A FEIRA DE MARÇO
Feira de Março... «feira da minha infância – a feira dos
meus encantos e da minha saudade. Lá namorei, com extasiados olhos
cobiçosos, o triciclo com que um dia corresponderam à mais exigente das
minhas aspirações e me proporcionou alguns momentos de pleno triunfo nos
triciclos audazes que descrevia em torno dos canteiros da Praça do
Comércio. Lá comprei um desnorteante brinquedo, conhecido pelo esdrúxulo
nome de bússola, que foi o meu espanto de muitos dias na sua
inconcebível obstinação de apontar irremissivelmente a mesma direcção; e
também a espada de lata que me hierarquizou nas eminências do comando de
uns tantos garotos traquinas da vizinhança, soldados rasos, com sabres
de ripa, da batalha desinquieta que causava o desassossego e o
destempero do plácido largo. Por lá entretive as minhas irreverentes
gaiatices a arremedar o Zé Manhanhas, o das bichas de rabear e dos
toscos berços para bonecas – «bercos», anunciava o desafortunado
velho na tabuleta de letras desajeitadas – a mais risível caricatura de
homem que algum dia o criador concebeu para albergar a alma de um pobre
diabo...»
Eduardo Cerqueira, in: “Arquivo
do Distrito de Aveiro, XIII, 1947, pg. 303)
NA CAPA – Aspecto da Feira de Março de 1984, que recordou os 550 anos da
sua instituição.
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BOLETIM MUNICIPAL DE
AVEIRO
Publicação Semestral
de índole Cultural e Informativa
ABRIL DE 1984 |
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