PARA LER, RELER E MEDITAR
– A natureza só pede o necessário e a razão
só o útil.
– Para viver na abundância não é necessário aumentar riquezas; basta
moderar os desejos.
– Se a imprudência estivesse só dum lado, pouco durariam as contendas.
– Perguntando a Certo filósofo qual era a cor que melhor assentava no
rosto duma mulher, respondeu, com tanta agudeza como verdade, que a do
pudor.
– Não dês demasiada liberdade à língua; lembra-te de que ela
naturalmente está fechada e como prisioneira dentro da boca.
– Seja a tua boca o cárcere da tua língua. Curam-se as feridas da faca,
mas as de língua não têm cura.
– A ambição é a fome canina da imaginação.
– Não é grande homem o que não tem valor de ceder à adversa fortuna.
– O espírito mais forte é o que conhece melhor a própria fraqueza.
– Todo o mal que se não pode evitar aligeira-o a paciência.
– O amigo de todos não é amigo de ninguém.
– O egoísta é aquele que poria fogo a uma casa alheia para assar um ovo
para comer – assim o definia Bacon.
– O fraco ofendido atraiçoa; o forte é magnânimo perdoa.
– Ninguém se vinga com tanto primor como aquele que, havendo sido
perdoado, se converte em benfeitor.
– A boa instrução vale mais que todas as riquezas.
– A razão exige cultura e esforço para que se possa desenvolver e
brilhar; é como a faísca oculta nas veias da pederneira, que não cintila
senão a golpes de rijo aço.
– A ociosidade é como a ferrugem, consome mais do que o trabalho: uma
chave de que todos os dias nos servimos, anda sempre polida e limpa –
Benjamim Franklin.
– É mais fácil reprimir o primeiro capricho que satisfazer todos os que
se lhe seguem.
– Quando a fonte está seca, então se conhece a valia da água.
– Ganhamos ordinariamente mais em ouvir do que em falar: quando falamos,
despendemos; quando ouvimos, arrecadamos.
––o–O–o––
Musa alentejana
Suspiros, cuidados,
paixões de querer,
se tornam dobrados,
meu bem, sem vos ver;
não sinto prazer,
sem vós um só dia
viver não queria.
Não quero, nem posso,
nem posso querer
viver sem ser vosso
e vosso morrer;
pois isto há-de ser,
por morte haveria
não vos ver um dia.
Garcia de Resende |