Prefácio

 

Nos anos sessenta, adquiri um livro da Colecção “J'ai lu – J'ai ri”, com o título “La réalité dépasse la fiction”, da autoria de A. Aycard e J. Franck, dois jornalistas que se dedicaram, durante anos, à caça de gralhas e calinadas, na Imprensa, documentos da Administração Pública, Publicidade, enfim, em tudo que fosse texto escrito em francês, em países francófonos.

O resultado destas pesquisas foi um livro documentário, que, nas suas cento e setenta páginas, contém um riquíssimo acervo de interessantes disparates, que, depois do riso, não só provocam uma certa melancolia, mas também levam a concluir que se a ficção tem de obedecer a critérios de verosimilhança, a realidade pode ser, por vezes, extremamente incoerente, ultrapassando a mais delirante criação ficcional.

Depois desta leitura, passei, não digo a procurar, mas a dar atenção, não só a erros dos então compositores tipográficos, mas também a escritos incoerentes, insensatos, pouco  inteligentes ou burlescos, se bem que produzidos com intenções bem diferentes.

Em 1972, organizei uma secção de Recortes de Imprensa, nos Serviços de Turismo da Câmara Municipal de Aveiro, a qual me obrigava a ler os jornais locais e três diários, ou seja, a ter acesso a uma Zona de Caça, onde abundam as espécies supracitadas. Curiosamente, as minhas duas primeiras presas não foram gralhas, mas dois disparates, “Canto do Super-Pássaro”  (ver pág. 49) e “Tito e o Nobel” (ver pág. 63), daí que a pasta de arquivo, onde passei a guardar os troféus, ostente, na lombada, há, precisamente, quarenta e dois anos, o rótulo CALINADAS.

Com o advento das benditas fotocópias, tornou-se mais fácil a minha tarefa arquivatória e a primitiva Zona de Caça transformou-se numa Reserva, quando o destino me tornou concessionário, durante uma quinzena de anos, de lojas de venda de revistas e jornais. Nessa Gorongosa, valeu-me a colaboração da minha mulher, Maria de Fátima, cuja disponibilidade de tempo, curiosidade e olho clínico a tornaram uma excelente praticante desta variante cinegética.

Durante anos cacei, não só por prazer, mas também instigado pela minha veia compulsiva de arquivador-coleccionador. Até que, recentemente, me tornei membro praticante da Tribo Informática e descobri, apoiado e empurrado pelo Dr. Henrique J. C. de Oliveira, que me era possível, não só dar a conhecer, a um vasto público internauta, a minha Sala de Caça, mas também imprimir, a preços exequíveis, para oferecer a familiares e amigos, alguns dos meus escritos, que, dado o reduzido interesse e, ainda, menor falta de qualidade, dificilmente encontrariam Editor interessado.

 

Finalizo este Prefácio com três declarações e uma exortação:

 

– Possuo documentos comprovativos de todos os textos transcritos, excepto num caso “Les Enfants du Capitaine Grant” (ver pág. 51), em que declaro citar de memória.

 – Não incluo o “Capítulo Vernáculas”, que engrossaria, substancialmente, a lombada deste livro, mas baixar-lhe-ia o nível, se bem que lhe aumentasse, exponencialmente, a procura.

– Mau grado a qualidade dos pisteiros e atiradores, a quem pedi ajuda, não duvido que tenham escapado algumas “gralhas”, nesta mata de palavras. Os romanos diziam “errare humanum est” e a  experiência garante-me que, texto sem gralhas, só saído da Imprensa Celestial ou do computador do nosso Presidente Cavaco Silva.

– Assim, caro Leitor, comece a praticar, desde já, neste livro, e torne-se um adepto deste desporto, que o corrector automático dos processadores de texto tornou muito mais difícil, logo muito mais valorizado.