A Câmara Municipal de Ovar, da
presidência de António Coentro de Pinho, comemorou condignamente em
1952 o milenário de Ovar e o centenário da Comarca e Concelho.
D. Maria II visitou Ovar em 22 de
Maio de 1852. Dessa visita a soberana avaliou o valor desta Terra, o
seu manifesto progresso, população e indústria, destacando-se a
pesca, a olaria e outras. Nesse ano estavam em laboração 22 olarias.
Sem dúvida, Ovar ficou a dever a D.
Maria a sua ascensão administrativa e jurídica, desanexando da Feira
e extinguindo o Julgado de Pereira Juzã as freguesias que ainda hoje
fazem parte do seu concelho.
A vila de Ovar já tinha a sua
emancipação administrativa, com juiz próprio, como centro urbano que
era, em 1251. Assim o afirmam as Inquirições de D. Afonso III desse
ano e, mais tarde, os Inquirições de D. Dinis.
Cercada em parte pelo verde-escuro
dos pinheirais, pelo seu solo serpenteiam férteis ribeiros e o
pomar, a horta e a sementeira são um mimo. Banha-a em parte a Ria,
esse paraíso edénico, que o poeta chamou de «Bela desconhecida»! Nas
suas margens, no lugar do Torrão do Lameiro, fica a graciosa praia
do Areinho, onde se encontra conforto e beleza.
Embala-a ainda a canção do oceano ao
beijar as areias doiradas da sua praia – o Furadouro – onde o luar é
mais brilhante e sedutor, e as dunas cobertas de plantas marinhas
estendem-se em sinuoso recorte, parecendo ameias de velho castelo
feudal, por onde espreitam moiras encantadas!
Completa o cenário desta praia de
encanto a mata, onde se respira a maresia, a resina e o eucalipto!
Até na doçura esta Ovar é pródiga! O
Pão de Ló, verdadeiro manjar dos anjos, que as contas das nossas
multisseculares Confrarias já na era de 17 a ela se referem.
As tradições aqui não morreram!
O Carnaval, que já vem de há mais de
cem anos, em que o povo se divertia a seu modo, representações de
autos e exibição de contradanças, deram lugar ao Carnaval dos nossos
dias.
Depois vem a penitência e na segunda
dominga quaresmal desfila a majestosa procissão dos Terceiros, rica
e austera pelos seus quatorze andores e preciosas alfaias. Na 4.ª
dominga a importante Procissão de Passos cuja fama percorreu
Portugal. Antigamente era precedida de uma feira de oito dias onde
eram expostos artigos de ourivesaria e artesanato.
Depois vem a Semana Santa. Na
Quinta-feira Maior, alta noite sai o Terro-Terro. Já o viste,
leitor amigo? Pelas ruas sinuosas do velho burgo vareiro vai uma
verdadeira labareda dantesca. Distingue-se entre as chamas e fumaça
dos archotes as silhuetas semi-nuas das imagens do Senhor amarrado à
coluna e do Senhor da cana-verde. Espectáculo deslumbrante que a lua
cheia espreita por detrás do casario! Na Sexta-feira Santa, aí pelas
7,30 horas vai pelas ruas a Via-Sacra dos irmãos Terceiros. Que
parada singela, tão significativa e poética! Ao cair da tarde, filas
de homens de opas roxas e círios acesos precedem o esquife. Atrás
vem o andor da Virgem encostada à cruz. É o Enterro do Senhor.
Nas noites de 5 e 6 de Janeiro,
vivendo uma tradição muito antiga, percorrem as casas trupes de
Reis. No princípio deste século, alguns literatos, autodidactas e
poetas deram aos agrupamentos um molde cultural e artístico.
Maravilhas de Ovar!
*
* *
A situação geográfica de Ovar é de
23º de latitude e 2º,8' de longitude do meridiano de Lisboa. Fica
161 metros sobre o nível do mar. A sua área tem um
/ 6 / raio de aproximadamente
5 quilómetros. O último censo deu 16004 habitantes.
(1)
A balança comercial e industrial é
das mais pesadas do distrito.
Do passado, mais do que milenário,
não ficaram monumentos a atestar tão grata efeméride.
Brasões, por aqui, contaram-se pelos
dedos das mãos. O lema deste povo foi sempre a Honra, Trabalho e Fé.
Pelo trabalho, desbravaram a duna
estéril e magriça em prado verdejante e produtivo, levantaram esta
grandiosa Terra, tudo obra sua!
Pela Fé aí se vê numerosos templos,
Santa Catarina, século XVI, Santo António, século XVII; S. Miguel,
século XVIII e muitos outros dentre os quais merece destaque a
Igreja Matriz, terceira reconstrução, grandioso templo, de três
naves, onde predomina a dureza do granito e a talha renascentista. É
ainda digno de menção o altar-mor e o altar de S. Francisco da
capela de Nossa Senhora da Graça, obra de 1600, uma beleza da
renascença e ainda a imagem da titular, uma relíquia do século XV em
pedra, da escola coimbrã.
OVAR – Capela do Calvário
As sete Capelas dos Passos, únicas
no género, consideradas monumentos de interesse nacional, edificadas
em 1755 e custeadas pela mercê do Senhor D. João V que concedeu em
1747 o imposto de um real em cada quartilho de vinho vendido em Ovar
e seus termos. Este benefício correu durante 30 anos em favor da
Irmandade dos Passos.
No campo cultural e desportivo a
Banda Ovarense – 1812, Banda Boa União – 1898; Orfeão de Ovar –
1921; Sporting Club de Ovar – 1915 (já extinto); Associação
Desportiva Ovarense – 1921; Outros Clubes já extintos, União
Sporting Ovarense, Sport Club de Ovar, Estrela Futebol Club, Aliança
Futebol Club, Artístico Futebol Club, Avis Futebol Clube e Grupo
Desportivo «Onze Verdes». Também extinta a Associação de Socorros
Mútuos e Familiar.
Confrarias em exercício: Irmandade
de Nosso Senhor dos Passos, Irmandade do Santíssimo Sacramento e
Irmandade de Nossa Senhora da Graça, século XVI; Ordem Terceira de
S. Francisco de Assis, 4 de Dezembro de 1659.
Temos dois Museus. O Museu de Ovar
reúne um vasto espólio de pintura, medalhística e etnografia. A
Casa-Museu da Ordem Terceira de S. Francisco, museu de arte-sacra,
tem um precioso recheio, imagens, paramentos de brocado e matiz,
pintura, faianças e outros valores artísticos.
O Concelho é constituído, além da
sede, pelas freguesias de Arada, Cortegaça, Esmoriz, Maceda, S.
Vicente de Pereira e Válega.
ARADA – Esta freguesia
tem dentro da sua área alguns centros industriais de grande
projecção. Além disso é essencialmente agrícola. Povoação antiga
pertenceu
/ 7 / à Ordem de Malta não só
a sua Igreja como grandes parcelas de terrenos e herdades.
OVAR – Jardim dos Campos
CORTEGAÇA – Freguesia
progressiva, industrial e agrícola. Há divergências quanto à data do
seu conhecimento.
Mas seja como for, o certo é que ela
tem uma história bem antiga, que pela sua originalidade poderiam os
estudiosos reunirem em volumes os amores de D. Sancho I com D. Maria
Pais Ribeiro – a poetisa Ribeirinha – a quem foram dadas pelo
referido monarca grandes propriedades em Cortegaça.
Além do Bussaquinho, um recanto de
graça e repouso, Cortegaça tem uma encantadora praia, onde está bem
patente o bairrismo de seus filhos. Anualmente, no primeiro domingo
de Setembro, realizam a sua típica Festa do Mar.
Faz parte do concelho de Ovar desde
1875.
ESMORIZ – A vila de
Esmoriz, situada em fértil planície, tem a espraiar-se na sua frente
a Barrinha e a sua importante praia.
Centro industrial de largo alcance é
uma das mais importantes freguesias do concelho. A sua população é
de 7942 habitantes e deixou de pertencer ao concelho da Feira para
se incorporar em Ovar em 1875.
MACEDA – O bairrismo dos
seus filhos levou-os a reivindicar direitos de livre acesso ao mar.
A sua maior riqueza é a agricultura. Como Arada pertenceu à Ordem de
Malta.
S. VICENTE DE PEREIRA –
D. Rodrigo da Cunha, 57.º Bispo do Porto, segundo no nome, afirma na
sua obra editada em 1623, «Catálogo dos Bispos do Porto», que
S. Vicente de Pereira foi doado em 1121 por Paio Diogo ao Bispo D.
Martinho Pereira.
Fez parte do Julgado de Pereira
Juzã, extinto por D. Maria II em 1852 e incorporado no concelho de
Ovar.
Meio rural, do seu solo é extraído o
barro branco, caulino, para a confecção das porcelanas da Vista
Alegre.
VÁLEGA – Em área é a mais
extensa freguesia. Rica e próspera na agricultura, Válega orgulha-se
do número elevado dos seus filhos que tem subido às mais altas
esferas sociais, quer nas letras, medicina e sacerdotal.
Desnecessário será focar pontos da
sua história pois é sobejamente conhecida pela pena brilhante do seu
dedicado filho, Monsenhor Miguel de Oliveira, sacerdote, escritor e
historiador.
Faz parte do Concelho de Ovar desde
1853.
Ovar, Abril de 76.
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(1) – (1970). |