Grande regata de
moliceiros Torreira-Aveiro
Pessoa amiga fez chegar, à caixa de correio do meu computador,
um folheto publicitário do qual constava que a Regata em título
terá lugar no próximo dia 4 de Julho, com partida às 14H30 e
chegada às 16H30. A mesma pessoa informou-me, telefonicamente,
que a preia-mar, em São Jacinto, se verificará, nesse dia, às
14H30, o que quer dizer que acontecerá, na Torreira, duas horas
depois.
Assim sendo e
considerando estes horários, os barcos terão de fazer todo o
percurso navegando contra a corrente: a encher, até São Jacinto
e a vazar, para Aveiro. E como se isto não fosse já uma
dificuldade de monta, acrescerá a circunstância de que a Lua
Cheia ocorrerá no dia 5, o que implicará um substancial aumento
da velocidade da água, dado que a maré será viva.
A mim não me admirou
nada a coincidência destas circunstâncias adversas, porquanto
este já é o terceiro ano consecutivo em que tal virá a
acontecer, dificuldades estas que levaram a que, em 2018, a
Regata tivesse terminado logo por alturas da Pousada, mas após
duas horas de navegação, e que, no ano passado, só meia dúzia de
embarcações tivessem chegado a Aveiro, utilizando, unicamente, o
meio de propulsão autorizado, a vela, mas com um substancial
atraso. Este ano, tenho quase a certeza de que se irá registar
mais um fracasso, pois serão poucos os barcos, navegando só à
vela, a cruzar a linha da meta, e esses chegarão muito depois
das anunciadas 16h30.
Considerando que,
quando algo se realiza na sequência de três deliberações tomadas
em anos consecutivos, não se pode falar de coincidências, é
legítimo que eu deduza que, para a CIRA (Comissão Intermunicipal
da Região de Aveiro), o importante é não só que a Regata em
causa seja programada para o primeiro sábado de Julho de cada
ano, mas também que a partida aconteça às 14H30. Se a data e
horários são propícios para essa corrida ou não, isso são meros
pormenorzinhos, de somenos importância para os autarcas que
integram a predita associação, os quais, intencionalmente, não
têm vindo a dar atenção ao “pormaior”, pelo qual têm de se reger
todos os eventos realizados nas águas da Ria de Aveiro, fora das
comportas citadinas, o qual é conhecido pelo nome de Regime de
Marés.
Nesta conformidade,
não irei repetir o erro do ano passado, sugerindo hipóteses que
viabilizassem a Regata para aquela data, porquanto já percebi
que estaria a perder o meu tempo.
Assim, vou mudar de
capítulo, mas não de assunto, dizendo que chegaram ao meu
conhecimento, também por via telefónica, duas novidades, qual
delas a mais desagradável.
A primeira é que os barcos não entrarão na cidade. A meta será
na zona da antiga Lota e, após a Regata, as embarcações voltarão
para os seus cais de origem. Assim sendo, perde-se uma
oportunidade única dos canais de Aveiro serem sulcados por
barcos moliceiros à vela, na medida em que os que cá existem não
utilizam esse meio autêntico de propulsão, dado que são meros
sucedâneos dos originais que foram transformados e adaptados
para o transporte de turistas. É pena que muitas das pessoas que
neles passeiam fiquem sem saber que o barco moliceiro não era a
motor, mas à vela, apetrecho este que, içado num mastro de 7
metros, lhe conferia um perfil de excepcional elegância e
beleza.
Todas estas
malfeitorias, que têm vindo a ser infligidas a esta Regata que,
nos anos oitenta, chegou a ter a qualidade e prestígio
suficientes para que a RTP/NORTE tivesse encarado a hipótese de
a vir a transmitir em directo, magoam-me, profundamente, na
medida em que não sendo o seu dono, fui eu quem propôs a sua
criação e quem a organizou durante os primeiros anos. E quem não
se sente...
A segunda notícia
desagradável consiste no que passo a expor. Este ano, o Concurso
dos Painéis dos Barcos Moliceiros realizar-se-á na Torreira,
antes da Regata e não, como era habitual, em Aveiro, no dia
seguinte. Não tenho nada a opor à realização deste certame na
Torreira, localidade situada na zona que sempre foi o “habitat”
natural do barco moliceiro. O que eu lamento é que, pela
primeira vez, nas últimas sete dezenas de anos, o evento em
causa não se faça na cidade de Aveiro, onde ele nasceu, nos anos
cinquenta, por iniciativa do Vereador e Presidente da Comissão
Municipal de Turismo, Arnaldo Estrela Santos, que, assim,
pretendia incentivar os proprietários dos barcos a manterem e
renovarem as pinturas dos seus barcos, “ex-libris”, por
excelência da nossa região.
É por estas e por
outras que eu cada vez entendo menos alguns “Fins de Semana à
Inglesa”.
24 de Junho de 2020
Diamantino Dias
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