Em nuvens cor de aurora arquitectei um dia
A Torre de Cristal das minhas ilusões:
Minh' alma então sonhara, em louca fantasia,
Mulheres ideais, edénicas visões...
E dentro, em brando harpejo, a doce sinfonia
De beijos sensuais e o rir de corações...
E, para completar, a Glória lhe sorria,
Mostrando-lhe do Verso as mil constelações!
Mas, como se desfaz um floco caprichoso
De espuma, assim também ruiu, esfacelada,
A Torre de Cristal – meu Sonho venturoso! –
E se ouso, acaso, ainda a vista erguer, ousada,
Vejo um fantasma a rir, sinistro, pavoroso,
Que me acena chamando: – o inevitável Nada
Rio de Janeiro – Fernando Nery
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