De Helvécios cremos Elvas derivada,
Fortaleza do Reino mui luzida:
Pelas linhas quebradas afamada,
E por mitra e bastão enobrecida.
(Silveira, Coro das Musas, Parte 1.ª, Est. LXXV)
I – FUNDAÇÃO
É impossível marcar com precisão a data da fundação de
Elvas. Uma razão, importantíssima, tem impedido o conseguir-se
concretizar tal sucesso: a antiguidade desta imponente terra
fronteiriça. Tão remota que não há documentos nos Arquivos e nas
Bibliotecas que a tenham registado.
Recorrendo, porém, ao seu nome – Elvas – fez-se alguma
luz sobre a questão e daí as hipóteses que se têm verificado, desde os
antiquários André e Garcia de Resende até Herculano. Outras ainda se têm
fundado nas opiniões notáveis de geógrafos árabes, como Edrici. Enfim, a
mais corrente e talvez mesmo a mais aproximada da verdade é a seguinte,
que resumimos, dado que apenas estamos pincelando algumas Imagens de
Elvas.
Os Cartagineses, os Romanos, os Alanos e Suevos e os
Mouros, quando vieram à península já tinham notícia desta povoação,
portanto foi com certeza fundada antes dos primeiros destes povos.
Remontando na História encontramos os Galos Celtas, que chegaram à
Espanha poucos anos depois de Tubal ter erguido Setúbal (Cetobriga ou
Cetubala) e Ulisses fundar Lisboa (Ulissipona). Entre os Galos vinham
povos da região que ficava entre os rios Garona e Loire e chamados
Hélvios. Atraíra-os a fama do ameníssimo terreno da Lusitânia e,
arribando à província que é hoje o Algarve a povoaram, subindo após pelo
Guadiana, até alcançarem estes campos abençoados pela Natureza, onde
teriam dado princípio a Helvas pelos anos da Criação do Mundo de 2963,
depois do Dilúvio 1307 e antes do Nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo 999. Elvas será, assim, uma das mais antigas povoações de
Portugal.
II – GEOGRAFIA
Está situada na encosta dum monte, áspero e despenhado
para a parte do Norte, sobre a pequena ribeira do Cêto, mas de suave
declive para o Sul, onde se ostenta a parte mais importante da cidade,
quase em anfiteatro. Na planície que a envolve há numerosas habitações,
hortas, pomares, montes e quintas formosíssimas.
Está a II quilómetros da fronteira, em frente de Badajoz,
capital da Estremadura
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umas 3 horas e meia de Lisboa (de automóvel).
Tem Estação de Caminho de Ferro (Linha de Leste) a 3 kms.
Por Elvas passa a Estrada Internacional Lisboa-Sevilha.
A posição da cidade é: Latitude 38° 53' 15", Longitude 7°
8' 4°" e a 320 metros de altitude.
Está cercada de grossas muralhas, bastante largas, e de
fossos também espaçosos, embora poucos profundos em virtude do terreno
ser duro e pedregoso.
III – GEOLOGIA
No solo de Elvas encontram-se quase todas as formações
geológicas conhecidas, por isso a grande diversidade de aptidões
agrícolas no concelho. Dominam especialmente os terrenos graníticos e
paleozóicos, com manchas dioríticas muito salientes. No miocénio
lacustre que se estende ao longo do Caia e Guadiana, junto da fronteira,
nas herdades de AIfaróbia e Comenda, entre outras, observa-se uma série
de estações paleolíticas.
IV – GEOGRAFIA
Está o concelho de Elvas no Sistema Transtagano, do qual
são ramificações as Serras do Falcato e Malefa e o Monte da Graça.
V
– HIDROGRAFIA
Atravessa o concelho o Caia, afluente do Guadiana, que
nasce na Serra de S. Mamede uma légua a E. de Portalegre e corre em
direcção geral S. S. E. Tem várias pontes e entra no Guadiana na
freguesia de Santo Ildefonso, com o curso de 70 kms, dividindo a
fronteira desde a freguesia de Caia até à sua foz. São afluentes do Caia
as ribeiras de AIgalé e CayoIla, e desta última o é a
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ribeira de Cêto. São afluentes do Guadiana as ribeiras de Caneão, Varche
e Mures.
VI - CLIMA E PAISAGEM
Estando dividido o país em 7 Zonas climatéricas, pertence
Elvas à 6.ª – Zona Alentejana – cujas características principais são:
temperatura muito irregular, indo de 3º no Inverno a 44 no Verão (à
sombra). A paisagem é rica de encantos e quase todas as terras se
apresentam cultivadas pela mão do homem. A enorme abundância de pomares
e quintas, com alamedas e recantos aprazíveis torna os arredores da
cidade imensamente apreciados, celebridade que já vem de tempos remotos,
pois o cartaginês Maharbal aqui assentou o seu quartel-general
justamente pela luxuriante vegetação que aqui encontrou.
VII - FLORA E FAUNA
Elvas faz parte da Região Alentejana. Predomina a
oliveira e a cultura de trigo, cevada e aveia. É ainda muito fértil em
azeite de renome mundial; como as azeitonas; em pastos, onde se cria
gado cavalar, que tem o merecimento de ser o mais apurado de Portugal.
Há grandes defesas e azinhais, que a abastecem de lenha, carvão e
bolota. Nas hortas as hortaliças e as frutas são magníficas, e
deparam-se a cada passo diversos géneros de ervas medicinais e flores
que exalam deliciosos aromas.
Nas ribeiras pescam-se bordalos e pardelhas.
Em 1842, se bem que em pequena quantidade, cultivava-se o
linho.
VIII – SUBSOLO
Em 5 de Setembro de 1769 descobriu-se mineral de estanho
no sítio que chamam «Covas do Estanho», perto da pitoresca ermida do
Senhor Jesus da Boa-Fé, o qual foi depois explorado.
Havia em Elvas uma mina, de cobre, a que se refere
Domingos VandeIli no voI. 1.º das Memórias Económicas da Academia das
Ciências de Lisboa, págs. 181, que dela extraiu a título de ensaio,
23 arráteis e um quarto por quintal de excelente cobre.
Há notícias da existência de fontes de águas férreas na
margem esquerda do Cêto, junto da Ponte das Hortas.
IX – ESPECIALIDADES
Além das saborosíssimas azeitonas, a que já fizemos
referência, e que o sábio naturalista romano Plínio tanto elogiou, são
de mencionar, com maior relevo, as ameixas doces, de fabrico
esmeradíssimo e sem rival em todo o mundo.
Tanto as azeitonas-maçanilha, negroa, negrão, cordovil,
Redondil, Verdeal, Sevilhana, Conserva, Tentilheira, etc. – como a
ameixa, têm sido exportadas para todas as partes do globo.
Ai, ai
Verdes olivais,
Verdes olivais,
Que azeitonas dais.
Ó Senhor da Piedade
Lá do mei’dos olivais
Guardai-me a minha azeitona
Não a comam os pardais.
Igualmente são de nomear a Sopa Juliana, curiosíssima e
gostosa preparação em hortaliças secas; Laranja em doce; Hortaliças em
doces; os apreciadíssimos enchidos (carne de porco ensacada), nas suas
mais rogadas qualidades: chouriço, morcela, paio, linguiça e farinheira;
os admiráveis pastéis de mimo, etc.
X – ALGUMAS QUADRAS POPULARES
Vivam Campo Maior e Elvas.
Viva a vila de Olivença,
Viva também meu amor,
Que tem tão bela presença.
Adeus, Rossio da Feira,
Mais abaixo Santa Rita,
O Senhor da Piedade,
Ó que Igreja tão bonita!
Olha o diabo da velha,
Tem mais que se lhe diga:
Inda se está alembrando
De quando era rapariga! |