É
hoje propriedade minha um manuscrito que contém uma Memória inédita
sobre a cidade de Aveiro, relativa ao século XIX.
Foi seu autor o conselheiro JOSÉ FERREIRA DA CUNHA E
SOUSA.
Mostra-nos ela pormenorizadamente a evolução que Aveiro
sofreu durante essa época, e fornece-nos muitas indicações sobre outras
localidades que com esta cidade tinham relações.
Já nesta revista publicámos a Memória de Aveiro
que, em 1687, o beneficiado CRISTÓVÃO DE PINHO QUEIMADO escreveu(1).
Impõe-se agora a publicação da Memória de FERREIRA
DA CUNHA E SOUSA, que escreveu por sua mão parte dela, e ditou a parte
restante a seu filho, Alexandre Ferreira da Cunha e Sousa, professor já
falecido do Liceu de Aveiro, que depois, com profundo carinho, tudo
transcreveu no manuscrito que atrás mencionei.
Publicarei, pois, no "Arquivo do Distrito de Aveiro",
esta Memória, que tanto interessa à história de Aveiro, minha
terra natal, ao mesmo tempo que presto merecida homenagem ao seu autor.
Na publicação que vamos fazer apenas alteraremos a
ortografia do texto, que será a actual, e a pontuação.
JOSÉ FERREIRA DA CUNHA E SOUSA foi uma pessoa de relevo
no meio social português; a sua biografia já está publicada no
dicionário «Portugal», vol. III, pág. 427.
Nasceu em Ílhavo, aos 5 dias do mês de Abril de 1813, e
faleceu em Aveiro a 18 de Novembro de 1912, em cujo cemitério foi
sepultado.
Era filho de Manuel Ferreira da Cunha e Sousa, natural de
Ílhavo, e de sua esposa D. Maria Rita dos Santos Pacheco de Queirós (que
também usava o nome de D. Maria Olaia Pinheiro de Queirós), natural da
cidade do Porto.
Estudou as primeiras letras e latim na terra em que
nasceu, passando depois a estudar humanidades na vizinha cidade de
Aveiro. Os acontecimentos políticos da época impediram que ele fosse
depois frequentar a Faculdade de Direito de Coimbra, como desejava.
Em 11 de Abril de 1840, foi nomeado primeiro oficial do
governo civil de Aveiro e, em 1858, promovido a secretário geral. Em
1865 foi transferido para Faro, e em 4 de Junho de 1868 foi nomeado
governador civil de Viseu.
Foi, depois, sucessivamente governador civil de Leiria,
Coimbra e Santarém, e nesta cidade se conservou muitos anos, onde criou,
em 1876, o Museu Distrital e o corpo de polícia.
Neste mesmo ano, já cansado de trabalhar, pediu a sua
aposentação, e recolheu à sua casa de Aveiro.
Nesta cidade exerceu ainda alguns honrosos cargos.
Foi nomeado comendador de Cristo em 14 de Janeiro de
1867, e conselheiro de Sua Majestade em 17 de Setembro de 1871.
Aveiro, 23 de Abril de 1940.
FRANCISCO FERREIRA NEVES |