Rangel de Quadros, Aveirenses Notáveis. Aveiro, 1ª edição, Aveiro, Câmara Municipal de Aveiro, 2000, (Revisão de J. Gonçalves Gaspar), pp. 84.85.


João Afonso de Aveiro - Poeta (séc. XVI)

Era filho de João Gonçalves, alcaide-mor da vila de Almoster, e de D. Caterina Garcia da Gama, ambos de nobre origem e de posição elevada. Isso e os seus mereci­mentos levaram D. Diogo, quarto duque de Beja e irmão de el-rei D. Manuel I, a no­meá-lo um dos seus criados mais dignos de consideração.

Efectivamente, João Afonso tornara-se notável pela erudição e pelo talento e agudeza de espírito. Metrificava facilmente e conforme ao gosto do seu tempo.

O Cancioneiro, de Garcia de Resende, publicado em Lisboa, em 1516, traz, desde folhas 130 verso a 131 verso, algumas composições métricas deste aveirense. Uma consta de sete estrofes de nove versos e intitula-se: - A Vasco Arnalho, topando com ele num caminho, vindo de Beja. Outra consta de cinco estrofes, dirigidas a Lançarote de Mello, por parte de Dona Mécia, por uma mula que lhe prometeu, guarnecida para um caminho, e não lh'a mandou. Seguem-se duas décimas, em que o autor pede para casar-se e recorre aos amigos, para que o brindem, por a noiva não ter fazenda, nem / pág. 85 / meios para o enxoval. E termina por uma estrofe, composta de doze versos, em que se queixa por se haver ausentado a dama, que ele requestava. Talvez fosse a mesma com quem projectava casar-se e cujo nome não será fácil saber-se.

Também não será fácil saber-se se João Afonso chegou a tornar estado e deixou descendência.

Pela obra Ressurreição de Portugal e morte fatal de Castella, de que é autor Fernão Homem de Figueiredo (pseudónimo de Frei Manuel Homem), sabe-se que João Afonso de Aveiro vivia no tempo de el-rei D. João II e que, em 1479, escrevera uns ver­sos intitulados Perdição de Castella e que assim o afirmava um grave religioso, do con­vento de S. Domingos de Lisboa, num livro escrito por ordem de el-rei D. Manuel I. O autor daquela obra, e no primeiro livro, chama a este aveirense pessoa insigne nas letras e insigne varão nas virtudes.

João Afonso também deixou, em verso e manuscrito, um livro intitulado Poesias várias. Essa obra guardava-se na livraria do mesmo convento.

O Diccionario Bibliographico, de Inocêncio, não traz artigo especial a respeito deste aveirense; apenas traz o nome dele na lista dos escritores, cujas produções poéti­cas entram no Cancioneiro, de Garcia de Resende.


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