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OS «TRÊS MACETAS» |
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Luís Jordão |
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Nesta terra, nesta época (escasseiam/os dias/ para o fim de mais um
ano), passear na rua, à noite, sempre teve um encanto todo especial
para mim.
A
noite está limpa mas o frio é intenso e seco. Felizmente também há
silencio, o que permite ao pensamento, por vezes saltitante,
deambular com largueza absoluta.
Desta vez, quase diria que naturalmente, em cada rua penso
sentir/ouvir o ruído ritmado, como que se de musica se tratasse, das
três macetas batendo nos escopros ou ponteiros, traçando recortes
harmoniosos em rudes peças de granito ou xisto. |
Aqui numa igreja ou numa casa rica, umas ombreiras finamente
talhadas. Ali numa casa pobre, outras (ombreiras) não tanto, mas com
a mesma qualidade no traço. Mais à frente, numa outra rua, ao fundo,
dentro daquela casa, lembro-me bem, há um fogão de sala talhado em
granito (fumam nos telhados/as altas chaminés de aspecto fálico / da
minha terra). Naquele largo houve em tempos um lagar, que durante
anos-e-anos, com as suas mós de granito, esmagou a azeitona de boa
parte da produção desta terra, eram enormes, cilíndricas ou cónicas,
as mós talhadas por eles (cheira / a lenha queimada / e a lagar em
laboração).
Em
quase todas as casas mais antigas, ou onde o bom senso/ gosto ainda
não morreu totalmente, há / 51 / sempre pelo menos uma divisão
lajeada de xisto. No chão que piso nas ruas, onde a ignorância e/ou
o mercantilismo ainda não chegaram, estão os paralelepípedos de
granito, talhados pelas mesmas ferramenta guiadas pelas mesmas
hábeis mãos.
Manuel, Vicente e Zé
Miguel, todos Palma Jordão, todos artistas (ressoa/no imaginário a
toada/de uma cantiga de grupo). Deixaram obra que se veja por onde
quer que passaram. Mas deixaram, também, traços indeléveis de
carácter e dignidade, coisas hoje com pouco uso, até nestes plainos
perdidos na imensidão do menosprezado interior da "Pátria
Alentejana". |
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Foi
dura a vida dos "Três Macetas", tão dura quanto as rochas que,
teimosamente, foram esculpindo no seu percurso.
Talvez um dia (dói / a desmemorização /do povo da planície) aos
"Três Macetas", seja reconhecido o valor comportamental da arte e da
cidadania.
Quem sabe?!... Talvez um dia... |
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APRENDIZ |
Fátima Marques |
De conhecer, sentir, de ver
De conversar, ensinar, de viver
De mulher, amiga, de meretriz
De sonhar e de ser feliz
De tudo isto e também de ti
Quero ser aprendiz...
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