Acerca desta publicação

"Serões" é o título de uma revista portuguesa, com as dimensões de 245x168 mm, editada em Lisboa entre Março de 1901 e Dezembro de 1911, perfazendo um total de 78 exemplares. Inspirada por Adrião de Seixas, conheceu ao longo dos dez anos de existência diversos directores: Henrique Lopes de Mendonça, Eduardo de Noronha e António Sérgio.

Dela tivemos conhecimento, em meados de Janeiro de 2020, graças a um amigo e colaborador do espaço «Aveiro e Cultura», Agostinho Ribeiro, que nos ofereceu os «restos mortais» de nove exemplares, em muito mau estado, sem capas e faltando-lhes diversos cadernos. Teriam como destino a reciclagem, se eu não lhe tivesse pedido para mos trazer, a fim de poder ficar a conhecer uma revista nacional muito anterior à minha existência e dela poder aproveitar o que tivesse interesse cultural, para enriquecimento do espaço que temos vindo a manter, desde que, em 2001, fomos indigitados para líder do Prof2000 na Secundária José Estêvão, em Aveiro.

Pela amostra que pudemos muito cuidadosamente folhear, concluímos que não nos importaríamos nada de possuir a colecção completa devidamente encadernada, provavelmente uns seis a sete volumes, atendendo à elevada qualidade e interesse dos artigos publicados.

Analisando um dos exemplares mais completo, embora sem capas, verificamos que cada um é constituído, grosso modo, por três secções. A primeira, num papel de menor qualidade, é destinada essencialmente à publicidade e ao registo de informações diversas, tais como contactos com o editor e preçários para assinatura da revista e números avulso (200 reis), livros, revistas e jornais recebidos na redacção com as respectivas recensões críticas, etc. A parte central, num papel de boa qualidade e com excelente impressão, atendendo aos meios técnicos de então, constitui um enorme manancial de cultura e registo de acontecimentos históricos, tais como contos, poemas, narrativas de eventos, reportagens sobre localidades diversas, nacionais e estrangeiras, capítulos de novelas e romances reproduzidos mensalmente, às pinguinhas, partituras musicais para serem tocadas ao piano nos serões familiares, etc. A terceira e última parte, num papel idêntico à primeira, é uma nova série de páginas publicitárias.

Nunca tivemos a oportunidade de compulsar uma colecção devidamente encadernada. Mas tudo nos leva a crer que apenas a parte central deveria ser aproveitada, constituindo os volumes encadernados, sendo eliminadas as páginas em papel de inferior qualidade, ainda que a secção publicitária pudesse a vir ter algum interesse, muitos anos volvidos, como documento histórico de uma época passada.

No que resta, por exemplo, do exemplar n.º 15, de 1906, e que daria origem, de acordo com o que deduzimos, ao terceiro volume da colecção, os anúncios publicitários têm para nós um particular interesse, na medida em que nos permitem ficar com uma ideia de como seria a vida naquele tempo: as águas engarrafadas e as diferentes marcas de bebidas, os produtos medicinais e de higiene (pastas dentífricas, cremes de beleza, suplementos alimentares, etc.), as marcas das grafonolas, as máquinas de costura, os utensílios de cozinha, tais como fogões, panelas, moedores de café, os sistemas de aquecimento a lenha, a carvão, a gás, a óleo, a acetileno e a querosene, em suma, um manancial de informações acerca da vida dos nossos antepassados, passível de obter a partir dos anúncios publicitários.

Completada a digitalização e reconversão para um formato moderno, com as imagens melhoradas e caracteres permitindo uma mais fácil leitura, quais as características desta amostragem de "Serões", a revista periódica que os nossos antepassados tiveram o privilégio de ler e coleccionar, praticamente durante toda a primeira década do século XX, de 1901 a 1911?

 Efectuámos o OCR (Reconhecimento Óptico de Caracteres) e reproduzimos quase todos ao artigos em Português actual, na única ortografia que, apesar de tudo, ainda continua válida, e que é bem mais rigorosa que o medíocre acordo de 1990, imposto à força a todos os portugueses sem que os países que o deveriam ter ratificado o tivessem feito. Apenas as páginas dedicadas às actualidades da época, intituladas «Ecos e Reflexos», foram mantidas na ortografia original, para nos servir de amostragem. Ser-nos-iam de grande utilidade, se ainda estivéssemos no activo, para amostragem aos nossos alunos da cadeira de Gramática da Comunicação de uma das fases da evolução da nossa língua, anterior ao acordo ortográfico de 1945, com algumas alterações pontuais em meados do mesmo século, mas sem desvirtuar as origens da nossa língua e fazer perder os objectivos que levaram os nossos antigos linguistas à sua criação.

As páginas em formato HTML mantêm todos os objectos existentes no original, tais como títulos com os arranjos gráficos envolventes, letras capitulares e elementos ornamentais no final dos artigos ou separando-os, quando um artigo é iniciado na mesma página onde acaba o anterior. Sempre que o arranjo gráfico mereça que a página seja mostrada na totalidade no seu aspecto original, é reproduzida por meio de uma miniatura, que funciona como botão para visualização. Clicando-se sobre ela, é mostrado o fac-símile do original. Infelizmente, não pudemos aproveitar um razoável número de artigos, porque ocupam diversos números não constantes na reduzida amostra que nos foi oferecida.

Na estruturação das páginas, agrupámos todos os artigos por anos. Deste modo, se acaso viermos a ter a sorte de outros exemplares nos forem cedidos, será possível uma estruturação idêntica ao que fizemos com outras publicações a que tivemos acesso, tais como o «Arquivo do Distrito de Aveiro», o «Aveiro e o seu Distrito», a «Flâmula», o «Farol», etc.

Para aqueles que queiram compulsar a totalidade dos originais, poderão recorrer à Hemeroteca de Lisboa, que os disponibiliza na Internet em formato fac-similado. Embora não permita uma pesquisa por artigos ou por autores, os interessados podem consultá-los e ler os artigos tal como fariam os nossos antepassados, ou seja, folheando as páginas em formato digital, podendo ampliar ou até mesmo copiar as imagens com que se reproduzem as folhas das revistas para uma pasta do computador, para leitura posterior sem necessidade de Internet.

Aveiro, 20 de Março de 2021

Henrique J. C. de Oliveira

 

 

02-04-2021