Documentos seleccionados do arquivo organizado por Aurélio Guerra.

António Braz (1865–1937)

Completa hoje o seu 72.º aniversário o conceituado e benquisto comerciante e industrial e importante capitalista Sr. António Braz.

Já não é esta a primeira homenagem que o “Correio de Azeméis» presta a tão ínclito cidadão e sempre o faz com a mais grata satisfação.

Se a vida de António Braz, o seu triunfo mercê de um obstinado esforço e vontade que não conhece desfalecimentos, não é um caso único é, no entanto, quase esporádico e digno de ser apontado pelas gerações em fora como um nobilitante exemplo a seguir, António Braz não nasceu em palácio alcatifado nem foi embalado em berço dourado. Do mesmo modo a sua mocidade não foi bafejada de superfluidades ou sequer de conforto. Os seus primeiros passos na vida foram antes de cruciante sacrifício e a sua mocidade um calvário. Nasceu, porém, dotado do melhor atributo de nobreza: a vontade indómita do trabalho, a fé inquebrantável num triunfo que raras vezes foge aos que sabem querer.

O duro labor dos armazéns foi a principal argamassa com que caldeou a sua vontade nos verdes anos da sua mocidade. Porém, os sacrifícios foram sempre transpostos porque que António Braz, dotado de temperamento invulgar, se habituara a ter em mente o princípio salutar de «querer é poder».

As horas que, com legítimo direito, podiam ser ocupadas num descanso reparador ou distracção de espírito, depois de um labor, cotidiano esfalfante, eram aproveitadas no desenvolvimento mental, no aperfeiçoamento do seu intelecto, o quo a falta de meios até aí lhe não havia permitido.

Chegado a determinada altura da sua vida, o triunfo não lhe fez negaças, porque para tanto António Braz estava admiravelmente apetrechado.

Hoje o nome de António Braz é um nome que se impõe em qualquer meio, principalmente nos meios comercial e industrial do País, onde ocupa lugares proeminentíssimos.

O nosso homenageado não é positivamente um novo, mas somente pela sua idade porque quanto à energia e acção ele pode ainda continuar a ser apontado como um exemplo para muitos novos.

Pela sua situação, por tudo, enfim, outro que não fosse António Braz ostentaria, talvez, uma pretensa ou legítima superioridade que o distanciasse da gente do povo e dos seus cooperadores. Tal não sucede e assim pode mostrar-nos uma das suas mais simpáticas facetas: o desprendimento, a isenção absoluta de vaidades e a simplicidade de trato.

A sua acção desenvolve-se em Oliveira de Azeméis como sócio e gerente do Centro Vidreiro do Norte de Portugal, Ld.,ª – sem dúvida os mais importantes estabelecimentos fabris da especialidade em terra lusa – e dentro do qual conta um bom amigo em cada cooperador. Mas não é só como industrial que aqui se nota a sua acção, pois os pobres de Oliveira de Azeméis contam em António

Braz um desvelado protector e amigo. À semelhança do lendário milagre das rosas, ele tem feito transformar muitas lágrimas de dor e miséria em lágrimas de gratidão e reconhecimento e o seu nome é balbuciado com sentida ternura por muitos desprotegidos da sorte.

Com a nossa homenagem, talvez descolorida mas sincera, que prestamos a tão ínclito cidadão, apresentamos-lhe também os nossos cumprimentos pelo seu presente aniversário.

C. d’A

In: “Correio de Azeméis” de 02-10-1937

Nota - Faleceu em 2 de Dezembro de 1937, segundo notícia do mesmo jornal.


 

Página anteriorPágina inicialPágina seguinte

14-01-2025