Centro Cultural de Eixo
A Arquitectura deverá concretizar a essência de um lugar,
num contexto histórico sempre novo.
Este espírito do lugar irá permitir uma permanência da
memória colectiva através de um sistema vivencial, urbano e
arquitectónico, que se oponha definitivamente à descaracterização dos
lugares por uma aculturação que se situa entre falsos símbolos de
progresso e uma necessidade de afirmação.
Assim, torna-se cada vez mais premente que a Arquitectura
tenha uma função didáctica, levando as populações a reflectirem sobre os
valores locais.
É nesta perspectiva que consideramos que a Arquitectura
de acompanhamento, apesar de muitas vezes não ter grande valor histórico
e arquitectónico, possa no seu conjunto ter características bem
definidas com uma forte identificação com o sítio. Estes valores podem
ser, por si só, suficientemente interessantes para se evitar uma atitude
iconoclasta «a priori», sem ponderar as perdas daí decorrentes.
Para além da imagem arquitectónica, surge com peso
determinante o factor económico, não sendo de menosprezar a economia de
custos que advêm de uma recuperação.
É dentro desta perspectiva que este trabalho, que
conquistou o 1.º Prémio do Concurso por convite da Câmara Municipal de
Aveiro, tentou preservar, na medida do possível, o conjunto edificado
existente.
Embora os edifícios se encontrem em diversos estados de
degradação, as únicas construções a serem removidas são o telheiro da
entrada e o pequeno anexo habitado, uma vez que se torna inviável a sua
recuperação devido ao seu mau estado de conservação.
Em todo o restante conjunto edificado actuou-se de modo a
preservar os edifícios, adaptando-os às necessidades futuras:
– restauro das paredes de adobo.
– restauro das coberturas e tectos.
– introdução de iluminação zenital em espaços menos
iluminados, possibilitando a sua utilização.
– remoção de anexos e acrescentos à construção inicial.
– alteração dos pavimentos não recuperáveis, com
correcção de cotas de piso.
– adaptação dos compartimentos existentes ao novo
programa, com demolição de algumas paredes interiores.
– reforço da estrutura.
– adaptação a novos usos, com criação das
infra-estruturas necessárias.
– criação de sanitários.
– criação da rede de águas e esgotos. Previu-se a
possibilidade de ligação futura dos esgotos à Rede de Saneamento,
actualmente inexistente.
– instalação eléctrica.
– instalação de rede de telefones.
- instalação sonora.
– instalação mecânica.
– detecção de incêndios.
– redefinição de alguns vãos – exteriores e interiores.
Os edifícios propostos articulam-se com os existentes de
modo a criarem espaços diversificados,
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sendo um pátio central descoberto, o pólo gerador de toda a organização
do conjunto.
Constituído por vários núcleos – Grupo Folclórico, Grupo
de Teatro, Banda de Música, Auditório/Salão de Festas, Biblioteca,
Bar-Restaurante e Administração – o Centro Cultural poderá funcionar
como um todo, permitindo simultaneamente alternativas de utilização em
horários diversificados. Todos os sectores têm Instalações Sanitárias
próprias e acesso directo pela rua, não pondo em causa o devassamento
dos outros espaços.
A cota de implantação do Centro Cultural teve como base a
cota de soleira de um dos edifícios existentes, de modo a criar-se um
nivelamento do conjunto que elimine as barreiras arquitectónicas.
Corrigiu-se igualmente o trainel da Rua adjacente, que se propõe
transformar em percurso pedonal, facilitando-se a articulação do centro
com o adro da Igreja.
as) Arq. Rui Duarte Barreiros
Arq. Ana Paula Pinheiro
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