos Patriarcas – caverna sepulcral em que foram depositados os corpos de Abraão, de Sara, de Isaac. de Rebeca. de Jacob e de Lia.

HELlOPOLlS 1) – Cidade do baixo Egipto. hoje arruinada. que fica situada perto do Cairo. Em 1800. Kléber derrotou aí os Mamelucos. É a esta que se refere o texto. p. ? mas com forma diferente: Helipolis. 2) – Antigo nome de Balbek. cidade do Líbano interior. Foi uma antiga cidade fenícia. e uma colónia romana. no século I d. C. Possui vestígios de um templo do Sol construído sob António, o Piedoso. Teve arcebispados católicos de ritos maronita e grego.

HERMON – Cadeia de montanhas da Judeia que prolonga a cadeia do Anti-Líbano.

HIDASPE – Geog. Ant. – Nome grego de um rio da índia que parece ser o actual Jelam ou Djelem. É célebre pela batalha que Alexandre Magno travou junto dele com o rei Poro. terminando assim a conquista do Oriente. Foi talvez o ponto mais oriental a que chegaram os gregos. Camões também se refere a ele em «Os Lusíadas» I. 55.

ISAC – Filho de Abraão e de Sara que foi salvo por um anjo na altura em que seu pai ia sacrificá-lo. Casou com Rebeca; deste casamento nasceram Jacob e Esaú.

ISRAEL – Nome dado a Jacob depois da sua luta contra o anjo e que significa forte contra Deus. Por extensão, nome dado ao povo Judeu. descendente de Israel.

JACOB – Filho de Isac e de Rebeca. foi um patriarca; teve doze filhos donde saíram as doze tribos de Israel. Ao fugir da cólera de seu irmão que ele ludibriou comprando-lhe o direito de sucessão por um prato de lentilhas, chegou a um lugar deserto e adormeceu; então viu uma escada que se apoiava na terra e ia até ao céu; e enquanto anjos subiam e outros desciam. Deus anunciava a Jacob que a sua descendência seria tão numerosa como os grãos de poeira. Ao fim de catorze anos. ao voltar a Canaã teve que travar uma luta com um anjo de que saiu vencedor. tendo por isso recebido o nome de Israel. Morreu no Egipto onde seu filho José se tornara ministro do faraó.

JERICÓ – Antiga cidade da Palestina situada a vinte e três quilómetros de Jerusalém. edificada junto de um afluente do Jordão. e a primeira que os Judeus encontraram, quando da sua chegada à Terra Prometida.

JERUSALÉM – Cidade muito conhecida pelos Cristãos; antiga capital da Judeia, depois da Palestina, é hoje capital do estado de Israel. Historicamente. interessa conhecer o Muro das Lamentações. o Santo Sepulcro e a Mesquita de Omar.

JORDÃO – Rio da Palestina que nasce no Anti-Líbano, atravessa o Lago Tiberíades e se lança no Mar Morto. Foi neste rio que S. João Baptista baptizou Cristo.

JUDÁ – Filho de Jacob. origem de uma das doze tribos de Israel.

JUDEIA – Parte da Palestina entre o Mar Morto e o Mediterrâneo (o chamado reino de Judá). Este nome tem-se aplicado também para designar toda a Palestina.

LÍBANO – Montanha da Ásia anterior muito famosa na Antiguidade pelos seus cedros; estende-se paralelamente ao mar numa extensão de cento e sessenta quilómetros de comprimento. Vid. Carmelo.

LÍBIA – Nome dado pelos antigos à parte da África que eles conheciam. Reino da África do Norte. compreendendo a Tripolitânia. a Cirenaica e o Fezan.

MÉDIA – Antiga região da Ásia. tendo por capital Ecbátana. Primeiro dividida num certo número de pequenos principados arianos subjugados pelos assírios. A Média tornou-se sob Cyaxare, no século VII a. C., um poderoso império que foi derrubado por Ciro em 556 e a uniu à Pérsia.

MESOPOTÂMIA – «Região entre os rios» – Região da Ásia, entre o Tigre e o Eufrates. berço da civilização assíria e caldaica. Hoje lraque. Vid. Babilónia.

MIQUElAS – Nome de dois profetas Judeus, sendo um do século IX e o outro do século VIII. a. C.

PALESTINA – Região do Próximo Oriente. entre a Fenícia ao N., o Mar Morto ao S.. o Mediterrâneo a O.. e o deserto da Síria a E. É uma estreita faixa de terra apertada entre o mar e o Líbano. e percorrida pelo rio Jordão. A Bíblia chama-lhe Terra de Canaã. Terra Prometida. etc.; e nos nossos dias Terra Santa.

PALMIRA – (O nome actual é Tadmor); o seu nome antigo indicava «cidade das palmeiras». Povoação em ruínas. na Síria. outrora cidade poderosa sob o governo de Zenóbia. Foi conquistada pelos Romanos em 272, e destruída pelo Aureliano. As suas ruínas, encontradas no fim do século XVII. são importantes. principalmente as do templo de Bel.

PÉRSIA – Reino do Sudoeste da Ásia entre a Transcaucácia. o Mar Cáspio e o Turquestão ao Norte; o Afganistão e o Baluchistão, a Este; O Golfo Pérsico, ao Sul, o lraque e a Turquia. Muito importante na história antiga.

/ 63 / SALOMÃO – Filho e sucessor de David que reinou de 970 a 935 a. C. e se consagrou à administração, embelezando os seus estados e mandando construir o Templo de Jerusalém. A sua sabedoria tornou-se conhecida em quase todo o mundo. Atribui-se-lhe a composição de três livros canónicos da Bíblia: «Provérbios», «Eclesiastes» e «Cãnticos dos Cânticos».

SELÊUCIA – Cidade da antiga Ásia, edificada junto do Tigre, foi capital dos selêucidas, depois dos Partos, perto de Bagdad.

SENAAR – Bíblico – Nome que o Génesis e alguns profetas (Isaías, Daniel e laca rias) dão à Babilónia. Depois do Génesis (X e XI) o nome de Senaar desaparece das Escrituras até aos citados profetas. No texto Senear.

SÍRIA – Aram da Bíblia; região da Ásia ocidental, banhada a Oeste pelo Mediterrâneo e limitada ao Norte pela cadeia do Tauro; a Este pelo Eufrates e a Sudeste e a Sul pela Arábia.

SUSA – Cidade de Elam que foi, no tempo do Império Persa, a residência de Dario e dos seus sucessores.

TABERNÁCULOS – Festas dos Tabernáculos – Uma das três grandes solenidades dos hebreus que eles celebravam depois da ceifa, sob toldos e ramagens, em memória do seu acampamento no deserto, depois da saída do Egipto.

TIGRE – Rio da Ásia anterior que se reúne ao Eufrates para formar o Chatt El-Arab. Vid. também Eufrates.

ZABULÃO – Tribo que desempenhou um importante papel na história de Israel. O território que ocupava na Palestina setentrional, limitada a O., N. e E. pelo das tribos de Aser e Neftali e a Sul pelo de Isacar, é, no entanto, de limites pouco seguros. As suas cidades mais importantes eram Cateth, Naalol, Semeron, lera Ia e Bethlehem. Na época de Cristo, compreendia aquelas conhecidas nos textos evangélicos como Nazareth e Canaã. No texto labulon.

 

NOTAS:

(1) – Canto de Leira. lugar da freguesia de Nariz. Nota – Neste texto conservam-se as palavras do manuscrito: Belchiôr (o fechado); Heirodes (ditongação do primeiro e); Irrael (assimilação regressiva). E apesar de trazer na capa o ano de 1928, esclareço que essa data é a de uma cópia, pois o original é mais antigo.

(2) – Note-se o emprego do artigo definido.

(3) – Notar a discordãncia do tratamento.

(4) – Note-se a falta de concordãncia no tratamento.

(5) – Comparem-se estas palavras de Belchior com as do mesmo rei, na mesma altura, do auto da Borralha.

(6) – Notar a discordãncia: «Foi anunciado... a vinda».

(7) – Passagens por paragens.

(8) – Neste manuscrito aparece Tetarca por Tetrarca.

(9) – Por Eufrates, com a redução do ditongo inicial.

(10) – Abrão por Abraão.

(11) – A terminação deste auto aproxima-se da de Gil Vicente; neste autor, contudo, os três reis cantam em coro o vilancete.

(12) – Devo a recolha destes papéis dos Reis à gentileza do meu antigo aluno, Augusto José B. M. Castilho.

(13) – Discordância de tratamento.

(14) – Note-se a falta de concordância do pronome lhe.

(15) – Note-se a incorrecção da 3." pessoa do plural do presente do indicativo do verbo vir.

(16) – Círculos por circos.

(17) – Comparem-se estas palavras de Belchior com as do mesmo rei, na mesma altura, do auto de Nariz.

(18) – Note-se a falta de concordância na frase.

(19) – É pena não podermos publicar também as músicas correspondentes a estes dois conjuntos de versos; esperemos outra ocasião.

 

páginas 55 a 63

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