Era filho de João
Gonçalves, alcaide-mor da vila de Almoster, e de D. Caterina Garcia da
Gama, ambos de nobre origem e de posição elevada. Isso e os seus
merecimentos levaram D. Diogo, quarto duque de Beja e irmão de el-rei
D. Manuel I, a nomeá-lo um dos seus criados mais dignos de
consideração.
Efectivamente, João
Afonso tornara-se notável pela erudição e pelo talento e agudeza de
espírito. Metrificava facilmente e conforme ao gosto do seu tempo.
O Cancioneiro,
de Garcia de Resende, publicado em Lisboa, em 1516, traz, desde folhas
130 verso a 131 verso, algumas composições métricas deste aveirense. Uma
consta de sete estrofes de nove versos e intitula-se: - A Vasco
Arnalho, topando com ele num caminho, vindo de Beja. Outra consta de
cinco estrofes, dirigidas a Lançarote de Mello, por parte de Dona
Mécia, por uma mula que lhe prometeu, guarnecida para um caminho, e não
lh'a mandou. Seguem-se duas décimas, em que o autor pede para
casar-se e recorre aos amigos, para que o brindem, por a noiva não ter
fazenda, nem / pág. 85 / meios para o enxoval. E termina por uma
estrofe, composta de doze versos, em que se queixa por se haver
ausentado a dama, que ele requestava. Talvez fosse a mesma com quem
projectava casar-se e cujo nome não será fácil saber-se.
Também não será fácil
saber-se se João Afonso chegou a tornar estado e deixou descendência.
Pela obra
Ressurreição de Portugal e morte fatal de Castella, de que é autor
Fernão Homem de Figueiredo (pseudónimo de Frei Manuel Homem), sabe-se
que João Afonso de Aveiro vivia no tempo de el-rei D. João II e que, em
1479, escrevera uns versos intitulados Perdição de Castella e
que assim o afirmava um grave religioso, do convento de S. Domingos de
Lisboa, num livro escrito por ordem de el-rei D. Manuel I. O autor
daquela obra, e no primeiro livro, chama a este aveirense pessoa insigne
nas letras e insigne varão nas virtudes.
João Afonso também
deixou, em verso e manuscrito, um livro intitulado Poesias várias.
Essa obra guardava-se na livraria do mesmo convento.
O
Diccionario Bibliographico, de Inocêncio, não traz artigo
especial a respeito deste aveirense; apenas traz o nome dele na lista
dos escritores, cujas produções poéticas entram no Cancioneiro,
de Garcia de Resende. |