Nos princípios deste século, a sede
do concelho era na freguesia de Macieira de Cambra. Porém a Gandra
(hoje sede do concelho de Vale de Cambra) era o centro de maior
valia comercial e industrial. – Ayres Martins, na sua obra «Virgem
de Codal», diz que a povoação de Gandra, no século X, era o local
onde os mercadores da época se reuniam para fazerem suas
transacções. Com a mudança dos paços do concelho (1926), os seus
habitantes, entusiasmados com o sucesso da mudança, começaram por
criar novas actividades industriais, e o comércio também acelerou o
desenvolvimento. Com a guerra de 1939 a 1945, a marcha das
realizações afrouxou um pouco; mas quando a guerra findou, não só na
nova sede do concelho como nas freguesias vizinhas, o progresso em
todos os ramos de actividade ultrapassou o previsto. No ramo
comercial, criaram-se estabelecimentos de toda a espécie de negócio,
na indústria, a começar pelos lacticínios, a evolução foi espantoso.
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Pormenor da talha dourada
da Igreja de Codal |
Em 1942, a indústria de lacticínios
já estava regulamentada pela Pecuária e subordinada a duas empresas,
instaladas em edifícios modestos e com máquinas que lhes permitiam
apenas extrair do leite manteiga e queijo. Actualmente, as suas
instalações ocupam grandes edifícios e têm em laboração maquinaria
que lhes proporciona aproveitar do leite todos os produtos que a sua
génes oferece.
No campo da mecânica, o incremento
também foi extraordinário. Montaram-se fábricas e oficinas do mais
variado labor. Principalmente no fabrico de equipamentos em aço
inoxidável, embalagens em folha de flandres, serração de madeiras e
caixotaria; portas, janelas e contraplacados; cunhos cortantes para
ferro e aço; mesas e peças lapidadas para máquinas de costura,
louças em alumínio, cromagem e niquelagem; tecidos, malhas,
camisaria, tipografia e encadernação, etc., etc., são laborações que
se mantêm em constante actividade e que, pelo quantidade e qualidade
dos seus produtos, testemunham em todo o país o valor industrial do
novo concelho de Vale de Cambra. As artes e ofícios, outrora pouco
acentuados, também alcançaram posição de destaque. As carpintarias,
de simples banco de carpinteiro, serra de mão, enxó, plaina e pouco
mais, passaram a mecanizadas e a fazer os mais artísticos móveis.
Indústrias do Vale de Castelões –
Fábrica de Queijo
/ 12 / Criaram-se oficinas
mecanizadas para reparações de automóveis e outros veículos de
tracção mecânica.
A panificação, que andava espalhada
pelo concelho em pequenas padarias, na maioria fez fusão,
centralizou-se na vila em prédio que mandou construir, adaptou
material moderno e actualmente são apenas três unidades que
abastecem a população do concelho em pão de trigo e de milho; se bem
que uma grande parte do povo, principalmente a classe dos
lavradores, ainda coza a broa em casa.
Tão grande desenvolvimento fabril e
comercial proporcionou trabalho a muitos milhares de pessoas que,
concomitantemente, melhoraram o nível de vida familiar,
transformando a vida do concelho, que era à base da agricultura, num
grande centro industrial do distrito de Aveiro.
MANUFACTURAS CASEIRAS
Em alguns lugares do concelho, desde
tempos antigos, existem artes caseiras que, pelo pessoal que
empregam e valor dos produtos manufacturados, representam valia
industrial.
Na freguesia de Roge, por exemplo no
lugar de Sandiães, a arte de fabricar foguetes é muito velha. Ali,
poucas são as pessoas que não conhecem de pirotecnia, e os mestres,
pelo fogo de artifício que fornecem para festas, dão provas de
exímios fabricantes. Os fundadores da grande fábrica de fogos de
artifício «ADRIANINOS», no Brasil, eram naturais de Sandiães.
Na freguesia de Castelões, há
também, desde remotos tempos, um elevado número de pessoas que
trabalham no fabrico e conserto de canastras. No artesanato laboram
oficinas de alfaiate, sapateiro, tamanqueiro, funileiro, etc., etc.
No lugar do Barbeito, talvez há 40
anos, ainda existia o fabrico de louça de barro preto; porém, com a
morte do seu principal fabricante, («ti» Luís Pucareiro) natural da
freguesia de asseia, a laboração pouco tempo se conservou na mão dos
seus herdeiros. Mais tarde, por volta de 1950, no lugar da Relva,
freguesia de Vila Chã, foi montada uma nova fábrica de louça de
barro mas, apesar da instalação ser moderna, poucos anos teve de
vida e, o tempo que durou, fabricou louça artística. Depois, o
técnico da louça, que era pessoa de fora, ainda tentou na vila o
fabrico de imagens e bonecos de barro, mas, também, a laboração
pouco tempo se manteve.
Na freguesia de Codal, desde tempos
antigos até fins do século passado, existiu a indústria de
chapelaria, e, no dizer do povo, foi transferida para S. João da
Madeira quando começou a transitar o comboio entre o Porto e Lisboa,
por ficar mais perto da grande via de comunicação. Há poucos anos
ainda havia restos da casa onde laborou a indústria.
*
Em anos que ainda não vão longe,
havia em diversos pontos do concelho uns maquinismos conhecidos
/ 13 / por engenhos do linho.
Trabalhavam cerca de dois meses por ano, accionados a água na margem
dos rios e destinavam-se a desarestar a fibra do linho. Com o
abandono da cultura do lináceo também desapareceram.
Uma laboração que ainda se mantém em
pequena escala são os velhos teares caseiros. Em outros tempos raro
era o lugar onde não havia um ou dois teares para tecer as afamadas
teias de linho. Havia mulheres que passavam o ano a tecer por conta
própria ou para os vizinhos. Os lavradores mais abastados tinham
teares em casa para tecer teias, mantas de lã, liteiros, serguilha e
burel. Presentemente, algum tear que existe é de mulher pobre que
faz do tecer profissão para angariar o pão de cada dia. O
aparecimento dos modernos tecidos tiraram o valor das teias.
*
As teias de linho eram o orgulho das
boas donas de casa, por vezes destinadas às filhas que tinham para
casar ou mesmo para ser vendidas a fim de pagar uma dívida. Nesses
tempos havia negociantes de feira em feira, de porta em porta, na
compra de teias de linho, o que garantia à possuidora da teia
mobilizar dinheiro com facilidade. O que por vezes contrariava a
dona da casa era a teia não ter as varas que ela desejava. Tudo isto
acabou em Vale de Cambra.
Nos princípios deste século, em Vale
de Cambra, o burel e a serguilha ainda eram bastante usados no
vestuário dos trabalhadores do campo. O burel mais próprio do homem,
a serguilha da mulher.
Actualmente raríssimo é ver-se
pessoa com tal indumentária.
A moderníssima unidade de abate da «Uniagri»
e parte do seu complexo industrial.
Ramalhe - Macieira de Cambra. |