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"Combateu e sofreu pela
liberdade, nas batalhas, nas emigrações, no parlamento e na imprensa,
serviu bem a Pátria como soldado, legislador e funcionário, foi seu
timbre o desinteresse; viveu e morreu sem honrarias." Marques
Gomes
Mendes Leite nasceu em Aveiro a 18 de Maio de
1809, filho de Bento José Mendes Guimarães e de D. Teresa Thomázia
Leite.
Fez os primeiros
estudos na sua terra natal, matriculando-se em 1824 na Faculdade de
Cânones e Leis da Universidade de Coimbra. Toda a sua personalidade
política deve integrar-se numa perspectiva histórica, marcada pela
guerra civil que decorre em Portugal entre 1832 e 34, opondo liberais e
miguelistas.
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A trajectória deste
homem" que amava a liberdade" começa a traçar-se a partir do momento em
que D. Miguel regressa a Portugal e restaura o absolutismo. Em Aveiro
prepara-se a revolução de 16 de Maio de 1828, que infelizmente
fracassou, assistindo Mendes Leite, com espanto e terror, à carnificina
da "Praça Nova", onde muitos dos seus amigos foram barbaramente
assassinados. Tal como outros liberais, vai exilar-se primeiro na
Galiza, depois em Inglaterra. Aqui não conheceu, como outros exilados,
grandes dificuldades económicas, pois foi recebendo auxílio monetário
dos pais e empregou-se no porto de Plymouth. Tendo conhecimento do
desembarque do exército liberal no Porto, liderado por D. Pedra, Mendes
Leite juntamente com outros exilados, regressará, dirigindo-se para o
Porto. Voltará a Inglaterra para conseguir apoio logístico à manutenção
do cerco do Porto. Vai alistar-se de imediato no Batalhão de Voluntários
Académicos. Assume-se a partir de agora como soldado, fazendo parte de
uma guarnição militar que, na serra do Pilar, vai "suportando" as
investi das sistemáticas dos exércitos miguelistas.
Finalmente a
estabilidade político-social volta ao país, com a assinatura da
Convenção de Évora Monte (1834) e Mendes Leite regressa a Coimbra, onde
conclui a formatura em 1838.
No período do governo
Setembrista, assume sucessivamente os seguintes cargos: secretário geral
do distrito de Aveiro, presidente da Câmara da mesma cidade e deputado.
Passou então do campo de batalha para a tribuna parlamentar, onde,
juntamente com José Estêvão corporizou a esquerda liberal. Os seus
ideais passaram a ser divulgados no jornal que então fundaram e que
perdurou até 1832: " A Revolução de Setembro".
A fibra política
deste liberal não se apaga no período cabralista, marcado pela agitação
social da Maria da Fonte e Patuleia, movimento desencadeado pelo "novo
pombalismo" de Costa Cabral. Nesta fase de conclusões, Mendes Leite
assume uma "permanente" movimentação, marcada por conspirações contra a
política governativa e fuga para Espanha.
Ao regressar ao país,
oscila entre o apoio dado a José Passos e à Junta do Porto, ou a Sá da
Bandeira e Junta de Lisboa.
Ultrapassada a crise
política coma Convenção do Gramido, a situação continua a não agradar à
corrente setembrista, que vai conjurando clandestinamente contra a
Rainha, lançando o gérmen da futura vivência republicana.
Com a Regeneração, em
1851, Mendes Leite retoma a vida política na Câmara dos Deputados, onde
se preparava o primeiro Acto Adicional à Carta Constitucional.
Vai conseguir que se
faça um aditamento que inclua a "abolição da Pena de Morte" para os
crimes políticos. Após uma aguerrida sessão parlamentar e posições
bastante contraditórias sobre este problema, a proposta acabou por ser
aceite depois da votação nominal (50 votos a favor, 32 contra).
Apesar de José
Estêvão não estar presente nesta sessão, irá louvar a atitude dos
parlamentares, por terem assumido a aprovação deste grande princípio.
Mendes Leite entrou
assim definitivamente na vida política e militar da nação portuguesa.
Morre em 1887 na sua casa, situada em Aveiro, na Rua do Seixal.
Maria Albertina Nunes Santos
Professora de História
Secundária José Estêvão
Aveiro
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BIBLIOGRAFIA
Gomes, Marques - Memórias de Aveiro
Idem, Aveiro, Berço da Liberdade
ADERAV, Homenagem da Aderav, no centenário da sua morte, artigos
de Emanuel Cunha, Armando França e Frederico de Moura.
Arquivo do Distrito de Aveiro, voI. III
Aveiro e o seu Distrito, voI. 29 |