Castelo de Vide é uma
airosa vila do Alto Alentejo que, com Marvão – o Ninho de Águias – e
Portalegre, integra um triângulo turístico procurado por milhares de
visitantes, cativos pela beleza deslumbrante de toda a Serra de S.
Mamede.
O foral, que D. Manuel lhe concedeu em 1512, reformulou e ampliou
direitos que Pedro Annes, fidalgo e conselheiro de D. Afonso II, recebeu
por carta régia de 1180 para Castelo de Vide.
Os pergaminhos da vila, que em 1276 era já concelho, o tempo os foi
reforçando na Guerra da Restauração, nas guerras com Castela e nas
Invasões Francesas através do Regimento aqui sedeado.
Do miradouro quase natural que rodeia a Capela de Nossa Senhora da
Penha, na Serra de S. Paulo fronteira à vila, recolhemos uma noção clara
da sua importância militar pela cintura de muralhas e o Forte de S.
Roque, que o Governador Manuel Azevedo Fortes concluiu em 1711.
Sabe-se que, já na Restauração, o padre jesuíta holandês, Jan Ciermans,
projectara em 1642 fortificações para a praça de Castelo de Vide.
Uma visita ao velho castelo proporciona-nos a clara convicção da
importância estratégica da vila, pela grandeza que patenteia e pela
capacidade de "vizinhos" que albergaria. Nele podem-se ver as ruínas de
um velho convento que nunca chegou a ser concluído, os quartéis e a
Igreja de Nossa Senhora da Alegria, reconstruída no século XVII,
revestida interiormente de azulejos de laçaria, rosas e pinhas. O
percurso para o castelo e – descendo depois – pela Judiaria,
dificilmente nos deixa imunes à soberba colecção de portas ogivais.
Saindo da Judiaria, encontrar-se-á ã Fonte da Vila, verdadeiro
ex-libris, elegante construção manuelina, no largo com o seu nome,
onde não sabemos o que mais nos encanta: se a sua beleza, se o
enquadramento de casas e arruamentos convergentes.
|
A Judiaria, onde se
ergue uma pequena sinagoga, recorda-nos a importância de uma
comunidade particularmente numerosa após a expulsão de Espanha em
1492, mas de que há notícia clara já em Castelo de Vide, pelo menos,
desde 1411. Nesta comunidade entronca de maneira incontornável a
proliferação dos mesteres de ferreiros, carpinteiros, sapateiros e
tintureiros, tão característica da vila. |
Tintureiros, tecelões,
pisoeiros, cardadores foram os pilares de uma indústria artesanal do
fabrico de panos, que as condições naturais de Castelo de Vide, com
abundância de água e de lãs, tornaram próspera.
Nomeadamente de meados do século XV até à segunda década do século XIX,
inúmeros teares justificaram que a vila fosse conhecida por "terra de
cardadores". Para melhor transacção, foi mesmo criada, no século XVI, a
Feira de S. Lourenço, feira franca habitualmente realizada em 10 de
Agosto de cada ano. Nela se negociavam panos e mantas, que também eram
levados e conhecidos em feiras dos concelhos envolventes, e até em mais
longínquos, como Tancos e, principalmente, Estremoz.
A par da indústria de panos, uma outra fez tradição em Castelo de Vide:
a de salsicharia. O Padre João Aires Baptista, vigário da Igreja Matriz
de Santa Maria da Devesa, em 1758, escrevia nas "Memórias" que havia
anos em que se matavam 7 mil porcos em Castelo de Vide, donde podemos
concluir a importância desta actividade na economia local.
Hoje a vila vive principalmente dos serviços, da indústria do
engarrafamento da água de mesa e do turismo, com reflexos na hotelaria e
restauração. A este propósito, chamamos a atenção para e existência de
uma gastronomia, que certamente não será muito familiar aos leitores
destas páginas, e de uma doçaria que, não sendo exuberante, se mantém
tradicional e de elevada qualidade.
Os Paços do Concelho (construção de finais do século XVII) e a Igreja de
Santa Maria da Devesa formam o encerramento da Carreira de Cima, o mais
importante arruamento da vila; ambos, com a Igreja de S. João e o
edifício da Misericórdia, são a envolvente final da Praça D. Pedro V.
Esta tomou o nome do moço rei que visitou Castelo de Vide e cuja
população depois o homenageou com monumento com a sua estátua, obra de
Victor Bastos.
Tal como D. Pedro V, que ficou deslumbrado com a beleza da vila e o
acolhimento das suas gentes, também nós hoje não conseguimos alhear-nos
do quase misterioso encanto deste casario alvo, conjunto único que nos
convida a voltar. |