Acerca deste almanaque
Foi em Dezembro de 2007, já lá vão catorze anos, que fui
contactado através do e-mail por um alentejano, em tempos
director da Casa do Alentejo, de nome Luís B. B. Jordão, tal como eu
também nascido em 1945.
Descobriu a minha existência através das páginas do
projecto «Aveiro e Cultura», inserido na altura ainda nos servidores do
Prof2000, localizados na DREC, em Coimbra, onde permaneceria ainda
durante alguns anos, antes de ter migrado para Lisboa, para a sede do
Ministério da Educação e Cultura, onde continuaria por mais algum tempo,
antes dos senhores ligados à cultura no nosso País terem mandado para as
urtigas todo o espólio cultural, íamos nós pela Páscoa de 2018.
Luís Jordão apresentou-se-me electronicamente. Elogiou o
espaço de cultura que acabara de descobrir e manifestou-me o desejo de,
também ele, poder aqui partilhar o que ia produzindo em
prol da cultura portuguesa, com especial ênfase para tudo quanto
dissesse respeito à sua região de origem: o Alentejo. Ao mesmo tempo,
elogiou a originalidade do aproveitamento que eu fizera de um almanaque
editado em 1995 por uma equipa do Departamento de Educação Básica do
Ministério da Educação, perguntando-me se eu não estaria disponível para
o ajudar na edição impressa e electrónica de um «Almanaque Alentejano»,
de que ele era o Director. Ele trataria de contactar os colaboradores,
para obtenção dos artigos; eu faria a montagem do livro para a
tipografia e, simultaneamente, a sua reconversão para formato
electrónico.
Como eu desconhecia a existência de tal almanaque,
enviou-me pelo correio os exemplares já publicados, para eu ficar com
uma ideia do tipo de publicação e, ao mesmo tempo, poder reconverter
para a Internet os já existentes.
Recebidos e apreciados os exemplares, a minha resposta
foi afirmativa. Podia contar plenamente com a minha ajuda. Tratasse ele
de arranjar o material a publicar, lá por Lisboa, entre os seus amigos e
conhecidos, tratasse ele de arranjar todo o material de interesse para
os leitores, que eu, cá por Aveiro, trataria de montar o livro e
imprimir o primeiro exemplar, antes de lho enviar como amostra,
juntamente com os ficheiros do computador, para ele apreciar e mandar
para a tipografia, ao mesmo tempo que as páginas iam ficando
consultáveis na Internet, à medida que o almanaque era construído.
Convirá dizer, para sermos mais rigorosos, que o trabalho de paginação
só começou a ser feito em Aveiro a partir de 2013. Nos anos anteriores,
o exemplar do almanaque era-me enviado já pronto, cabendo-me apenas a reconversão para o formato electrónico. A partir de 2010, Luís
Jordão começou a mandar-me, além do exemplar impresso, também a versão
em formato PDF, pelo que, a partir desta altura, o exemplar passou a ser
fornecido aos cibernautas em dois formatos: versão integral em PDF e
versão interactiva, em HTML. Só em 2013 me foi pedido para efectuar a
paginação, antes da ida para a tipografia, tornando deste modo a
impressão dos almanaques menos dispendiosa.
Durante vários anos mantivemos uma conversa regular pelo
correio electrónico. E durante esse período de tempo os exemplares foram
sendo compostos e disponibilizados no espaço «Aveiro e Cultura». Deste
modo, a cultura portuguesa foi sendo enriquecida com almanaques de
leitura agradável e instrutiva, a partir do ano de 2005… Até que,
chegados a 2014, ano que ainda viu surgir um exemplar, a
correspondência, bruscamente, deixou de se fazer.
Recordo-me que, durante o ano de 2014, algumas vezes o
amigo B. B. Jordão se lamentava que a saúde não lhe ia da melhor feição.
E durante alguns meses, infelizmente em reduzido número, fui recebendo
dele, com alguma regularidade, uma breve mensagem perguntando-me «que
tal ia a moenga»; até que, subitamente, as mensagens acabaram de vez,
tal como se finou a publicação do Almanaque Alentejano.
Nas páginas do espaço «Aveiro e Cultura» ainda se mantêm
os espaços para os anos seguintes. Ainda lá figura a indicação dos anos
de 2015 e 2016, mas o que o lá não figura são os respectivos exemplares
do almanaque.
A que propósito surgiu esta evocação de Luís B. B.
Jordão, agora que estamos a doze dias do final de 2021 e a sete anos de
distância da extinção de um almanaque?
O causador de todo este arrazoado deve-se a um alentejano
há muitos anos residente em Aveiro. Há tantos anos residente, que melhor
seria dizer: agora mais aveirense que alentejano! Pois este senhor, de
raiz alentejana, mas já com tronco e ramos aveirenses, é também um amigo
meu – o amigo António Carretas. E curiosamente, este meu amigo,
actualmente mais aveirense que alentejano, também entrou no espaço
«Aveiro e Cultura» no mesmo ano que B. B. Jordão. Só não coincide no ano
de nascença, porque, quando nós cá aparecemos, isto é, eu e o B. B.
Jordão, já ele estava farto de correr cá a superfície e, provavelmente,
já a saber de cor e salteado o AEIOU e todo o abecedário, aprendido na
então chamada Escola Primária.
Pois o amigo Carretas, fará amanhã uma semana, deu-me o
prazer da sua companhia, durante alguns minutos, para me trazer um livro
de memórias por ele publicado, um livro de «Memórias Celulósicas»,
e me oferecer um antigo «Almanaque Alentejano», o vol. XII de
1950, da responsabilidade editorial de Fausto Gonçalves(1), para eu me entreter a ler e, sobretudo, para seleccionar o que
dele considerasse mais importante, para juntar à colecção de almanaques
alentejanos existentes no espaço «Aveiro e Cultura».
Aqui está explicada a origem de toda esta longa reflexão,
antes de procedermos a uma análise minuciosa do conteúdo deste volume
com 344 páginas, com as dimensões de 23x16 cm, ainda num estado de
conservação muito razoável, apesar de já evidenciar uns pensos adesivos
transparentes, para lhe segurarem a capa com uma ceifeira a cores,
fotografia de um senhor que deverá chamar-se Eduardo Nogueira, a
fazermos fé no Ed., abreviatura que antecede a árvore que nos dá
as nozes.
Trata-se de um almanaque, cuja despesa de tipografia terá
sido em parte custeada pela elevada quantidade de páginas publicitárias,
algumas de grande interesse, por nos revelarem
características de uma época já passada. Algumas destas páginas
publicitárias mostram-nos mesmo algum avanço em relação ao século XXI, como é
o caso, por exemplo, do anúncio a uma turbina eólica geradora de
electricidade, antecessora das actuais ventoinhas gigantescas, que
substituíram os tradicionais moinhos, que, outrora, víamos nas cumeadas
das serras, e hoje estão espalhadas por tudo quanto é sítio exposto às
ventanias geradoras de electricidade.
Nesta reedição electrónica de um almanaque de outros
tempos reproduzimos apenas alguns anúncios, como amostragem do conteúdo, e
todos os artigos de índole cultural, cujo interesse se mantém inalterado
com o avançar do tempo.
Relativamente às características desta versão
electrónica, poderemos dizer que são idênticas às dos restantes
almanaques já existentes no espaço «Aveiro e Cultura». Quer isto dizer
que o almanaque pode ser consultado folheando-o, utilizando os botões
de avanço e recuo no final das páginas, ou recorrendo aos
índices, também existentes no original: Índice Geral e
alfabéticos de conteúdos e autores.
O cabeçalho, no cimo da página, como é evidente,
desempenha o papel idêntico ao de todos os cabeçalhos, mas tem a mais a
função de um botão interactivo. Significa isto que, clicando-se
sobre ele, o cibernauta poderá aceder à hierarquia superior, ou
seja, voltar para a etapa anterior.
As imagens reproduzidas nunca poderão ter a qualidade que
gostaríamos. Para isso, teríamos de ter acesso às fotografias originais,
o que é praticamente impossível, porque já nem deverão existir. Tivemos,
por isso, de pedir ajuda aos actuais recursos digitais, que é com quem
diz, tivemos de recorrer às modernas ferramentas de edição gráfica, tipo
PaintShop, para lhes melhorar a qualidade. E são, na sua maioria
interactivas, o que significa que, clicando-se nas miniaturas, poderemos
vê-las em tamanho ampliado. E basta de explicações!
Resta-nos desejar, para conclusão, que as horas ocupadas
na recuperação desta preciosidade bibliográfica vos permitam uns
momentos de agradável leitura e, quiçá, vos ajudem a imaginar como era a
vida num tempo em que nós – refiro-me a mim e a outros da mesma geração – éramos
crianças e vivíamos numa época muito mais ecológica que a actual, em que
tudo era reaproveitado, para evitar desperdícios, tudo era reparado,
quando se avariava, e não era atirado para o lixo, e em que podíamos
correr e brincar no meio das ruas, porque quase não existiam carros a
atravancarem as cidades, vilas e aldeias onde vivíamos. Outros tempos!
Aveiro, 19 de Dezembro de 2021
Henrique J. C. de Oliveira
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(1) – Importa dizer, a propósito deste nome,
que Fausto Gonçalves foi o responsável pela 1.ª série. De acordo com o
que se pode ler no final deste almanaque, 12 números foram impressos entre
1939 e 1950. Também conseguimos apurar que mais exemplares foram publicados
depois deste que nos foi oferecido, mantendo-se o Almanaque Alentejano até
1972, perfazendo um total de 33. De acordo com uma pesquisa
efectuada, ao longo do seu tempo de vida, teve um elevado número de
colaboradores, cujos nomes registamos, por ordem alfabética. Não podemos
garantir que a listagem esteja completa. Todavia o que conseguimos
registar é de cerca de cem colaboradores. –
Colaboradores da 1.ª Série
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