VISÃO CRUEL

A VICENTE ARNOSO
 

 

Dourados fios da existência incerta,

Onde passais, na complicada trama,

Que aqui nos prende entre a comédia e o drama,

Lançando a todos na cruel referta?

 

Vós existis; porém a mão que aperta

A teia imensa que um a um nos chama,

E o próprio sangue ao coração reclama,

É feita doutros – dos que a Dor desperta…

 

E assim debalde, visionários, loucos,

Vamos seguindo pela estrada, aos poucos,

À vossa busca, apetecidos fios!

 

Vai-se a frescura, e tu, Outono, avanças,

Mas ai, até aos que inda são crianças,

Se sois dourados, só par’ceis sombrios…
 

Afonso Vargas

 

 

26-07-2020