As publicações
periódicas do Alentejo (jornais, revistas e almanaques) constituem
um núcleo muito importante do património histórico e cultural da
região. Com um suporte frágil como é o papel, a sua conservação
levantou problemas que, desde sempre, as limitaram no tempo, criaram
dificuldades acrescidas de conservação e da sua consulta posterior.
A microfilmagem e a digitalização vieram potencialmente alterar a
situação. Importa que o futuro transforme em factos o que é pouco
mais do que uma possibilidade.
Pude até hoje
identificar 1.024 títulos, dos quais consegui fazer uma leitura –
ainda que transversal – de 684. Se de ambos os números posso tirar
conclusões, só uma me parece indiscutível: a de que se trata de um
património histórico e cultural ímpar. |
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Todas as restantes que
eventualmente vos possa transmitir – para mais num curto texto como este
– mais não são que observações de leitura pessoal susceptíveis de
despertar o interesse dos leitores e estimular o aparecimento de
iniciativas que contribuam para a conservação, divulgação e estudo dum
tão importante património.
O "Distrito de
Portalegre" é neste momento o mais antigo jornal do Alentejo ainda
em publicação. Tendo iniciado a 26 de Novembro de 1884 como
independente, passaria em Setembro de 1889 a órgão do Partido
Progressista até à implantação da República. A 22 de Janeiro de 1938
passa a apresentar-se como órgão da Acção Católica. Hoje, está ligado à
Diocese, tal como "A Defesa" (Évora, 1923- ) e "Notícias de Beja" (1928-
) o estão relativamente às dioceses de Évora e Beja, respectivamente.
Sendo os mais emblemáticos títulos da Igreja Católica, muitos outros se
publicam em alguns concelhos. Por outro lado, inscrevendo-se no grupo do
que poderemos classificar de imprensa generalista, aí emparceiram com os
títulos mais conhecidos como "O Diário do Alentejo" (Beja, 1932- ),
"Brados do Alentejo" (Estremoz, 1931- ), "Fonte Nova" (Portalegre, 1984-
), "Alentejo Popular" (Beja, 2003- ), "Linhas de Elvas" (1950- ),
"Correio do Alentejo" (Beja, 2006- ) ou "Diário do Sul" (Évora, 1969,
este o único diário actualmente em publicação. Escrevi «emparceiram»
dado que, neste mesmo grupo, embora tendo cessado a publicação, se
destacaram, por exemplo, "A Rabeca" (Portalegre, 1916-1988), "Democracia
do Sul" (Montemor-o-Novo / Évora / Setúbal, 1902-1974), "O Manuelinho d'
Évora" (1880-1904), "A Plebe" (Portalegre, 1896-1932), "A Folha do Sul"
(Montemor-o-Novo, 1897-1946), "Ala Esquerda" (Beja, 1925-1937), "O Eco
de Reguengos" (Reguengos de Monsaraz, 1909-1957), "O Bejense"
(1911-1944), "O Notícias d' Évora" (1900-1983), "A Mocidade" (Ponte de
Sor, 1926-1940), "Nove de Julho" (Beja, 1885-1910) e "A Sentinela da
Fronteira" (Elvas, 1881- 1891), entre outros.
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Se este conjunto de
jornais generalistas constituem só por si uma fonte inesgotável de
informação, ainda que, como todas as fontes, exija cuidados
adequados na sua utilização, títulos dedicados a temas específicos
virão lembrar-nos a multiplicidade de interesses, hábitos, carências
e gostos na vida da região. Ou de sectores sociais bem definidos
dela.
O desporto faz-nos
recordar, em Beja, "Beja Sportiva" (1931) ou "O Ás" (1981-2009), em
Évora, "A Evolução Sportiva" (1913-1914), em Elvas, "Elvas
Desportiva" (1927-1930), além de muitos boletins dos clubes locais,
por vezes de colaboração variada e de muita qualidade.
A organização e luta
dos trabalhadores dão exemplos múltiplos de dinamismo, do "Caixeiro
do Sul" (2 séries, "Beja", 1911-1913 e 1915-1917) ao "Solidariedade"
(Elvas, 1918-1929), do "Trabalhador Rural" (Évora, 1912-1914) à "Voz
do Mineiro" (Mina de S. Domingos, 1930-1931). |
Nos liceus, nos colégios,
na Universidade e Institutos, a vida académica vai produzindo
publicações de abrangência, motivações e qualidade naturalmente
diversas, mas reveladoras de uma intensa vida colectiva. Aí estiveram ou
estão "O Normalista" (Portalegre, 1915-1917), "O Académico" (Évora,
1913-1914), "A Folha Académica" (Beja, 1919-1920), "O Corvo" (Évora,
1921-1976), "A Academia" (Portalegre, 1893), "O Leme" (Évora,
1952-1954), "Aprender" (Portalegre, 1987- ), "Revué" – Revista da
Universidade de Évora (2004-) que, entre outros, o provam sobejamente.
"O Animatógrafo" (Évora, 1919-1920), O "Almanaque Literário e
Charadístico para 1880" (Cuba, 1880), "O Jornal Filatélico" (Beja,
1908), "Adágio" (Évora, 1990- ), "O Microscópio" (Messejana, 1882)
abarcam terrenos do campo recreativo e cultural, polarizadores dos
hábitos de camadas muito bem definidas das populações.
A história local, a
etnografia, a antropologia, que tem pela imprensa generalista um leque
muito vasto de colaboradores, começou com "A Tradição" (Serpa,
1899-1904) uma experiência editorial própria, que vai ser continuada com
"Revista Transtagana" (Évora, 1934-1956), "A Cidade de Évora" (1942-),
"Arquivo de Beja" (1944- ), "A Cidade" – Revista Cultural de Portalegre
(1981- ), "Ibn Maruan" (Marvão, 1991- ), "Almansor" (Montemor-o-Novo,
1983), "Callipole" (Vila Viçosa, 1993- ), "Elvas-Caia" (Elvas, 2003- )
ou "Plátano" (Portalegre, 2005- ).
Encerrando esta muito
breve panorâmica, seria imperdoável não referir o sector em que este
mesmo almanaque se inscreve: o das publicações periódicas feitas a
partir da "diáspora" alentejana. Antes de qualquer outro "Grémio
Alentejano" (Coimbra, 1861-1862), bem mais tarde "Revista
Alentejana" (Lisboa, 1935-2003), "Almanaque Alentejano" (Lisboa, 1.ª
série 1939-1972, 2.ª série 2005- ), "Alma Alentejana" (Cova da
Piedade, 1998- ), "Memória Alentejana" (Lisboa, 2001- ) e "Revista
Alentejo" (Lisboa, 2004- ).
Um tão rico
património, de que esta memória mais não pode ser que um apelo ao
vosso interesse, tem que ser conservado e colocado ao dispor de quem
o queira consultar.
As bibliotecas das
autarquias do Alentejo certamente o não esquecem. |
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Aquelas que beneficiam das
obrigações do Depósito Legal, bom é que por aí se não fiquem. É que elas
não são armazéns, nem salas de conferências, nem galerias para expor as
primeiras páginas. Ou não o são apenas. São os locais onde, quem
pretende ler, procura e deve ser atendido. É para isso que existem. |