Expediente de advogado
Um lavrador foi a uma feira, levava cem libras, e, para as ter mais
seguras, entregou-as ao estalajadeiro. Quando careceu delas, foi
pedir-lhas. O estalajadeiro
mostrou-se ignorante do caso, e não lhas entregou.
O lavrador foi (consultar um advogado. Este aconselhou-o:
– Tenha paciência, vá ter com o estalajadeiro, fale-lhe civilmente, e
diga-lhe que o desculpe, pois as cem libras tinham sido confiadas a
outra pessoa. Depois vá
com um amigo seu e entregue ao estalajadeiro outras cem libras.
Podemos imaginar a cara com que ficou o lavrador com tal conselho! Mas,
movido pelas palavras e boa fama do advogado, seguiu o conselho e foi
dizer-lhe que
tinha feito o que ele lhe aconselhara.
– Agora, disse o advogado, vá, só, pedir as cem libras.
O lavrador queria ir acompanhado, mas o advogado insistiu, dizendo que
fosse só. O lavrador assim o fez, e o estalajadeiro não pôs dúvida em
lhe entregar as
cem libras. Foi o lavrador muito contente, dar parte do acontecido ao
advogado, dizendo:
– Cem libras já cá estão, mas as
outras cem?
– Também hão-de vir, disse o advogado. Vá agora acompanhado pelo amigo
que as viu depositar.
Não é preciso dizer que o estalajadeiro viu-se apanhado, e deu as cem
libras que o lavrador recebeu e foi mostrá-las ao advogado,
agradecendo-lhe tão bons
conselhos e gratificando-o com generosidade.
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Legendas eternas
– Há saudades que desabafam nas lágrimas; e
outros que se embebem delas. A saudade do objecto, existente a
distância, converte-a em delícias a aproximação,
porém, quando a saudade de um sítio é a dor repercutida de vidas que lá
viveram, e não podem reviver com a nossa, essa não tem alívio.
– Nunca é feliz com um vestido de chita a
mulher que tenha amigas com vestidos de seda. – Castelo Branco |