Um animador da natação aveirense - Homenagem efectuada em Novembro de 1992.


Atita salvou mais de vinte pessoas de morrerem afogadas mas nunca recebeu qualquer medalha!

«Aveiro, 27 — Após mais um acto de heroísmo ocorrido perto do local denominado Biarritz, entre a Barra e a Costa Nova, impõe-se que o público saiba que em Aveiro há um homem que já salvou durante a sua existência — esta apenas tem 34 anos — mais de 20 vidas, quer na Ria quer no mar.

Estivemos na Fábrica Jerónimo Pereira Campos onde trabalha e é estimado por todos — o Eduardo Raposo Rodrigues de Sousa, mais conhecido por "ATITA". Dissemos ao que íamos e logo o "ATITA" se prontificou a contar-nos com simplicidade os seus actos de heroísmo que ele considera vulgares.

Antes de mais conta o último salvamento: trata-se de um jovem de 15 anos, Carlos Alberto da Silva. Apercebi-me, diz, do perigo eminente e imediatamente me lancei á água trazendo-o para terra quando já estava completamente exausto.

A primeira criança que salvei foi o António Ramires e até hoje são mais de vinte as que salvei da morte.

Qual o salvamento mais difícil da sua vida?

— Já lá vão vinte anos — tinha apenas 14 — na Ponte de S. João. Estava com alguns colegas quando de repente oiço gritos. Olhei e apenas vi algumas crianças a apontar para um local. Imediatamente me deitei da ponte para a água e consegui agarrar um miúdo que já estava engolido pelas águas. Era um tal Arlindo. Dessa vez senti muitas dificuldades e até tive medo de lá ficar... Curioso, esse rapazinho fazia anos nesse dia.

Também no mar, já lá vão dez anos, senti muitas dificuldades no salvamento de outro jovem; e quando tudo parecia perdido, ele lá veio para a areia conseguindo ainda reanimá-lo.

São tantos casos que para os contar estávamos aqui todo o dia, disse a sorrir-se: "Lembro-me apenas de ter salvo vinte, mas estes se não for cá o "ATITA" já estavam no outro mundo".

Desde quando pratica a natação?

— Comecei aos seis anos e aprendi sozinho na Ponte de Pau.

Contou-nos depois o seu "curriculum vitae" de natação: ingressou na secção de natação do Beira Mar aos doze anos; tomou parte em três cursos para nadador-salvador; em 1965 tirou o curso de Ensino e Treino de Natação no I.N.E.F.; foi campeão regional dos 1500, 400 e 100 metros. Guarda belas recordações da Travessia do Porto em estafeta: 12 quilómetros.

Sente-se feliz por ter poupado essas vidas de serem tragadas pelas águas?

— Oh! muito. Já que nunca recebi qualquer condecoração oficial mas são as medalhas que constantemente adornam o meu peito e cada vez mais me activa em mim o desejo de ser útil à sociedade.

E pronto; estávamos inteirados da vida deste homem que merece ser posto como exemplo à humanidade, desta humanidade que escasseia em gestos nobres e dignificantes.»

(Recorte de Jornal não identificado do ano de 1966)


 

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