Almanaque Desportivo do Distrito de Aveiro 1950, pág. 36.


Jornalistas Desportivos do Distrito

Augusto Amaro

Valioso colaborador de "A Bola", Augusto Amaro é natural de Salreu, Estarreja.

Guarda-redes titular do extinto União Lisboa, aos 17 anos, passou depois para o Benfica. Internacional, jogou duas vezes contra a Espanha em 1933.

Panorama do Futebol aveirense
visto de Lisboa

Artigo de AUGUSTO AMARO

Apesar de viver em Lisboa desde os oito anos de idade, nem por isso me alheio da actividade desportiva do Distrito onde nasci.

É com satisfação que tomo conta do viver da «nossa gente», quando por intermédio de amigos ou da imprensa tanto me é possível.

Ainda hoje recordo com saudade o primeiro e único desafio que realizei em Aveiro aquando de uma visita do Benfica. Nesse tempo vivia ainda na «era das ilusões» e misturadas com o sangue corriam-me nas veias ondas de romantismo que os anos vividos depressa eliminaram. Fustigado pela exacerbação dos sentimentos de antanho, Aveiro pareceu-me, nessa visita, uma cachopa de cara limpa debruçada sobre a Ria e enamorada do mar.

Nesse desafio, os aveirenses perderam por um resultado volumoso mas, mercê de uma «azelhice» minha, lograram o «ponto de honra».

Valadas disse-me depois: – Já sei: como és da terra quiseste brindar os teus com um golo de favor.

Não o fiz propositadamente; mas se o fizesse, alguém me poderia levar a mal essa pequenina desonestidade desportiva? Quer-me parecer que não.

*

Foi portanto há uma vintena de anos que tomei contacto directo com o futebol de Aveiro. A impressão que me ficou dessa visita – devo confessá-lo com sinceridade – sobre o valor do futebol local foi bastante desagradável; jogava-se pouco... e mal.

Esperei, no rodar dos anos, que o futebol no Distrito progredisse, vivendo na esperança de um dia saudar o representante da região pela sua subida à primeira divisão do Campeonato Nacional. Mas o Destino, até à data, ainda não o permitiu. Será que a nossa rapaziada não tenha tendência e gosto para a prática do popular desporto? Quando me lembro do Dr. Mário Duarte, Dr. Rui Cunha e outros mais convenço-me não ser essa a razão primordial por que o futebol aveirense não progride.

É pena que tal facto se registe, pois Aveiro lucraria muito se tivesse um clube na Divisão Superior. Afigura-se-me que actualmente uma boa equipa de futebol é um dos melhores elementos de propaganda da sua região. E Aveiro, pelas suas características geográficas, pela sua indústria e pelos seus produtos bem merecia ser visitada por muitos forasteiros. Mas enfim, à falta de eventos no desporto-rei, orgulho-me com as vitórias dos «Galitos» no remo.

E a superioridade aveirense nos desportos náuticos mais me enraízam no espírito a ideia romântica adquirida na mocidade, aguando da minha visita. Aveiro permanece ainda uma cachopa de cara limpa enamorada do mar...


 

Página anterior Página de opções Página seguinte