A revista “Aveiro e o seu Distrito”,
no desejo de recordar os valores da nossa Terra, presta hoje
homenagem ao Doutor António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, na
ocorrência do primeiro centenário do nascimento do insigne
Professor; pretende desta forma juntar a sua voz aos louvores
póstumos que lhe são oficialmente tributados pela Nação.
Se, por um lado, tal iniciativa quer
ser uma recordação de quem foi um dos nossos ilustres conterrâneos,
ela deseja outrossim significar um agradecimento ao Homem que se
elevou desinteressadamente acima dos demais para bem da Humanidade,
prestigiando assim o torrão natal e a Pátria Portuguesa.
DEVOTADO AOS OUTROS
A vida do Doutor Egas Moniz, mais do
que uma caminhada horizontal de triunfo em triunfo, projectou-se
autenticamente numa linha em ascensão.
Tendo nascido na vila de Avanca, do
concelho de Estarreja, a 29 de Novembro de 1874, frequentou a
instrução primária numa escola da vizinha freguesia de Pardilhó;
cursou os estudos liceais no Colégio de S. Fiel, dos Jesuítas, e, os
últimos anos, no Liceu de Viseu. Após preparatórios de Medicina, em
Coimbra, desde 1891, matriculou-se em 1894 na respectiva Faculdade;
terminado o curso em 1899, doutorou-se em Medicina a 14 de Julho de
1902; a partir de 1903 foi professor catedrático na mesma Faculdade
de Coimbra (Anatomia, Histologia e, mais tarde, Patologia Geral),
sendo transferido para a de Lisboa em 1911, onde ocupou a cadeira de
Neurologia, então criada. Nesta Faculdade, que dirigiu durante algum
tempo, dedicou-se também aos trabalhos da angiografia cerebral e da
leucotomia pré-frontal, cuja descoberta o tornou mundialmente
conhecido. Isso proporcionou-lhe a entrada na Academia das
Ciências de Lisboa e fê-lo sócio de diversas academias estrangeiras.
Na actividade política, foi deputado
em várias legislaturas parlamentares, desde 1903 até 1917; neste
capítulo, teve a oportunidade de mostrar as suas qualidades de
orador. Exerceu ainda os cargos de ministro dos Negócios
Estrangeiros e de diplomata; por seu intermédio, quando embaixador
em Madrid, o Governo do Dr. Sidónio Pais conseguiria o reatamento
das relações com a Santa Sé, interrompidas em 1911.
Também não lhe foram alheios os
domínios da arte e da literatura, onde evidenciou as capacidades de
um espírito multifacetado.
No ensino universitário, jubilou-se
em 1944, por ter atingido o limite de idade. A 29 de Novembro desse
ano, ao proferir a última lição em Lisboa, foi-lhe prestada uma
significativa e simpática homenagem, em que não faltaram a presença
e os aplausos de alunos, colegas, colaboradores e professores.
Passados dias, a 23 de Dezembro, em Estarreja, no salão nobre da
Câmara Municipal, os patrícios de tal forma lhe manifestaram a sua
estima que a sessão teve foros de apoteose.
Em fins de Outubro de 1949, as
agências internacionais de informação davam a notícia de que o
Professor Doutor Egas Moniz fora galardoado com o Prémio Nobel. De
facto, o ilustre médico recebia o seguinte telegrama, vindo de
Estocolmo, com data de 28 daquele mês: – «O Colégio dos Professores
do Instituto Carolino decidiu atribuir o Prémio Nobel de Fisiologia
e Medicina de 1949, metade a Vossa Excelência, pela descoberta do
valor terapêutico da leucotomia pré-frontal em certas psicoses, e
metade ao Professor Walter Rodolf Hesse, de Zurique, pela sua
descoberta da organização funcional no diencéfalo para a coordenação
da actividade dos órgãos interiores. – Hilding Bergstrand, Reitor do
Instituto Carolino».
Tamanha distinção era concedida pela
primeira vez a um filho de Portugal; por isso, o facto encheu de
alegria não só os meios cultos da nossa Pátria, mas ainda outros
sectores da vida nacional. Havia justa razão para tanto: o Doutor
Egas Moniz passava oficialmente a ter um lugar de relevo na
brilhante teoria dos grandes benfeitores da Humanidade. |