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N.º 4

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1967 

Concelho de Arouca

Pelo Dr. Manuel Rodrigues Simões Júnior


Pelourinho da Vila de Arouca (reconstituição)

SUA ORIGEM

O actual concelho de Arouca resultou da anexação ao velho Couto de Arouca do concelho de Vila Meã do Burgo, constituído por um enclave dentro da freguesia do Salvador, a quem a Rainha Santa Mafalda deu carta de Foral em Maio de 1229, tendo os seus habitantes, em 18 de Fevereiro de 1817, exposto a Sua Majestade a pobreza do mesmo, que por Provisão de 15 de Dezembro do mesmo ano era anexado ao Couto de Arouca; do antigo concelho de Fermedo, da Terra de Santa Maria, extinto e anexado a Arouca por Decreto de 24 de Outubro de 1855; do antigo concelho de Alvarenga, extinto e anexado a Arouca por Decreto de 26 de Outubro de 1836 e da freguesia de Covelo de Paivó, do concelho de S. Pedro do Sul, anexada pela Lei n.º 653 de 16 de Fevereiro de 1917.


 AROUCA - Alto da Serra da Freita - Uma adua de gado

O concelho de Arouca tem 20 freguesias: Nossa Senhora da Assunção de Albergaria das Cabras, outrora a melhor Albergaria da Serra, S. Pedro, com a Igreja do Mosteiro de Santa Maria, da Ordem de S. Bernardo, por matriz, que Clemente XII, em 8 de Março de 1737, autorizou mudar para a Capela de S. Bartolomeu, ficando este seu orago, e por Decreto de 31 de Dezembro de 1845, publicado em 6 de Janeiro, desdobrada em freguesias de S. Bartolomeu e de Santo Estêvão de Moldes, do Salvador, de S. Mamede de Cabreiros, de Santa Eulália de Mérida, de S. Miguel de Urrô, do Salvador de Várzea e da sua anexa Santa Eulália de Chave, de Santa Marinha de Tropeço, de Nossa Senhora da Conceição de Roças; de Santa Cruz de Alvarenga, de S. Miguel de Canelas, de S. Barnabé de Janarde e de S. Martinho da Espiunca (que no século XVI pertencia às terras de Paiva); de Santa Cristina de Mançores, de Santo André de Escariz, de Nossa Senhora da Expectação de Fermedo e de S. Pedro de Covelo de Paivó. A freguesia de Salvador de Várzea era Comenda da Ordem de Cristo e a de Nossa Senhora da Conceição de Roças, Comenda da Ordem de Malta.

 

MONUMENTOS NACIONAIS

Por Decreto de 16 de Junho de 1910 foram considerados Monumentos Nacionais: Mosteiro de Arouca e túmulo da Rainha Santa Mafalda, Memorial de Santo António, junto da Vila do Burgo, Pelourinho de Arouca (fragmentos), pelourinho de Cabeçais, e Pelourinho de / 6 / Trancoso; pelo Decreto n.º 37077, o Calvário de Arouca, pelo Decreto n.º 38491, a Igreja de S. Miguel de Urrô com a sua Torre Sineira e pelo Decreto n.º 42255 foi considerado imóvel de interesse público a Capela da Santa Casa da Misericórdia.

O Monumento Nacional mais antigo é o Memorial de Santo António, junto da Vila do Burgo, também chamado Arco da Rainha Santa, por a lenda o ligar à vinda da Rainha Santa Mafalda, depois de morta, de Rio Tinto para o seu Mosteiro, lenda representada pictoricamente no coro do Mosteiro, em 1725, quando ele é do século XII; deve ser um monumento tumular de qualquer «tenente» de Arouca, possivelmente Mónio Rodrigues, ou de sua mãe Toda Viegas.

 

COUTO DE AROUCA

O velho Couto de Arouca foi uma das seis paróquias da diocese de Lamego, presente no concílio de Lugo, realizado entre os anos 572 e 582, com o nome de Atavoca, Auroca e Auraca, que deu Arauqua, Arauca e Arouca; a tradição relata uma questão havida entre o Bispo de Lamego e os filhos do Senhor de Moldes, por causa desses territórios, que em 716, por composição, foram entregues à Igreja, para neles se fundar um Mosteiro, dúplice, da invocação de S. Cosme e S. Damião; este Mosteiro deixou de ser dúplice por a sua padroeira, Toda Viegas, ter feito doação dele à «abadessa Elvira João e a todas as suas irmãs e às que para o futuro fossem», a 7 das calendas de Janeiro era 1192 (26 de Dezembro de 1153), na Ordem de S. Bento, mas D. Paio, Bispo de Lamego, em 1224, autorizou D. Mafalda a mudar para a Ordem de S. Bernardo, que era mais austera, mudança aprovada por Bula de Honório 111 de 6 de Junho de 1224 e confirmada por Inocêncio IV por Bula de 8 de Agosto de 1246.

Em 7 de Setembro de 951 os Senhores da Anégia, Dom Ansur e Dona Ejeuva, coutaram a este Mosteiro um largo território, passando a ter por padroeiros S. Pedro, S. Paulo, S. Cosme e S. Damião. Couto alargado por doações de D. Afonso Henriques em Abril de 1132 e Janeiro de 1143, tendo D. Afonso III, em 20 de Outubro de 1257, estabelecido definitivamente o Couto. Todos os Mosteiros da Ordem Cisterciense foram dedicados à Virgem, o de Arouca tomou por padroeira Nossa Senhora da Assunção.  / 7 /


AROUCA - Rainha Santa Mafalda

RAINHA SANTA MAFALDA

A Rainha Santa Mafalda recolheu ao seu Mosteiro, que lhe tinha sido deixado por seu pai, em 1217 e faleceu, em Arouca, em 1 de Maio de 1256 e beatificada por Pio VI em 27 de Julho de 1792; os direitos do seu Mosteiro foram confirmados por todos os reis às abadessas e D. Manuel, em 8 de Julho de 1515, isentou o Couto de Arouca das correições que os Corregedores eram obrigados a fazer.

O corpo da Rainha Santa Mafalda esteve num túmulo de madeira e passados anos, mudado para um de pedra, ainda existente, no qual as freiras mandaram pintar a Cruz de Avis e as palavras de consagração; aberto o túmulo em 1616 pelas freiras, estas disseram que «acharam o corpo da Santa Rainha como pessoa que estava dormindo, o rosto composto e as mais partes do corpo inteiras, ainda que a carne se via um tanto mirrada»; novamente aberto por mandado do Bispo de Lamego, Dom Martim Afonso de Mexia, em 1617 e em 7 de Agosto transferido para o corpo da Igreja, ficando assim até 1645, ano em que foi elevado e colocado em altar fixo, para se poder rezar missa, mas como em 1704 a Igreja se arruinou, em 30 de Maio, foi o seu corpo trasladado para o lado direito do coro, junto das grades que o separa da Igreja e em 20 de Outubro de 1718 solenemente mudado para o seu altar; novamente aberto em 1749, dele foram tiradas relíquias autenticadas pelo Provisor de Lamego, Dr. José de Basto e Cunha.

Em 16 de Junho de 1793, os restos mortais da Rainha Santa Mafalda foram trasladados, novamente, para uma urna de ébano e prata, que custou 3359$385 réis, estando presentes o Bispo de Lamego, Cónegos, Câmara de Lamego e os Dons Abades dos Mosteiros da Ordem, tropa do Porto e o Corregedor Almada, para manter a ordem, a quem as freiras deram uma bengala com castão de ouro, iniciando-se assim uma semana de festas, que importaram em 28795$435 réis.

 

MOSTEIRO

O actual Mosteiro é formado por quatro corpos, sendo o seu interior dividido em duas partes pelo antigo refeitório, que liga a ala nascente com a ala poente, formando a do norte o claustro e a do sul o Pátio, onde se faziam as festas dos abadessados; a sua ala poente é a mais antiga, datada de 1692, tendo-se a ala norte, em cujo topo estava a igreja, arruinada em 1704, mas novamente projectada pelo arquitecto maltês Carlos Gimac.

Este Mosteiro foi vítima de quatro incêndios: o primeiro em 12... (?), ainda em vida de Santa Mafalda, o segundo em 1550, que deram motivo a dois quadros existentes no coro de 1720, o terceiro pelas 22 horas de 22 de Fevereiro de 1725, que destruiu a ala sul e o último pelas 23 horas de 19 de Outubro de 1935, destruindo parte das alas sul e nascente.

Anexo ao Mosteiro foi organizado o Museu de Arte Sacra com as peças, quadros, imagens, livros e paramentos que lhe pertenciam; entre os quadros encontram-se alguns primitivos, os de Diogo Teixeira e os dos continuadores dos pintores de Viseu; entre as imagens a de S. Pedro, da escola do mestre João Afonso, que é considerada a mais harmoniosa e característica escultura do século XV que existe em Portugal; a sua colecção de livros de coro mereceu a Solange Corbin a apreciação: «c'est l’ensemble le plus riche de livres anciens que nous connessions au Portugal» e entre outros livros acha-se um exemplar do Breviário Bracarense, o primeiro livro impresso em latim em Portugal, em Braga a 12 de Dezembro de 1494 e o VoI. IV da Vita Christi, impresso em 1495.

As estátuas do coro constituem o melhor grupo barroco e feitas em 1725 pelo escultor Jacinto Vieira, de Braga.

 

FORAIS

O concelho de Arouca teve Foral Novo dado por D. Manuel em 20 de Dezembro de 1513; o concelho de Alvarenga teve Foral Novo dado por D. Manuel em / 8 / 2 de Maio de 1514 e a freguesia de Espiunca favoreceu do Foral Novo de Paiva dado por D. Manuel em 1 de Dezembro de 1513; o concelho de Fermedo teve Foral Velho dado por D. Afonso III em 1275 e Foral Novo dado por D. Manuel em 27 de Setembro de 1514, sendo primitivamente honra dos Duques de Aveirom passado depois para os Condes da Feira e destes, por troca, para os Peixotos, do Porto.


Calvário de Arouca

 

«TENENTES»

Do Território de Arouca foram tenentes ou governadores: em 1060, Garcia Moniz; em 1080, Egas Ermiges; em 1085, Gavino Froilas; em 1093, Martim Moniz, antigo governador de Coimbra, após a morte do seu sogro D. Sisnando; em 1097, Egas Gosendes; em 1104, Mem Moniz e em 1112 seu irmão Egas Moniz, o Aio; em 1105, D. Gontina Eriz e em 1115, Mónio Rodrigues, todos da geração dos Gascos.

Do Território Alvarenga foram tenentes; na primeira metade do século X, Froila Absalónis, na segunda metade do século XI, Gavino Froilas, na primeira metade do século XII, Egas Moniz, o Aio, e na segunda metade seu filho, Moço Viegas, que deu origem à família Alvarenga.

O concelho de Arouca, a quem foi dado o nome de Beira-Minho, tem vários vales e sobre o de Arouca, Alexandre Herculano escreveu: /.../ «Ermida de Santa Marinha sobre uma eminência em frente. Torneia-se o monte e começa a descida para o Vale de Arouca. A encosta e o vale igualam em beleza a Sintra e excedem-na na vastidão; a estrada segue por uma légua debaixo de árvores cerradas ou de pequenos campos criados de árvores e videiras e ouvindo-se a espaços o cair das levadas que atravessam o caminho ou o ladeiam», que o tornam essencialmente agrícola, necessitando que os montes se tornem essencialmente florestais.»

As serras que envolvem Arouca, Montemuro e Freita, já mereceram a atenção de Abel Botelho e Ramalho Ortigão.

 

páginas 5 a 8

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