NESTA TERRA DE ARTÍSTICA
OLARIA
IV
Nesta terra de artística olaria,
dos vidros, porcelanas e faianças,
do marisco fresquinho e da enguia
das barriquinhas de ovos, – relembranças
a dar com simpatia...
Nesta terra dos olhos cor de ria...
Nesta terra cheirosa a feno e maresia...
Nesta terra pragmática, diversa,
de velhos capitães e armadores,
onde se bebe e fuma e se conversa
de alguém, de aquém, de além e de ninguém...
– quero pedir aos que andam pelo mar,
tantos dias e noites, tantos anos,
por incertos caminhos de vaivém:
– não mateis golfinhos, Pescadores!
Para que sejam como nós, humanos,
só lhes falta a nossa voz, – falar!
Nesta terra de lugres e de arrais
que vão à Gronelândia, à Terra Nova,
alguns não voltam mais...
Às vezes, moços a sonhar estrelas,
ouvindo o vento a namorar nas velas
ou o motor, já rouco, contra a rude prova...
– ... não tornarão jamais!...
No seu desejo fundo
se funde o ganho,
a aventura,
o conhecer...
Nada os segura.
Nada os faz temer.
Num calhambeque dão a volta ao Mundo!
Oh, pobre ser, em plena imensidão!
Não há pastor mais solitário!
O teu rebanho de onda é menor
que a tua própria solidão!...
Tal solidão e as lágrimas de dor
não registaste nunca em teu « Diário»...
Há só desolação, silêncio e luto,
por esse mar sem fim, mar absoluto!
Poderás não trazer no teu pensar
o que tens a correr-te pelas veias...
Sentes no sangue um agitado mar,
um ignorado canto de sereias,
que te sustentam nessa dura gesta;
mas só na hora de voltar
teu coração delira e pula, em festa.
Moura Júnior
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