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Boletim n.º 13-14 - Ano VII - 1989


Centro Cultural de Eixo

 

A Arquitectura deverá concretizar a essência de um lugar, num contexto histórico sempre novo.

Este espírito do lugar irá permitir uma permanência da memória colectiva através de um sistema vivencial, urbano e arquitectónico, que se oponha definitivamente à descaracterização dos lugares por uma aculturação que se situa entre falsos símbolos de progresso e uma necessidade de afirmação.

Assim, torna-se cada vez mais premente que a Arquitectura tenha uma função didáctica, levando as populações a reflectirem sobre os valores locais.

É nesta perspectiva que consideramos que a Arquitectura de acompanhamento, apesar de muitas vezes não ter grande valor histórico e arquitectónico, possa no seu conjunto ter características bem definidas com uma forte identificação com o sítio. Estes valores podem ser, por si só, suficientemente interessantes para se evitar uma atitude iconoclasta «a priori», sem ponderar as perdas daí decorrentes.

Para além da imagem arquitectónica, surge com peso determinante o factor económico, não sendo de menosprezar a economia de custos que advêm de uma recuperação.

É dentro desta perspectiva que este trabalho, que conquistou o 1.º Prémio do Concurso por convite da Câmara Municipal de Aveiro, tentou preservar, na medida do possível, o conjunto edificado existente.

Embora os edifícios se encontrem em diversos estados de degradação, as únicas construções a serem removidas são o telheiro da entrada e o pequeno anexo habitado, uma vez que se torna inviável a sua recuperação devido ao seu mau estado de conservação.

Em todo o restante conjunto edificado actuou-se de modo a preservar os edifícios, adaptando-os às necessidades futuras:

– restauro das paredes de adobo.

– restauro das coberturas e tectos.

– introdução de iluminação zenital em espaços menos iluminados, possibilitando a sua utilização.

– remoção de anexos e acrescentos à construção inicial.

– alteração dos pavimentos não recuperáveis, com correcção de cotas de piso.

– adaptação dos compartimentos existentes ao novo programa, com demolição de algumas paredes interiores.

– reforço da estrutura.

– adaptação a novos usos, com criação das infra-estruturas necessárias.

– criação de sanitários.

– criação da rede de águas e esgotos. Previu-se a possibilidade de ligação futura dos esgotos à Rede de Saneamento, actualmente inexistente.

– instalação eléctrica.

– instalação de rede de telefones.

- instalação sonora.

– instalação mecânica.

– detecção de incêndios.

– redefinição de alguns vãos – exteriores e interiores.

 Os edifícios propostos articulam-se com os existentes de modo a criarem espaços diversificados, / 60 / sendo um pátio central descoberto, o pólo gerador de toda a organização do conjunto.

Constituído por vários núcleos – Grupo Folclórico, Grupo de Teatro, Banda de Música, Auditório/Salão de Festas, Biblioteca, Bar-Restaurante e Administração – o Centro Cultural poderá funcionar como um todo, permitindo simultaneamente alternativas de utilização em horários diversificados. Todos os sectores têm Instalações Sanitárias próprias e acesso directo pela rua, não pondo em causa o devassamento dos outros espaços.

A cota de implantação do Centro Cultural teve como base a cota de soleira de um dos edifícios existentes, de modo a criar-se um nivelamento do conjunto que elimine as barreiras arquitectónicas. Corrigiu-se igualmente o trainel da Rua adjacente, que se propõe transformar em percurso pedonal, facilitando-se a articulação do centro com o adro da Igreja.

as) Arq. Rui Duarte Barreiros

Arq. Ana Paula Pinheiro

 

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pp. 59-60