A última nau da Índia, a fragata "D.
Fernando e Glória" está em Aveiro a sofrer obras de restauro. O custo de
tal empreendimento está previsto atingir os 900 mil contos.
Os trabalhos de reconstrução da fragata
"D. Fernando e Glória" estão a decorrer em Aveiro, nos estaleiros
Ria-Marine, há já alguns meses. Trata-se de recuperar a última
embarcação que viajou para a Índia, numa operação difícil e dispendiosa
que vai ser comparticipada pelo Estado português em cerca de 50%. A
restante verba terá que ser conseguida com a boa vontade de quem quiser
participar. Prevê-se a finalização deste empreendimento lá para o ano de
1997, segundo um dos responsáveis pelos trabalhos, o almirante Andrade
Silva. Após a finalização dos trabalhos, o navio vai atracar no Tejo,
passando a desempenhar o papel de navio-museu integrado no património do
Museu da Marinha.
Os trabalhos a decorrer em Aveiro
prendem-se apenas com o corpo do navio, seguindo, depois de concluído,
para Lisboa, onde especialistas vão terminar a obra, dando-lhe o aspecto
e dotando-a de todo o material que transportava quando navegava,
imponente, para os mares da Índia.
Durante o ano de 1994 vão ser
construídos os canhões e berços, trabalho que segue os desenhos e os
estudos efectuados para o efeito pelo coronel Nunes dos Santos, um
especialista em artilharia naval. Por outro lado, é a Gulbenkian,
através da Manuela Soares Mota, que está a proceder aos estudos para
apetrechamento dos seus interiores, estando por seu lado o comandante
Reis a tratar dos instrumentos de navegação.
Em construção estão já várias peças
oferecidas por uma empresa da especialidade.
A reconstrução da "D. Fernando e Glória"
tem sido possível graças também aos apoios de várias entidades, uma
delas a Associação Nacional das Farmácias, que se encontra, juntamente
com especialistas em medicina antiga, a reconstruir a botica e o
camarote do médico.
Para ver na Expo/98
Depois de concluídos os trabalhos, o
navio-museu vai fazer as delícias dos visitantes da Expo'98, assinalando
assim as comemorações dos 500 anos da descoberta do caminho marítimo
para a Índia.
Quando terminar esta exposição
internacional, a "D. Fernando e Glória" fica atracada em Belém, onde
pode depois ser visitada como peça de museu.
Esta embarcação foi a última construída
pela Marinha Portuguesa e conta com a bonita idade de 152 anos, tendo,
durante 32 anos, feito viagens entre Portugal e a Índia com passagem por
Angola e Moçambique.
Foi construída em Damão Grande (Índia)
pelo mestre português Gil José da Conceição e pelo mestre mouro Yeodó
Semogi, por ordem do então governador da Índia, Francisco Xavier da
Silva Pereira. A última função que desempenhou foi a de servir de sede à
"Obra Social da Fragata D. Fernando", no início deste século e onde os
jovens de poucos recursos financeiros recebiam instrução escolar e
marítima.
Em 1963 foi destruída por um incêndio e,
desde essa altura, esteve submersa no Rio Tejo até que, já na década de
1990, foi retirada do local e trazida para Aveiro, onde está a ser
restaurada, ou melhor, reconstruída, pelo mestre Alberto Costa.
O seu restauro vai utilizar vários tipos
de madeiras, num total de 1200 toneladas, mantendo-se alguma da madeira
original, mas muito pouca.
Depois de concluída, a embarcação fica
em condições de voltar a navegar, mas isso deverá acontecer muito poucas
vezes, unicamente pelos gastos que acarreta.
De facto, esta fragata, para poder
navegar, necessita de uma guarnição permanente de 60 homens, o que se
torna demasiado dispendioso para poder fazer viagens regulares.
Entretanto, e para conseguir apoios
financeiros, a comissão de restauro está a desenvolver esforços junto de
diversas entidades, oficiais e privadas, e também das comunidades
portuguesas radicadas nos Estados Unidos, Canadá, Califórnia e Hawai.
Macedo Pita |