Nas enciclopédias, onde figura quase
toda a gente, o nome de Vidal Oudinot não se encontra catalogado.
E, todavia, respeita a um poeta
deveras estimável, a um pedagogo altamente abalizado, a um
jornalista corajoso e lúcido.
Na qualidade de pedagogo, escreveu
diversas obras destinadas às crianças, inclusivamente uma peça
teatral, e, já quando inspector do ensino primário, organizou
numerosas festas escolares, sem excluir as da «Árvore».
Como jornalista, dirigiu a revista «Os
Novos» e também «O Velocipedista», sendo esta publicação
a primeira, de índole desportiva, editada em Portugal.
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Vidal Oudinot |
Finalmente, foi o autor dos volumes
de versos «Melancolias», «Silvestres», «Musa aldeã»,
«Pelos campos», «Natureza» e «Três sóis».
Integrado na chamada corrente naturalista, muitos dos seus poemas,
isentos de considerações metafísicas, são outros tantos quadros onde
estua a vida ao ar livre.
Após ter feito o competente exame, e
antes de enveredar pela carreira do professorado, exerceu farmácia
em Aveiro e a Ria servir-lhe-ia de tema para algumas páginas.
Vidal Oudinot nasceu em Arouca, da
qual é, portanto, inesquecível filho, a 9 de Março de 1869, vindo a
falecer no Porto sessenta e três anos depois. Precisando melhor, em
29 de Julho de 1932.
CALDEIRADA
... ... ... ...
... ...
«– Disseram-me e eu creio ser
verdade
Que tens um jeito para a caldeirada
Como ninguém e, como novidade,
Quem provar esse manjar de fada...»
«Ria-se, ria. Há-de lamber-lhe os
dedos,
Há-de chorar por mais e não rirá...
«– Mas dize lá: como se faz...»
«Segredos!...
Muitos segredos qu'isso tem, verá...
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«Vamos. No rio há pouco vento agora.
Eu levo o meu rapaz, e no moliço
Bota-se a rede e é só puxar p'ra
fora
Qu'é pescaria que já dá p’ra isso.
*
«Chegamos. Eh! rapaz de mil diabos
Tu lança a rede. Eu desenrolo-a e
marco.
Bonda, Manuel, aí. Agarra os
cabos...
Lance o senhor a vara e empurre o
barco...
«Salte p'ra terra. Anda rapaz! T’aquenha!
E agora é só puxar. Vamos depressa.
Traze a marmita, a bilha d'água, a
lenha,
Essa pimenta e o sal que não te
esqueça.
*
«– Ricas enguias! Que tainha boa!
Linda manhã com este sol de Maio!
«Eh! Manuel andas c'a tola à toa!
Olh'esse barco qu'anda à rola,
raio...
«Acende o lume enquanto amanho o
peixe.
Cruze o senhor as varas... Nessa
cruz
Pendure essa marmita. Agora deixe...
Há-de fazer-se um jantarão de
truz...
«É só temp'rá-Ia bem. Não ficam mal
Miga's de pão. É bom?»
– «Eu nem te conto!
Nunca, na vida, comi cousa igual!
Mais outra malga, meu Francisco...»
«– Pronto.» |