O moliceiro, o amante da
ria,
Flutua leve, silencioso,
Rompendo a madrugada,
Rasgando o manto
misterioso
Da neblina que o veste;
E com a ajuda do sol
nascente
Aparece imponente à luz
do dia.
Com a sua proa pintada,
A sua vela içada
Prenhe de vento, de
maresia
Vai lavrando
As salsas águas da ria.
O moliceiro, o amante da
ria,
Carrega no seu ventre
O húmus, a semente,
Que fecunda a terra
Terra que abraça a ria,
Rotunda de seiva, de
alegria.
Corta as águas, ora
calmo, gracioso,
Porque Eolo, no Olimpo,
está alegre
Ora quase naufraga
Porque o deus está
zangado, furioso.
E ria acima, ria abaixo
Ao som da concertina,
Espalha a cor, a
alegria,
Ao levar os mancebos e
as moçoilas,
A S. Paio em dia de
romaria.
O moliceiro, o amante da
ria,
Abraça-a nos seus braços
esverdeados,
Trocando ósculos
entusiasmados,
Que são as marolas da
ria
Marulhando no casco do
moliceiro.
Assim desliza o
moliceiro
Pelas águas esverdeadas
da ria
Ora lisas, ora ondeantes
Trocando juras de amor
eterno
O moliceiro e a sua
amante,
A ria! |