LUÍS AMARO
«Duma simplicidade estranha,
muito pessoal, toda do seu «eu» intrínseco, expressões de sentimento manifestamente suas, longe dos
outros, da turba, do movimento, o autor revela-se, no seu elegante livro
de poemas, «Dádiva», um poeta de merecimento. Poeta que surge, novo,
alentejano de nação, Luís Amaro vem marcar lugar próprio na poesia
lírica nacional. Possuidor de especial saudosismo, contemplando os longes da sua alma em
êxtases, vive e sonha agridocemente. Cada poema
deste livrinho é como uma tela em que o pintor haja sabido interpretar,
em suaves coloridos e finíssimos traços, os sucessivos estados de
espírito do artista.»
PAISAGEM
Campos que amei um dia
A divagar, liberto...
Distâncias, arvoredos
Que
ouviam meus segredos
Magoados e débeis...
Imponderáveis tardes,
Que é
do lirismo ardente?
Inutilmente anseio
Por vós, doce alegria!
Volto e quero esquecer-me,
Sonhar talvez...
a olhar por estes longes,
E tudo me é silente.
Aquela árvore onde
Meu sonho floria
E a esplender envolvia
De idealidade o mundo,
Não a descubro... Só
Escombros, e silêncio,
Seres
lívidos, fantasmas
Com fome, soluçando!
A tarde já não fulge
Como naquela infância.
Tem um livor nocturno...
– Secura e febre e ânsia.
LUÍS AMARO
(Do recente livro Dúvida, poemas,
edição da Portugália).
––o–O–o––
LEGENDAS ETERNAS
A inveja, a cólera, a vingança, o ódio devoram a alma que em si se
aninham; e esta alma atormentada está continuamente como nos transes dum
doloroso parto, para dar à luz o assassino.
– Usai para com os aflitos de palavras de entranhável amor, que temperam o amargor das lágrimas. Não há aí padecimentos que os não abrande a
simpatia. As tristezas da vida, desvanecem-nas os raios do amor fraterno,
bem como pela alvorada os primeiros raios do sol derretem a geada no
Outono. – LAMENNAIS.
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