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Boletim n.º 1 - Ano I - 1983

Oficinas "OLARTE"

 

1 – Antecedentes

Corria o ano de 1962 quando Jorge Pereira Campos Mourão de Mendonça Côrte-Real, bisneto do grande industrial de cerâmica e aveirense Jerónimo Pereira Campos, pensou em montar uma pequena oficina de cerâmica, para nos tempos livres, se poder dedicar ao estudo de pastas cerâmicas e vidrados, pelo sistema de monocozedura, tendo em vista um futuro fabrico de grês decorativo de feição artesanal. A sua actividade profissional, no cargo de director técnico das Fábricas Jerónimo Pereira Campos, Filhos, de Aveiro, não lhe deixava tempo disponível para se dedicar a estes trabalhos, e como não dispunha dos necessários meios financeiros, recorreu ao seu amigo industrial de cerâmica, José Fernandes Costa Abrantes, proprietário da Fábrica de Cerâmica das Almas da Areosa, de Aguada de Cima, que se dedica à fabricação de produtos de grês. A generosidade e facilidades concedidas por este industrial tornaram possível a efectivação das experiências necessárias para se chegar à certeza e êxito do projecto em vista.

Em fins de 1963, Jorge Corte-Real, em colaboração com Jaime Borges, actual proprietário das Galerias Borges, com vista a constituir uma futura sociedade, adquirem um primeiro forno eléctrico para cerâmica, de capacidade 0,250 m3, e instalam a sua oficina no logradouro contíguo à habitação de J. Corte-Real, que tem acesso pela Travessa das Olarias, em Aveiro. Em regime puramente familiar, trabalhavam nos tempos livres, além das pessoas citadas, as próprias esposas e as filhas do casal Corte-Real.

 

2 – Oficina ”OLAVE"

Dada a forma como evoluiu todo o processo de aperfeiçoamento técnico ao longo dos anos 64, 65 e 66, constituiu-se uma sociedade em 1967, com a designação de OLAVE - Olaria Nova de Aveiro, Ld.ª.

         Era o reviver das novas olarias aveirenses de tão largas tradições. E precisamente no mesmo local onde outrora tiveram existência as velhas olarias de barro vermelho de Aveiro.

Adquiriu-se então um segundo forno, com a capacidade útil de 0,500 m3, e passaram a trabalhar na oficina, além dos familiares, dois empregados.

Desde o seu início a OLARTE passou a ser local de obrigatório encontro, num convívio assaz benéfico, nos aspectos técnico e artístico, de vários artistas aveirenses, ou de fora de Aveiro. Em 1968, Mestre Júlio Resende procurava uma olaria onde pudesse executar seis grandes painéis cerâmicos para o Palácio da Justiça de Lisboa. Gostou do ambiente de trabalho familiar, da técnica e qualidade dos artefactos produzidos e ali "pousou" para efectuar o referido trabalho. Desta honrosa presença do Mestre e de sua esposa, durante oito meses, muito beneficiaram todos quantos ali trabalhavam e vieram a trabalhar.

Na ausência de quatro anos, a partir de 1967, de Jorge Côrte-Real, que foi dirigir uma fábrica de cerâmica na Galiza, ocupou o seu lugar D. Cristina Côrte-Real, que entretanto se inteirou por completo de todos os processos técnicos de fabricação e decoração.

Em fins de 1970 Jorge Côrte-Real regressa ao país para montar a Gresval, Vale do Grou – Águeda e fazer parte da sociedade então constituída. Transferiu-se todo o património da Olave para a nova unidade fabril, inclusive o pessoal, passando a fabricar-se ali todos os produtos que eram produzidos em Aveiro. Beneficiou-se assim uma unidade industrial, com uma experiência de mais de oito anos, mas por outro lado empobreceu-se o artesanato cerâmico de Aveiro.

 

3 – Oficinas "OLARTE"

Jorge Côrte-Real, depois de ter dirigido tecnicamente a Gresval durante sete meses, e depois também a Gresil – Fábrica de Produtos de Grês da Mourisca do Vouga, resolve em 1973 montar nova olaria em Aveiro, em moldes diferentes da extinta OLAVE, mantendo o processo de monocozedura em grês decorativo, tipo artesanal. Amplia as instalações, adquire um novo forno eléctrico de 0,325 m3 de capacidade útil e em 6-2-1973 começa a laboração da nova oficina, com o nome de "OLARTE".

As "oficinas OLARTE”, dentro dum espírito de abertura e dum chamamento a todos quanto estejam dispostos a dignificar as artes plásticas, têm vindo a servir a cerâmica portuguesa com dignidade e espírito inovador. Vasco Branco, personalidade aveirense polifacetada – letras, cinema e artes plásticas – é desde a primeira hora, o seu director artístico.

Ao longo de dez anos de actividade, tem procurado a colaboração artística dos que dignifiquem o que é lá produzido. Assim cheio da amizade e incentivo que dispensa à Olarte o Professor Júlio Resende, prestam colaboração assídua, o artista ilhavense Cândido Teles, o Professor portuense Avelino Rocha, Silvério Damas, cotado técnico de formas, desde a primeira hora, é depositário de uma insuperável experiência de mais de 60 anos como profissional de cerâmica.

A olaria, para além de tudo o mais, presta todo o apoio às Escolas Secundárias da região, facultando as suas instalações para visitas periódicas dos alunos e professores, e fornecendo matéria-prima para trabalhos oficinais, tem dado colaboração à Comissão Municipal de Turismo, quer nas feiras de artesanato promovidas pela mesma, quer participando em feiras e exposições no país.

Os produtos que presentemente são produzidos na OLARTE são os seguintes: Artesanato cerâmico em grês, pintado à mão; azulejos decorativos em relevo; painéis cerâmicos em diferentes medidas; painéis cerâmicos em elementos de 30x20, com prévia apresentação de projectos originais; trabalhos exclusivos de artistas nacionais.

A OLARTE tem conseguido, com muita coragem e determinação, prestigiar o sector cerâmico, sendo seu lema produzir tecnicamente o melhor, em ambiente familiar, onde nunca existiu o termo patrões e operários. Todos são responsáveis, começando pelos seus proprietários, passando pelos artistas-colaboradores, e terminando no mais humilde dos seus servidores. E é neste ambiente duma verdadeira humanização de trabalho que vive esta comunidade chamada "OLARTE".

J. Côrte-Real

1. Figuras Regionais: Salineira – C 22x15x14 – 1975

2. Figuras Regionais: Homem dos Ramos – C  20x12x12 – 1975

3. Figuras Regionais: Homem do Foguete –  C  20x14x12 – 1975

4. Figuras Regionais: Tricana – C  20x14x12 – 1975

5. Figuras Regionais: Marnoto – C   20x16x12 – 1978

6. Santa Joana – C  23x14 – 1974

 

Nota – Estas peças foram moldadas por Vasco Branco (VIC) e enformadas por Silvério Damas.

 

 

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