Arquivo Histórico Municipal
Maria Beatriz Soeiro
de Matos Fernandes
O Arquivo Histórico
Municipal de Aveiro possui um importante acervo documental constituído
por um pequeno núcleo de pergaminhos, dois códices, manuscritos e papéis
avulsos - acervo esse que foi inventariado, em 1985, por uma equipa de
investigadores da Faculdade de Letras do Porto. Desse inventário
resultou uma publicação que, nesse mesmo ano, deu a conhecer ao público
o acervo documental do arquivo. Foi um trabalho meritório de salvamento
de documentação que corria o risco de se perder para sempre e que se
encontrava desconhecida, abandonada – quem sabe? – de uma forma
irremediável, perdendo-se assim valiosas fontes de estudo principalmente
para o conhecimento da história de Aveiro.
Não podemos no entanto
deixar de lamentar que dessa equipa de trabalho não tivesse feito parte
um arquivista. Após o trabalho de salvamento e separação das espécies
arquivísticas, seguiu-se a classificação, antes do seu arrumo nas
estantes. Aquando da classificação, a documentação foi numerada; do
inventário então publicado consta essa numeração dentro da classificação
referida. Esta classificação e consequente numeração da documentação não
permitem o crescimento natural do acervo documental do arquivo. A
classificação de um arquivo tem de ter em conta os fundos que compõem o
arquivo e tem por base princípios essenciais, como os de organicidade,
proveniência e respeito pelos fundos. Estes não se podem desmembrar,
separar, tendo de permanecer juntos. Não nos podemos esquecer de que um
arquivo histórico ou definitivo não é um arquivo morto; isto porque ao
arquivo histórico vai sendo incorporada documentação que, percorrendo o
seu caminho natural, – desde o seu nascimento nos respectivos serviços e
mantendo-se, durante um período de 5 a 10 anos, no chamado arquivo de
gestão - transita, por deixar de ser tão procurada, para o arquivo
intermédio, onde fica também durante um período longo de tempo. No
entanto, na sua passagem do arquivo de gestão para o intermédio, a
documentação deve sofrer a sua primeira selecção.
Assim, como existe
legislação que salvaguarda a selecção final que deve sofrer a
documentação, antes do seu ingresso no arquivo histórico ou definitivo,
muita da documentação existente no arquivo intermédio tem de ser
conservada para sempre, por se considerar documentação valiosa e
indispensável para estudos posteriores da vida da instituição que a fez
nascer. Refiro a Portaria n.º 503/86 de 9 de Setembro, do Ministério do
Plano e da Administração do Território, que veio regulamentar a
arquivagem da documentação administrativa.
O arquivo histórico não é
apenas enriquecido através das incorporações internas de documentação;
pode também receber doações de documentação considerada como importante.
Daí ser tarefa dos responsáveis pelo arquivo promoverem uma campanha de
sensibilização das pessoas que possuem documentação valiosa, a apodrecer
em sótãos ou em caves, para as fazer pensar em possível doação ou mesmo
na possibilidade de fazerem apenas um depósito dessa documentação no
arquivo, para ela poder ser tratada e inventariada e dada a conhecer aos
estudiosos, sem a documentação deixar de legalmente lhes pertencer. Urge
consciencializar as pessoas para a possível importância da documentação
que muitas vezes possuem; falo apenas em documentação por ser esta a
componente do arquivo, mas estendo o mesmo apelo a todos os outros
domínios, desde obras de arte mal tratadas, peças de vestuário antigas,
assim como louças, ferramentas agrícolas, etc., etc. Tenho como única
intenção fazer despertar as pessoas para a importância de preservar
estas espécies que com o passar dos anos, com os estragos naturais do
passar do tempo e tantas vezes vítimas da incúria ou dos maus tratos
humanos, acabam por desaparecer para sempre. Fica, pois, aqui o apelo
para as pessoas, que não estejam interessadas em restaurar ou preservar
estas espécies, se dirigirem a entidades competentes, desde arquivos,
bibliotecas, museus, fundações ou quaisquer outras instituições, que no
nosso País lutam pela preservação do nosso Património Nacional, evitando
que ele se perca para sempre ou que abandone o País para as mãos de
ricos coleccionadores ou de comerciantes de Arte. Muitas vezes as
próprias instituições que recebem legados e depósitos, também, sempre
que podem, efectuam compras.
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Pretendemos com esta nossa
exposição informar quem nos procura que, quando o arquivo histórico
possuir o espaço físico tão necessário, será feito um guia para dar a
conhecer a documentação existente – guia esse que, através do uso de
remissivas, remeterá os conhecedores ao inventário publicado em 1985. As
rubricas dessa anterior classificação manter-se-ão, outras serão
acrescentadas, por ter aparecido posteriormente documentação que nelas
não pode ser integrada, e desaparecerá a numeração das espécies pelos
motivos acima expostos. A documentação terá, sim, uma cota arquivística
que constará de um inventário mais pormenorizado e que será tarefa
posterior ao guia. A classificação do acervo documental deve ser
suficientemente flexível, permitindo sempre a incorporação de novos
fundos, tendo como base os princípios de organicidade, proveniência e
respeito pelos fundos. A nossa preocupação dominante será a de não
prejudicar os conhecedores do inventário publicado em 1985; daí o uso de
remissivas para o mesmo, aquando da publicação de qualquer outro
instrumento de trabalho, seja ele um guia, inventário e/ou catálogo,
tentando desta forma evitar a todo o custo que se levantem indesejáveis
obstáculos ao acesso à documentação, que é nosso desejo divulgar e
consequentemente ver estudada. Em apêndice a esta nossa exposição vai
uma pequena lista de documentação recentemente inventariada, não
constando, por isso, do inventário anterior. Pretendemos deste modo e
através do tratamento dos fundos documentais, que o arquivo histórico
possui, torná-lo cada vez mais conhecido de todos e de todos os
investigadores, inserindo-o na dinâmica cultural da cidade, lugar que
deve ocupar por direito próprio, mas que lhe exige esse esforço de se
dar a conhecer. Com este propósito, devem fazer-se, sempre que possível,
exposições documentais ou integrar documentação, que o arquivo possui,
em exposições submetidas a temas sobre os quais o arquivo possua
documentação.
Maria Beatriz Soeiro de
Matos Fernandes
(Técnica Superior de B.A.D.)
ARRENDAMENTO
1914 - cópia de um termo de arrendamento celebrado entre a Câmara
Municipal de Aveiro e a Junta de Freguesia de Eixo de uma casa sita no
largo do Pelourinho.
CARTA HIDROGRÁFICA
1898 - planta da ilha ou madeixa do amoroso copiada da carta
hidrográfica do Vouga à ria de Aveiro.
CORRESPONDÊNCIA
Recebida
1871 – 73 cartas recebidas respectivamente pelos Presidente da Câmara
Municipal e Governador Civil de Aveiro.
1934 – carta do Veterinário Municipal ao Chefe da Fiscalização da Câmara
Municipal de Aveiro.
1958 – duas cartas do Dr. Álvaro Sampaio ao Presidente da Câmara de
Aveiro aquando da festa de homenagem com que a Câmara o agraciou.
EDITAIS
1910-11-12-14-26-46-50-51-53-54-59
assuntos diversos.
EMIGRAÇÃO
1875 – proibição de emigração para Macau e Timor.
1948 – 69 processos de emigração fichas de emigração.
JORNAIS
1890-1901-1902 – 4 exemplares do "Districto de Aveiro" - jornal
político, literário, noticioso e comercial.
LEGADOS PIOS
1954 – 69 - caixa contendo autos de cumprimento de legados pios –
concelho de - Aveiro - Albergaria-a-Velha e Águeda.
PROJECTOS
1874 – projecto de enxugo da Pateira de Fermentelos.
TRANSPORTES
1873 – documentos referentes à construção do carro americano que
faria a ligação entre a estação de Aveiro e o cais da cidade.
1877 – documentação referente à construção do americano que ligaria a
ria de Aveiro ao mar o chamado americano da Torreira.
RECENSEAMENTO E RECRUTAMENTO MILITAR
1878 - um processo avulso.
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ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE AVEIRO
Praça da República (Edifício da Biblioteca Municipal)
Horário de abertura: 9.00 h. - 12.30 h.
14.00 h. - 17.30 h.
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