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1
Antes era a secura.
Agora água,
muita água,
parada,
espelhada,
reflectindo o voo dos pássaros,
as nuvens
e o sol que se põe.
2
Nem a força escura
das pedras do castelo,
nem a brancura imaculada
do casario,
nem o colorido
das flores que despontam,
nem a cálida e doce
aragem primaveril
que me envolve,
conseguem despertar-me
desta desmedida indiferença.
Hoje.
3
O silencio da noite
adiantada e da solidão
sabe-me bem.
Nesta casa
as recordações,
em catadupa,
chegando e partindo
sem cerimónia,
são companhia bastante.
4
Está chegando a madrugada.
Hoje,
de certeza,
não ouvirei o galo
nem o burro
no quintal da travessa dos
currais,
nas traseiras da minha casa.
Só aquela maldita motorizada.
5
E o vinho,
os livros e o lume na lareira,
meus companheiros
e amigos
de alegrias e tristezas,
em tantas noites
de encontros interiores.
Cá estão eles,
como sempre irredutíveis,
fieis.
6
Agricultor
em terra de mineiros
onde minério já não há.
Guerreiro
de rosto tisnado
lavrado pelo tempo.
Em cada ruga
a história de uma luta.
Na profundeza do olhar
um rol de sonhos por cumprir.
Luís Jordão
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