Um animador da natação aveirense - Homenagem efectuada em Novembro de 1992.


João Seiça Neves

ATÉ SEMPRE JOÃO

"Então, até à próxima quinta-feira. Tenho que sair mais cedo porque, amanhã, de madrugada, já estarei na estrada para um julgamento".

 

Foi noutra madrugada que o João partiu. Mas, daquela feita, sem um "até à próxima".

 

Resta-nos a nós, os seus amigos da Comissão Executiva da Homenagem ao Atita, dizer:

- Até sempre, João A lição do teu empenhamento ficou connosco. E tu também estarás connosco na festa do teu amigo.

 

 


JOÃO SEIÇA NEVES

 

Vivias como se pudesses morrer no minuto seguinte. Uma estranha lucidez: afinal tudo tinha o seu sentido. Às vezes ilusionista. O Impossível a seduzir-te estava ali ao alcance da tua mão. Outras, eras uma simples criança — um princípio sem espaço nem tempo.

 

O teu tesouro era esse: dar às coisas e aos seres o seu sentido real, viver o que de facto importava, como se fosse a última das vontades.

 

Poucos têm essa coragem, a coragem de negar o tempo, como se não houvesse princípio nem fim, como se tudo se resumisse a um amigo atento recortado na paisagem, quando todas as coisas têm a dimensão da harmonia, tão somente. Só tu eras capaz de parar o carro no meio da rua e bater à porta dos que amavas para dizer simplesmente "Olá, já não te vejo há tanto tempo" — a transgressão do quotidiano que tu transformavas numa festa contínua. Os teus dias eram vividos assim e era essa a tua enorme riqueza, a vida como uma grande praça cheia de amigos. Gostavas de os ter em casa, permanentemente, e lembro com saudade as noites em que lias os teus poemas (sim, os teus poemas) como só tu sabias — com o entusiasmo do tribuno, com as certezas que tinhas e defendias até ao limite, com a ternura vulnerável de quem ama os outros.

 

Irmão, completa a tua existência: diz-nos onde está o mapa desse tesouro.

 

 Clara Sacramento
15 de Outubro de 1992
(in “Litoral” de 23/10/1992)
 


 

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