Para a história da Celulose

CACIA

 

     

 

1. Fundação da COMPANHIA PORTUGUESA DE CELULOSE

O chamado livro de capa azul, datado de 1958, é a única publicação existente historiando a fundação da Empresa. Apresenta um prólogo do Prof. Eng.º J. Ferreira Dias, técnico que aos problemas de desenvolvimento da indústria em Portugal se dedicou durante largos anos. Na altura em que aqueles, que depois foram os fundadores da COMPANHIA PORTUGUESA DE CELULOSE, empreendiam os primeiros estudos, era Subsecretário de Estado do Comércio e Indústria. Escreveu ele no prólogo desse livro:

«Em 1940, o Estado tinha, ou passou a ter, o propósito bem definido de montar em grande a indústria da celulose e do papel, actividade indiscutível num país de índole florestal; mas, não desconhecendo as dificuldades técnicas do empreendimento nem desejando sobrepor-se, em fácil gloríola, a iniciativas particulares nascentes, já formuladas mas ainda incompletamente definidas, não as arquivou nem indefiniu. Escolheu as que tinham mérito – as que eram personificadas nos Eng.os SANTOS MENDONÇA e QUEVEDO PESSANHA –, chamou-as, propôs-lhes colaboração, ajudou-as, estimulou-as, forçou-as à concentração; e essas iniciativas particulares, que eram de boa cepa, souberam reagir como deviam, estudando mais fundo e aceitando em bases razoáveis a união que lhes era imposta. Assim nasceu a Celulose de Cacia.»

Desde 1937, pois, que o Eng.º MANUEL DOS SANTOS MENDONÇA, ligado como estava à indústria de produtos sódicos e clorados, pensava no lançamento da indústria de pasta e papel, onde esses produtos poderiam ser usados em grande escala. Paralelamente e sem saber dessa diligência, o Eng.º VASCO DE QUEVEDO PESSANHA empreendia contactos com especialistas estrangeiros, visando a instalação da mesma indústria.

Os estudos efectuados por um e outro concluíam pela viabilidade da utilização do nosso pinheiro bravo no fabrico de pasta para papel. O Governo promoveu então a união destes esforços, vindo a ser assinada a constituição da COMPANHIA PORTUGUESA DE CELULOSE em 4 de Novembro de 1941.

O primeiro conselho de administração (1941 a 1943) teve a presidência do Prof. Szilasi e dele faziam parte os dois fundadores: Eng.º MANUEL DOS SANTOS MENDONÇA e Eng.º VASCO DE QUEVEDO PESSANHA.

O grupo financeiro Espírito Santo, representado pelo Dr. Manuel Ribeiro Espírito Santo, participou na fundação da Companhia. Um segundo grupo financeiro, do Porto, ligado aos Srs. Eduardo Furtado e Henrique Barros Gomes, entrou para a Companhia em 1943, altura em que o capital inicial de 200 contos foi aumentado para 16000 contos.

Passados mais quatro anos e reconhecida a grandeza do empreendimento e suas exigências financeiras, o Governo passou a considerar o fabrico de celulose como indústria-base. Como consequência da intervenção do Estado, o capital da Companhia foi elevado para 32 000 contos, com a entrada de 16 000 contos subscritos pelo Estado. Em 1949 e após a entrada de Portugal para a zona de influência do Plano Marshall do post-guerra, foi decidida a dimensão final / 8 / do empreendimento e obtidos os necessários financiamentos para o seu arranque definitivo.

Pelos estatutos da Companhia, «o seu objecto é a exploração da indústria de produtos químicos e, designadamente, a montagem e exploração de uma ou mais fábricas de pasta de madeira, pelos processos químico e mecânico, e de todos os seus derivados; e bem assim a montagem e a exploração da indústria do papel e indústrias acessórias da mesma». Pela licença de 1952, a sociedade obrigava-se «a produzir pasta de celulose branqueada e não branqueada, pasta mecânica, e papel, incluindo o de jornal em carretéis. As quantidades de pasta e de papel de jornal a produzir não terão limitações, obrigando-se a sociedade a satisfazer todas as necessidades do País naqueles produtos».

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Conhecemos nós, «os-de-25-anos», o Sr. Eng.º Santos Mendonça quando, ainda fazendo parte do conselho de administração, no final dos anos cinquenta, já não se encontrava todavia em plena actividade. Todos nos recordamos da sua irradiante simpatia, sempre que vinha a Cacia. Era «o pai da criança», como dizia. A todos acarinhava e incentivava com gentileza e grande afabilidade.

O Sr. Eng.º Quevedo Pessanha foi Administrador até à data da nacionalização da Companhia, em 1975. Com ele trabalhámos, dedicada e zelosamente, todos esses longos anos de lançamento e expansão da CELULOSE. Com certa saudade recordamos, nós «os-de-25-anos», esses tempos de trabalho em ligação com o Sr. Eng.º Quevedo Pessanha. Éramos jovem, lançados numa actividade cem por cento nova no nosso País. Com entusiasmo vivemos o trabalho, sempre procurando desenvolver ao máximo as potencialidades da Companhia.

 

2. As Administrações da COMPANHIA PORTUGUESA DE CELULOSE

O Eng.º Manuel dos Santos Mendonça passou a presidir ao conselho de administração da Companhia a partir de 1944, neste cargo se mantendo até 1948. De 1948 até à data do seu falecimento, em 1966, fez sempre parte do conselho como vogal do executivo.

O Eng.º Vasco de Quevedo Pessanha participou em todos os conselhos de administração até à data da nacionalização, em 1975, como vogal do executivo.

O Eng.º Eduardo Rodrigues de Carvalho, sob convite do Eng.º Manuel dos Santos Mendonça, entrou para a administração em 1944. Começando por dela fazer parte como vogal, passou a presidente, por designação do Governo, a partir de 1948. À Companhia se dedicou, em tempo pleno, desde essa data até ao seu falecimento, em 1970.

No período de 1948 a 1958 vários elencos do conselho de administração se constituíram sob a presidência do Eng.º Eduardo Rodrigues de Carvalho, sempre com os Eng.ºs Santos Mendonça e Quevedo Pessanha integrados como vogais. Outras personalidades deles fizeram parte neste período: Siso Eduardo Pereira Furtado, Cap. Roque de Mello d'Aguiar, Dr. Joaquim Pedro Rasteiro, Eng.º António Maria Fernandes, Dr. Mário da Fonseca Roseira e Dr. António Ferreira de Almeida.

No período de 1960 até à nacionalização, outros nomes passaram pelo conselho de administração: Srs. Francisco Fonseca Mendonça (1960), Eng.º José Maria Avillez (de 1967 a 1975), Dr. J. Guilherme Melo e Castro (de 1970 a 1972, ano em que faleceu), António Santos / 9 / Mendonça (como presidente de 1971 a 1973, ano em que faleceu), Eng.º José Alves (em 1974) e Eng.º Rui Ferreira Ribeiro (em 1974).

Merece uma palavra de homenagem o Sr. António Santos Mendonça, inesperadamente falecido em Setembro de 1973, gestor que, pela sua forte personalidade, dinamismo e simpatia irradiante, deixou perdurável recordação em todos os seus colaboradores.

Na altura da nacionalização constituíam o conselho de administração os Srs. Eduardo Furtado (presidente), Eng.º Vasco de Quevedo Pessanha, Dr. Joaquim Rasteiro, Dr. Mário Roseira, Eng.º José Maria Avillez, Eng.º José Alves e Eng.º Rui Ribeiro.


3. As Direcções da Fábrica

O técnico finlandês Kaarlo Amperla foi quem projectou as instalações e as dirigiu tecnicamente, desde a altura (1947) em que acompanhou as primeiras negociações para compra do equipamento, na América do Norte, até aos primeiros tempos do arranque. Deixou a Companhia em meados de 1954. Colaborou na fase de arranque o técnico, também finlandês, Eng.º Aimo Pertula, que na posição de Director de Serviços se manteve até 1958, altura em que deixou Cacia.

Os engenheiros finlandeses Antti Jussi Brax e Lennart Markila foram contratados em 1955, o primeiro para Director-Geral e o segundo para Chefe do Serviço de Pasta; deixaram estes cargos em Abril de 1957 e em 1956, respectivamente.

Dentre os portugueses, foi o Eng.º J. Magalhães e Meneses Forjaz (Villas Boas) quem primeiro ocupou cargos directivos. Tendo ingressado para a Companhia no início dos trabalhos de construção em Cacia, em 1950, foi depois investido nas funções de Director Administrativo até 1968, tendo deixado de prestar concurso à Companhia em Dezembro de 1971.

O Eng.º Jorge Brito Vasques, admitido em 1952, foi Director de Serviços Técnicos de Janeiro de 1958 até à sua saída da Companhia, em Abril de 1968. Em 1961 os Eng.ºs Luís Bernardo Rolo e Júlio Ferreira Lopes são nomeados Directores de Produção de Pastas Químicas e Mecânicas e de Produção de Papéis e Cartão Canelado, respectivamente. Em Junho de 1968 o Eng.º Júlio Ferreira Lopes ingressa na nova empresa INAPA como Director-Geral, deixando pois a Companhia. Decorrente dos estudos para a ampliação das instalações de produção de pastas, concretizada em 1968, o Eng.º Rui Ferreira Ribeiro foi nomeado Director de Serviços em Agosto de 1966.

Em 11 de Março de 1968 é nomeado o primeiro colégio directivo completo com os Eng.ºs Luís Bernardo Rolo (Director-Geral em acumulação com idêntico cargo na SOCEL), Rui Ferreira Ribeiro (Director Fabril), Carlos Alves Valente (Director Técnico e de Produção, em acumulação) e Dr. Eduardo Lamy Laranjeira (Director Administrativo). Em Janeiro de 1970 o Eng.º Carlos Alves Valente passou a ocupar somente o cargo de Director de Produção, sendo nomeado Director Técnico o Eng.º Adelino Pedro Ferreira.

No fim de seis anos de vigência desta Direcção o Eng.º Rui Ferreira Ribeiro foi indigitado para vogal do Conselho de Administração, como Administrador-residente, em Dezembro de 1974, tendo o Eng.º Carlos Alves Valente passado, a partir desta mesma data, a desempenhar as funções de Director Fabril em exercício.

Na Sede da Companhia, em Lisboa, desempenharam os lugares de Director dos Serviços Administrativos, de 1964 a 1970 o Dr. Luís M. Torres de Carvalho, e de 1970 até à data da constituição da PORTUCEL o Dr. José Soares Vinagre.

À data em que se efectua este resumo, na perspectiva, para breve, de estruturação dos serviços com uma Direcção mais alargada, ocupam os lugares de Director de Centro de Produção Fabril Cacia o Eng.º Carlos Alves Valente, de Director Técnico o Eng.º Adelino Pedro Ferreira e de Director Administrativo o Dr. Eduardo Lamy Laranjeira.

C. V.

 

 

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