Rangel de Quadros, Aveirenses Notáveis. Aveiro, 1ª edição, Aveiro, Câmara Municipal de Aveiro, 2000, (Revisão de J. Gonçalves Gaspar), pp. 408-411.


António Barreto Ferraz de Vasconcelos
(Visconde da Granja)
(1789-1861)

Chamava-se António Barreto Ferraz de Vasconcelos. Nasceu em 23 de Maio de 1789. Era filho do desembargador Casimiro Barreto Ferraz de Vasconcelos e de D. Angélica Margarida Pereira da Silva MedeIa. Era neto paterno de José Barreto Ferraz, cavaleiro da Ordem de Cristo e senhor do morgado dos Barretos e de outros, e de D. Maria Josefa de Vasconcelos. Era neto materno de João António da Silva MedeIa, corregedor na Guarda e cavaleiro do hábito de Cristo, e de D. Ana Bernardina Xavier Pereira, pertencente a uma respeitável família de Barcelos. José Barreto Ferraz era filho de Luís Marques Romano, senhor do morgado dos Romanos, e de D. Micaela de Lima Pimentel. Era neto paterno de Francisco Marques Romano, senhor do dito morgado, e de D. Catarina Saraiva Coutinho, herdeira da casa de seus pais. Era neto materno de Pedro Tavares Pacheco, correio-mor de Aveiro e fidalgo da Casa Real, e de D. Joana de Lima.

Os pais do avô paterno de José Barreto Ferraz foram: - Manuel Marques Ferreira, filho de Francisco Marques Ferreira; e Maria Luísa Romana, instituidora do morgado dos Romanos e filha de Lúcio Cíncio, ro_ano de nação, de que tomou esta família o apelido de Romano. Os pais da avó paterna foram: - Francisco Barreto Ferraz, / pág. 409 / irmão de Manuel Ferraz Barreto, instituidor do morgado dos Barretos; e D. Margarida Saraiva Coutinho.

Os pais do avô materno de José Barreto foram: - Manuel Tavares, correio-mor de Aveiro, fidalgo da Casa Real e filho de Pedro Tavares, que teve iguais honras e exerceu o mesmo emprego; e D. Bernarda de Oliveira Pacheco, filha de Domingos de Oliveira e de D. Maria Pacheco. Os pais da avó materna foram: - Estêvão Teixeira Pimentel e Ana de Lima, filha de Belchior Leitão.

José Barreto Ferraz, ou José Barreto Ferraz Teixeira Pimentel, fez uma justificação da sua nobreza, por cujo motivo obteve o foro de fidalgo da Casa Real.

Como se vê da sua genealogia, aqui exposta, descendia, por sua avó paterna, de um indivíduo dos apelidos Barreto Ferraz, talvez por entender que eram mais nobres; apesar de virem por linha feminina, adoptou esses apelidos, desprezando outros, que não eram menos distintos, tais como os de Oliveira, Pacheco, Tavares, Ferreiras e ainda outros.

António Barreto Ferraz de Vasconcelos era irmão de José Barreto Ferraz de Vasconcelos, de quem se fala em lugar próprio,""" e era sobrinho de D. Joana Teresa Barreto Ferraz Teixeira Pimentel que, no convento de S. João Evangelista, de carmelitas descalças, professou sob o nome de Joana Teresa da Conceição. Ainda teve outros parentes muito próximos, cujos nomes figuram entre os dos Aveirenses Notáveis.

Por alvará de 18 de Setembro de 1803, teve a confirmação do foro de fidalgo cavaleiro da Casa Real, que havia sido concedido a seu avô e a seu tio Januário Barreto Ferraz Teixeira Pimentel, de quem seu pai havia ficado herdeiro e sucessor na administração do vínculo da Granja e de outros.

Em 1804 começou a cursar a Faculdade de Leis na Universidade, concluindo a sua formatura em 1809; sempre deu grandes provas de aplicação e de inteligência.

Pertenceu ao Batalhão Académico, formado por estudantes, que tinha por fim ajudar o Exército Português a expulsar da Península Ibérica as hostes de Napoleão Bonaparte; como militar, não deixou de imitar os brios dos seus antepassados. Em 27 de Junho de 1810, foi nomeado juiz de fora de Óbidos e Caldas da Rainha, por cujo motivo deixou de pertencer àquele Batalhão.

Segundo a opinião do Sr. João Augusto Marques Gomes, fundando-se nos apontamentos que lhe dera Casimiro Barreto Ferraz Sacchetti, o visconde da Granja casou com D. Maria Bibiana Barbosa Sacchetti, em 25 de Junho de 1814. No entanto o Almanak de Portugal, de Luís Travassos Valdez, diz que esse casamento se efectuara em 25 de Julho do ano antecedente.

/ pág. 410 / A esposa do visconde da Granja era filha legítima do conselheiro Bernardo Xavier Barbosa Sacchetti e de D. Maria Teresa Ferreira, a que no mesmo Almanak se dá o nome de D. Maria Teresa Cláudia da Purificação.

Em 21 de Maio de 1815, foi António Barreto despachado corregedor do crime do bairro dos Romulares, em Lisboa. No mesmo ano e por alvará de 15 de Junho, foi feito comendador da Ordem de Cristo com a pensão de 100:000 réis anuais. Em 4 de Março de 1818 e por carta régia passada no Rio de Janeiro, obteve o despacho do lugar vitalício de síndico do Senado de Lisboa.

Tomou parte muito activa na evolução politica de 24 de Agosto de 1820, cuja história é muito conhecida. E tão assinalados serviços prestou a essa causa que, em 16 de Junho de 1821, foi premiado com o despacho de desembargador da Relação do Porto.

Em virtude dos acontecimentos políticos de 1823, foi obrigado em 4 de Novembro a aposentar-se no mesmo cargo. No dia 6 de Fevereiro de 1827, em consequência da Carta Constitucional, outorgada pelo primeiro imperador do Brasil, foi António Barreto reintegrado no mesmo emprego.

Em 1828, como outros portugueses, manifestou-se contra o Governo estabelecido e a favor da mesma Carta; por esse motivo, teve de ausentar-se da pátria e refugiar-se em França.

Os acontecimentos políticos, em 1832, começaram a ser-lhe favoráveis; por isso, regressou à pátria. E, em 13 de Dezembro desse ano, foi nomeado presidente da provisória Relação do Algarve e das Províncias do Sul, onde fossem estabelecidas as autoridades do partido da augusta filha daquele imperador, ficando também com os plenos poderes de nomear os funcionários para os respectivos territórios. Em 19 de Setembro do ano imediato, foi nomeado presidente da Relação de Lisboa e, em 6 de Dezembro, foi agraciado com a carta de Conselho.

A mesma augusta senhora nomeou em 24 de Setembro de 1834 um novo Ministério, por que nesse dia falecera seu extremoso pai. Para a pasta dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça foi escolhido António Barreto Ferraz de Vasconcelos. No mesmo ano e por carta de 1 de Dezembro, foi agraciado com a grã-cruz da Ordem de S. Tiago da Espada.

Em 23 de Abril do ano imediato, pediu e obteve a sua exoneração do cargo de ministro. Para isso concorrera o andamento das coisas políticas, cujos funestos resultados já previa e que serviram de pretexto para a revolução levantada em 9 de Setembro de 1836 e que desse mês tomara o nome; esses acontecimentos muito o desgostaram. E o visconde da Granja, depois de haver pedido a exoneração de todos os cargos públicos, deixou a capital e veio estabelecer aqui a sua residência; assim foi vivendo, ora em Aveiro, ora na sua quinta da Moita, freguesia da Oliveirinha, deste concelho.

Depois de haver sido deputado pelo círculo de Évora, foi eleito para o mesmo cargo pelo círculo de Viana do Minha, em 1838. Em 27 de Maio de 1842, foi nomeado par do Reino e, em 30 de Setembro do mesmo ano, foi nomeado primeiro relatar do Supremo Conselho de Justiça Militar, lugar que exerceu até à sua morte.

/ pág. 411 /  Nos acontecimentos políticos de 1846 tomou uma parte muito activa a favor da Carta, de que foi sempre um acérrimo partidista, apesar de ter sido um dos que em 1820 proclamaram a Constituição, que desse ano tomara o nome.

Aqui, como governador civil do Distrito, teve todos os poderes do Ministério para praticar o que fosse mister contra a revolta, chamada a Patuleia, em que foram proclamados os princípios da mesma Constituição. Estas variantes bem mostram quanto na política são incoerentes os grandes homens. Fez assinalados serviços ao Ministério e, por isso e por decreto de 13 de Agosto de 1847, foi elevado à categoria de visconde da Granja.

Passou em Aveiro os últimos anos da sua existência, vivendo modestamente e muito concentrado e recebendo, apenas, alguns amigos em dias determinados. Durante esses anos, tratou de reorganizar a administração dos seus haveres e dos que havia herdado de seu irmão José Barreto Ferraz de Vasconcelos, que acima se referiu.

Em Aveiro, no dia 27 de Abril de 1861, faleceu o único visconde da Granja; o seu cadáver foi enterrado na capela de S. Bartolomeu, da qual fora décimo administrador e que havia pertencido a seus antepassados. Sua esposa, nascida em 2 de Dezembro de 1784, já havia falecido em 21 de Setembro de 1854.

A Granja, de que António Barreto teve o título de visconde, era um vasto território, onde ficam hoje o bairro da Beira-Mar e diversas ruas; fazia parte do prazo de Gil Homem, de quem os Barretos se diziam descendentes. O pai do visconde da Granja assinava-se Casimiro Barreto Ferraz de Vasconcelos e, com ou sem este último apelido, também usava dos apelidos Teixeira Pimentel, como seu irmão primogénito.

Do consórcio dos viscondes da Granja houve um único filho: - Casimiro Barreto Ferraz Sacchetti, que nasceu em Lisboa, em 8 de Dezembro de 1816, e morreu na quinta da Moita, a 12 de Outubro de 1895. Foi pai de António Barreto Ferraz Sacchetti, de quem falo em lugar próprio, e avô do Dr. Casimiro Barreto Ferraz Taveira, que era governador civil deste Distrito em 1 de Fevereiro de 1908 e que em 4 de Julho do mesmo ano foi admitido a membro da Câmara dos Pares.


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