I. Nas últimas décadas, o estudo e preservação
da natureza tem vindo a suscitar um crescente e saudável interesse, em
especial nos estratos mais jovens.
Neste
singelo contributo no âmbito da temática em título, debruçamo-nos desta
vez sobre uma curiosa ave, porventura pouco familiar à maioria da
população, mas presente, muito em particular, no Alentejo – o grou.
Referimo-nos aqui ao grou-comum, a espécie pertencente à avifauna
portuguesa.
II. Os grous são aves de tamanho considerável, com dimensões
semelhantes às da cegonha-branca (aproximadamente 1 m / 1,20 m de
comprimento e 1,90 m / 2,20 de envergadura). Altos e de porte majestoso,
têm pernas e pescoço compridos, plumagem de tom cinzento-prateado em
quase todo o corpo, destacando-se um grande tufo de penas escuras sobre
a cauda. De bico comprido e direito, a cabeça é a preto e branco,
coroada por uma pequena mancha avermelhada (já os juvenis têm a cabeça e
pescoço acastanhados).
O seu
habitat de base é no norte da Europa e Ásia ocidental, nidificando na
Primavera, em regra longe da presença humana, em terrenos baixos de
zonas húmidas e pantanosas (florestas com lodaçais, junto a lagos,
pântanos com canaviais, etc.). No período de namoro exibem-se numa dança
muito peculiar, com vénias, saltos esvoaçantes e asas erguidas, soltando
sons agudos.
Os
ninhos são construídos pelo macho e fêmea, no chão ou em águas pouco
profundas, com lama e vegetação, podendo ser utilizados em anos
sucessivos. Neles são depositados 2 ovos, incubados pelo casal durante
cerca de 30 dias.
No
Verão ambos vivem escondidos com as crias, levando-as por vezes para
terrenos com matas. Aos 2 anos de idade os juvenis atingem a maturidade.
Alimentam-se sobretudo de matéria vegetal (ervas, rebentos, folhas),
grãos de cereais e sementes, mas também de insectos, vermes e alguns
vertebrados (rãs, lagartos, etc.).
Exceptuando o período reprodutor, são aves fortemente gregárias, vivendo
em bandos por vezes de grande dimensão.
No fim
do Verão migram para o sul da Europa e norte de África, percorrendo em
grupo distâncias consideráveis, voando numa espectacular formação em V
ou em linha oblíqua. Descansam em campo aberto e passam a noite em
pântanos.
São
característicos os sons agudos emitidos, semelhantes aos de uma corneta
ou trompete ("Krrau", "Krrau"…), numa comunicação entre si que ocorre
tanto em voo como no solo.
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Estimam-se em mais de 40 mil os grous que invernam na Península Ibérica,
dos quais 2 a 3 mil em Portugal, basicamente no Alentejo (onde também
utilizam a bolota como alimento), podendo ser observados sobretudo entre
Novembro e Fevereiro. Uma possível presença mais a norte do País será
meramente acidental, uma vez que, no essencial, se concentram em 4
zonas: Moura-Mourão (a principal), nos campos a sul de Évora, nos
montados em torno de Campo Maior e nas planícies de Castro Verde.
Para
segurança do bando, pernoitam em dormitórios comuns, sempre junto a
linhas de água e com boa visibilidade, espalhando-se durante o dia pelos
campos, em grupos diversos, na procura de alimento. O voo de regresso
aos dormitórios, ao fim da tarde, constitui igualmente um espectáculo
digno de registo.
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III. É uma ave antiquíssima – do grou do
Canadá (grus canadensis), p. ex., foram encontrados fósseis
de ovos idênticos aos de hoje, a que os cientistas atribuíram mais
de 4 milhões de anos.
Esta presença tão remota, aliada às suas peculiaridades, tornaram o
grou objecto de lendas e mitos ao longo dos tempos, sendo em alguns
países associado à longevidade e à felicidade. Como curiosidade,
refira-se ainda que é o pássaro símbolo da Arménia.
Não
se tratando propriamente de uma espécie em perigo, está contudo em
declínio nos últimos séculos – drenagens nas zonas de nidificação,
alterações e redução do habitat nas zonas de invernada, etc., são
ameaças que a vão tornando vulnerável, tendo-lhe sido conferido o
estatuto de protecção especial, incluído em diversas convenções
internacionais e directivas da UE. |
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