Em nuvens cor de aurora arquitectei um dia

A Torre de Cristal das minhas ilusões:

Minh' alma então sonhara, em louca fantasia,

Mulheres ideais, edénicas visões...

 

E dentro, em brando harpejo, a doce sinfonia

De beijos sensuais e o rir de corações...

E, para completar, a Glória lhe sorria,

Mostrando-lhe do Verso as mil constelações!

 

Mas, como se desfaz um floco caprichoso

De espuma, assim também ruiu, esfacelada,

A Torre de Cristal – meu Sonho venturoso! –

 

E se ouso, acaso, ainda a vista erguer, ousada,

Vejo um fantasma a rir, sinistro, pavoroso,

Que me acena chamando: – o inevitável Nada

 

Rio de Janeiro – Fernando Nery

 

 

01-11-2020