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Boletim n.º 1 - Ano I - 1983

NESTA TERRA DE ARTÍSTICA OLARIA

IV

Nesta terra de artística olaria,

dos vidros, porcelanas e faianças,

do marisco fresquinho e da enguia

das barriquinhas de ovos, – relembranças

a dar com simpatia...

 

Nesta terra dos olhos cor de ria...

Nesta terra cheirosa a feno e maresia...

Nesta terra pragmática, diversa,

de velhos capitães e armadores,

onde se bebe e fuma e se conversa

de alguém, de aquém, de além e de ninguém...

– quero pedir aos que andam pelo mar,

tantos dias e noites, tantos anos,

por incertos caminhos de vaivém:

– não mateis golfinhos, Pescadores!

Para que sejam como nós, humanos,

só lhes falta a nossa voz, – falar!

 

Nesta terra de lugres e de arrais

que vão à Gronelândia, à Terra Nova,

alguns não voltam mais...

Às vezes, moços a sonhar estrelas,

ouvindo o vento a namorar nas velas

ou o motor, já rouco, contra a rude prova...

– ... não tornarão jamais!...

 

No seu desejo fundo

se funde o ganho,

a aventura,

o conhecer...

Nada os segura.

Nada os faz temer.

Num calhambeque dão a volta ao Mundo!

 

Oh, pobre ser, em plena imensidão!

Não há pastor mais solitário!

O teu rebanho de onda é menor

que a tua própria solidão!...

Tal solidão e as lágrimas de dor

não registaste nunca em teu « Diário»...

Há só desolação, silêncio e luto,

por esse mar sem fim, mar absoluto!

Poderás não trazer no teu pensar

o que tens a correr-te pelas veias...

Sentes no sangue um agitado mar,

um ignorado canto de sereias,

que te sustentam nessa dura gesta;

mas só na hora de voltar

teu coração delira e pula, em festa.

 

Moura Júnior

 

 

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