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É PRECISO UM MUNDO MELHOR!

No dia 8 de Outubro de 1917, realizou-se em Dallas, nos Estados Unidos, a primeira convenção de Lions International. Já lá vão 92 anos sobre este acontecimento que esteve na base do nosso Movimento.

Durante 3 dias, de 8 a 10 de Outubro desse ano, representantes dos primeiros 23 clubes de serviço começaram a tornar realidade o sonho de Melvin Jones, então ainda não mais do que um jovem agente de seguros duma companhia de Chicago.

Essa primeira convenção foi o fruto de uma anterior reunião, realizada em 7 de Junho de 1917, em Chicago, Illinois, de diversos grupos independentes de homens de negócios que até então visavam exclusivamente a defesa dos seus interesses. Foi aí que começou a germinar e a ganhar corpo a ideia de transformar esses grupos independentes num bloco forte e influente para servir a Humanidade. E esta bem precisava de instituições como a nossa, nesse ano de 1917... Estava em curso a Primeira Grande Guerra Mundial.

Em 26 de Janeiro de 1917, embarcou para França o primeiro contingente de tropas portuguesas que foi combater os alemães na Flandres.

A 16 de Março, o Czar Nicolau II abdicou, na Rússia.

A 2 de Abril, Woodrow Wilson convocou uma sessão especial do Congresso para a declaração de hostilidades e, a 6, os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha.

Em 16 de Junho já se tinha realizado o primeiro congresso dos Sovietes Russos e, passado um mês, Lenine vê gorada a sua tentativa de tomar o poder em Petrogrado, hoje, de novo, São Petersburgo.

Em 26 de Junho, chegou a França a primeira divisão americana.

A 15 de Setembro, Kerensky proclamou a República Russa e, a partir de 29 do mesmo mês, Londres é bombardeada sucessivamente pelos aviões alemães.

A 7 de Novembro (no calendário russo, 26 de Outubro), Lenine chefia os bolcheviques contra Kerensky, em Petrogrado. É o que fica na História como a "Revolução de Outubro", em consequência da qual Lenine assume a presidência do Conselho dos Comissários do Povo e Trotsky é nomeado comissário para os Negócios Estrangeiros.

1917 é o ano das aparições de Nossa Senhora, em Fátima.

É neste ano convulso, cheio de guerras devastadoras, que nasce mestre Júlio Resende.

No próximo dia 23 deste mês de Outubro fará 92 anos de idade este grande artista português, que foi nosso Companheiro e que, espiritualmente, nunca nos abandonou. O seu painel "Ribeira Negra" continua a ser um grito pelos desprotegidos da sorte.

É no meio dos escombros que então se espalham por quase toda a terra que Charles Chaplin interpreta e realiza "Charlot na Rua da Paz". No meio da guerra, uma "Rua da Paz".

É neste mundo "surrealista" que Apollinaire descreve como "surrealistas" – é a primeira vez que se utiliza este termo – os cenários e roupagens feitos por Picasso para o bailado "Parade". E é nesta parada de desgraças que a semente do lionismo é lançada à terra dos homens, qual arrimo de esperança num mundo melhor.

Chega 1918. É o fim da Primeira Guerra Mundial; é o desaparecimento de quatro grandes impérios: o alemão, o russo, o austro-húngaro e o otomano; as fronteiras geográficas, sobretudo no Leste europeu, sofrem modificações profundas com a formação de novos estados: Finlândia, Estónia, Letónia, Polónia, Áustria. Checoslováquia, Hungria, Jugoslávia. E, sem dúvida, que é a participação dos Estados Unidos nesta guerra que dá início a uma nova época de relações com a velha Europa.

Em 28 de Junho de 1919, é assinado, na sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, o Tratado de Paz, imposto à Alemanha como ultimato pelas potências vencedoras – Inglaterra, França e Estados Unidos –, à qual foi imputada, por inteiro, a responsabilidade da guerra. O mundo suspira de algum alívio.

Sugerida em 1916 pelo presidente americano Woodrow Wilson, a Sociedade das Nações é estabelecida pelo Tratado de Versalhes. É composta inicialmente pelos 32 países aliados da Primeira Guerra Mundial. Estes comprometem-se a resolver pacificamente os seus diferendos, apelando à Sociedade das Nações na ausência de um compromisso, iniciando-se a sua actividade em 16 de Janeiro de 1920, ficando a sede em Genebra, na Suíça.

É neste ambiente de desanuviamento que a nossa Associação se vem a internacionalizar com o surgir dos primeiros Lions Clubes no Canadá, nesse ano de 1920.

Posteriormente, o Movimento penetra na China, em seguida no México e depois em Cuba, no decurso dos anos de 1926 e 1927.

Oito anos mais tarde, o lionismo entrou na América Central e, em 1936, surge o primeiro clube sul-americano, na Colômbia.

Estocolmo, na Suécia, dá guarida ao primeiro Lions Clube europeu, no dia 24 de Março de 1948.

Em 1952, organizou-se o primeiro Lions Clube japonês, em Tóquio.

Corria o ano de 1953. O Brasil tinha como seu Embaixador em Lisboa o Companheiro Negrão de Lima. O português Mello Rego era um jovem que se estava a afirmar, com êxito, no mundo dos negócios. Foram estes dois homens que, em esforço conjugado, conseguiram aliciar para o Movimento cidadãos prestigiados: Amadeu Gaudêncio, Prof. Eng.º Bellard da Fonseca, Eng.º João de Korth, Comandante Luís Loura, jornalista Luís Lupi, o Dr. Pereira de Oliveira e Sam Levy. Com outros Lions, a 4 de Dezembro de 1953, é fundado o Clube Mater de Portugal, o Lions Clube de Lisboa. Portugal passa, assim, a ser o 50º país inscrito em Lions lnternational e o 15º da Europa.

 

Neste ano de 2009, comemorar-se-ão, portanto, 56 anos de Lionismo no nosso país.

Será sempre um momento de festa, sem dúvida. Mas não deixará de ser momento de avaliação do futuro do nosso Movimento e de ponderação de todo o nosso passado.

Desde 1953, a caminhada tem sido lenta. Só em 1965, com a fundação do sexto clube português, o Lions Clube de Cantanhede, é que foi possível criar o Distrito Provisório 115, que teve como seu primeiro governador, nomeado por Lions International, ainda com sede em Chicago, o saudoso companheiro João Korth, do Lions Clube de Lisboa.

Com as chamadas "Cortes de Leiria" procurou-se pôr termo a uma crise pela qual o nosso Movimento passou. Com efeito, a partir de 27 de Abril de 1968, por deliberação unânime dos presentes, seriam os Lions portugueses a indicar a Lions lnternational o companheiro que deveria governar o Distrito Provisório, devendo a escolha recair, alternadamente, em companheiros do Norte e do Sul.

A primeira Convenção do Distrito Provisório 115 realizou-se na Figueira da Foz, de 15 a 17 de Maio de 1970. Era governador o saudoso companheiro Alves Ferreira, meu mestre em lionismo. Galamba Marques, cuja memória nunca será demais recordar, foi o seu assessor.

O primeiro anuário do Distrito 115 data também de 1970.

A 7.ª Convenção é realizada na minha terra, organizada pelo Lions Clube de Aveiro, sendo governador do ano lionístico de 1975/76, o C/L Miguel Teixeira.

Com trinta Clubes, Portugal passa a Distrito Definitivo. É a fundação do Lions Clube de Águeda, em Maio de 1978, que lhe abre essa porta. O Distrito consolida-se, pela mão do governador Trindade Martinez.

Foram 25 os governadores que Portugal contou como Distrito Único. O último foi o companheiro Luís Xavier, do L/C de Guimarães, no ano lionístico de 1988/1989.

Pessoalmente, guardo saudades desses tempos em que não tínhamos fronteiras e o convívio se estendia do Minho ao Algarve.

Mas reconheçamos que a tarefa dos governadores, mesmo auxiliada pelos vice­-governadores de então, era árdua.

O Ano Lionístico de 1988/89 já contou com dois distritos: o Centro/Norte, com o Governador Quinta e Costa, e o Centro/Sul, com o Governador Azevedo e Silva.

Foi um novo caminho que se encetou e que todos nós, Lions de Portugal, queremos prosseguir.

Em Maio de 1974, em "Reflexões sobre o Lionismo Português", uma edição do LC de Guimarães, o CL Hélio Alves escrevia:

«Ser Lion é ser responsável. Activamente responsável. A responsabilidade de cada um reflecte-se sempre na actuação de todos, mas é com a actuação de todos que cada um pode fazer valer mais a sua responsabilidade. Nada nos impede, pois, de começarmos de novo a partir do zero, porque a responsabilidade é de cada um de nós. Mas conhecer o que os outros tentaram e fizeram, ou falharam, antes de nós, dá-nos raízes que, num Movimento como o nosso, nos faz ter a dimensão exacta do que há por fazer.»

Sabe bem relermos este texto e meditar sobre ele, acima de tudo quando se atenta na data em que foi produzido: Maio de 1974, logo a seguir à Revolução dos Cravos. É que ele guarda muito da filosofia de vida por que um Lion se deve conduzir.

Mas mais: ele traduz a forma como maioritariamente os Lions têm sabido assumir o nosso Código de Ética que, como diria o saudoso companheiro do Brasil e Director Internacional (65/67), Áureo Rodrigues, "continua a soar como uma oração", desde que foi aprovado em Agosto de 1918, na Convenção de St. Louis.

Para além da rara beleza formal dos seus nove preceitos, a sua conceitualização é fonte de enorme riqueza espiritual e muito nos ajuda na busca da justa e equitativa resolução dos problemas das nossas vidas.

Este nosso Código de Ética, que trespassa transversalmente culturas e religiões, as mais díspares, sem as beliscar, foi complementado, logo em 1919, na Convenção de Chicago, com os Objectivos do nosso Movimento que, ao longo de quase uma centúria, tem constituído o programa a cumprir pelos nossos Clubes.

Tudo isto sob o lema "WE SERVE": nós servimos.

Hoje, como sabemos, Lions International é a maior associação de clubes de serviço existente no mundo.

Estão decorridos 92 anos sobre a nossa fundação como Associação Internacional. Quase um milhão e meio de cidadãos conscientes acredita que, com o cimento da amizade que une os Lions, é possível servir melhor o nosso próximo, é possível melhorar as nossas comunidades, é possível contribuir para que as gritantes desigualdades que existem no mundo sejam mitigadas, ajudando a fazer um mundo mais justo e mais feliz.

Com Kay Fukushima, o Presidente Internacional eleito em Osaka para o ano lionístico de 2002/2003, teremos que admitir que, se não dermos a devida importância ao seu lema «Um mundo, um coração», não teremos o direito de nos considerarmos seres disponíveis. Temos, pois, que aprender a trabalhar em equipa, na esperança de que «Um mundo, um coração» nos leve a "construir um mundo melhor".

Este trabalho em equipa só é possível desde que lubrificado pela amizade que nos deve unir.

Em 1989/90, o companheiro Quinta e Costa, para o seu ano de Governador, escolheu o lema: «AMIZADE – CAMINHO PARA O SERVIÇO».

O conturbado ano de 1917, com a guerra planetária, alertou as consciências que almejavam a paz e a justiça.

O 11 de Setembro de 2001 (este horror parece que foi ontem!) veio demonstrar que o mundo dos homens nada mudou. Está aí o Iraque. Está aí o Afeganistão. Está aí o drama da Palestina e de Israel, que nunca mais se entendem.

Estes dramas, como tantos outros dramas negros do passado, são dramas que a consciência lionística não esquece e mantém presente, pois que representam situações que o Lionismo visa combater com as suas próprias armas da amizade e do serviço em busca dum mundo melhor.

Façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para aumentar o nosso pequeno exército de paz.

São estes os meus votos, os mais sinceros, para que um desejável Futuro de Amor se comece a tornar possível já e agora: com o nosso exemplo; com a nossa acção; com o nosso serviço! Poderemos ser uma pequena gota de água no oceano; mas, sem nós, o oceano de amargura que é este mundo seria bem pior.

O actual presidente internacional, Eberhard Wirfs, escolheu para seu lema a expressão «MOVE TO GROW», movimento para crescer. E a saudosa Governadora Claudette escolheu para seu lema, por seu turno, uma expressão bem marinheira, ela que era filha de Ílhavo, terra de homens do mar: «ALA ARRIBA!»

Dizia ela que este grito animoso bem poderia considerar-se libérrima tradução do lema do presidente Wirfs. Um alar para cima, um fazer subir o entusiasmo no nosso movimento, um fazer aumentar o número dos nossos Companheiros. «ALA ARRIBA» – disse ela até ao limite da sua vida. É o seu exemplo que eu procurarei seguir, na devoção inquebrantável à nossa causa. É que, como muito bem diz o actual Presidente Internacional, nós «precisamos urgentemente de ampliar os nossos horizontes, precisamos de dar abrangência aos nossos sonhos, aos nossos planos, às nossas ACÇÕES». Caso contrário, diz Eberhard Wirfs, pereceremos. E era isso que a governadora Claudette não queria. Não queria ela. Não quero eu. Não podemos querer nós!

É que o espírito positivo da companheira Claudette, a minha companheira de quase meio século, não pereceu. Ele vai continuar bem vivo dentro de nós.

GASPAR ALBINO,

Aveiro, 7 de Outubro de 2009

 

 

04-05-2018