Quase no final do
Século XIX, foi fundada a Escola Brotero em 1884, seguindo o modelo
da Escola Industrial, saída da Exposição de South Kensington, que
tinha inspirado a fundação destas escolas. Era o que, num Portugal
traído, era sempre travada por gente inculta e demasiado poderosa.
De facto, em 1851, South Kensington foi o ponto de partida para o
pensamento moderno dos museus. Inseriam-se já então no papel de
equipamento complementar da actividade curricular de aprendizagem
prática e era também um elemento socioeconómico e agente dinamizador
do desenvolvimento local.
E assim no século
XIX desenvolveram-se em Inglaterra os museus municipais acompanhando
a urbanização rápida (Law, 2002, p.76), mas em Portugal isso não
sucedeu. De facto, esta realidade só era abanada pela violência
crítica de pessoas como Joaquim de Vasconcelos, um amigo de António
Augusto Gonçalves, que ia liderar os movimentos artísticos de
Coimbra, que eram todos eles assentes na Arte Popular e na Educação
dos Operários. Era por isso um projecto de desenvolvimento local
inserido num processo educativo, que tinha como alicerce o ensino
artístico e o ensino científico e que já foi explicado em Diniz
(2009).
Foi também a base
de uma actividade de cooperação e desenvolvimento local, cuja
expressão única e original em Coimbra não foi só a requalificação do
santuário do Senhor da Serra pela Escola Brotero, como nos conta o
Padre Campos Neves em 1920. De facto, concretizou-se também nas
diversas indústrias e oficinas de Coimbra para as quais a Escola
preparou profissionais não só competentes, mas também necessários
para fazer a melhoria competitiva das suas práticas produtivas.
Este processo concretizou-se
antes nas Caldas da Rainha através da iniciativa de Bordalo Pinheiro
que tinha na empresa que criou uma escola profissional em 1887-1889,
que instruía louceiros formistas, oleiros, pintor vidreiro e
forneiro e onde era necessário introduzir laboratórios, para que
permitissem controlar a matéria-prima, através do uso dos saberes
dos químicos, para produzir faianças de alta qualidade como era a de
Sèvres (Vasconcelos, 1891, a)). Acrescente-se que, para Joaquim de
Vasconcelos (1891, b), era este um ensino prático destinado ao
proletariado para que ganhasse a vida, assumindo-se como ensino
popular. Também a Escola Brotero era modelar para Joaquim de
Vasconcelos, amigo e mentor de António Augusto Gonçalves, que o
elogiou pela criação de «oficinas fundamentais conjugadas, aliadas
intimamente para a demonstração diária, constante dos problemas
teóricos do ensino»
(Serra, p. 70).
1 – O Papel dos
Museus Pedagógicos
Em 1884, na base
desta renovação escolar estavam os Museus Pedagógicos que seguiam os
modelos europeus, propagandeados entre nós por Dicionários
Pedagógicos, como o de Campagne (1886), que nele eram assim
definidos:
“Chamam-se assim,
em França, estabelecimentos que compreendem por um lado uma
biblioteca de obras de educação e de legislação escolar, bem como
livros clássicos propriamente ditos, e por outro uma colecção de
material de ensino e de mobília escolar. Noutros países têm também o
nome de exposição escolar permanente, de museu de educação
e de museu escolar.
O museu
pedagógico de Paris compreende uma biblioteca com mais de 10000
volumes e com mais de 130 periódicos de pedagogia, e além disto as
quatro seguintes secções:
1ª Material
escolar (plantas de casas para escola, tipos de mobílias
escolares).
2ª Aparelhos
de ensino (mapas, modelos, colecções geográficas, científicas e
tecnológicas).
3ª Colecção de
trabalhos de alunos.
4ª Documentos
relativos à história da educação.
Importantes
estabelecimentos da mesma índole existem também na Áustria,
Inglaterra, Bélgica e Espanha.”
Por outro lado, o
Museu Industrial e Comercial do Porto realizou em 1890 uma exposição
de desenhos e de Obras d’Arte dos professores Micheangelo Soà,
arquitecto italiano que tinha estudado em Veneza no Institituto di
Belle Arti e de seguida no de Roma, Vittorio Guiuseppe Fiorentini,
engenheiro mecânico italiano que se tinha graduado no Instituto
Técnico de Roma e Giovan Battista Cristofaneti, escultor cinzelador
que tinha vários prémios e uma patente profissional para o ensino do
desenho e modelação artística aplicados à indústria e cinzeladura
decorativa, sendo os dois primeiros professores da Escola Industrial
Infante D. Henrique e o terceiro professor da Escola Industrial de
Viana do Castelo (Vasconcelos, 1890).
Em Coimbra,
concretamente na Escola Brotero, a influência italiana foi
intermediada por Leopoldo Battistini, nascido em Jesi, Ancona, em 12
de Janeiro de 1865, onde se torna professor em 1889 com 24 anos
(Lázaro, 2002).
Um ano depois,
com base na análise dos trabalhos dos professores das escolas
industriais, comparando o desempenho dos portugueses com os
estrangeiros e todos os professores entre si, Joaquim de Vasconcelos
(1891, b), através Exposição das Escolas de Desenho Industrial, vai
valorizar os procedimentos pedagógicos de António Augusto Gonçalves
pois este usou os monumentos de Coimbra para ensinar os seus alunos.
Mas avisa:
“Como mediador
surge naturalmente outro elemento, a estética prática, que tem de
provar ao artífice e ao artista que a técnica como a arte têm
limites definidos. O que estamos vendo na escola de Coimbra é um
exemplo perigoso, que pode seduzir outros, porque sendo o efeito
brilhante, aparentemente, e o público inexperiente, os aplausos
baratos não faltarão” (p.37). Apostando na competição entre
professores e escolas e na comunicação com franqueza do que cada um
faz, acredita que “a pobreza relativa do material de algumas
escolas” pode ter remédio na “competência, energia e iniciativa” dos
professores que podem “suprir temporariamente a falta de exemplares
e de tipos” (p.44). De facto, considera que o uso de estampas na
aprendizagem torna este ensino individual um trabalho pesadíssimo
para o professor ao dar a cada aluno uma estampa. Isso torna o
modelo em pedra, ou noutro qualquer material, mais eficaz pois o
ensino tornar-se-ia simultâneo na sala de aula, permitindo explicar
o que se pretende reproduzir ao mesmo tempo para todos (pp. 9-10).
Isso tornava o Museu, como lugar de depósito de modelos para uso nas
aulas, um elemento imprescindível no processo educativo, levando os
professores a construí-lo através da colecção de peças artísticas
diversas. É o que eles e os seus apoiantes vão fazer. Contudo, neste
processo de ensino não refere Battistini.
Mais tarde, com
base na colecção de António Moreira Cabral, Joaquim de Vasconcelos
organizou um catálogo de cerâmicas portuguesas, que era um excelente
campo de investigação que, infelizmente, na produção contemporânea,
se circunscrevia ao Porto, deixando de fora a produção cerâmica
coimbrã. Tinha alguns exemplares do século XV, XVI, XVII e XVIII, o
que lhe dava uma real valia para o estudo da evolução da arte e
indústria cerâmica portuguesa.
Por outro lado,
mostrando a importância do ensino e da investigação química, Charles
Lepierre em 1899, após uma investigação de dez anos sob a cerâmica
em Portugal, faz a geografia da distribuição desta indústria, onde
aplica não só conhecimentos de química como de história empresarial
e até etnográficas.
Usa para o
apoiar uma rede de amigos, entre os quais o médico Amândio Paul da
Guarda e o jovem estudante de medicina José de Matos Sobral Cid, que
vai notabilizar-se pelo empenho que vai ter na concretização do
ensino experimental em Portugal quando foi ministro em 1914.
Charles Lepierre
vai-nos dando assim ideias muito claras da evolução da indústria,
onde se nota no caso da Fábrica do Rato, o papel do director
italiano, Tomás Brunetto, de Turim e do mestre Veroli na sua
fundação em 1767 que, por sua vez, vai fundar com sucesso uma
fábrica em Belas. Acrescenta ainda que o director italiano foi mais
tarde substituído por Sebastião Ignacio de Almeida, que geriu a
fábrica do Rato durante sessenta anos, encerrando em 1830 (Lepierre,
1889, p. 97).
Este trabalho de
análise das argilas portuguesas é feito no Laboratório da Brotero,
notando-se um raro rigor na elaboração das colecções de arte das
empresas portuguesas, dando, assim, conta do estado da tecnologia
cerâmica portuguesa através das pastas cerâmicas, dos vidrados e dos
processos usados na pintura das louças (Lepierre, 1889, p. 5).
Informa por isso que:
“Como síntese
destes esforços resultou poder oferecer ao museu de Sévres cerca de
250 peças diferentes de louça portuguesa desde a mais comum até à
mais artística. Coleccionei ao mesmo tempo proximamente 450 amostras
de argilas e pastas acompanhadas da sua certidão de autenticidade.
Estas colecções
chegaram a Sèvres nos princípios do ano corrente. Da colecção das
argilas existe duplicado e triplicado na Escola Industrial de
Coimbra” (p. 6)
Contudo, Charles Lepierre censura que “em centros importantes de fabrico, como
Coimbra e Caldas da Rainha, nem sequer uma análise tinham! Apenas o
mero acaso ou uma experiência mal dirigida presidem à composição das
pastas. Por isso não é raro ver confundir entre fabricantes margas
com argilas” (p. 7). Volta ao problema da louça de Vandelli, ou
ratinha (p. 126) para dizer que na louça de Coimbra falta instrução
ou seja, o aproveitamento da escola industrial Brotero, pois “o que
falta à louça de Coimbra é gosto e desenho, tanto na forma como na
pintura”, sendo “nisto que consistirá a arte de oleiro quando a
instrução do trabalho, simples metáfora em voga, se incarnar numa
forma definitivamente prática, para bem da arte, da regeneração
completa dos costumes e dos interesses” (p. 127).
É assim que
Charles Lepierre, ao permitir que António Augusto Gonçalves
acrescente umas páginas a este seu trabalho, possibilita que se
saiba que o documento mais antigo sobre a cerâmica coimbrã é de
1145.
2 – O Papel do
activista Joaquim Martins Teixeira de Carvalho
Como coleccionador de arte, o
médico Joaquim Martins Teixeira de Carvalho (Quim Martins) reuniu
louças e vidros portugueses, nomeadamente uma colecção de produtos
da cerâmica portuguesa, que depositou no Museu Machado de Castro e
que, mais tarde, foi adquirida pela sua direcção. Antes, em 1912, já
tinha emprestado um altar do colégio de S. Tomás com Gonçalo de
Amarante e ainda outro representando a visitação de Nossa Senhora e
Santa Isabel.
Por isso, A Resistência, na fase de uma 1ª República
triunfante, dedica-lhe em Abril de 1917, duas colunas da primeira
página, ilustrada com o seu retrato:
“Perder o tempo
lhe diz essa corja por aí além, quando o vêem andar a rebuscar
pedras, quadros, cacos, ferros-velhos e outras ninharias, ou ainda a
preparar uma veia, os ossos de um órgão qualquer, estudando Ética e
Estética, buscando numa e outra a Estética e de todas se servindo
para fazer etologia.
Depois…quando a
conquista está feita, todos caem como basbaques e vão para os seus
envenenar o serviço prestado.
Esquecem os
míseros zoilos que pedras e ossos são mais leais e dizem mais do que
todos os ridículos que enxameiam por este mundo de Nosso Senhor.
Pedras, ferros e ossos são que nos levam à Verdade e à Ciência.
Vítima das
maiores ingratidões, das mais negras injustiças, o Dr. Teixeira de
Carvalho tem buscado nos livros e nas coisas o amor, o carinho e
sinceridade que não tem encontrado nos homens, esses tartufos que o
mandaram ensinar Estética para o Museu Machado de Castro, fora da
Universidade dessa Universidade que o não quis director do Instituto
contra a raiva, preferindo que ele não seja um facto. Esse estudo é,
porém, a razão de nós alfim irmos ter belas lições sobre Arte
(mormente sobre a Renascença), Crítica e Ciência, porque o seu
Tempo Perdido a tudo chega e vem provar-nos que toda a razão
tínhamos quando pedimos a Mestre que publique os seus trabalhos.
Artista na
acepção a mais rigorosa e perfeita do termo, vê na Arte a previsão
do que a Ciência conclui e prova, e é assim que Teixeira de Carvalho
tem a intuição, a Vidência do Artista e o rigor e precisão que faz o
Sábio.
A sua Alma é a Arte; o seu
espírito é a Verdade.”
Empenhado no
desenvolvimento do Instituto de Coimbra, também logo em 1896
colaborou na instalação do seu museu:
“Anda-se em
trabalho de Instalação do Museu do Instituto de Coimbra.
António Augusto
Gonçalves e Teixeira de Carvalho deixarão as suas colecções em
exposição no Museu do Instituto.
Se este exemplo for seguido por
outros coleccionadores, o museu do Instituto poderá tornar-se, sem
dificuldade, o mais valioso para o estudo da arte industrial em
Portugal”.
Era assim
objectivo deste Museu permitir o desenvolvimento e aperfeiçoamento
da indústria portuguesa e era esse também o objectivo da Escola
Brotero.
Em Coimbra, na vida
culturalmente intensa de Joaquim Martins Teixeira de Carvalho
cruzam-se a maioria das personalidades determinantes da vida
cultural e científica de Coimbra do seu tempo como é o caso do
italiano Leopoldo Battistini que, colocado na Escola Industrial
Avelar Brotero, em Coimbra, entrou ao serviço docente no ano lectivo
de 1889/90, conservando-se nesta Escola até ao ano lectivo de
1902/03. Como assinala Alice Lázaro, Battistini, logo que chega de
Itália, conhece a “grande figura da vida cultural e intelectual
coimbrã, o Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, ou simplesmente
Quim Martins, dos quais se lembrará sempre”.
Fazia-o apesar de este criticar o ensino industrial feito por
estrangeiros, nomeadamente Battistini a quem só reconhecem o
trabalho de paciência de um executante habilíssimo (Lázaro, p.111),
que procuravam ensinar o que tinham aprendido mas que nada absorviam
das tradições portugueses. Quim Martins defende por isso em 1893 que
se deve procurar “realizar a necessária convergência a uma
tentativa de estilo visando a originalizar e dar carácter de região
aos futuros produtos nacionais” (in Carvalho, 1926, pág. 64).
Contudo, quando Battistini se transferiu para Lisboa, os colegas da
Escola Brotero sentiram a sua perda (p.144). Perdia assim Coimbra um
participante activo na vida cultural da cidade, onde tinha aprendido
muito através de Quim Martins que, como mentor, o introduziu na arte
cerâmica portuguesa e com Eugénio de Castro, um escritor simbolista,
professor de Francês na Brotero de quem foi amigo e ilustrador de
livros como é o poema Sagramor para o qual fez um quadro que, pouco
antes de 2002, foi leiloado no Brasil (Lázaro, 2002, p. 128).
Joaquim Martins
Teixeira de Carvalho fazia com o arquitecto Augusto Carvalho da
Silva Pinto e António Augusto Gonçalves a troika que comandava os
destinos artísticos de Coimbra, devendo-se a eles o ambiente
estimulante que se vivia na cidade (Mendes, 2007, p. 14). Neste
contexto, Joaquim Martins Teixeira de Carvalho enceta e faz uma
profícua investigação sobre cerâmica.
Ligado numa primeira fase à
Gazeta Nacional, aí sabemos que em Março de 1895, foi convidado
para colaborar na publicação “Arte Portuguesa”,
pois Joaquim Martins Teixeira de Carvalho era um profundo conhecedor
da arte popular e do que era a formação profissional na Escola Livre
de Artes do Desenho dinamizada pelo seu parceiro de troika António
Augusto Gonçalves, cuja capacidade pedagógica admira e elogia.
Por outro lado, a
partir do estudo da organização do mercado da cerâmica em Coimbra no
século XVI e seguintes, foi capaz de determinar quando esta, nas
suas diversas vertentes, surgiu em Coimbra por influência da
indústria de Lisboa, ou do estrangeiro já que esta indústria local
até intermediaria alguma influência vinda do estrangeiro nas suas
diversas nuances. Explica aí o processo de exames pelo qual se
acedia à profissão. É o que documenta bem no seu livro sobre
cerâmica de 1921 em que demonstra um completo domínio do Arquivo
Municipal de Coimbra, onde pesquisou minuciosamente até 1910,
voltando a ele para recolher elementos para as suas aulas de arte e
de estética nos anos de 1915-1916 e 1916-1917, um trabalho que
terminou em Novembro de 1916. Nesta sua análise não se queda na
análise da oferta no mercado local de Coimbra, entra também na
denúncia das malfeitorias que alguns membros do poder local vão
fazendo ou permitindo contra o património artístico coimbrão. Em
tudo mostra conhecimento detalhado e sustentado. Conclui por isso:
“Continuo por
isso a julgar possível que no século XVI, e depois de 1576, se tenha
fabricado faiança em Coimbra” (Carvalho, 1921, pág. 158).
Por fim, não
dogmaticamente, escreve:
“O único defeito
da minha teoria está em explicar quási tudo.
O seu valor nesse
mesmo quási.
Eu desconfio
sempre das teorias que explicam tudo.
Uma teoria é
verdadeira até prova em contrário, e enquanto relaciona os factos
melhor dos que as outras.
É o caso, na
minha opinião, da que apresento…” (Carvalho, 1921, pág. 229).
Faz o mesmo em
relação à ourivesaria onde relata os diversos conflitos entre os
manufactores de prata e os de ouro, dando conta detalhadamente do
tempo em que viveram os diversos artistas e, ainda, da sua colocação
física na geografia urbana da cidade. Mostra ainda como algumas
regras eram naturalmente quebradas por morte do ourives já que a
propriedade era transferida para um não ourives (Carvalho, 1922).
Tudo mostrava
como a Brotero era parte da memória da cidade e Quim Martins com
António Augusto Gonçalves, eram elementos indispensáveis para a
concretização de uma estratégia de cidade e da região que Coimbra
influenciava.
Quim Martins, procurando
continuamente preservar a memória da arte coimbrã, vai depositar em
1899 no museu de antiguidades do Instituto alguns desenhos do século
XVIII. Neles se retrata a cidade de Coimbra antes da perda do Arco
da Traição, e em particular o pelourinho e o largo da Portagem e
ruas anexas.
Falando de
conservação, ataca a mania do coleccionismo de alguns portugueses
endinheirados que, sabendo bem pouco de arte, acabam por ser
transformar em destruidores de objectos de arte, que mutilam para
expor uma cultura que não têm. Mais adiante fala da insensibilidade
com que se destroem monumentos nacionais para com a pedra assim
obtida construir casebres, mas espera que os educadores consigam
criar uma mentalidade nova que os preserve. De facto, tudo o que
fora feito até aí para os conservar e proteger não tinha resultado.
Retomando as suas concepções pedagógicas, mostra em
19 de Outubro de 1901
como o desenho e o acto de desenhar faz parte
integrante do processo educativo, deixando de ser “apenas o encanto
dos pais, a alegria dos amigos; é necessário estudá-los como coisas
sérias, como manifestações intelectuais, como determinantes dos
processos pedagógicos”.
Mais tarde, como
Administrador da imprensa da Universidade a partir de 14 de Outubro
de 1912,
Coimbra tinha
assim, como estratega e militante, alguém que melhorava a sua vida
económica e social.
3 – A Formação do
Museu da Brotero
O Museu da Brotero nasceu da
tentativa falhada de António Augusto Gonçalves de criar um Museu
Municipal de Arte e Indústria de Coimbra em 17 de Março de 1887
(Serra, 2002, 81), inaugurado em 15 de Dezembro de 1889, sendo
transferido para a Escola Brotero em 21 de Março de 1891 (p. 98).
Inseria-se nesta escola dentro da perspectiva pedagógica de Joaquim
de Vasconcelos em 1891, em que, de acordo com a ela, cada professor
devia criar os tipos e modelos de que necessitasse. Por isso, em
1892, Joaquim Martins Teixeira de Carvalho apoiando a Escola Brotero
mandou para o seu Museu Industrial duas grandes jarras de faiança
portuguesa do século XVI.
Poucos dias depois, entregará a este museu um depósito de água
estilo Luís XV de um esmalte azulado com ornatos pintados a verde,
amarelo, castanho e azul, datado de 1781 e assinado por Brioso.
Junta-se a um prato do mesmo autor datado de 1779 que representa uma
caçada e que consta da colecção Gonçalves. Há ainda outros dois não
datados mas assinados. Servem para comprovar com outras colecções
que Vandelli nada acrescentou à arte coimbrã. Bem pelo contrário
fê-la decair.
De facto, António
Augusto Gonçalves em 1889 escreveu:
“Há poucos anos a
aparição fortuita de uma formosa peça, assinada por extenso e
datada, não foi primeiro e inesperado sinal de rebate a supitar a
admiração dos entusiastas de Vandelli. Desde muito que uma
indefinida suspeição pairava confusamente a dispor os ânimos a
encómios, que não eram legitimados por provas positivas e seguras.
Essa peça notável
é uma pequena travessa coberta de decoração relevada a branco, sobre
esmalte azulado, e no fundo uma caçada a cores. O reverso,
marmoreado a castanho, mostra ao centro: Brioso, 1779.
Ora esta data é
anterior cinco anos à fundação da fábrica Vandelli, que, sem
discordância, se sabe ter começado em 1784.”
E António Augusto
Gonçalves junta uma nota em que fala de um catálogo em que, sob o
número 176, outra peça de Brioso foi colocada para venda em 1884 no
hotel Drouot (p. 235).
Note-se que no
século XVIII as fábricas de cerâmica constituíram uma grande família
nacional com uma tradição comum, assim “em primeiro lugar
cronologicamente temos a Fábrica Real do Porto, Massarelos, 1738;
Fábrica Real do Rato, Lisboa, 1767; a cerâmica Brioso em Coimbra,
1779; e a notável Fábrica Darque junto de Viana do Castelo, em 1774”
(Vasconcelos, 1907, p. 16). Também já em 1894, Joaquim de
Vasconcelos tinha listado as indústrias cerâmicas portuguesas,
indicando como existentes em Coimbra: Bento José da Fonseca &
Filhos; Adelino Augusto Pessoa & Filhos; e José António da Cunha.
Frisará a existência em Coimbra do fabrico de uma faiança barata com
clara influência do estilo persa e do estilo hispano-árabe
(Vasconcelos, 1894, pp. 66-68), embora faça pouco depois a análise
crítica do que se faz. Vai assim mostrando alguns riscos que a
indústria local corre, enunciando soluções melhores, onde sublinha
implicitamente o papel da escola e da formação profissional (pp.
70-71). Entretanto, mostrou já a influência de Vandelli em Coimbra,
nomeadamente na produção de faiança, através do aproveitamento de
matérias primas nacionais, sendo evidente o papel impulsionador do
Marquês de Pombal nesta alteração tecnológica (pp.44-45).
através dele
O museu da Brotero era assim uma mistura de exposições e de uma
colecção em construção permanente através do militantismo cultural
de Quim Martins. Assim a Brotero embora não tendo uma colecção, ou
seja um inventário completo, que fosse a base de um Museu, era na
verdade um Museu Pedagógico em construção que servia de base ao
ensino industrial. Não deixava de ter uma riquíssima colecção de
estampas como forma de permitir ultrapassar a falta de modelos no
museu. Confirma esta ideia Alice Lázaro (2002, p. 107) ao escrever:
“responsável pela
conservação de peças raras nacionais, bem como de parte do acervo do
museu de arte retrospectiva, que funcionou junto da Escola
Industrial Brotero, enquadrado no espírito de South Kensington, que
transitou para o actual Museu Machado de Castro.”
Parecia que tinha
sido dado destino a parte do Museu da Brotero, mas, numa visita
exploratória ao Museu Machado de Castro, fui informado pela sua
Directora que o Arquivo ainda não estava disponível para poder
infirmar ou confirmar esta com informação de Alice Lázaro.
Contudo, uma
análise das notas coligidas em 1916 por António Augusto Gonçalves
sobre as colecções existentes no Museu, verificando que nas salas VI
e VII estão faianças diversas, cujos depositantes são quase sempre
Joaquim Martins Teixeira de Carvalho e António Augusto Gonçalves,
podemos inferir que os legítimos proprietários das peças, logo que a
República deu condições para a criação de um Museu de Arte,
transferiram as suas peças para realizarem um sonho há muito
perseguido e que agora era realizado.
Infelizmente, um
trabalho de dez páginas de António Augusto Gonçalves sobre este
processo de transferência, publicado em 1929 desapareceu da sala
Joaquim, de Carvalho, na Faculdade de Letras. Mas, pude e
encontrá-lo na Biblioteca Municipal de Coimbra. Neste folheto, AAG
informa que o espólio inicial foi o Museu do Instituto, que,
ampliado com o mobiliário escolhido de entre as casas das
congregações femininas, fizeram a primeira colecção. Fala de seguida
das obras feitas para instalação, mas não diz tudo. Mas, logo de
seguida fala do papel do Museu de Arte Industrial e da sua
influência educativa, mas não explica de onde veio o espólio do
museu que descreveu em 1916. Note-se que concebeu o Museu Machado de
Castro como um museu industrial que se insere nas expectativas
criadas pelas propostas das Universidades do Trabalho como a de
Charleroy na Bélgica, em que ele contou com o apoio do Arquitecto
Silva Pinto e com o apoio financeiro de Rodrigues da Silva nas
situações de aperto de tesouraria. E para justificar porque só o diz
em Junho de 1929, escreve: “E, se só agora falo, é porque só agora
cessaram os escrupulosos melindres de coerência que me impunham
silêncio: visto que me foi dada isenção do cargo de director.” (p.
10). Antes, tinha escrito que para ele:
“Os museus de
arte industrial não devem ser apenas exibições de raridades
artísticas! Devem abranger mais largos destinos = escolas de
ensinamentos para artistas, antiquários e estudiosos de todas as
categorias:
Tudo isto foi
impulsionado pelo caloroso entusiasmo de convicção e fé inabalável
na influência educativa, infalível e talvez fulminante,
exercida sobre a definição do gosto, em benefício da cultura
nacional.” (p.3)
Este museu da
Brotero foi visitado em 1892 pelo rei D. Carlos e pela rainha D.
Amélia que puderam então verificar como eram interessantíssimas as
colecções de arte peninsular aí expostas, mostrando a originalidade
da arte portuguesa como o sublinha o inspector António Arroio em
1891-1892 (ver Lázaro, 2002, p. 270). Provavelmente Battistini
colaborou na sua instalação (p.118).
Por outro lado, Teixeira de
Carvalho prezava a arte popular, fazia até parceria militante com
António Augusto Gonçalves. Desta forma, citando Amado Mendes (2000),
em 1906, Joaquim Martins Teixeira de Carvalho no seu trabalho «Os
serralheiros da Escola de Coimbra»,
referia alguns deles como discípulos de António Augusto Gonçalves. É
o caso de Manuel Pedro de Jesus e a João Machado, que considerava
seus cooperadores «nesta obra de ressurgimento artístico».
Junta-lhe ainda outros nomes António Maria da Conceição, António
Couceiro e Lourenço d’ Oliveira Chaves de Almeida, arquitecto
Augusto da Silva Pinto Joaquim Mendes de Abreu e Joaquim Abreu
Couceiro. Concluía, sublinhando: «E é, em minha opinião, o ensino de
António Augusto Gonçalves o único que, no nosso país, mostra a
compreensão inteligente das preocupações pedagógicas que têm
reformado completamente no estrangeiro a educação artística do
operário».
É o seu defensor também quando renova a arte do ferro forjado, dando
um renovado cunho artístico a esta arte antiga. Era o resultado da
recolha sistemática de obras de arte que, ao serem atentamente
observadas por operários, como é o caso de João Machado, os levavam
a melhorar a sua capacidade de execução das obras de arte,
elevando-os continuamente neste seu desempenho.
Infelizmente, uma
tese de doutoramento sobre a Brotero não foi capaz de detectar o
Museu da Brotero que tinha com certeza como modelo o Museu
Industrial e Comercial do Porto, onde estava o amigo de António
Augusto Gonçalves, Joaquim de Vasconcelos que o dirigia, e o
congénere de Lisboa (Martinho, 1993).
De facto, não há
nesta tese de doutoramento de Pelicano Martinho qualquer análise, ou
descrição, sequer, de como se realiza o processo educativo e por
isso ficou naturalmente de fora o museu industrial e o seu papel na
leccionação e aprendizagem. Contudo, neste trabalho podemos
encontrar indicação clara das diversas oficinas que funcionavam na
Escola, onde surge como muito importante a Marcenaria, Talha,
Serralharia e Cerâmica e mais tarde Costura e Bordados. Numa forma
algo imprecisa, porque descrita a propósito dos sucessivos desastres
sofridos pela escola como incêndios e derrocadas, vamos conhecendo
as suas diversas componentes tecnológicas e algo da sua estrutura
física.
Por isso,
infelizmente, não sabemos agora quais foram os currículos e as
práticas pedagógicas aplicadas.
Sabemos só que havia algumas
brincadeiras inconvenientes que, em Março de 1937, faziam entrar no
Hospital com o crânio fracturado, um aluno de 15 anos, “por ter sido
atingido com uma pedra, na ocasião em que brincava com alguns
condiscípulos, na Escola Industrial Brotero».
Através de Ana
Zamora (2006, pp. 62-63), sabemos agora que de acordo com Luís
Alonso Fernandez, que segue Marc Maure, a nova museologia tem como
base um território, um património e uma comunidade, valorizando o
diálogo, a multidisciplinaridade e a democracia cultural. No caso da
Brotero seria o espaço social de Coimbra e da sua influência
regional, o património que existe e uma comunidade, que se revê na
história desta Escola e no seu contributo para o desenvolvimento
local.
4 – As Questões
tecnológicas
Para resolver as questões de
tecnologia química em 1889 o químico francês, Charles Lepierre veio
ensinar química na Brotero onde esta ciência na prática servia de
base a um ensino da cerâmica bem mais inserido nas necessidades da
indústria local (Diniz, 2011). Escreveu então “Estudo Químico e
Tecnológico sobre Cerâmica Portuguesa Moderna”.
De facto, a
presença de Charles Lepierre em Coimbra foi noutros aspectos
integrada na vida local pois foi noticiada assim:
“Na Assembleia Recreativa
continua a ser muito concorrida a aula de conversação francesa,
dirigida pelo sr. Lepierre, professor distintíssimo da escola
Industrial Brotero. A Assembleia Recreativa prestou um bom serviço
aos sócios com a criação desta aula, que era muito desejada nesta
cidade.”
Mais tarde, e
Para o poder
fazer com competência, Charles Lepierre tinha antes, em 1892,
regressado a França para seguir com atenção as lições de Émile
Duclaux na Sorbonne, onde este ensinava Química Biológica (Lepierre,
1940, p. 3).
Foi Charles
Lepierre como professor de Química e António Augusto Gonçalves, como
pintor, que iniciaram em 1889 o curso de cerâmica e o desenvolveram
de modo a preparar escolarmente um número apreciável de «artistas-artífices».
Também nesse ano veio para Coimbra o pintor Leopoldo Battistini
(Lázaro, 2002, p. 73), começando assim uma tradição escolar que
apesar dos altos e baixos, eclipses e ressurgimentos se manteve até
há pouco. Mas, após a saída de Charles Lepierre para Lisboa em 1911
e a saída de António Augusto Gonçalves da Direcção da Escola em
1916, o curso perdeu força e morreu como actividade emblemática da
Brotero.
Só em 1966 sob a
direcção de Antonino Henriques, o curso voltou a funcionar com a
colaboração do pintor Mário Soares e de Mestre Francisco Lagarto, o
oleiro e ceramista que dava as aulas práticas, retomando o seu ritmo
inicial que infelizmente veio a perder no final do século XX por
força da incapacidade governativa. Entretanto, foi continuado por
seu filho Francisco Lagarto, escultor-ceramista, dando assim novo
impulso a este curso que até então se limitava à Pintura Cerâmica.
Com o alargamento curricular aos cursos complementares, foi possível
dar um novo incremento a esta tradição da Brotero, reforçando a sua
vocação artística, muito bem dissecada e explicada pelo pintor Mário
Soares, que faz dela um estudo sucinto e claro. Com ele começou a
desenhar-se um projecto artístico com uma sólida base científica que
continuou até há bem pouco. De facto, aí o pintor Mário Soares e o
mestre Lagarto deixaram obra assinalável que, infelizmente, em
grande parte já se perdeu.
Com Silva Pinto,
a propósito do coreto ainda existente em Coimbra no Parque Manuel
Braga, se articulou a tecnologia tradicional coimbrã do ferro
forjado com a moderna tecnologia do ferro fundido.
Também só com o
trabalho de Carlos Valente (2003) sobre a colecção de miniaturas de
carpintaria–marcenaria da Escola, sabemos algo acerca da práticas
pedagógicas usadas, que consistem em as reproduzir com os
instrumentos de trabalho existentes na Escola. Já antes assinala
este professor da Brotero, citando Parada Leitão, as estampas eram
um elemento fundamental do ensino e da aprendizagem.
Era o que tinha
sido trazido da Alemanha por Joaquim de Vasconcelos como já descrevi
em 2000 em dois trabalhos, um objecto de comunicação em Coimbra
outro no Rio de Janeiro.
Também na sua
análise da arquitectura gerada pela Escola Brotero, Carlos Valente,
marcado talvez por um excessivo presentismo, mostra a fragilidade do
seu ensino na Brotero em particular do ensino do Desenho, onde só
existia como arquitecto Silva Pinto. Mas, António Augusto Gonçalves
conhecia bem as suas fragilidades artísticas, que eram marcadas pela
falta de tradição e de emulação que marcam a arte em Coimbra. É aqui
factor decisivo a fraca capacidade científica, técnica e artística
do seu tempo. Essa é a razão que faz com que José Maria de Abreu que
foi professor de Desenho da Universidade saia de Coimbra a caminho
do Porto e deixe o seu lugar a António Augusto Gonçalves.
De facto, o
ensino das artes na Brotero é todo ele marcado, limitado e
potenciado pelo carácter de ensino popular e operário, que era
inicialmente o da Escola. Era este o seu projecto educativo
original, que manteve até ser marcado negativamente pela ignorância,
também economicista, da governação ou, positivamente, para o
desenvolvimento pela emergência das novas tecnologias da informação
que marcam o ensino das técnicas multimédia. Outros, operários de
Coimbra, associam-se à Brotero como artistas que executam os
desenhos de António Augusto Gonçalves, que está empenhado numa
cultura de valorização das opções republicanas, como é a entrada de
Portugal na I Guerra Mundial, assinalada em vários lugares como é o
caso da Batalha, onde está o duplo túmulo do Soldado Desconhecido e
aí vemos o lampadário “Chama da Pátria” com projecto de António
Augusto Gonçalves e execução de Lourenço Chaves de Almeida, 1º
sargento serralheiro do regimento de infantaria nº 23 de Coimbra (Larcher,
1927).
Marcou o ensino
de Desenho da Brotero o professor Silva Pinto que teve influência
pedagógica em muitas gerações de estudantes e, também, como
arquitecto no alargamento das instalações bem como nas oficinas da
Escola, aproveitando todo o espaço disponível, feito em certo
momento para permitir a aprendizagem da serralharia. Foi no final da
sua carreira director da Escola (Rocha, 1956). Também José Pereira
dos Santos, um escultor, professor da Brotero, fez os bustos de
António Augusto Gonçalves, Sidónio Pais e de Brotero, valorizando a
memória da Escola (p.8).
Também o mestre José Paulo,
falecido em 5 de Fevereiro de 1959, enriqueceu a escola como Mestre
de Marcenaria, prestigiando a Escola como aluno e mestre de
sucessivas gerações que preparou com saber pedagógico e
profissional. Era politicamente um republicano empenhado e orador
inflamado e “sui-generis”. Na notícia necrológica diz-se também:
«Profissional distinto de assinalados méritos, deixou inúmeras obras
espalhadas no País, trabalhando com rara e amorosa perfeição em
numerosos restauros, decorações e móveis de estilo, onde vincou os
seus profundos conhecimentos de Arte e a solidez do seu saber
profissional.» Mais, este seu saber era sustentado por um «Espírito
de insaciável curiosidade, (pois) consagrou as economias a um viver
modesto e com sacrifício de muitas comodidades, à aquisição de
numerosos livros, em cuja leitura o seu espírito se refugiava nas
horas de ócio».
Foi esta plêiade de artistas
que criaram condições para que em 1937 se fizesse uma “Exposição de
Arte Coimbrã” em Lisboa que estava patente nos salões de O Século,
organizando-se excursões de comboio em Coimbra para a ver. Era o
resultado de uma auto-estima que Coimbra tinha por si própria.
De facto, a Escola fazia
parte das instituições da cidade que cooperaram neste evento, sendo
designados simplesmente por “alunos da Escola Brotero”.
Nesta exposição
não faltaram os trabalhos dos alunos da Brotero:
“Numa sala encontram-se os
trabalhos dos alunos da Escola Industrial Brotero: obras de talha,
azulejos, utensílios de ferro e aço, etc."
Era o resultado da criação de
uma associação em Lisboa com a designação de “Casa de Coimbra” e a
Brotero deu-lhe o seu apoio como vimos através das artes
industriais.
A Escola não perdia de facto qualquer oportunidade de divulgar
Coimbra e o que fazia. De facto, “no dia 17 /de Maio de 1937),
partem em excursão de estudo pelo sul do país, os alunos da Escola
Industrial e Comercial Brotero, acompanhados por alguns professores.
Durante esta excursão, será distribuído um número único de
propaganda de Coimbra e da Escola.
Antes, os alunos do 5º ano
tinham realizado o baile de despedida, estando as aulas
artisticamente decoradas, havendo uma guarda de honra feita por
piquetes dos Bombeiros Voluntários, sendo o baile muito animado
abrilhantado pela orquestra de Jazz “Os Águias”.
Concluindo, com
múltiplas expressões culturais e como resultado do trabalho de
todos, professores e alunos, ao longo de mais de 120 anos, foi-se
construindo o património cultural e pedagógico que era o Museu da
Brotero.
5 – A Cultura
Humanística e a Brotero
Embora agora se
esqueçam quase todos de Eugénio de Castro, este foi durante trinta
anos professor de francês na Escola Brotero. Teve em simultâneo uma
importante presença na cultura portuguesa e foi referência para a
cultura lusófona através de Almachio Diniz como explicitei em Diniz
(2008). E com certeza que não deixou de influenciar a cultura
escolar da Brotero e de valorizar a forma como a arte era ensinada
na Escola e de a ligar à cultura europeia. De facto, José Júlio
Rodrigues, no final do século XIX, viveu a Coimbra do Simbolismo,
onde pontificavam António Nobre e o professor da Brotero Eugénio de
Castro. Por isso, relata a discussão nefelibata que acontecia na
Calçada e nos cafés da rua da Sofia da Baixa Coimbrã, bem perto da
velha Brotero, e nos Gerais ou seja na Universidade. Infelizmente, o
estudo da influência de Eugénio de Castro na arte Coimbrã está feito
de forma rápida a propósito de Leopoldo Battistini por Alice Lázaro,
onde se estudou também a Coimbra da boémia e das tertúlias do seu
tempo. Também esta autora estudou o papel de Eugénio de Castro na
formação cultural deste artista italiano já que era uma
personalidade cultural, que ultrapassava as fronteiras de Coimbra,
impondo-se como poeta simbolista de referência na Europa e no
Brasil. Mais adiante, situou também a sua formação artística no uso
do Museu da Brotero para se integrar na tradição cerâmica portuguesa
(p. 270).
Mostrando a
influência cultural de Eugénio de Castro, mais tarde, em Leiria
fazia-se uma intensa e profunda problematização da actividade
literária tendo-o como marco a ultrapassar. Aí pontificava Ribeiro
de Carvalho (1906), que, por ter aberto novas perspectivas à poesia
ao ultrapassar o simbolismo de Eugénio de Castro e o naturalismo,
era elogiado por Abel Botelho. A razão era ter dado uma nova
esperança a um mundo que esperava uma revolução e sonhava com ela de
modo optimista.
Mais tarde, em 7 de Maio de 1937,
a importância cultural de Eugénio de Castro, levava a que na
Associação Académica, se realizasse, presidida por Miller Guerra,
uma conferência de Hernâni Cidade, professor da Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa, sobre o tema “De Eugénio de Castro a José
Régio”.
Antes, Eugénio de Castro tinha presidido a uma conferência feita
pelo dr. Ludgero Jaspers
em 27 de Fevereiro de 1937 sobre o tema: «Filosofia existencial
alemã».
Contudo, o
estudo do papel de Eugénio de Castro e de outros professores da
Brotero na cidade e no país está por fazer, impondo a necessidade um
programa de pesquisa onde se interliguem e valorizem os seus
contributos para a cultura e ciência portuguesa.
Haveria ainda que
referir que durante o Estado Novo houve duas reformas do Ensino
Técnico uma em 1931 e outra em 1948, havendo que sublinhar que houve
alterações na forma de mostrar o trabalho das Escolas e isso foi
feito através de exposições que foram pensadas para demonstrar a
qualidade do Ensino Técnico (Magalhães, 1971).
De facto,
errando nas datas, Marcelo Caetano (1974, p. 157) escreveu:
“Em 1895, o
Ministro João Franco criara o ensino comercial e industrial fazendo
apelo a mestres estrangeiros para proporcionar aos jovens
portugueses os conhecimentos e a aptidão técnica necessários a
trabalhadores de escol. E no regime do Estado Novo deu-se particular
impulso a esse ensino, um ensino em que os conhecimentos básicos
eram ministrados ao lado de série iniciação no trabalho dos
laboratórios e das oficinas para que o estudante soubesse aplicar o
que aprendia e comprovar os conhecimentos pela experimentação. À
Direcção Geral do Ensino Técnico foi, pois, durante quarenta anos, a
promotora de todo um movimento de que beneficiaram muitos milhares
de jovens preparados para a vida em escolas destinadas a
encaminhá-los para profissões úteis.”
Tudo ia aumentar
o património musealizável e aquilo que a Brotero teria para mostrar
agora.
6 – A Tragédia
Moderna
Felizmente,
começou já assentar a poeira que antes envolvia a Parque Escolar
que, na sua ambiguidade organizativa tentou dar às escolas uma
feição adequada à lógica megalómana e ao mesmo tempo demagoga, que
envolveu o Governo José Sócrates I. Foi o que veio a descambar no
ambiente desanimado e sem solução, que agora se vive perante o
desconcerto que a sua “corajosa” e demasiado atrevida incompetência
lançou nas escolas. Faltou-lhe dar indicações claras para defesa do
património escolar, artístico e científico. Faltou-lhe estruturar a
acção governativa para que a intervenção fosse feita com a melhor
relação custo benefício. Faltou-lhe porque isso não lhe interessava
ou porque era incapaz.
Tudo foi por
isso desde logo inquinado pela incapacidade governativa de traçar as
linhas gerais de uma requalificação benéfica. E só por essa razão,
no final de 2010 já estavam executados neste programa mal pensado
uns excessivos 1300 milhões de euros, configurando uma absurda
delapidação de recursos que eram uma parte importante do que íamos
pouco depois ser obrigados a pedir ao FMI/BCE/UE (DN, 8 de Maio de
2011, p.19).
De facto, a
pobreza cultural do plano de intervenção é expressa pela escassa
referência histórica que, no plano de intervenção na Brotero, era
reduzida a um parágrafo, um claro sintoma de uma perigosa indigência
cultural.
Na verdade, nada
se diz sobre arte e a sua musealização, nem parece saber que a
Escola a tem como divisa. Nada recomendava por isso esta intervenção
que faz da Parque Escolar “um elefante” que salta e espinoteia numa
“loja de porcelanas”. Poderá esta argumentar que isso não lhe era
pedido pelo governo, mas devia saber que a escola que ia
requalificar é uma Escola de Arte.
Entretanto, quase
todos os dias saem notícias sobre a Parque Escolar, obrigando-nos a
esperar para ver o que se vai passar.
6.1 – A Empresa Parque Escolar
A Empresa Parque
Escolar revela pela sua actuação dificuldades extremas em pensar o
património histórico das escolas, não tendo qualquer preocupação em
inventariar e ordenar os espólios artísticos. Ao intervir na Brotero
não a viu como espaço de utopia de uma cidade e sucessivas gerações
de alunos.
Na verdade, ao
intervir no bloco A quis apenas “no piso -1 do Corpo A, (que)
corresponde ao piso da actual entrada no edifício…, desactivando-se
a actual entrada principal, que se transforma num espaço de
exposição de objectos relevantes na história da escola - "espaço
memória", mas canhestramente esqueceu-se de o organizar.
Como não tinha
estudado convenientemente o projecto educativo da Brotero, não
reparou que era uma escola de artes decorativas e aplicadas, uma
escola de química e de artes industriais, uma escola de escultura e
pintura, uma escola de física e de ciências naturais e isso
implicava uma gestão do espaço de modo mais cuidado e
pedagogicamente mais atento aos processos didácticos, onde o Museu
se insere, aplicando aqui as modernas teorias da museologia (Hernández
e Tresseras, 2001).
O espaço, que
invadiu, era um espaço cultural onde cada objecto tinha um
significado que era necessário manter, enquanto o requalificava e
isso não foi pensado por ela. Brutal foi a actuação perante as
miniaturas de madeira estudadas por Carlos Valente, que foram
objecto de destruição arrogante pois nem sequer viram a qualidade e
delicadeza do trabalho e da sua perfeição. Nem tiveram o cuidado de
fazer o necessário inventário, nem sequer o de emergência como o
esquematiza claramente Pedro Gomes Barbosa (1998, pp. 29-34).
Também não era
necessário fazê-lo com urgência, pois este inventário devia ser
feito enquanto se estruturava o projecto de intervenção, que o devia
ter necessariamente em conta.
Também o
arquitecto Carlos Valente estranhou a pouca e escassa intervenção da
Parque Escolar na Escola, mostrando falta de ambição na sua
transformação. Também na visita que efectuámos uma funcionária
sublinhou a falta de bebedouros para os alunos, que antes eram três,
só restando agora um. Também se queixaram da incomodidade da
obtenção de água para uso da limpeza do espaço escolar. Também
verificámos queixas de professores de falta de luz natural no
edifício das oficinas e de laboratórios e o seu excesso na
biblioteca, impossibilitando o uso de computadores pessoais. Há
ainda neste edifício das oficinas e de laboratórios um cheiro
incomodativo permanente, que revela o uso de materiais construtivos
poluentes e agressivos de quem tem que trabalhar no edifício das
oficinas e laboratórios.
No campo da
experimentação científica, verificou-se infelizmente a degradação
das condições de trabalho dos alunos e professores pois, agora a sua
estrutura física por estar dotada de muito poucas janelas, faz com
que muitas experiências já não possam ser executadas com higiene
e/ou em segurança pelos alunos e professores. Ficou assim reduzida a
capacidade de executar uma didáctica experimental com os
equipamentos já existentes. Esta intervenção da Parque Escolar foi
por isso perniciosa e obstaculizadora da concretização do projecto
científico e artístico da Brotero.
Nas oficinas, em
particular na de carpintaria não há espaço para arrumação dos
modelos a que os alunos devem ter acesso e que fazem parte do museu
escolar necessário para a efectivação do processo de ensino e
aprendizagem prática.
No trânsito de
alunos e professores dentro da Brotero a acessibilidade não é total
pois alguns lugares são de difícil acesso aos deficientes motores.
È consensual hoje
que a experimentação na física, química e biologia está prejudicada
pela intervenção da Parque Escolar. As condições de trabalho não
cumprem nem as regras de higiene, nem as regras de segurança que
permitam realizar certas experiências que antes eram possíveis.
Também a educação
física ficou prejudicada. De facto, os balneários nem sequer
preservam a privacidade e o pudor dos alunos/alunas quando tomam
banho.
Nas conferências
que se realizaram na escola: uma sobre física por ser imprescindível
o correcto funcionamento do auditório da Escola por ter, entre
outras disfunções, a demasiada luminosidade prejudicou o trabalho do
conferencista (Amaro, 2011); outra sobre artes não teve o efeito
pedagógico desejado devido também à intensa luminosidade na sala
onde decorreu uma “Conversa com” uma estilista já que esta não pôde
projectar o que trazia para a ilustrar (Amaral, Alexandrino e Leal,
2011). Mais, aqui a Parque Escolar remeteu o relato da ocorrência
para a Direcção da Escola, furtando-se à tomada de responsabilidades
pelo sucedido.
Também é
evidente que não foi a falta de dinheiro que prejudicou a
requalificação.
De facto, afirma-se que
bastava gastar bem um terço do dinheiro que tudo ficava melhor. A
empresa deu pouco ou nenhum valor às sugestões que os engenheiros
que são professores na Brotero foram dando de modo empenhado,
persistindo em soluções de engenharia que são claramente lesivas da
funcionalidade e qualidade do espaço educativo resultante. Também
por essa razão, a empresa Parque Escolar é uma das empresas públicas
portuguesas mais endividadas, transformando-se numa das razões do
nosso deficit do Estado. De facto, são na sua maioria o resultado da
má gestão governamental. Por isso, “o
nível de endividamento gerado pela empresa pública Parque Escolar já
ascende a 1,98 mil milhões de euros, entre dívida directa e apoio do
Estado, e nos primeiros meses do próximo ano pode mesmo ultrapassar
a barreira dos 2,25 mil milhões, segundo os números inscritos no
Relatório e Contas de 2009”.
Na Brotero, a
causa de tudo foi não só a falta de capacidade do arquitecto e da
capacidade de execução das empresas contratadas para executar o
processo, mas também da Escola de entabular um processo de controlo
do trabalho e de correcção do que estivesse mal feito ou fosse uma
solução arquitectónica e de engenharia errada. Bem pelo contrário, o
Conselho Executivo tomou uma continuada atitude de conformismo
servil. Prejudicou assim a requalificação da Escola pois nunca os
professores da Escola deixaram de apontar os erros do projecto, nem
de lutar para que a Brotero ganhasse maior capacidade de
ensino/aprendizagem. Manteve de facto uma atitude de continuado
alheamento do processo de requalificação e propôs-se de facto e
conseguiu anestesiar o espírito crítico do seu corpo docente,
administrativo e pessoal auxiliar.
Este aspecto de
degradação do espaço escolar através da má arquitectura, foi notado
por Carlos Fiolhais (2011, p. 73), um homem empenhado no
desenvolvimento da ciência, que recentemente escreveu:
“Há ainda que
melhorar, a nível de espaços e equipamentos, as condições de
trabalho das escolas, com particular foco nos laboratórios. Acções
com esse objectivo têm, nos últimos tempos, sido levadas a cabo
através das obras geridas pela Parque Escolar; mas alguns
arquitectos querem pôr em prática, através do seu design de
espaços, teorias pedagógicas abstrusas…”
O arquitecto tipo
da Parque Escolar, podemos pensá-lo a partir destas evidências, não
tinha como missão pensar o espaço e integrá-lo numa tradição
pedagógica. Mas devia fazê-lo não só para que não houvesse um corte
traumático com o imaginário de muitas gerações, mas também para o
integrar no processo educativo de uma juventude sem valores como a
actual. Infelizmente, a Parque Escolar não o fez. Era pelo contrário
notoriamente um profissional desleixado e incompetente.
De facto, é esta
arquitectura necessária para a preservação e desenvolvimento de uma
atitude artística que só se aprende quando é educada socialmente
para tal, servindo para isso como ambiente privilegiado o espaço
escolar.
De facto, arquitecto tipo, nos “estudos
arquitectónicos”, que elaborou para a Escola Soares dos Reis tanto
pela ortografia, pois escreveu museulógico em vez museológico, como
pela forma como o pensou e justificou não o integrou
sistematicamente no seu plano de requalificação (ver
http://www.parque-escolar.pt/escolas/soares_reis.html,
acesso em 22 de Abril de 2011). Bem pelo contrário, o arquitecto
tipo da Parque Escolar pela vontade de obedecer a um governo
mentecapto e sem perspectivas de progresso pedagógico, desprezou o
passado de forma arrogante. Na Brotero tinha para o ajudar uma
excelente súmula feita pelo pintor e professor Mário O. Soares em
1984 que conhecia bem a tradição da Escola que tinha feito crescer e
desenvolver. Mas, não quis a ajuda ou não a quis descobrir.
Foi assim na
Soares dos Reis.
Foi assim na
Brotero.
Foi assim na
Domingos de Sequeira.
E pergunta-se
porquê?
É o que
descobrirei no muito que virei a saber pois há ainda muito que
desconheço.
Viremos a saber
então que a Parque Escolar deixou quase sempre em todas estas
Escolas o vazio de um Museu Perdido. Talvez haja solitárias
excepções que confirmarão a regra.
Agora existe na
esperança dos conimbricenses que amam e estimam esta Escola um
armazém onde tudo está guardado. Mas, é só uma miragem.
Infelizmente.
6.2 – Um poder nefasto
Para os ministros
deste governo felizmente cessante, o importante era mesmo criar
lugar para as Novas Oportunidades, implantando-as nas escolas e
desprezando a Cultura e Arte em que elas tinham sempre vivido. E
para conseguir isso destruiu tudo o que era passado para que nada
recordasse aos alunos uma Idade de Ouro, onde a Arte e a Ciência
tinham lugar modesto mas estimado, e dessa forma valorizado e em
franco progresso. De facto, o sentido crítico foi a grande vítima
destas novas oportunidades que menorizaram e anularam a cultura como
elemento fundamental da Escola, limitando o processo à mera passagem
de diplomas, servindo os “especialistas” para anular qualquer
objecção (Vieira, 2010, pp. 29-33) e o especialista é aqui o
arquitecto da Parque Escolar que, em demasia, prossegue na senda do
desrespeito por qualquer tipo de saber.
Na verdade,
trata-se de uma afirmação para dizer ao chefe que se está a cumprir
os seus mais secretos desejos. Mas, se lermos um livro sobre as
formas de desenvolver a motivação para a aprendizagem dos adultos,
esta forma ligeira de colocar os problemas da aprendizagem dos
adultos numa estrutura arquitectónica que não está de acordo com um
projecto educativo, não tem em conta os processos psicológicos em
que devem assentar as estratégias de aprendizagem. Aí encontramos
também as razões das falhas do governo e da Parque Escolar. Estas
são expressas tanto nas falhas da educação anterior, como na
requalificação das Escolas porque este processo educativo, nada tem
a ver com a realidade dos processos neurobiológicos, que estruturam
a educação de adultos (Wlodkowski, 2008). Mas, isso não o sabia o
“planificador” das estratégias das “Novas Oportunidades”.
De facto, no
processo de educação de adultos em Portugal não há estratégia nem
sequer planificação, só se fala em certificar competências.
Na minha
limitada experiência neste tipo de “ensino”, assisti a situações de
descoberta quase no último minuto de que era preciso aumentar a
carga de horas de leccionação. Verifiquei que era o resultado
natural do oportunismo governativo, acompanhado por tantos
incompetentes que o apoiaram acriticamente desde a primeira hora e
assim continuaram a apoiar.
Por isso, a ideia
peregrina de fazer uma estrutura arquitectónica para sustentar este
desvario curricular continuado não tem sustentação nem
correspondência no real educativo da Escola Brotero. Mais, ao
arquitecto que tinha tão fraca formação o importante era cumprir o
que lhe parecia ser a vontade do jettatore que nos governou
durante seis anos.
Repetia-se assim
o descrito em 1923 por António Augusto Gonçalves, primeiro director
da Escola Brotero:
“A
desorganização é completa. E esta incultura ameaça eternizar-se.
As noções de
arte, a que se referem os programas da instrução secundária, são
ornatos fictícios sem efeito e sem validade.
- O
preparatório desenho
está de facto banido das escolas - . As artes profissionais
desorganizadas. - ! A defesa e reparação dos monumentos de arte
foram ultimamente entregues à superintendência autoritária das
repartições da engenharia, conductores e subalternos, sob a alçada
do Ministério do Comércio e das estradas!..” (Gonçalves, 1923,
p. X).
6.3 – O Conselho Executivo
Para desculpar a
Parque Escolar, podemos e devemos dizer que esta sempre “quis” ouvir
os Conselhos Executivos e a capacidade pedagógica e científica fez
nalguns a diferença para melhor. Infelizmente, na Brotero, fez a
diferença para pior. Mais, onde a abulia de muitos professores
marcou presença, o oportunismo de outros fez desaparecer em proveito
próprio parte do património, ultrapassando assim por este “animal
spirits” toda a incompetência visível do governo Sócrates I e
Sócrates II.
De facto, a
delapidação do património foi propiciada pela incapacidade do
governo e da Parque Escolar, mas demasiados foram aqueles que,
assumindo poderes de mando que não possuíam, nem por eleição nem por
delegação, aproveitaram o desleixo e outros, perversos, levantaram
com determinação muita poeira para que os seus actos não fossem
visíveis.
Na Brotero, foi
visível a incapacidade cultural da direcção da Escola, então um
conselho executivo (CE) a propósito das figuras dos nossos reis em
vias de desaparecimento. Foi então que eu e o professor Antonino
Neves nos rebelámos contra a sua destruição, travando-a.
De facto, em
Outubro de 2008, vendo em perigo uns painéis representativos dos
reis de Portugal, existentes desde há muito na Brotero, intervenho
em sua defesa com o apoio directo de um colega e outros que estavam
atentos. Tal acção dá origem a mais uma cena macabra na minha vida.
Na verdade,
parte deste processo foi referenciado em textos publicados na
imprensa local. Assim em “Azulejaria – Painéis a “salvo” na Escola
Brotero”, in Diário As Beiras, 15 de Outubro de 2008, pág. 4,
soubemos que numa primeira fase tudo se resolveu a favor da Escola,
mas com “Brotero esclarece”, in Diário As Beiras, 18 de Outubro de
2008, pág. 11, tudo ficou só um pouco mistificado, pois só em
“Conflito iminente em escola eminente, in Diário As Beiras, 18 de
Outubro de 2008, pág. 11, tudo ficou clarificado. Felizmente o
decurso da história não fez desaparecer os painéis que um professor
e os seus alunos tinham muitos anos antes construído com carinho
para honra e orgulho da Escola.
De facto, a
Direcção dita democrática da Brotero não esclareceu que, sem a nossa
acção, iam mesmo desaparecer os painéis por força da incúria e
abulia já que só procurava obedecer à voz do dono. De facto, para
mais não tinham coragem e, também e principalmente faltava saber aos
que dela se tinham apoderado: os mandantes brutais e embrutecidos da
Parque Escolar.
Era uma situação
que só podia colocar em perigo o projecto educativo centenário da
Escola Brotero, já que este tinha sido construído por sucessivas
gerações que, ultrapassando dificuldades, o iam reconstruindo,
introduzindo melhorias.
Era o que os
auto-nomeados novos mandantes queriam, para, assim, serem felizes
com os despojos de várias gerações de professores e alunos de artes
e também dos professores cujos nomes jazem agora esquecidos.
A direcção da
escola mostrava assim a sua falta de zelo e a sua incapacidade
cultural, mas não era possível fazer mais. Todos eles eram uns
impedintes por medo e dessa forma incapazes de defender a memória da
Escola. Só se preocupava em impor regras em que a cobardia e o
desleixo iam degradando a situação da escola, em particular, na
disciplina interna da Brotero, onde pontificava gente abúlica e
talvez cobarde. Serventuários da Parque Escolar permitiram que esta
levasse a Escola a uma situação de inanidade de que esta
dificilmente se sairia bem. A Presidente do CE e os restantes
elementos da direcção afinavam arrogantes e em uníssono pelo
diapasão de servir sem um ai os broncos arquitectos sem que eles
sofressem uma crítica.
Havia então uma
omnipresente atitude censurante de quem assim se afirmava como
crítico e zeloso do património e do futuro educativo da escola, pois
malfadadamente sufocava a Escola nos seus anseios.
Contam-me vários
colegas que, ultrapassando censuras violentas conseguiram criticar o
projecto, tentando corrigi-lo, não o conseguiram concretizar por o
CE ter obstruído e depois escondido o seu trabalho de correcção.
O CE argumentava
que não podiam impedir o trabalho da Parque Escolar, mas toda a
gente vira já então que este era mesmo mau. Boicotou o trabalho de
crítica e foi fazendo tudo para não tomar conhecimento dele,
obrigando a equipa de professores da escola que tanto tinha
trabalhado a fazer sucessivos resumos do seu trabalho para os
desanimar. E fomentando e aproveitando-se do medo persistente dos
professores, esta autêntica calamidade nacional foi-se apossando da
Escola. Contudo, não devemos culpar só a direcção da escola e a
Parque Escolar por nada ter inventariado e armazenado em lugar
seguro. Há sempre gente que aproveita o tempo que passa e o faz
acontecer permissivo.
E agora,
recorda-me e alerta-me um colega:
“Fiz
pequenas correcções de conteúdo, a maior parte delas em falta, acho.
Quanto ao conteúdo gostei do sentido estético e da construção
frásica com que retratas os casos mais relevantes e a sua evolução
factual.
Quanto à forma sugiro que enriqueças e envolvas alguns parágrafos
com a ilustração e imagens do "património perdido/achado".
Relembro-te que nas Oficinas de Electricidade existiam muitos
"aparelhos de medida" que nem o Museu da Electricidade tinha. Se as
imagens que recolheste são para isso ficarei, contente.
Como pequeno reparo, está omissa qualquer referência aos modelos
artísticos que a Mecânica tinham em exposição permanente no antigo
hall de entrada da Escola (hoje fechada) a que fazes uma alusão e
aos modelos que estavam em vitrinas especiais sobre a evolução da
roda (dentada) ao longo da História e que são um património mecânico
extraordinário onde as Leis da Física e da Mecânica Celeste eram
facilmente comprovadas e compreendidas pelas alunos, e que
"repousavam" nas antigas Oficinas de Mecânica em vitrinas em madeira
trabalhada construídas para o efeito.
Pessoalmente, não sei onde isso pára.”
De facto, muitos
estavam atentos a tudo o que estivesse mal cuidado para aproveitando
qualquer “distracção” levarem para lugar onde ficasse em melhor
recato. Mas, não sabemos é onde.
E assim se
construiu em parte oculta e numerosa, pelos muitos sítios, por onde
se espalhou o Museu Perdido da Brotero.
6.4 – Consciência da Tragédia e a tragédia da consciência
Deste processo
perverso dá conta a má-língua da Escola e os desabafos dos colegas
que antes deixaram obra que desafortunadamente desapareceu com a
intervenção da Parque Escolar.
Antes, tudo era
previsível desde que ao regressar em Outubro de 2005 à Escola, após
uma campanha eleitoral cansativa, me deparei com a delapidação
brutal da Biblioteca do meu departamento, que foi entregue a uma
funcionária para a ir colocar como lixo em lugar onde não
incomodasse gente tão preclara.
Numa sociedade
que perdeu já o sentimento estético e a necessidade de professores e
alunos terem uma relação amigável com a natureza, muito foi
destruído nesta intervenção pouco profunda porque superficial e sem
sentido estético, simbolizando toda ela a barbárie dos tempos
modernos. De facto, foi destruído aquilo que em 29 de Novembro de
1958 assim sabiamente se justificou:
«Como decoração estética contorna
o conjunto das construções descritas, uma cortina de arvoredo que a
intenção de valorizar e educar, apoiando-se na colaboração generosa
de alunos, professores e empregados levou a ampliar com a plantação
de mais 156 exemplares, repartindo-se por cerca de 20 espécies
botânicas, o revestimento total assim obtido. (216 unidades).»
Tantos anos
depois nada se aproveitou da arte e ciência da arquitectura
paisagística para se melhorar a vida da Escola. Mais uma vez a
ignorância fez das suas. Perdeu-se assim esta riqueza enquanto na
Escola ao lado, o antigo Liceu Infanta D. Maria mantinha as suas
árvores de pé.
Contudo, aqui,
talvez porque o património artístico fazia parte integrante dos
equipamentos de uso corrente das oficinas, nada se diz sobre o Museu
ou o património musealizável existente na Brotero.
Agora, face ao
seu “desaparecimento”, claro que se pode dizer como esperança
mitigada que um museu sempre necessário existe em qualquer parte do
mundo, sendo possível esquematizar mapas de percursos museológicos
para colmatar a sua falha (Valbona e Costa, 2003). Mas, tê-lo na
escola, onde se reuniram de modo planeado os objectos necessários na
didáctica da ciência ou da arte é bem mais prático e mais educativo.
Por outro lado, este processo de organização interna do
desenvolvimento curricular pode interligar-se com processos de
cooperação entre escolas, onde as redes educativas se reforçam e
sinergizam.
Foi o que sempre
aconteceu na história da Brotero.
E pode continuar.
7 – Um futuro
melhor é possível
Uma incursão
fotográfica na Brotero, revelando muitos vestígios do museu perdido
da Brotero, fez-me reencontrar espalhada e sem ordem nenhuma o
espólio que ainda resta. Foi possível encontrar instrumentos de
carpintaria, de cerâmica, de tecelagem e equipamentos dos
laboratórios de física, química. Foi também possível fotografar
muita da produção artística e oficinal das muitas gerações de
professores e alunos da Brotero. Espalham-se agora por alguns
corredores e estão ainda e também nas oficinas. Algumas vezes são
instrumentos pedagógicos em uso. Outras vezes esperam que alguém os
arrume e os integre no processo de ensino/aprendizagem ou os arrume
num museu dentro da Brotero, onde funcionariam como elemento
esclarecedor das práticas correntes através da comparação com estas,
justificando e explicando as mudanças tecnológicas ocorridas desde
que a Escola existe. Por isso, com o que existe nas salas e
corredores da Brotero, é ainda possível, mas sem ter a riqueza
perdida, construir e organizar um museu embora a Parque Escolar não
o tenha pensado.
Será mais um
remedeio e, na medida do empenho dos professores e da direcção da
escola, é ainda possível organizar um museu, que reflicta não só o
passado da escola, mas também uma forma dinâmica de enriquecer o
currículo através de uma didáctica.
Espera-se que
integre um processo epistemológico de crítica dos fundamentos da
ciência, explicando as razões que levaram às mudanças tecnológicas e
científicas através da mudança dos paradigmas produtivos.
Esta explicação
seria feita no ambiente da escola, realizando o desejo
racionalizador do velho padre, retratado por Manuel Ribeiro, que
achava que as coisas sacras só devem ir para os museus quando a
religião morrer, correspondendo assim ao desejo de uma condessa que
lhe respondeu a sorrir:
«Também eu
detesto os museus. Vou lá para ver e não para sentir. Tirar as
coisas do seu ambiente é fazer-lhes perder a alma.»[32]
Esta ideia é concretizada pelo
ecomuseu, definido por Hughes de Varine Bohan, em 1976 como “uma
instituição que administra, estuda, explora, com fins científicos,
educativos e, em geral, culturais, o património global de uma
determinada comunidade, compreendendo a totalidade do ambiente
natural e cultural dessa comunidade. Por essa razão, o ecomuseu é um
instrumento de participação popular no planeamento do território e
no desenvolvimento comunitário. Para tanto, o ecomuseu emprega todos
os recursos e métodos de que dispõe para fazer com que essa
comunidade aprenda, analise, critique e domine de maneira livre e
responsável os problemas que se apresentam a ela com todos os
domínios da vida. O ecomuseu utiliza essencialmente a linguagem do
objecto, do quadro real da vida quotidiana, das situações concretas.
Ele é, antes de tudo, um factor almejado de mudanças.”
Por outro lado,
em Portugal, existem já experiências bem sucedidas ou quase que
permitem pensar de modo mais positivo em museus de ciência e de
tecnologia ((Fiolhais, 2011, pp. 89-94).
Será assim possível criar um
novo tipo de turismo que é o pedagógico, do qual já há uma
experiência portuguesa feliz que é o Museu de Marrazes, que é
dedicado ao ensino primário. Também existe na Holanda um museu como
o de Roterdão,
que integrado com o museu ainda possível da Brotero, podia mostrar
como existiu e existe uma globalização educativa, que se repete
indefinidamente de modo sucessivo, embora esta evidência esteja na
Brotero prejudicada pela brutalidade indígena de que somos vítimas.
E isso podia mostrar a marca de Coimbra e integrá-la num percurso
turístico cultural com os outros museus da cidade. Devia aqui
cumprir as regras da acessibilidade dos deficientes motores e
visuais, onde preservaria também a sua tradição de escola inclusiva
que é de há muito a sua marca. Também se podia integrar num nicho de
mercado turístico, o nicho educativo, que não sabemos o que vale,
mas que podia ter uma mais-valia na revalorização da Escola e da
Profissão Docente.
Infelizmente,
entre nós, gente tonta e atrevida interveio nela sem qualquer
sensibilidade e demasiado escasso saber. E agora só temos que
remediar.
Repete-se mais
uma vez a tragédia como fosse um eterno “Suplício de Tântalo”:
“Breve, -
consequente súmula desta depressão indecorosa: - !Quando do último
encerramento das congregações religiosas, os crimes ofensivo da
arte; os latrocínios impunes e a devastação leiloada, a vil preço,
de artefactos portugueses, recusados aos Museus, foram com um
ferrete a carimbar uma época!...
! A imprevidência
e a irresponsabilidade em nada cederam aos escândalos de 34!...
! Episódios
revoltantes e anedotas inverosímeis!...
! Estendal de
lástimas intermináveis!...” (Gonçalves, 1923, p. XI).
Confirma esta
incúria Joaquim de Vasconcelos (1907, p. 8) quando escreve:
“A colecção
Nepomuceno desapareceu ou foi destruída por incúria, quando o
arquitecto (Nepomuceno) abandonou a direcção das obras de
conservação do convento” (Madre de Deus).
Era esta uma
colecção fabulosa que descreve em 1894 (pp.22-23).
Mais adiante,
denuncia:
“A ignorância, a
indiferença, o espírito utilitário do Estado e dos seus órgãos
técnicos reduziram quasi tudo a escombros, em público leilão, para
aproveitar materiais de construção, abrir ruas, fazer praças e
mercados, vender terrenos, etc.” (p. 22).
Também António
Augusto Gonçalves (1929, p. 4) escreveu que:
“Depois de
determinada a fundação de museus, em 1912, era de normal critério, =
e alguns ingénuos de boa fé assim acreditaram! = que se procedesse à
repartição equitativa dos artefactos do espólio das congregações
religiosas extintas e dos domicílios reais.
Nunca mais se
apresentará ocasião para coligir exemplares do trabalho nacional, de
carácter e de estilo autêntico. Os factos, porém, desmentiram a
previsão.
Os claviculários
e coleccionadores de influência souberam governar-se; e os
comerciantes de antiguidades tiveram banquete lauto!
Pela fronteira
aberta, cuja fiscalização só tarde e negligentemente se exerceu,
saíram centenas de volumes preciosos. As providências policiais
foram sofismadas.
O Ministério das
Finanças contrariamente às leis, pôs em venda pública o mobiliário e
peças decorativas dessas proveniências. O leilão durou muitos dias.
Queimou-se tudo a baixo preço. Artefactos e livros, etc., tudo, que
tinha estimação e valor, foi lançado à voragem!
Deram-se
escândalos inacreditáveis…
E ficamos
descansados!...
Etc., Etc.
Como não tenho em
mente erguer verrinas, lubrifico arestas e asperesas irritantes…
Já antes de tudo
isto acontecer, Afonso Lopes Vieira, admirador de António Augusto
Gonçalves e da sua arte de ensinar gerações de operários através da
sua Escola Livre e não sei porquê esquecendo a Brotero, mas
lembrando o Museu Machado de Castro sua criação e reivindicando como
anexo dele um Museu de Arte Sacra, associava Coimbra ao sentimento
de Beleza, numa conferência em 15 de Março de 1921 na Sala das
Indústrias Tradicionais em Lisboa. E premonitoriamente falava-nos em
1921 dos “Mestres Destruidores de Coimbra”, que são as “pessoas
(que) demonstram a miséria das suas educações” (1922, p. 291).
De facto, aquando
da formação do Museu Machado de Castro, aconteceu que em
Condeixa-a-Nova, a propósito da Capela de S. Geraldo:
“O mestre António Augusto
Gonçalves quis levar a cantaria lavrada para o Museu Machado de
Castro; porém, como houvesse demora na sua remoção para Coimbra, um
belo dia desapareceram para nunca mais serem vistas.”
Foi assim que,
por mais de uma vez, uma Herança Cultural, base da gestão de um
turismo cultural, que deve ser articulada com outras formas de
cultura e de turismo (Kercher e Cros, 2002), acabou por ser
defraudada, prejudicando o desenvolvimento não só do pensamento
educativo, mas também de uma cidade e de uma região.
É o que nos
alerta para a necessidade de termos civicamente maior vigilância
contra os elefantes que se põem a arrumar o nosso património
colectivo.
8 - Uma estratégia
possível
Como já devia
estar feito, é necessário fazer:
Primeiro o
inventário de tudo quanto existe como património musealizável.
Segundo deve ser
classificado, datado e identificado todo este espólio.
Deve ser colocado
em espaço adequado e integrado numa “narrativa lógica do processo e
projecto pedagógico” que é a marca da Brotero.
Neste espaço
ficarão os instrumentos pedagógicos que caíram em desuso por
alteração tecnológica e os produtos das oficinas artísticas.
Neste espaço
deve-se identificar tanto o processo pedagógico aplicado como as
teorias pedagógicas que lhes deram corpo.
Deve valorizar a
relação pedagógica entre professores e alunos e da Escola com a
Cidade e região, integrando-a num itinerário cultural.
Para colmatar a
falta dos materiais que se perderam, devemos tentar encontrar tanto
quanto possível objectos que os substituam ou fotografias, desenhos
e memórias escritas que os descrevam.
Para o conseguir
haverá que recorrer ao espólio talvez guardado ao longo dos anos por
professores, funcionários e alunos ou até habitantes da cidade. Será
o dos que recorreram à Brotero para produzir equipamentos e objectos
que ainda guardam ou, em alternativa, à sua memória para que nos
digam o que foi a educação e aprendizagem na Escola, em particular
nas suas oficinas de arte e de aprendizagem de ofícios dentro da sua
tradição.
Infelizmente,
quase só isso é possível.
Talvez como há 88
anos, a Falência da Escola Brotero anunciada por António Augusto
Gonçalves (1923, p. 257) não aconteça.
__________________________________
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Conforme
http://historiaporumcanudo.blogspot.com/2007/10/tibes-padre-dr-ludgero-jaspers-osb.html,
acesso em 30 de Maio, o Padre Dr. Ludgero Jaspers, O.S.B. nasceu
na Alemanha, na Westfália em 30 de Setembro de 1892 e faleceu no
Mosteiro de Tibães, em 2 de Outubro de 1937.
De acordo com este site:
Em 1911, com 19 anos, foi para o Brasil, onde
recebeu o noviciado, na Ordem
de S. Bento, sendo
ordenado
em
27 de Maio
de 1917.
Traduziu o Manual de Filosofia e a História
da Filosofia de P. Lahr e
Summa Contra Gentiles de S. Tomás de Aquino.
Tinha o título de
Doutor em Filosofia pela Universidade Alemã de Munster.
Foi durante
o ano escolar de 1936-37 foi professor no Colégio Almeida
Garrett, do Porto, mas, sempre que o serviço o permitia,
refugiava-se em Tibães e nesse ano veio a Coimbra fazer esta
conferência.
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