Completa hoje o seu 72.º aniversário o conceituado e
benquisto comerciante e industrial e importante capitalista Sr. António
Braz.
Já não é esta a primeira homenagem que o “Correio de
Azeméis» presta a tão ínclito cidadão e sempre o faz com a mais grata
satisfação.
Se a vida de António Braz, o seu triunfo mercê de um
obstinado esforço e vontade que não conhece desfalecimentos, não é um
caso único é, no entanto, quase esporádico e digno de ser apontado pelas
gerações em fora como um nobilitante exemplo a seguir, António Braz não
nasceu em palácio alcatifado nem foi embalado em berço dourado. Do mesmo
modo a sua mocidade não foi bafejada de superfluidades ou sequer de
conforto. Os seus primeiros passos na vida foram antes de cruciante
sacrifício e a sua mocidade um calvário. Nasceu, porém, dotado do melhor
atributo de nobreza: a vontade indómita do trabalho, a fé inquebrantável
num triunfo que raras vezes foge aos que sabem querer.
O duro labor dos armazéns foi a principal argamassa com
que caldeou a sua vontade nos verdes anos da sua mocidade. Porém, os
sacrifícios foram sempre transpostos porque que António Braz, dotado de
temperamento invulgar, se habituara a ter em mente o princípio salutar
de «querer é poder».
As horas que, com legítimo direito, podiam ser ocupadas
num descanso reparador ou distracção de espírito, depois de um labor,
cotidiano esfalfante, eram aproveitadas no desenvolvimento mental, no
aperfeiçoamento do seu intelecto, o quo a falta de meios até aí lhe não
havia permitido.
Chegado a determinada altura da sua vida, o triunfo não
lhe fez negaças, porque para tanto António Braz estava admiravelmente
apetrechado.
Hoje o nome de António Braz é um nome que se impõe em
qualquer meio, principalmente nos meios comercial e industrial do País,
onde ocupa lugares proeminentíssimos.
O nosso homenageado não é positivamente um novo, mas
somente pela sua idade porque quanto à energia e acção ele pode ainda
continuar a ser apontado como um exemplo para muitos novos.
Pela sua situação, por tudo, enfim, outro que não fosse
António Braz ostentaria, talvez, uma pretensa ou legítima superioridade
que o distanciasse da gente do povo e dos seus cooperadores. Tal não
sucede e assim pode mostrar-nos uma das suas mais simpáticas facetas: o
desprendimento, a isenção absoluta de vaidades e a simplicidade de
trato.
A sua acção desenvolve-se em Oliveira de Azeméis como
sócio e gerente do Centro Vidreiro do Norte de Portugal, Ld.,ª – sem
dúvida os mais importantes estabelecimentos fabris da especialidade em
terra lusa – e dentro do qual conta um bom amigo em cada cooperador. Mas
não é só como industrial que aqui se nota a sua acção, pois os pobres de
Oliveira de Azeméis contam em António
Braz um desvelado protector e amigo. À semelhança do
lendário milagre das rosas, ele tem feito transformar muitas lágrimas de
dor e miséria em lágrimas de gratidão e reconhecimento e o seu nome é
balbuciado com sentida ternura por muitos desprotegidos da sorte.
Com a nossa homenagem, talvez descolorida mas sincera,
que prestamos a tão ínclito cidadão, apresentamos-lhe também os nossos
cumprimentos pelo seu presente aniversário.
C. d’A
In: “Correio de Azeméis” de 02-10-1937
Nota - Faleceu em 2 de Dezembro
de 1937, segundo notícia do mesmo jornal. |