Minha avó, Maria Lampreia, que nasceu a 13 de Junho em Serpa, onde
sempre viveu e morreu, era profundamente devota de Santo António.
Sendo esta devoção do conhecimento geral, eram muito frequentes os
pedidos para que “encomendasse a Santo António” um militar, um
estudante em exames, um objecto perdido…
Para
ela, esta é uma singela homenagem.
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Minha avó
idolatrava
Um Santo António que tinha
E o bom do Santo escutava
Aquela santa velhinha.
Era pura, até mais não
A sua forma de fé.
Era muito mais até
Do que simples devoção.
Gente de alta condição,
P’ra quem ela trabalhava,
O povo que ali morava
E os que vinham de passagem,
Sabiam que aquela imagem
Minha avó idolatrava.
Um Santo em barro pintado,
Cheio de ternura no olhar,
Sereno no seu altar,
Dia e noite alumiado.
Não o teria trocado,
É firma certeza minha,
Nem que a fizessem rainha,
Ou lho pesassem a ouro…
Era o seu maior tesouro
Um Santo António que tinha.
Rezava pelos soldados,
Pelos amigos distantes,
Pedia que os estudantes
Tivessem bons resultados;
De perdidos e achados
Co’o Santo “dialogava”
E a impressão que deixava
A quem à cena assistia
É que tudo o que dizia,
O bom do santo escutava…
Numa fresca madrugada
De Junho, o seu mês regente,
Minha avó, serenamente,
Fez-se à última jornada,
Sonhando que, ao fim da estrada,
Ao seu encontro lá vinha
Santo António, que já tinha
Lugar há muito guardado,
Para sentar a seu lado
Aquela santa velhinha.
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