O nosso quinto andar


À ilustre escritora Célia Roma

 


Naquele quinto andar, encostadinho ao Céu,
– lindo ninho de amor, à beira dum telhado
Fizemos um «ménage», «art-nouveau» mobilado
De beijos, afeições, carícias... que sei eu?

Era pobre a mobília e as paredes nuas,
Não havia tremós, nem estofos de esplendor,
Tão pouco «bric-à-brac», ou coisas de valor
que nos metem à cara as montras dessas ruas.

Apenas o teu leito e um «édredon» sedoso,
Cadeiras, um sofá, um «guéridon» império,
E, em cima, o meu retrato, empertigado e sério,
Buscando pelo quarto o teu corpito airoso.

A mobília era pobre e simples o bem-estar,
Mas a tua alegria, o teu génio travesso,
E o nosso grande amor, eram móveis de preço
que adornam, com luxo, o nosso quinto andar!

No teu «kimono» branco, aéreo e tão leve,
que vestia o teu corpo, esbelto e escultural,
Davas-me a impressão, galante e sensual,
de boneca alemã toda feita de neve!

 

12-11-2020