Chamava-se António
Barreto Ferraz de Vasconcelos. Nasceu em 23 de Maio de 1789. Era filho
do desembargador Casimiro Barreto Ferraz de Vasconcelos e de D. Angélica
Margarida Pereira da Silva MedeIa. Era neto paterno de José Barreto
Ferraz, cavaleiro da Ordem de Cristo e senhor do morgado dos Barretos e
de outros, e de D. Maria Josefa de Vasconcelos. Era neto materno de João
António da Silva MedeIa, corregedor na Guarda e cavaleiro do hábito de
Cristo, e de D. Ana Bernardina Xavier Pereira, pertencente a uma
respeitável família de Barcelos. José Barreto Ferraz era filho de Luís
Marques Romano, senhor do morgado dos Romanos, e de D. Micaela de Lima
Pimentel. Era neto paterno de Francisco Marques Romano, senhor do dito
morgado, e de D. Catarina Saraiva Coutinho, herdeira da casa de seus
pais. Era neto materno de Pedro Tavares Pacheco, correio-mor de Aveiro e
fidalgo da Casa Real, e de D. Joana de Lima.
Os pais do avô
paterno de José Barreto Ferraz foram: - Manuel Marques Ferreira, filho
de Francisco Marques Ferreira; e Maria Luísa Romana, instituidora do
morgado dos Romanos e filha de Lúcio Cíncio, ro_ano de nação, de que
tomou esta família o apelido de Romano. Os pais da avó paterna foram: -
Francisco Barreto Ferraz, / pág.
409 / irmão de Manuel Ferraz
Barreto, instituidor do morgado dos Barretos; e D. Margarida Saraiva
Coutinho.
Os pais do avô
materno de José Barreto foram: - Manuel Tavares, correio-mor de Aveiro,
fidalgo da Casa Real e filho de Pedro Tavares, que teve iguais honras e
exerceu o mesmo emprego; e D. Bernarda de Oliveira Pacheco, filha de
Domingos de Oliveira e de D. Maria Pacheco. Os pais da avó materna
foram: - Estêvão Teixeira Pimentel e Ana de Lima, filha de Belchior
Leitão.
José Barreto Ferraz,
ou José Barreto Ferraz Teixeira Pimentel, fez uma justificação da sua
nobreza, por cujo motivo obteve o foro de fidalgo da Casa Real.
Como se vê da sua
genealogia, aqui exposta, descendia, por sua avó paterna, de um
indivíduo dos apelidos Barreto Ferraz, talvez por entender que eram mais
nobres; apesar de virem por linha feminina, adoptou esses apelidos,
desprezando outros, que não eram menos distintos, tais como os de
Oliveira, Pacheco, Tavares, Ferreiras e ainda outros.
António Barreto
Ferraz de Vasconcelos era irmão de José Barreto Ferraz de Vasconcelos,
de quem se fala em lugar próprio,""" e era sobrinho de D. Joana Teresa
Barreto Ferraz Teixeira Pimentel que, no convento de S. João
Evangelista, de carmelitas descalças, professou sob o nome de Joana
Teresa da Conceição. Ainda teve outros parentes muito próximos, cujos
nomes figuram entre os dos Aveirenses Notáveis.
Por alvará de 18 de
Setembro de 1803, teve a confirmação do foro de fidalgo cavaleiro da
Casa Real, que havia sido concedido a seu avô e a seu tio Januário
Barreto Ferraz Teixeira Pimentel, de quem seu pai havia ficado herdeiro
e sucessor na administração do vínculo da Granja e de outros.
Em 1804 começou a
cursar a Faculdade de Leis na Universidade, concluindo a sua formatura
em 1809; sempre deu grandes provas de aplicação e de inteligência.
Pertenceu ao Batalhão
Académico, formado por estudantes, que tinha por fim ajudar o Exército
Português a expulsar da Península Ibérica as hostes de Napoleão
Bonaparte; como militar, não deixou de imitar os brios dos seus
antepassados. Em 27 de Junho de 1810, foi nomeado juiz de fora de Óbidos
e Caldas da Rainha, por cujo motivo deixou de pertencer àquele Batalhão.
Segundo a opinião do Sr. João Augusto Marques Gomes, fundando-se nos
apontamentos que lhe dera Casimiro Barreto Ferraz Sacchetti, o visconde
da Granja casou com D. Maria Bibiana Barbosa Sacchetti, em 25 de Junho
de 1814. No entanto o Almanak de Portugal, de Luís Travassos
Valdez, diz que esse casamento se efectuara em 25 de Julho do ano
antecedente.
/ pág. 410
/ A esposa do visconde da Granja era filha
legítima do conselheiro Bernardo Xavier Barbosa Sacchetti e de D. Maria
Teresa Ferreira, a que no mesmo Almanak se dá o nome de D. Maria
Teresa Cláudia da Purificação.
Em 21 de Maio de
1815, foi António Barreto despachado corregedor do crime do bairro dos
Romulares, em Lisboa. No mesmo ano e por alvará de 15 de Junho, foi
feito comendador da Ordem de Cristo com a pensão de 100:000 réis anuais.
Em 4 de Março de 1818 e por carta régia passada no Rio de Janeiro,
obteve o despacho do lugar vitalício de síndico do Senado de Lisboa.
Tomou parte muito
activa na evolução politica de 24 de Agosto de 1820, cuja história é
muito conhecida. E tão assinalados serviços prestou a essa causa que, em
16 de Junho de 1821, foi premiado com o despacho de desembargador da
Relação do Porto.
Em virtude dos
acontecimentos políticos de 1823, foi obrigado em 4 de Novembro a
aposentar-se no mesmo cargo. No dia 6 de Fevereiro de 1827, em
consequência da Carta Constitucional, outorgada pelo primeiro imperador
do Brasil, foi António Barreto reintegrado no mesmo emprego.
Em 1828, como outros
portugueses, manifestou-se contra o Governo estabelecido e a favor da
mesma Carta; por esse motivo, teve de ausentar-se da pátria e
refugiar-se em França.
Os acontecimentos
políticos, em 1832, começaram a ser-lhe favoráveis; por isso, regressou
à pátria. E, em 13 de Dezembro desse ano, foi nomeado presidente da
provisória Relação do Algarve e das Províncias do Sul, onde fossem
estabelecidas as autoridades do partido da augusta filha daquele
imperador, ficando também com os plenos poderes de nomear os
funcionários para os respectivos territórios. Em 19 de Setembro do ano
imediato, foi nomeado presidente da Relação de Lisboa e, em 6 de
Dezembro, foi agraciado com a carta de Conselho.
A mesma augusta
senhora nomeou em 24 de Setembro de 1834 um novo Ministério, por que
nesse dia falecera seu extremoso pai. Para a pasta dos Negócios
Eclesiásticos e da Justiça foi escolhido António Barreto Ferraz de
Vasconcelos. No mesmo ano e por carta de 1 de Dezembro, foi agraciado
com a grã-cruz da Ordem de S. Tiago da Espada.
Em 23 de Abril do ano
imediato, pediu e obteve a sua exoneração do cargo de ministro. Para
isso concorrera o andamento das coisas políticas, cujos funestos
resultados já previa e que serviram de pretexto para a revolução
levantada em 9 de Setembro de 1836 e que desse mês tomara o nome; esses
acontecimentos muito o desgostaram. E o visconde da Granja, depois de
haver pedido a exoneração de todos os cargos públicos, deixou a capital
e veio estabelecer aqui a sua residência; assim foi vivendo, ora em
Aveiro, ora na sua quinta da Moita, freguesia da Oliveirinha, deste
concelho.
Depois de haver sido
deputado pelo círculo de Évora, foi eleito para o mesmo cargo pelo
círculo de Viana do Minha, em 1838. Em 27 de Maio de 1842, foi nomeado
par do Reino e, em 30 de Setembro do mesmo ano, foi nomeado primeiro
relatar do Supremo Conselho de Justiça Militar, lugar que exerceu até à
sua morte.
/ pág. 411
/ Nos acontecimentos políticos de 1846 tomou
uma parte muito activa a favor da Carta, de que foi sempre um acérrimo
partidista, apesar de ter sido um dos que em 1820 proclamaram a
Constituição, que desse ano tomara o nome.
Aqui, como governador
civil do Distrito, teve todos os poderes do Ministério para praticar o
que fosse mister contra a revolta, chamada a Patuleia, em que foram
proclamados os princípios da mesma Constituição. Estas variantes bem
mostram quanto na política são incoerentes os grandes homens. Fez
assinalados serviços ao Ministério e, por isso e por decreto de 13 de
Agosto de 1847, foi elevado à categoria de visconde da Granja.
Passou em Aveiro os
últimos anos da sua existência, vivendo modestamente e muito concentrado
e recebendo, apenas, alguns amigos em dias determinados. Durante esses
anos, tratou de reorganizar a administração dos seus haveres e dos que
havia herdado de seu irmão José Barreto Ferraz de Vasconcelos, que acima
se referiu.
Em Aveiro, no dia 27
de Abril de 1861, faleceu o único visconde da Granja; o seu cadáver foi
enterrado na capela de S. Bartolomeu, da qual fora décimo administrador
e que havia pertencido a seus antepassados. Sua esposa, nascida em 2 de
Dezembro de 1784, já havia falecido em 21 de Setembro de 1854.
A Granja, de que
António Barreto teve o título de visconde, era um vasto território, onde
ficam hoje o bairro da Beira-Mar e diversas ruas; fazia parte do prazo
de Gil Homem, de quem os Barretos se diziam descendentes. O pai do
visconde da Granja assinava-se Casimiro Barreto Ferraz de Vasconcelos e,
com ou sem este último apelido, também usava dos apelidos Teixeira
Pimentel, como seu irmão primogénito.
Do consórcio dos
viscondes da Granja houve um único filho: - Casimiro Barreto Ferraz
Sacchetti, que nasceu em Lisboa, em 8 de Dezembro de 1816, e morreu na
quinta da Moita, a 12 de Outubro de 1895. Foi pai de António Barreto
Ferraz Sacchetti, de quem falo em lugar próprio, e avô do Dr. Casimiro
Barreto Ferraz Taveira, que era governador civil deste Distrito em 1 de
Fevereiro de 1908 e que em 4 de Julho do mesmo ano foi admitido a membro
da Câmara dos Pares. |