Fernando Manique

As viaturas todo-o-terreno, os vulgarmente denominados jipes, deixam confundir as suas cores com a paisagem circundante. Eles e também as respectivas guarnições, numa mescla com a natureza, essa já alentejana.

08:00, Alcácer do Sal. Após a entrega dos "road-books", instrumentos obrigatórios nestas andanças, embora já enfrentando a concorrência acentuada dos GPS, todo o comboio se prepara para uma antecipada jornada de prazer, em comunhão com a versátil paisagem do Alentejo. Objectivo: Serpa – Azimute: serpentear com o velho Guadiana, sempre diferente no seu curso.

Torrão, Alvito, Vidigueira, Portel, Monsaraz, sempre ou quase sempre fora do asfalto, que esse já é nosso conhecido nas limitações dos automóveis, e finalmente amanhã o Guadiana!

A chegada à estalagem. Primeiro o cansaço, depois o convívio nas aventuras do dia, os preparativos para a próxima etapa e, finalmente, o merecido repouso.

Monsaraz, 08:00. Início do segundo e último troço. Aqui o "road-book" teve grandes alterações, já que no aspecto geográfico a paisagem está drasticamente alterada desde o passeio TT que fizemos há alguns anos. Nessa altura faziam-se previsões através das verdejantes cumeadas: - "Aquele monte vai mesmo ser uma ilha!"; "Se a cota for a / 38 / máxima, tudo vai ficar submerso: casas, caminhos, vedações..."; "E o gado, e os coelhos, para onde irão?!".

Gostava de referir aqui o passeio de canoas que incluímos num raid que mais tarde fizemos, já com a albufeira em enchimento. Cada viatura tinha no mínimo quatro ocupantes, e quando chegámos ao castelo da Lousa, onde já nos esperavam as referidas embarcações, dois elementos de cada carro embarcaram seguindo rio abaixo, enquanto os restantes conduziram as viaturas até um determinado ponto da margem, devidamente assinalado no "road-book", onde a troca das equipagens se fez. Em outro local mais a jusante, e após o abandono das canoas, o percurso continuou até à chegada ao nosso destino. Foi um verdadeiro "banho" de Guadiana!

Hoje, das previsões à realidade, a albufeira do Alqueva cumpriu o seu destino e tudo alagou. Continuámos por Mourão e pela margem esquerda do Guadiana, visitando a Nova Luz e a Estrela, até atingirmos o paredão da Barragem do Alqueva. E foi por entre estevas e cearas, refúgio de veados e lebres, com o rio sempre à espreita, orgulhoso dos seus moinhos de corrente, que passando Brinches, alcançámos a tão desejada Serpa.