Jogos sem Fronteiras
Em
1979, Aveiro entrou nos “Jogos Sem Fronteiras” realizados em
Saint-Gaudens (França), voltando a participar nas edições
levadas a efeito em Annecy (França), 1981, Budapeste, 1982 e
1997, Roznov (Checoslováquia), 1992 e Atenas, 1993.
Colaborei com os
seleccionadores nacionais e treinadores locais, facultando-lhes
os meios necessários às suas funções. Em 1981, o seleccionador
nacional, José Goulão (ex-campeão e recordista nacional de
lançamento de disco) pediu-me, até, para o ajudar na escolha da
equipa de Braga, utilizando os meus métodos e as minhas fichas,
pelo que me desloquei, com ele, ao Estádio 1º de Maio.
Acompanhei as equipas em todas as deslocações, excepto a Annecy,
onde, por razões de ordem política, fui substituído por um
funcionário administrativo municipal, meu amigo, que não só nada
tinha tido a ver com a preparação da equipa, mas também nunca
tinha saído de Portugal e, ainda, só falava português. Uma greve
dos CTT/TLP não possibilitou a retransmissão desses Jogos, por
ausência de som, conforme consta da acta n.º 39 da CMA, de
29-09-1981.Juro, por todos os santinhos, que “não tive parte nem
arte em tal malcarrilhada”, como diria Gil Vicente. Mas deu-me
cá um gozo... Curiosamente, em 1997, uma Câmara da mesma cor
política entendeu que a minha experiência poderia ser útil, pelo
que pediu a minha colaboração, se bem que, na altura, já
estivesse aposentado. Acompanhei essa delegação aveirense à
Hungria, sem que, para tal, me tivesse sido pedido para mudar de
opções políticas, só não dizendo de cor, porque nunca estive
filiado em nenhum Partido.
As equipas de
Aveiro, treinadas, na primeira intervenção, pelo professor Costa
Lobo e esposa Gabriela, e, nas restantes, pelos também
professores de Educação Física, António Bernardino e seu irmão
Jorge, obtiveram vários lugares nas tabelas classificativas,
tendo mesmo vencido, no dia 18 de Julho de 1992, os Jogos de
Roznov, pequena cidade checoslovaca, hoje checa, situada perto
da fronteira com a Eslováquia.
Para preparar a
nossa primeira supracitada participação, desloquei-me a Lisboa,
para ter uma reunião com o jornalista da RTP José Fialho Gouveia
que, na altura, coordenava as participações nos JSF, tendo-me
sido dito que, para além da parte desportiva, deveríamos ter
muito cuidado com os aspectos social e publicitário, porquanto
se tratava de uma representação nacional e a transmissão seria
em directo (só aconteceu nas duas primeiras edições) e em
horário nobre. Um aspecto particular para que me chamaram a
atenção, foi para o facto de que haveria troca de lembranças não
só entre as cidades concorrentes, mas também entre os
participantes e que, até aí, Portugal tinha deixado uma boa
imagem. Chegado a Aveiro, transmiti o que me tinha sido dito ao
Vereador, Presidente da Comissão Municipal de Turismo, José da
Cruz Neto, que me deu mão livre para tratar do assunto.
Assim:
– Para as cerimónias
públicas, a delegação oficial vestiria casaco azul-escuro, com o
logótipo do moliceiro, bordado no bolso do peito, calça
cinzenta, camisa branca, gravata azul com riscas pretas (ainda
tenho a minha), meias pretas e sapatos pretos.
– Para os treinos e
durante o dia, a equipa usou fato-treino vermelho, com cabeção
branco (“design” de Jorge Trindade).
– Foi criada uma
mascote, pelo predito ”designer” aveirense: um “Pato Bravo”
preto, em peluche, com 1,70 m de altura, a que foi posto o nome
de “Pataréu”, da qual se fizeram largas dezenas de miniaturas,
no mesmo material.
– Para cada cidade
participante, ofereceu-se: uma miniatura do barco moliceiro, com
0,80 m, uma barrica de ovos-moles, das maiores, uma peça da
Vista Alegre, com decoração original baseada nos painéis dos
moliceiros, da autoria do supracitado artista, um prato
cerâmico, pintado à mão pelo artesão José Augusto, com um motivo
regional, uma miniatura da mascote, uma camisola branca com a
imagem da mascote e o nome da cidade onde se disputavam os
Jogos, uma garrafa de vinho do Porto e publicações turísticas.
– Para cada elemento
das equipas, incluindo a nossa, deu-se: um saco típico de
Pardilhó, também desenhado por Jorge Trindade, com o logótipo do
moliceiro, contendo uma miniatura da mascote, uma camisola
branca com a imagem da mascote e o nome da cidade onde se
disputavam os Jogos (tenho-as guardadas), uma lembrança de quase
todos os concelhos do Distrito, uma pequena garrafa de amostra
de vinho do Porto e, ainda, folhetos turísticos.
– Foram distribuídas
pela assistência dezenas de miniaturas da mascote e da camisola
com a sua representação.
– Os encargos não
foram tão elevados como poderá parecer à primeira vista, porque
muitas das coisas – camisas, gravatas, sapatos, as peças da
Vista Alegre, algumas das lembranças concelhias e o vinho do
Porto – foram oferecidas a troco de menções publicitárias, ditas
por mim, durante uma entrevista que me foi feita, com essa
intenção, para a RTP, por Fernando Pessa, ocasião essa em que
falei, pela primeira vez, para um público televisivo.
A Delegação
deslocou-se em autocarro e, na fronteira espanhola, tivemos
problemas, porque, por mais que explicássemos ao agente
alfandegário, para que se destinava todo aquele material, ele
dizia sempre que era “mucha mercancía”. Valeu-nos um telefonema
feito para Lisboa pelo Presidente Girão Pereira, para seguir
viagem, sem pagar os respectivos direitos.
Em Saint-Gaudens, no
dia aprazado para a troca de presentes, que se efectuou no
ginásio de um estabelecimento de ensino, fiquei desconfiado,
porquanto o nosso material ocupava, totalmente, o fundo da sala,
e, para as outras representações e equipas, só havia uma mesa
para cada país.
Resumindo: para além
de algumas brochuras e folhetos, só nos foi oferecida, pela
cidade jugoslava, uma prenda: uns calções de banho.
Concluindo: fizemos
figura de ricos – para não dizer de parvos –, mas serviu-nos de
lição. Nas seguintes participações, nunca mais se pensou em fato
de passeio; para utilizar aquele tivemos que inventar uma volta
pelas ruas da cidade. Os fatos de treino também provaram não ser
necessários. Para oferecer as lembranças, que passaram a ser
muito simples, utilizaram-se, nas outras deslocações, sacos de
plástico do Turismo.
O “Pataréu” perdurou
como mascote, pois foi um grande êxito, mesmo entre os
organizadores europeus, e a nível televisivo apareceu, nos
ecrãs, em várias edições, mas só se levava o grande.
Continuou-se a oferecer as camisolas com a imagem da mascote, só
mudando o nome da cidade onde se realizavam os Jogos. Para as
cidades concorrentes, manteve-se a oferta da miniatura do
moliceiro e do prato da autoria do artesão Zé Augusto.
Considerando, por um
lado, que o investimento, por parte da Câmara, não era muito
importante – por vezes, ainda se conseguiu que empresas
patrocinassem a deslocação e estadia da equipa – e, por outro
lado, que as transmissões, em horário nobre, abrangiam alguns
países potencialmente emissores de turistas para Aveiro, pode-se
afirmar que os “Jogos Sem Fronteiras” constituíram um bom
elemento publicitário da nossa cidade.
Equipa que venceu os Jogos sem Fronteiras disputados no dia 18
de Julho de 1992 em Roznov (Checoslováquia).
NOMES:
1.Teresa Solá; 2.Salete Fradoca; 3.Ana Varela; 4.Isabel Pereira;
5.Cristina Lopes; 6.António Bernardino; 7.Jorge Bernardino;
8.Paula Canha; 9.Rui Henriques; 10.João Cabral; 11.Ricardo
Fernandes; 12.António Luís Ramos.
Quanto a mim, gostei
muito de neles ter participado. Deram-me prazer, fiz amigos,
deixaram-me gratas recordações e, confesso, proporcionaram-me a
oportunidade de conhecer locais, onde, sem eles, dificilmente
teria ido.
Dos trabalhos,
preocupações, problemas, aborrecimentos, desilusões, já nem me
lembro.
20 de Agosto de 2020
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