I
«Se nada mais souberdes, conhecei ao
menos a história do vossa terra...», escreveu Victor Hugo, esse
monstro sagrado do pensamento francês, cuja obra, através da beleza
ímpar da sua poesia e do estilo vigoroso e inconfundível dos seus
romances, continuará a projectar-se ao longo dos séculos,
subtraindo-o à implacável lei da morte.
Na verdade, conhecer um pouco da
história do cantinho onde se nasceu; estudar a linhagem altissonante
das gentes de antanho que nos precederam e pisaram, em épocas mais
ou menos recuadas, o mesmo solo; descobrir pacientemente através de
velhos pergaminhos os fastos memoráveis de todos quantos, de
qualquer modo, se empenharam em talhar e engrandecer este rincão de
beleza; olhar extasiados o património artístico que os nossos
antepassados nos legaram, pese embora a sua pequenez, é algo que nos
consola o espírito, nos transporta a um passado distante que também
nos pertence, sem contudo o termos vivido.
Entretanto, como é difícil transpor
essa selva densa, em busca de seguras veredas que nos conduzam ao
seu inteiro conhecimento; quantas vezes nos quedámos, impávidos,
perdidos na longínqua obscuridade do tempo ante o silêncio, melhor,
a míngua de documentos que nos priva da réstia de luz esclarecedora,
ocultando a nudez do facto em toda a sua extensão.
A imperdoável incúria dos homens fez
desaparecer grande parte da documentação que hoje seria um rico
manancial de informações para um completo estudo sobre a história
deste concelho.
O presente trabalho, modesto e
despretensioso, sem dúvida, vem a lume apenas com o fim de prestar
uma insignificante contribuição para um conhecimento parcial dessa
história, que remonta, quase exclusivamente, aos primórdios da
nacionalidade. Limita-se, por isso, ao ordenamento de alguns fados
segundo uma ordem mais ou menos cronológica, recolhidos de várias
publicações, incluindo até algumas informações que a tradição
popular conservou, naturalmente dúbias ou desgastadas pela corrosão
do tempo.
Dentro deste contexto, o autor do
presente escrito, tendo em mente a publicação de um estudo de maior
amplitude numa possível oportunidade, não considera, apesar de tudo,
esgotadas todas as fontes de informação, a seu tempo cuidadosamente
consultadas para atingir o fim que se propõe, contribuindo de algum
modo para uma maior divulgação da terra que adoptou.
Ditas estas primeiras palavras, à
guisa de prefácio, vamos procurar enquadrar dentro das actuais
freguesias que compõem a circunscrição municipal, as referências que
nos pareceram dignas de registo.
II
O território das oito freguesias que
constituem esta circunscrição municipal, com uma superfície de
131,52 Km2, é limitado pelos concelhos de Vale de Cambra,
Oliveira de Frades, Águeda, Albergaria-a-Velha e Oliveira de
Azeméis, respectivamente a norte, nascente, sul e poente. Sete das
freguesias pertencem à comarca de Albergaria-a-Velha e a oitava,
Talhadas, à de Águeda, sendo um dos dezanove concelhos do Distrito
de Aveiro enquadrado na Província da Beira Litoral. Dista 35 Km de
Aveiro, 65 de Viseu e 63 do Porto, tendo ligações com estas cidades
através de boas estradas nacionais. Administrativamente é um
concelho rural de 3.ª ordem e pertence à Relação de Coimbra.
O movimento demográfico da população
concelhia, até ao último recenseamento, pode esquematizar-se no
seguinte quadro:
/ 8 /
1755 – 3521 habitantes
1890 – 8443 habitantes
1900 – 9042 habitantes
1911 – 9807 habitantes
1920 – 10328 habitantes
1930 – 11640 habitantes
1940 – 12629 habitantes
1960 – 14111 habitantes
1970 – 12577 habitantes
Sem receio de desmentido podemos
afirmar que o concelho foi habitado há milénios por povos
pré-históricos que aqui deixaram sinais indeléveis da sua passagem.
A pedra insculturada denominada Forno dos Moiros, descoberta pelo
eminente arqueólogo Dr. Alberto Souto, de saudosa memória, integrada
na chamada «arte rupestre» do noroeste peninsular, existente na aba
ocidental e a meio da encosta da serra do Arestal; o «dólmen» da
Cerqueira, plantado na vertente oriental da mesma serra; outros
«dólmenes» incompletos, na margem esquerda do Vouga (Santo Adrião e
Chão Redondo), bem como o aparecimento de «mármores» em vários
locais, são monumentos que assinalam a permanência desses povos
antiquíssimos, que no silencioso desfiar dos séculos se foram
sucedendo uns aos outros, conforme a força dominadora do invasor.
Comprovam e justificam ainda tal opinião alguns objectos encontrados
aqui e além, tais como machados, pedaços de mós, instrumentos de
sílex e fragmentos de cerâmica, outras provas irrefutáveis da estada
dessas gentes que pertenceram às idades primitivas.
SEVER DO VOUGA – Vista parcial
Como a Lusitânia se estendia
aproximadamente até às regiões do Vouga, também os Lusitanos por
aqui calcorrearam montes e vales, numa luta constante pela sua
sobrevivência. Resquícios de castrejos espalhados pelo concelho
denunciam a presença deste povo. Mais tarde, já sob o domínio de
Roma, estes monumentos foram melhorados e aproveitados, servindo de
abrigo às povoações que à sua volta se acolhiam.
Não há dúvida de que as riquezas
minerais atraíram a cobiça dos romanos e foram o móbil da conquista
da Península Ibérica. Estrabão referiu-se às riquezas minerais que
existiam em quantidade na Lusitânia.
Também aqui, em Sever, mais
propriamente nas imediações do Braçal, se recolheram provas
evidentes da permanência dos romanos nestas paragens. Nos meados do
século XIX, descobriram-se as minas da Malhada e do Coval da Mó (de
chumbo argentífero), em cujos trabalhos de limpeza se encontraram,
entre outros objectos, uma trança de chicote de coiro, que
provavelmente terá servido para castigar escravos que ali
trabalharam, um utensílio semelhante a um balde destinado,
certamente, à extracção de minério, um pedaço
/ 9 / de candeia de barro,
bem como madeiramentos quase metamorfoseados em lenhite.
|
Estes notáveis achados foram
devidamente assinalados no Relatório elaborado por Carlos Ribeiro em
1853, a propósito dessas minas. Mas a prova mais cabal e
indiscutível foi encontrada em 1943 – quase um século depois – ao
fazer-se o reconhecimento de uma nova galeria na já referida mina da
Malhada. Duas lucernas romanas, uma delas intacta, regressaram de
uma prolongada noite de séculos à luz do dia, desfazendo dúvidas, se
porventura existiam nos espíritos mais cépticos. Tais objectos foram
classificados como sendo do século I ou II da nossa era.
Sabe-se, assim, que a avançada
civilização romana pairou também nestas redondezas.
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Forno dos Moiros (Arestal) |
E os séculos foram rolando, outros
povos se estabeleceram, e no dealbar do século VI os visigodos,
comandados por Teodorico II, venceram e aniquilaram os suevos. Então
um seu irmão, notável e destemido guerreiro que em tais lutas tomara
parte, o Conde Sevéri, aqui teria talhado para seu domínio uma larga
faixa, por volta do ano 510, segundo determinado estudioso da
genealogia de tão ilustre prócer.
Por largos anos e à maneira de
dinastia aqui se conservou a sua descendência, usando sempre o mesmo
título que viria a dar o nome ao que hoje se chama Sever.
Em 711, porém, os árabes avançaram
do norte de África, invadiram este território e os naturais tiveram
que bater em retirada, deixando os seus domínios na posse dos
intrusos, bem adestrados no manejo das armas. Contudo, supõe-se que
vieram a conceder-lhes de novo a posse dos seus avultados bens,
mediante o pagamento de um tributo ao emir de Córdoba. Era então
Conde Sevéri D. Gonçalo Martim Gondesindo.
Entretanto esta região ora estava
sob o domínio árabe, ora sob o domínio cristão. As crónicas
dizem-nos que em 879 o Conde Hermenegildo, mordomo de Afonso III,
rei de Leão, conquistou Coimbra aos árabes e povoou-a de cristãos.
Todavia, em 987, Coimbra cai de novo em poder dos árabes, sob o
comando de Almançor e, nos dez anos imediatos, o domínio mourisco
estendia-se até ao Douro, provocando a fuga da maior parte dos ricos
senhores para além deste rio, entre os quais se conta Egas Erotis,
abastado proprietário. Um documento de Sever, datado de 1019,
presta-nos, sobre o assunto, a seguinte informação: «...e naquele
tempo levantaram-se os esmaelitas, filhos da perdição, e
apoderaram-se da terra em que estava o mosteiro (neste caso o de
Sever) e de tudo desde o Douro até Córdoba». Bem elucidativo, sem
dúvida, este documento que nos dá conta das devastações ocasionadas
durante as incursões desse chefe árabe.
Dólmen da Cerqueira
Mas a reconquista cristã foi
renascendo desses escombros e à medida que as terras foram retomadas
(Coimbra foi conquistada definitivamente pelo rei Fernando Magno, em
1064) formaram-se zonas a que se convencionou chamar territórios.
Entre o Douro e o Mondego surgem dois: o de Santa Maria e o de
Coimbra, divididos em parte pelo rio Vouga, citados
discriminadamente em documentos da época, especialmente dos séculos
XI e XII. É assim que nos aparece Sever mencionado no primeiro e a
constituir o seu termo.
Como atrás se disse, esta terra
permaneceu, à maneira de dinastia, na posse das sucessivas gerações
dos Condes Sevéri, não obstante as vicissitudes por que passaram. E
na arrancada vitoriosa que teve o seu início no Castelo da Feira e
permitiu a Afonso Henriques, em S. Mamede, tomar um pequeno condado
num país livre e independente, encontrava-se a seu lado, como dos
principais obreiros da grande façanha, D. Ermígio Muniz de
Figueiredo, 1.º Conde das Terras de Santa Maria e XXII Conde Sevéri.
Não resta pois dúvida alguma sobre a
alta antiguidade de Sever do Vouga, cujo nome deriva de
/ 10 / Sevéri, pela queda do
i e junção do vocábulo Vouga, em virtude deste rio aqui
passar.
Um documento datado de 897 dá-nos
conta da existência de um ilustre varão de nome D. Soeiro
Gondesindes, de alta linhagem, pelo qual faz importante doação de
terras ao mosteiro de S. Salvador da Lavra, nela se compreendendo
Rigas (que ninguém sabe localizar), Esmoriz, Várzea de Carvoeiro e
Sever em Riba Vouga.
Descendia directamente do «dux» D.
Mem Guterres, possuidor de grossos haveres nesta região, o qual teve
uma filha, D. Enderquina Mendes «Pala», de cognome), herdeira das
terras de Sever, que veio a casar com o Conde Gondesindo Eres. Pois
foi precisamente deste casamento que nasceu D. Soeiro Gondesindes, o
cavaleiro de origem goda que a tradição lançou até aos nossos dias,
de estirpe tão poderosa que basta lembrar a sua ligação à família
real leonesa, pois a esposa desse «dux» era cunhada do rei de Leão,
Ordonho I. Mais: uma tia paterna de D. Soeiro, de nome Elduara Eres,
foi a mãe do célebre S. Rosendo, bispo de Dume.
Por sua vez, D. Soeiro Gondesindes
casou com D. Goldregodo, da qual teve dois filhos, respectivamente
Gondesindo e Sandino Soares.
Antes de 950, D. Soeiro e sua mulher
doaram a «villa» de Sevéri e seu mosteiro, dedicado a Santo André e
S. Cristóvão, ao abade Jacob, para que ele aí vivesse monasticamente.
Alguns anos mais tarde este mesmo abade restitui os bens aos filhos
legítimos dos seus benfeitores. Como se deduz do documento acima
mencionado, datado de 1019, os árabes saquearam a «villa» e
devastaram o mosteiro. Os dois irmãos, Sandino e Gondesindo,
remedeiam essas destruições de modo que, em 964, fazem de tudo
doação a um diácono de nome Sandino e ao presbítero Gudesteu,
incluindo a quarta parte da «villa» de Espindelo, vizinha de Sever,
na outra parte do Vouga, entre as «villas» Ceterini e Idolo (hoje
Cedrim e Ribeiradio).
Retomando o estudo das geraçães de
tão ilustres fidalguias – as dos Condes Sevéri – conclui-se que
Sandino Soares foi casado com D. Ximena, havendo deste casamento
dois filhos, Soeiro Sandines e Fernando Sandines.
O primeiro casou com D. Enderquina
Pala (não confundir com Enderquina Mendes «Palla», que viveu um
século atrás, que em 961 era já viúva, facto que se deduz da doação
de bens que faz para sufrágio da alma do marido. Um documento datado
de 982 mostra que os dois esposos não tiveram filhos e informa do
destino de parte dos seus haveres, que não eram em Sever, para obras
pias a bem da sua alma, tendo seu irmão Fernando cumprido
escrupulosamente a sua vontade, doando-os ao mosteiro de Lorvão.
Retomando a história desta terra,
sabe-se por documento exarado em 1005 que nova incursão de
muçulmanos se verificou, nesta altura com o apoio de um conde
cristão, FroiIa Gonçalves, o qual, mancomunado com os árabes,
governava de Montemor o território de Coimbra. Nesta data havia já
falecido o presbítero Gudesteu, e Sandino Dias, o diácono do
mosteiro de Sever, talvez compelido, vende-lhe ilegalmente o cenóbio
com as suas casarias, pomares, soutos, terras lavradias e maninhos,
apesar de existirem outros legítimos possuidores. No entanto, Mendo
Lucidez acaba por subjugar o conde traidor, expropria-lhe todos
esses bens restituindo-os aos seus donos, Nuno e seus irmãos, filhos
de Fernando Soares, os quais os doam em 1019 ao mosteiro da Vacariça,
terminando a existência do mosteiro de Sever em 1094 com a sua
integração na Sé de Coimbra.
Sever não teve foral velho, pelo
menos conhecido, embora houvesse quem tenha acreditado que D. Soeiro
Gondesindes lhe dera um. Todavia isto não passa de mera hipótese,
por não ser conhecido pergaminho que a tal se refira. Crê-se também
que um dos seus sucessores, séculos depois, Soeiro Martins de
Figueiredo, dera foral a Sever no reinado de D. Afonso III,
supondo-se que veio a instituir o morgadio do Paço da Vala, no lugar
da Senhorinha, cujo topónimo se tem mantido através do tempo e que
proveio do nome de sua muIher – Senhorinha.
À paróquia de Santa Maria de Sever
se referem as Inquirições de D. Afonso III (1258), tendo informado o
juiz João Afonso que aqui possuía a Sé de Viseu treze casais, além
de dois na «villa» de Senhorinha. Nesta «villa» ainda possuía então
dois o bispo e Sé de Coimbra, e um o mosteiro de Grijó, além dos
dois em Paçô, que pagavam também certos foros à coroa.
Cedrim – A base deste
topónimo é Iatina, derivando de Cetarini. É citado em diversos
documentos antigos:
/ 11 /
em 1050 aparecem as formas
Cedarim e Zedarim; em 1284 Cedari, 1747 Cedrim e 1768 Sedrim.
Em 1017 aqui existia um mosteiro da
ordem beneditina, doado em 1050 ao de Pedroso (Vila N.ª de Gaia),
por D. Gonçalo Mendes, filho dos Condes D. Mendo Lucis e de D.
Flâmula. D. Teresa, mãe de Afonso Henriques, visitou este convento
quando aqui passou a caminho das Caldas de Lafões.
Também em outro documento e
referente a uma doação ao diácono Sandino e ao presbítero Gudesteu
se diz: «...est ipsa villa inter vilIa de Ceterini et villa de Idolo...»
(isto é, junto a Cedrim e lo – hoje Ribeiradio).
Nos meados do século XIII pertenceu
à paróquia de S. Miguel da Ribeira (Ribeiradio), juntamente com
Couto de Esteves. Por esse motivo era curato anual da apresentação
do vigário da referida paróquia.
As «villas» de Cedrim e Paçô eram de
fidalgos por avoenga, isto é, por honra antiga e pertencerem a D.
Urraca Vasques, não pagando qualquer foro à coroa. Nas inquirições
de 1258, o Juiz de Sever, João Afonso, declarava que tais «villas»
não eram couto, mas honra.
Do inquério paroquial de 1732 (que
juntamente com o de Sever e Silva Escura, actualmente existentes na
Torre do Tombo, são os únicos do Distrito que escaparam dos
escombros do terramoto de 1755) conclui-se das informações prestadas
pelo pároco Francisco Soares que a freguesia pertencia ao Bispado de
Viseu, comarca de Esgueira, termo da Vila de Sever e possuía 131
fogos. Era donatário o marquês de Fontes, estando o respectivo
Pároco sujeito ao reitor de Ribeiradio, pelo que a freguesia lhe era
anexa. Possuía alguns privilégios pertencentes à Sagrada Religião de
Malta de que era senhor D. Sancho Manuel de Vilhena.
Convém frisar ainda que em 1732 são
indicados como pertencendo a esta freguesia os lugares de Silveira e
Arcas, hoje da de Talhadas, Alagoa e Paredes, actualmente
pertencentes a outro concelho.
Vestígios das Muralhas do Castelo.
Couto de Esteves – Nas
Inquirições de 1258 aparecem as formas Stevai e Stevay; em 1284,
Couto de Steuãy; em 1527, Estevem. A partir desta data o vocábulo
Esteve encontra-se nos séculos XVII e XVIII, acabando por se adoptar
a forma corrente de Couto de Esteves. Entretanto o vocábulo usado na
época medieval revela alta antiguidade, talvez derivante de uma «villa»
Stephani.
Povoação antiquíssima, pertenceu em
1067 ao convento de Lorvão. Em 1128 D. Teresa e seu filho coutaram
esta terra, concedendo-lhe vastos privilégios que perduraram por
muitos anos.
A tradição aponta-nos, nesses
recuados tempos, a existência de um ilustre varão, senhor de baraço
e cutelo, fundador de uma capela que hoje serve de altar-mor na
igreja matriz, no ano de 1139 da nossa era, reinando então Afonso I
de Portugal.
Como se disse já, fez parte da
paróquia de S. Miguel da Ribeira com as suas seis villas de Catives,
Cerqueira, Estêvem (Esteves depois), Lijó, Sanfins e Sapeiros.
Revela-se aqui a mesma composição de 1180, resultante da intervenção
do nosso primeiro rei na célebre
/ 12 / questão de Rocas, que
havia de dar origem ao Couto de Esteves dos séculos posteriores.
Em resultado das anteriores
prerrogativas concedidas, tais villas eram pertença de
cavaleiros-fidalgos e não faziam à coroa o mais simples foro, por
ser «couto por padrões», isto é, tinham termo próprio que se situava
entre os de Cambra, Sever e Lafões. Tal independência assim
proclamada não tinha semelhança no país, dado que até os comissários
régios de 1258 se mostraram surpreendidos, chamando-lhe «tanta e tão
grande jurisdição» e anotando ainda que «sempre a tiveram de uso.»
Por esta altura não tinha juiz
próprio, escolhendo o povo dois ou três vizinhos para resolverem as
suas causas ou questões.
No final do século XIII o referido
couto estava repartido em dois: um, de cabeça em Lijó, que havia
pertencido ao filho de algo João «Barvudo»; outro, encabeçado em
Sanfins que fora de Fernão Rodrigues Pacheco, o leal alcaide-mor de
Celorico. A razão de este couto lhe ter pertencido, deve-se ao facto
do seu casamento com D. Constança Afonso, viúva de um rico-homem de
Lafões e parece que também de Sever, filha de D. Afonso Anes «de
Cambra» e de D. Urraca Peres, que por sua vez o herdara, ou parte
dele, de D. Pedro Nunes «Pestanas de Cão». Foi sucessor dos bens do
valoroso alcaide seu filho João Fernandes Pacheco.
|
|
Pelourinho de Couto de Esteves |
Este D. Pedro Nunes «Pestanas de
Cão» era neto de D. Álvaro Rabaldes, sendo este, por sua vez, irmão
daquele que foi bispo do Porto, D. Pedro Rabaldes, muito
provavelmente aqui nascido.
No documento da descrição da
Provedoria de Esgueira, datado de 1689, inclui-se o Couto de Esteves
como vila, com juiz ordinário do cível e crime, dois vereadores,
dois tabeliães, juiz dos órfãos e escrivão, dele fazendo parte os
lugares de Couto de Baixo, Irijó, Sanfins e Catives e algumas póvoas
que hoje correspondem a vários lugares de todas as freguesias do
concelho. Em 1760, com a elevação da Vila de Aveiro a cidade, por
carta de D. José datada de 4 de Fevereiro, a qual passou a ser
cabeça de comarca, determinou-se que a vila de Couto de Esteves
fizesse parte da comarca e correição desta cidade. Mais tarde, com a
fundação do Distrito pelo decreto de 18 de Julho de 1835, entre os
53 concelhos que o constituíam, figuravam os de Couto de Esteves e
Sever. Nesta altura, como concelho, possuía juiz ordinário,
escrivão, oficiais de diligências, administrador-provedor e câmara
com cinco vereadores.
O decreto de 6 de Novembro de 1836,
suprimindo 25 dos 53 concelhos apontados, liquida definitivamente o
de Couto de Esteves que ficou incorporado no de Sever, até ao
presente, como freguesia.
No final destas notas, que nos seja
permitido introduzir aqui um parentes e que constitui um incontido
grito de revolta com ressaibos de protesto: como pôde a estupidez
dos homens deixar perder ou inutilizar toda a documentação que hoje
seria um maravilhoso repositório para o estudo completo da história
desta terra durante uma longa época?
Paradela – A memória
paroquial de 1732 indicou Paradela como um dos lugares da freguesia
de Pessegueiro, surgindo, contudo, já com autonomia paroquial na
«memória» de 1758, isto é, decorridos 26 anos. Esta autonomia
foi-lhe conferida por despacho do Juízo Eclesiástico com data de 30
de Maio de 1740.
Em documento existente no Livro do
Tombo da referida freguesia, datado de 29 de Maio de 1747, consta
que «Fação a nova Igreja... em o lugar da dita cappella da Senhora
da Ouvida...». E mais adiante, em 15 de Janeiro de 1748, impunha-se:
«O Rd.º Abb.e procederá à eleição de duas pessoas que lhe
parecerem capazes, a votos dos freguezes da Banda dalem do Rio, que
servirão de eleitos para correrem com as obras do corpo da Igreja,
que se há-de fazer no lugar de Paradela, desta freguesia...» (Livro
I das Visitas, pág. 134 e vº). E a seguir (a páginas 143 v.º e 144:
/ 13 / «q ha de ser anecha
desta Abbadia de S. Mart.º de Pessegr.º...» e «ficando lhe o poder
aprezentar elle cura, pagando lhe a congrua costumada, ficando lhe
tambem rezervados todos os direitos que lhe pertencerem como Abbade
da Matriz.»
A nova freguesia ficava, deste modo
e como se verifica, anexa à de Pessegueiro, pelo que, constituindo
um curato, o abade da principal pagava o soldo ao cura e recebia
para si todos os rendimentos da recém-criada.
A licença para a bênção da nova
igreja foi dada em 16 de Janeiro de 1750, tendo, nessa altura, o
reverendo Belchior Machado, abade da freguesia de São Martinho de
Pessegueiro, informado os superiores «que eles têm executado a ordem
de V. Ex.ª em fazer, no mesmo sítio e lugar onde estava a antiga
capela de Nossa Senhora da Ouvida, a nova igreja de Nossa Senhora do
Loreto.» Comunicava também o padre Feliz José Ribeiro de Sande,
abade de Reigoso: – «Fui ao lugar de Paradela onde está situada a
nova igreja de Nossa Senhora do Loreto, a qual quanto ao material
está toda feita de novo, assim de paredes como de madeiramentos e
telhado, caiada e pincelada por dentro e por fora.»
Consta ainda do Livro de Tombo da
freguesia de Pessegueiro, páginas 102 v.º a 103 v.º, que numa
quinta-feira, dia 29 de Janeiro de 1750, se benzeu essa nova igreja
e o adro pelo reverendo reitor de Ribeiradio, Álvaro Nogueira de
Matos, e no mesmo dia o pároco Belchior Machado nela disse Missa,
acolitado pelos tonsurados presentes ao acto, tendo a cruz saído em
procissão, pela primeira vez, em 2 de Julho de 1753, dia da
Visitação de Santa Isabel.
Entretanto, também Paradela é citada
em documentos antigos. Assim:
No século X, Gonçalo Viegas, filho
de Egas Erotis, por alcunha o Iala, herdou de seu pai terras que se
estendiam desde Sever à Bairrada, mencionando-se entre elas, Cedrim
e Paradela. Egas Erotis, inimigo figadal de FroiIa Gonçalves, foi
obrigado a refugiar-se no território situado entre Douro e Minho,
quando este, a soldo dos árabes, dominava a região.
No inventário dos bens de D. Gonçalo
e D. Flâmula, datado de 1050, são mencionadas no documento várias «villas»,
todas referidas ao Vouga (in riba uauga) e entre elas «Cedarim e
Paratela.
Também em documento medieval
existente na Torre do Tombo, um indivíduo de nome Múmio Ferreiro
compromete-se, perante o bispo de Coimbra e enquanto for vivo, a
agricultar-lhe as terras sob o seu senhorio, que possivelmente lhe
foram confiscadas, para reparação de violências ou crimes cometidos
nas villas de Sever e Paradela.
D. Sancho I fez doação de Paradela,
por carta e foro de montaria, a Pedro Eitaz, que mais tarde, já na
primeira metade do século XIII, veio a pertencer a D. Vasco Gil e
sua mulher D. Froilhe Fernandes, a qual veio a ser a única herdeira
destes bens e honras no ano de 1277, por morte de seu filho D. Gil
Vasques.
Pessegueiro – No
documento datado de 950 pelo qual D. Soeiro e D. Goldregodo cedem
bens ao abade Jacob, incluindo o mosteiro, situados na vila de Sever
(então Sevéri), consignava-se que eles partiam com as «villas de S.
Martinho e Paçô, ao sul...»
Paredes, Nogueira e Sóligo, actuais
lugares da freguesia, citam-se em documentos firmados nos séculos X
e XI. A «villa» de Sóligo, por exemplo (então Solago), era metade de
fidalgos e metade do rei, vindo D. Sancho I a doá-la por carta e
foro de montaria a Gonçalo Eitaz, por serviços prestados, e os
monteiros eram tão privilegiados como os ditos fidalgos, pois uns e
outros àparte os respectivos foros de cavalaria e montaria só davam
a «vida» ao mordomo e a galinha do «souto», ou pelos soutos, por
ano, além do serviço na «hoste-e-anúduva».
Em 1023 S. Martinho aparece também
indicado como termo de Sever, num documento de venda de terras
efectuado por um Citello iben Alazade e sua mulher, para resgate de
seus filhos, prisioneiros de mouros.
É de supor que a paróquia de S.
Martinho de Sever existia já nos meados do século XIII,
compreendendo nessa altura as actuais freguesias de Pessegueiro,
Paradela e até talvez Talhadas, surgindo-nos, no final do mencionado
século, sob a designação de Santa Maria de Pessegueiros, a qual,
segundo referem as Inquirições mandadas fazer por D. Dinis, andava
«por honra com toda a aldeia.»
Anos antes, ainda no reinado de D.
Afonso II, muitas destas terras passaram à posse, por escambo
(troca), de D. Fernão Anes (dito «Cheira» segundo os nobiliários
medievais e «de Cambra» segundo as Inquirições), e que eram do
mosteiro de S. Cruz de Coimbra.
Quando a paróquia se designava por
S. Martinho de Sever, nos meados do século XIII, metade da igreja
pertencia ao padroado da coroa, e a outra metade ao Juiz de Sever
João Afonso, descendente de D. Maria Garcia. Interpelado pelos
inquiridores de D. Afonso III declarou este juiz que «de todos estes
herdamentos dos cavaleiros fidalgos, no termo de Sever, deve dar-se
ao rei, de cada, uma galinha de souto e dez ovos, se a galinha não
puser ovos, e se puser ovos, deve dar-se com a galinha cinco ovos, a
«vida» ao mordomo (dar comida) e a «portagem»; e ainda «que de todas
as lampreias que se matarem no Vouga... dá-se ao rei a terça parte e
a «primitiva»; e se se matarem sáveis em caneiro, dá-se ao rei a
terça parte das sáveis e a «primitiva».
/ 14 /
Nogueira foi cabeça de concelho, o
qual nessa altura confrontava com os do Préstimo, Lafões, Esteves e
Cambra. Refere Batista de Lima na sua obra «Terras Portuguesas» que,
segundo o Cadastro da Beira do ano de 1527, o concelho de Sever
tinha 213 moradores, sendo 9 no lugar de Nogueira, que era cabeça
dele...
A existência ali perto de locais
designados por Cabeço da Forca e Fundo de Vila é argumento que se
não deve desprezar, atestando, sem dúvida, a importância que a
povoação teve em épocas afastadas.
Na verdade possuiu também a
categoria de Vila, como no-lo atestam vários documentos citados nos
Livros de Visitas da freguesia. Assim: no Livro do Tombo, páginas
26, com data de 23 de Março de 1723, ao fazer-se a delimitação de
determinado «prazo», menciona-se entre outros bens haver «um
pardieiro velho da parte de fora das casas em que vive, que vai até
a estrada que vem da vila de Nogueira para esta igreja...».
No livro I das Visitas, páginas 144,
com data de 24 de Outubro de 1749, afirma-se: «Somos informados que,
de não haver regos para se encaminharem as águas nas ruas da vila de
Nogueira, do lugar de Cogulo...» Em 10 de Dezembro de 1760, a
páginas 180 do mesmo Livro, cita-se ainda a propósito da mesma água
que se achava «por satisfazer o que se determinou na visita de 1753,
a respeito das águas que vão da serra da Medinha de Nogueira para a
mesma Vila».
Na memória paroquial de 12 de Abril
de 1758, informa o cura Jeronymo Roiz que Nogueira fora Vila e ainda
era designada como tal; que existia uma forca antiga, situada ao
norte de Pessegueiro, em um outeiro agudo e levantado, chamado
vulgarmente a Forquinha, a qual era formada por duas pirâmides de
pedra, ou melhor, de dois balaústres de pedra; que junto à capela da
Snr.ª do Rosário se acham ainda o Pelourinho e os alicerces da
cadeia antiga «o que tudo se passou para Sever, que hoje é ViIa».
Em quaisquer documentos anteriores a
1723 e posteriores a 1760, Nogueira jamais aparece com a designação
de vila, indicando-se apenas o nome da povoação, o que nos leva a
supor que só gozou dessa prerrogativa no espaço de tempo que mediou
entre os mencionados anos.
Supõe-se também que a antiga igreja
matriz da freguesia se situava no âmbito da dita vila de Nogueira.
Próximo da capela da Snr.ª do Rosário ainda existe a chamada fonte
dos carris, onde em tempos passados se ia buscar água para certos
actos do culto. Tal facto pode deduzir-se do documento registado no
Livro do Tombo, página 104, que relata ser de tradição para
«baptizados, comunhõis e mais admenistraçõis de Sacramentos, por ser
costume antiquissimo hirse procurar para semelhantes officios a sua
antigua fonte chamada à dos Carris, sitio em q. antigamt.e
esteve a m.ª Igr.ª»
Ainda segundo a Memória de 1758,
foram donatários destas terras os condes de Penaguião e na data em
que foi feita era já donatária a senhora Duquesa de Abrantes. No
mesmo documento lê-se ainda que «entre o lugar ou vila de Nogueira e
o rio Vouga, se acham umas antiguidades de uns passos, que foram dos
condes de Penaguião que hoje se chama o Paço do Marquês de Abrantes
e Fontes, onde estava um castelo ou casa forte, que há pouco se
demoliu para se edificar um celeiro onde se acham e ajuntam as
rendas dos sobreditos senhores.»
Rocas –- Embora esteja
também comprovada a sua antiguidade, escassos são os documentos
históricos, como de resto em relação a todo o concelho.
Segundo nos relata a Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, a toponímia da freguesia é
mais que milenária, especialmente Irigo, que terá derivado do nome
pessoal de origem germânica Ariaricus, indivíduo possuidor de
propriedade local.
Antes do século XI aqui fundaram um
mosteiro o presbítero Godesteu e os diáconos Sandino e Guandino, que
eram irmãos. Em 1034 os presbíteros Froila e Vermudo fazem perante o
abade da Vacariça, Tudeildo, um «prazo» de habitação do mosteiro de
Rocas, que é confirmado por Sandino Gonçalves, talvez filho de D.
Gonçalo Viegas e de D. Châmoa Onorigues, da estirpe de D. Soeiro
Gondesindes. Em 1002, tendo já falecido o presbítero Godesteu, os
irmãos diáconos, confessando-se fundadores do dito mosteiro, doam-no
ao da Vacariça.
Em 1180 surge a célebre demanda
entre o bispo D. João, da Sé Viseense, e os herdeiros da «villa» de
Rocas. O conflito ficou solucionado com a intervenção do nosso
primeiro rei, que por sentença adjudicou à referida Sé seis casais e
outros tantos ao mosteiro de Sever e a outras pessoas (heredes).
Os intervenientes nesta divisão
foram: pela Sé, frei Afonso, monge do mosteiro de Silva Escura, e
frei Soeiro, monge do mosteiro de Santiago de Sever; pela outra
parte, Salvador Peres, Pedro Vermudes, Gonçalo Mendes e Nuno Gomes,
pessoas de influência na região, sendo este último mandante de Sever
pelo rei, filho de D. Gomes Mendes «Guedeão» e de D. Maior Pais «da
Corveira», e que veio parar a Sever pelo seu casamento com D. Maria
Álvares, sobrinha do Bispo do Porto, D. Pedro Rabaldes.
Esta mais uma razão que nos leva a
apontar que o referido prelado teve por berço esta terra de Sever.
A paróquia de S. João de Rocas
nasceu do século XII para o século XIII. Segundo as Inquirições de
1258, metade da igreja era reguenga (do rei) e a outra metade de
Pedro Vicente, que interveio largamente
/ 15 / nessas devassas. O
próprio monarca possuía ainda quatro casais «de villa ad sursum» (da
vila para cima), recebendo metade dos frutos e dos foros.
Pedro Vicente declarou aos
inquiridores que na villa de Rocas existia igreja de longo tempo, e
dela fora metade do rei e a outra metade era dele e daqueles que
descenderam da sua avoenga; e segundo ouvira a seus avós e a seu
pai, essa igreja tivera paróquia sobre si e «prelado», mas foi
empobrecendo e decaindo de tal modo que ao bispo de Viseu não foi
difícil apoderar-se dela e uni-la à sua «câmara» de Santa Maria de
Sever, de que ficou sufragânea. Ajuntou ainda Pedro Vicente que ele
próprio tinha livros e cálices que haviam sido dessa igreja, do
tempo em que ela fora monástica. Até o abade de S. Martinho de
Sever, João Anes, afirmou que vira homens bons velhos dar testemunho
ao meirinho Martim Anes de que a meia igreja de Rocas era do rei.
Posteriormente ao século XIII, em
data que se não pode precisar, voltou a ser paróquia própria.
Os casais que a Sé de Viseu aqui
possuía pagavam o seguinte foro anual à coroa: cada casal, uma
galinha e dez ovos, portagem, «vida» ao mordomo de Sever,
voz-e-coima (casos de crime) e hoste-e-anúduva (serviço militar); e
por uns reguengos anexos, os casais davam o total de seis quarteiros
e sexta de pão, metade milho e metade centeio, quer cultivassem
esses reguengos, quer não.
A igreja desta freguesia foi
reedificada antes de 1748, pois data de 29 de Março desse ano a
licença para a sua bênção, não obstante não se encontrar concluído
completamente o edifício, como se deduz do pedido e informação, do
seguinte teor: «Os eleitos, o juiz da Igreja e o povo da freguesia
de S. João Batista, do lugar de Rocas, reedificaram a sua Igreja
«sem que estivesse feita a capela-mor. Pela grande consternação em
que se achava a dita freguesia por irem ouvir missa a uma capela (na
qual apenas) cabiam quinze ou vinte pessoas, ficando todo o mais
povo à inclemência do tempo, recorreram a pedir licença para se
benzer o corpo da igreja, não obstante não estar ainda a dita igreja
com a capela-mor, para com maior comodidade poderem assistir ao
santo sacrifício da missa e ofícios divinos, e com efeito se lhe
mandou passar a dita licença que com esta juntam; e porque a
capela-mor da dita igreja está acabada e perfeita e eles suplicantes
não têm aonde comodamente possam armar o Sepulcro para a Semana
Santa senão na dita capela-mor, onde se pode estar com decência, e
requerendo eles ao seu Abade benzesse a dita Capela, por virtude da
dita licença já concedida, e ele o não quer fazer sem novo
despacho...», pediam licença para a bênção da Capela-mor. Informação
do cura João da Silva: – «A Capela-mor de que se trata na petição
está acabada e decentemente ornada para nela se poder celebrar missa
e ofícios divinos, esta foi feita a fundamentis para poder condizer
com o corpo da igreja, também o mais alegado na petição é verdade
que pela grande necessidade que o povo desta freguesia tinha de que
se benzesse só o corpo da igreja para nele poderem dizer missa com
comodidade, pois enquanto duraram as principais obras estava o
sacrário e se diziam as missas conventuais em uma capela da
freguesia de S. Miguel do Portelo, em a qual cabiam muito poucas
pessoas, e todo o restante da freguesia que é muito populosa estavam
experimentando as inclemências do tempo, e por este motivo se
recorreu a pedir licença para se benzer o corpo da igreja, sem
embargo de não estar finda a capelão-mor...».
Segundo a memória paroquial de 1753,
a freguesia pertencia ao bispado de Viseu, comarca de Esgueira,
sendo termo de Sever, cabeça de concelho. Era donatária da terra a
Duquesa camareira-mor.
Silva Escura – Este
topónimo deriva do latim silva, designando um local coberto por
sombria e cerrada selva, ao tempo do seu povoamento, que se
considera também mais que milenário. Na verdade, no documento de
doação de bens feito por D. Gondesindo Soares ao mosteiro, em 964,
exara-se como ponto de referência para efeitos de confrontações: «et
dividet hec villa... cum villa de Silva Scura».
Surge no primeiro período da
monarquia, pelo menos em grande parte, como propriedade dos grandes
senhores de Sever, fundadores de mosteiros em alguns locais, como se
aludiu já. Referimos também que para a solução da célebre questão da
villa de Rocas, ocorrida em 1180 com a sé viseense, um dos «partitores»
dos bens foi um monge do mosteiro de Silva Escura, «AIfonsus
monachus de Silva Scura», como rezam os documentos dessa época.
Dada a falta de documentação é de
supor que este mosteiro fosse apenas um simples eremitério, talvez
até a origem da paróquia de Sancti Johannio de Silva Scura, assim
referida nas Inquirições de 1258, mais tarde tornada simples igreja
secular.
Nas referidas Inquirições citam-se
como fazendo parte da paróquia, as seguintes «villas»: Boialva (Boialvo),
onde a coroa possuía três casais, pagando a oitava de frutos e os
foros: casos crimes, serviço militar, etc.; Spieyro (Espinheiro,
derivado do latim Spinariu), onde havia dois casais reguengos que
pagavam por ano a quarta de pão, do vinho e do linho; Felgares (do
latim filicales), onde o rei tinha um casal, dando a oitava do pão,
do vinho e do milho; Presas, onde a coroa possuía três casais,
tributários da sexta parte «et suos foros»; Remessal (Romezal), um
casal), dando a quarta e «suas directuras»; Silva Scura, cinco
casais, dando a quarta de pão, do vinho e do linho; Vila Fria,
/ 16 / com paço destinado a
pouso real, três casais. Cavaleiros-fidalgos e mosteiros aqui
possuíam a parte restante das terras: a sé do Porto dois casais no
Romessal, doados talvez por D. Pedro Rabaldes, no século XII; o
mosteiro de Santiago de Sever também possuía um neste lugar e a
própria igreja de Silva Escura, dois em Vila Fria; a Ordem do
Hospital um (este fazendo à coroa o «foro de galinha e ovos de
souto» e pagando portagem); e várias herdades ou casais de fidalgos
indiscriminados, todos eles pagando também o seu foro.
De notar que nas Inquirições de D.
Dinis efectuadas no ano de 1282, se refere Silva Escura como
«aldeia», enquanto que as anteriores, feitas ao tempo do seu
antecessor, designam a terra como «vila», indicando aquelas que o
rei aqui possuía quatro casais, e estas, cinco. Em documento
encontrado no mosteiro de Grijó pode ler-se: «Disserom que na aldeia
de Silva Scura ha el-rey quatro casaes e devem a dar per Paschoa
dous queijos com senhas, fazeduras de manteiga, e com cinco ovos e
senhas feixes de lenha para a fogueira.»
No ponto de vista eclesiástico, a
história da freguesia também apresenta curiosidades. A paróquia deve
ter nascido desse modesto cenóbio, referindo as Inquirições de 1258
o seguinte: «João Afonso, Juiz de Sever, jurado e interrogado sobre
o padroado e a igreja de S. João de Silva Escura, disse que a Igreja
de Silva Escura foi do rei e fora edificada na própria herdade real,
e ajuntou que viu Afonso Gonçalves de Maçada e Afonso Gonçalves de
Paçô, e João Esteves, juiz da Feira, e Pedro Guterres, tabelião de
el-rei da terra de Santa Maria, fazer inquirições sobre esta Igreja
por mandado de el-rei, e encontraram por inquirição de homens-bons
que a Igreja de Silva Escura foi do rei e teve toda a paróquia sobre
si; e Gonçalo Viegas, dito Marranco, cavaleiro-fidalgo, fez a
presente Igreja de S. João na sua herdade, por isso que o prelado da
igreja do rei não quis atender a esse Gonçalo Viegas para missa e
para jantar; e depois o dito Gonçalo Viegas foi-se a el-rei D.
Sancho (D. Sancho I) e combinou com ele que dessa igreja que Gonçalo
Viegas havia feito se desse ao prestameiro que tivesse do rei a
terra de Sever, por três vezes no ano, dois alqueires de cevada e
dois alqueires de boroa e uma galinha e meio alqueire de pão de
trigo e meio alqueire de vinho, e o prestameiro devia comer isto no
paço do rei; e que, se por acaso sucedesse passar o rei por terra de
Sever, devia fazer-se-lhe dessa igreja como a senhor (dela); e
acrescentou esse jurado que esta igreja foi então erecta» (do século
XII para o séc. XIII).
Da leitura deste trecho poderá
deduzir-se o seguinte: não referindo claramente que esta primeira
igreja fosse dedicada a S. João Batista, não restam dúvidas de que a
alusão é feita à antiquíssima ermida de Santa Maria, hoje capela de
Nossa Senhora da Graça, construída para o serviço paroquial dos dias
santificados; também não faz qualquer referência ao mosteiro, que
ainda meio século antes existia no cimo da serra, e dado tratar-se
de um «eremitério», tudo leva a crer na sua passagem a igreja
paroquial, que a tradição conservou como primeira matriz e sobre a
qual o dito D. Gonçalo Viegas se arrogava direitos de padroeiro; de
acordo com o soberano, o cavaleiro-fidalgo fez substituir a antiga
paroquial por nova igreja construída na sua herdade, razão por que o
padroado de S. João de Silva Escura persistiu na posse de
particulares, os condes de Penaguião (marqueses de Fontes) e, depois
destes, os seus herdeiros marqueses de Abrantes.
Dada a sua vetustez e ruína,
procedeu o abade de Silva Escura, Melchior Brito e Robles, à sua
reconstrução, desde os alicerces, no ano de 1662, conforme se lê na
inscrição existente ao lado da epístola da capela da Senhora da
Graça. Em 1837, em cumprimento de disposição testamentária do abade
João Cipriano d'Assis e Morais, os seus herdeiros procederam a nova
alteração da capela, que foi alteada com o fim de ali colocarem uma
imagem de Cristo com cruz e peanha de pau santo, obra do célebre
escultor Dias, que o abade lhe doou com mais alguns bens. Jaz
sepultado no interior dessa capela.
E quanto à igreja paroquial? Não
restam também dúvidas quanto à sua reconstrução, maior ou menor, por
volta de 1765. Os mordomos das confrarias de Nossa Senhora do
Rosário e do Santíssimo Nome de Jesus requereram licenças para
procederem à colocação de novos retábulos na igreja paroquial, por
terem sido demolidos os antigos. O abade da freguesia, José Leandro
de Sousa Valadares, informou que os altares estavam completamente
acabados «com toda a decência precisa para neles celebrar o santo
sacrifício da missa...». Em 16 de Março desse ano foi concedida
licença para a bênção.
Talhadas – No cadastro da
população do Reino de 1527, a povoação é citada como Pedras Talhadas
e bem assim no ano de 1689 (Prontuário, de Meireles). Tal designação
provém de dois monólitos gigantes ali existentes, pelo meio dos
quais passa a actual E. N. 333 e passou outrora a estrada militar
romana que, de Viseu, por Benfeitas e Talhadas, vinha entroncar na
de Aemínio a Cale, possivelmente junto ao Marnel.
Os dois enormes blocos são metades
de um todo que, rolando encosta abaixo, se cindiu em partes iguais e
vieram postar-se a alguns metros de distância. Há uma lenda que
afirma que o penedo se partiu quando do terramoto sucedido por
ocasião da morte de Cristo, facto que o Padre João Crisóstomo da
Veiga perfilha na sua obra – História Universal Sagrada e Profana,
Política e Eclesiástica, 1875).
/ 17 /
O povoamento da terra pode
considerar-se muito anterior ao século XII, por povos até
pré-históricos, dada a sua situação que permitia fácil guarida e
defesa e ainda pelo aparecimento de achados que bem denotam essa
estada. Para aqui se prolongava o termo das vilas rústicas de
Ceterini e Ideie (Ribeiradio, de certo medo), e ter sido pertença,
certamente, dos grandes fidalgos senhores de Sever e próceres das
terras de Riba Vouga – D. Soeiro Gondesindes e toda a sua
descendência.
De salientar que primitivamente se
denominou freguesia de Doninhas, onde existiu a primeira igreja. O
documento mais antigo que se encontra no arquivo da freguesia de
Talhadas data de 1674, o qual refere Doninhas como cabeça da
paróquia, e já tinha, como hoje, S. Mamede como orago ou padroeiro.
1686 é o ano em que se inicia a
magna questão da situação da sua nova igreja, que abre luta entre a
população de várias localidades, vindo mais tarde a fixar-se
definitivamente no «sítio das Vessadas das Talhadas». Em 1700,
assente o local, abrem-se os alicerces. Em 1705 o visitador vem a
Doninhas, mas jamais aparece qualquer documento paroquial citando
esta povoação como freguesia.
Curioso salientar que aqui existiu
um hospital, administrado por D. João de Melo e Abreu da Boavista,
onde se dava cama e lume aos passageiros pobres. Assim o informava o
prior da freguesia, Amaro Duarte Cardoso, em 11 de Maio de 1721, a
um interrogatório do Cabido de Coimbra, que assim terminava essa
informação: «...nem sei, em q anno foi fundado, nem por quem».
Esta freguesia foi do padroado real
e o prior, ainda no século XVIII, tinha uma renda anual de 400 mil
réis.
Talhadas pertenceu ao extinto
concelho do Préstimo. Foi incorporada no de Sever até 1895, data em
que este foi suprimido, pelo que a freguesia foi anexada ao de
Águeda até 13 de Janeiro de 1898, voltando novamente ao de Sever.
Fez parte do julgado do Vouga até 31 de Dezembro de 1853.
Eclesiasticamente, a partir da
segunda metade do século XII e durante vários séculos, fez parte do
Arcediago do Vouga, bispado de Coimbra.
Não se sabe a data exacta da
constituição do concelho de Sever. D. Manuel I deu-lhe foral em 29
de Abril de 1514. O Cadastro da População do Reino (1527) já se lhe
refere, indicando que possuía então 213 moradores, dos quais 9 em
Nogueira, então cabeça de concelho. O seu termo estendia-se por meia
légua em comprimento por outra em largura, e confrontava com os de
Figueiredo e Vouga, da correição da Estremadura, e com os do
Préstimo, Lafões, Esteves e Cambra. Quando da criação da comarca de
Esgueira, no século XVI (1533), constituída por 31 vilas, 10
concelhos e um couto, incluiu-se entre os concelhos que a formavam o
de Sever.
Em 1708 ainda permanece dentro da
referida comarca, surgindo em 1832 integrado na de Estarreja e
/ 18 / quatro anos depois na
de Águeda. Por decreto de 21 de Novembro de 1895 foi suprimido, pelo
que as suas freguesias passaram para o de Albergaria-a-Velha, à
excepção da de Talhadas incorporada no de Águeda. Poucos anos
depois, por decreto de 13 de Janeiro de 1898 é restaurado com todas
as freguesias que lhe pertenciam à data da extinção.
III
Ao falar-se de mosteiros poderá
supor-se, erradamente, que eles possuíram desde logo a grandeza que
mais tarde lhe conhecemos, marcando um estilo ou uma época. Pelo
contrário. Quase todos nasceram da iniciativa de particulares, e
melhor lhes cabia a designação de ermidas, onde habitavam poucos
monges ou até um só.
Para explicar tão grande número
dizia Viterbo: «Um eremitão, mesmo embrenhado na serra, ou só, ou
acompanhado com algum ou alguns poucos companheiros, era o que
bastava para que se desse o nome de mosteiros à sua brusca e
tenebrosa cova, em que o desprezo do mundo reluzia e a comodidade
própria se não buscava.» Escreveu também António Caetano do Amaral:
«É certo que muitos desses mosteiros mal mereciam esse nome e melhor
lhes quadraria o de capelas ou ermidas, segundo a sua origem e
destino.» A comprová-lo está o documento datado de 1019, já
referenciado, onde claramente se dizia que ele era: um pequeno
templo e uma casa de habitação para duas ou três pessoas.
Os mosteiros de Sever, em número de
cinco, enquadravam-se perfeitamente dentro do âmbito referido e não
fugiam às regras enunciadas.
O padre Miguel de Oliveira, no seu
livro» «As Paróquias Rurais», dá-nos conta da existência de quatro
mosteiros no concelho, a saber: o de Cedrim, cuja invocação se
desconhece; o de Rocas, dedicado a S. Salvador; e dois em Sever,
tendo um como padroeiros, Santo André e S. Cristóvão, e o outro, S.
Tiago. Todavia, como dissemos na altura própria, outro houve em
Silva Escura, no Cimo da serra, talvez da invocação de S. João, e
que teve o destino que já se referiu. Quanto ao de Cedrim já vimos
que os seus monges eram beneditinos e foi doado, em 1050, por D.
Gonçalo Mendes ao de Pedroso.
Falemos agora um pouco dos de Sever
e Rocas.
O Conde Hermenegildo, mordomo do rei
de Leão Afonso III, conquistou Coimbra aos árabes em 879, povoando-a
de cristãos. Casado com Ermezinda, dela houve quatro filhos:
Enderquina Pala, Arias, que foi conde de Coimbra, Guterre e Aldonça.
Enderquina casou, por sua vez, com D. Gondesindo Eres, ficando a
possuir muitas terras que se estendiam desde o Douro ao Vouga, e,
deste casamento, nasceram Soeiro, Ermezinda, Adozinda e Froilo.
Soeiro consorciou-se com Goldregodo
e fundaram, nos fins do século IX, um mosteiro em Sever que dotaram
com todos os bens que aqui possuíam, ficando, portanto, este cenóbio
de posse de vultosos rendimentos. Confiaram-no ao abade Jacob, que
morreu sem descendência – virtude rara nos abades daquele tempo. O
mosteiro, abandonado e arruinado durante muitos anos, foi confiado
em 964 aos cuidados do diácono Sandino e do presbítero Godesteu, ao
tempo em que os árabes, devastando a região, obrigaram os senhores a
fugirem para terras de além-Douro. Entretanto, falecido Godesteu, o
diácono Sandino compelido por Froila Gonçalves, renegado ao serviço
de Almançor, vende-lhe o mosteiro em 1005, ilegalmente, não obstante
existirem legítimos possuidores.
Este Froila Gonçalves, apesar de
tudo, não renegou a sua fé. Provam-no as doações feitas ao mosteiro
da Vacariça de todas as herdades e vilas que tinha desde o monte «Zebrario
usque in uauga». Receando contudo que estas doações não viessem a
ser respeitadas, encarregou sua prima, a condessa D. Toda, viúva do
Conde Mendo Gonçalves, sogra de Afonso V, rei de Leão, de confirmar
a doação, o que fez em 1018.
No entanto os filhos de Fernando
Sandiniz, Nuno Fernandes e Sandino Fernandes, legítimos herdeiros do
mosteiro de Sever de que Froila se havia apossado, reclamam e fazem
valer os seus direitos, de tal sorte que lhes são reconhecidos,
recebendo de Mem Lucídio todos os documentos que de novo lhes
restituem a posse dos bens usurpados.
São estes irmãos que em 1037 fazem,
por sua vez, doação ao mencionado mosteiro da Vacariça dos referidos
bens, conservados até 1094 data em que o Conde D. Henrique deu este
convento ao bispo de Coimbra, D. Crescónio. Os bispos que se
seguiram desmembraram o seu rico património.
Já em 1002, o diácono Sandino,
alegando ser fundador com seu irmão Godesteu do mosteiro de Rocas,
doara-o com suas pertenças, alfaias e paramentos, ao da Vacariça, na
pessoa do abade Andérias, com a confirmação do abade Benjamim, do
mosteiro de Lorvão. Devia pois ser habitado por monges beneditinos.
Tais mosteiros deram origem às
actuais freguesias de Sever e Rocas, que hoje ainda conservam os
seus antigos limites.
Em 1135, porém, o abade João Cirita,
fundou ele próprio um mosteiro em Sever, da invocação de S. Tiago,
para eremitas. Este abade era natural de Alafões e bastante
conhecido, ao que parece, por sua notória virtude. E tão conhecida
era que o abade Claraval
/ 19 / (França) lhe enviou
uma carta e oito monges, guiados por Boemundo, recomendando-lhe que
construísse um mosteiro em Tarouca, o que fez no ano de 1140.
Por razões que se desconhecem, este
mosteiro de S. Tiago uniu-se ao de Tarouca, em 1141, com todas as
suas dependências, adoptando os seus monges a regra beneditina. Em
Novembro do mesmo ano a igreja foi coutada por D. Afonso Henriques.
Desconhecem-se os locais exactos
onde tais mosteiros foram erectos. Todavia supõe-se que um deles
terá sido no local onde se situa a actual igreja, por ser de
tradição que a povoação de Sever era ali nos seus primórdios. O
outro terá existido no lugar da Póvoa, de acordo com certos
vestígios lá encontrados, há alguns anos atrás, por alguém que a
isso se dedicou.
Exemplar de um monólito em Talhadas.
IV
O morgadio de Sever – Os
morgados tiveram a sua origem no cometimento defeitos valorosos,
sobretudo militares, e ainda em reconhecidos merecimentos pessoais.
Resultava daqui que lhes eram feitas doações ou concessões de
privilégios importantes, com vínculo, passando para a posse do
herdeiro primogénito, não podendo transmitir-se a outros.
Reinava D. Luís I quando, em 1863,
foi decretada a abolição dos morgados, acabando com essas doações ou
concessões pelo que se iniciou desde logo o processo de liquidação e
remissão dos foros. Daqui resultou que, embora lenta mas
gradualmente, esses bens territoriais da nobreza foram passando para
a posse dos proprietários rurais.
Sever do Vouga também teve o seu
morgadio, cujos senhores foram recebendo os rendimentos até à sua
integral liquidação. Esse morgadio, que tinha uma parte em Sever do
Vouga, outra no concelho de Lafões e o restante no de Castelo de
Paiva, compreendia: Pessegueiro, Ribeiradio, Rocas, Talhadas, Cedrim,
Silva Escura, etc., recebia dos moradores: em dinheiro – 28$630;
trigo – 32 alqueires e 1/8; centeio – 166 alqueires e 3/8; milho
–166 alqueires e 3/8; milho alvo – 2 alqueires e 1/2; milho meado
–163 e 1/8; cevada – 9 alqueires; galinhas – 85; frangos – 24; vinho
– 31 almudes e 11/12; ovos – 20; manteiga – 16 quartilhos; palha
paúnça – 55 dúzias; mãos de linho – 20 e 1/2; capões – 5 e lampreias
– 1.
Foram senhores deste morgadio:
1.º – D. Francisco de Sá e Menezes.
Era filho de D. João Rodrigues de Sá e Menezes, 1.º conde de
Penaguião, Alcaide-mor e capitão-mor da cidade do Porto, e
camareiro-mor dos reis Filipe I e II. Casou com D. Isabel de
Mendonça, filha de D. João de Almeida – Alcaide-mor de Abrantes,
neta de D. António de Almeida – Alcaide-mor de Abrantes, bisneta de
D. Lopo de Almeida, 3.º conde de Abrantes. O dito D. Francisco de Sá
e Menezes casou a 21 de Agosto de 1617 com
/ 20 / D. Joana de Castro,
falecida a 3 de Setembro de 1624, dama do palácio da Rainha de
Espanha – D. Margarida de Áustria.
2.º – D. João Rodrigues de Sá e
Menezes. Era filho do anterior e casou com D. Maria Luísa de Faro,
filha de D. Luís de Ataíde e da condessa D. Filipa de Vilhena.
3.º – D. Francisco de Sá e Menezes.
Filho do anterior, foi o 1.º Marquês de Fontes por mercê de D. João
IV, em 2 de Janeiro de 1659. Casou com D. Joana Luísa de Lencastre,
viúva de D. Rui Teles de Menezes e Castro.
4.º – D. João Rodrigues de Sá e
Menezes. Filho do antecedente a quem sucedeu no título e honras.
Esteve para casar com D. Isabel de Lorena, que depois foi mulher de
seu irmão que se segue.
5.º – D. Rodrigo Eanes de Sá e
Menezes. Foi o 3.º marquês de Fontes, cujo título mudou para o de
marquês de Abrantes, que lhe foi dado por D. João V, com o
tratamento de Sobrinho.
6.º – D. João Maria da Piedade. Este
era filho do anterior e 8.º conde de Penaguião e, portanto, seu
sucessor no título de marquês de Abrantes. Foi também agraciado por
D. João V com o título de Marquês de Fontes.
7.º - D. José Maria da Piedade e
Lencastre. Foi o último marquês de Abrantes, e seu único e universal
herdeiro seu filho que segue. Faleceu em 1872.
8.º – D. João de Lencastre e Távora.
Nasceu em 1864. Casou com D. Maria Carlota de Sá e Menezes, filha da
marquesa de Oldoini e faleceu a 18 de Dezembro de 1917. Depois da
morte do último marquês de Abrantes, começaram a ser liquidados e a
ser remidos os foros deste morgadio.
Casa da Fonte – Esta
casa, hoje completamente arruinada e que ainda se pode ver no lugar
de Couto de Baixo, da freguesia de Couto de Esteves, foi de Manuel
Coutinho, casado com D. Maria Cardosa, filha de Diogo de Andrade
Cardoso, neta de Fernão Tavares da Fonseca, que serviu el-rei em
África e viveu em Fontes Chãs, na era de 1580. Descendia da Casa
chamada do Cardoso, em S. Martinho de Mouros, e era bisneta de
Martim Tavares da Fonseca, da Quinta e Casa do Barral, de Oliveira
de Azeméis.
Tiveram Bernardo Coutinho Cardoso,
capitão-mor de Sever e Couto de Esteves, casado com D. Isabel
Martins. Deste casamento nasceu D. Francisca Bernarda Coutinho
Cardoso, que veio a casar com Jacinto Quadros Teixeira, de Arouca, e
tiveram D. Antónia Luísa de Quadros, que casou com seu primo em 5.º
grau Francisco Tavares da Silva, capitão-mor da vila de Couto de
Esteves, Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo, Familiar do Santo
Ofício; e o Dr. Manuel Tavares da Silva Coutinho, que foi lente de
prima da Universidade de Coimbra, Deputado da Mesa da Fazenda,
Cónego Donatário da Sé de Lamego e Colegial do Real Colégio de S.
Paulo, Deputado do Santo Ofício.
Do casamento de D. Antónia com seu
primo Francisco Tavares da Silva, nasceram dois filhos e cinco
filhas. Um dos filhos, Dr. Manuel Tavares Coutinho da Silva, foi
Bispo de Portalegre (1778-1798); o outro, Francisco Tavares da Silva
Coutinho, foi lente da Universidade de Coimbra. As cinco irmãs
professaram, três em Arouca e duas no convento de Lorvão.
Francisco Tavares da Silva Coutinho
teve uma filha adoptiva, que era da Cerqueira a qual veio a casar
com o Dr. José de Sequeira Seixas Cardoso e foram os pais do último
morgado desta Casa, António Cardoso de Barros Loureiro Sequeira e
Quadros.
Nasceu no ano de 1811 e morreu a 14
de Março de 1864. Foi o presidente da Comissão Promotora da
Navegação dos Distritos de Aveiro e Viseu e grande entusiasta do
projecto de tornar navegável o Rio Vouga até alturas de S. Pedro do
Sul, que infelizmente não concretizou. Homem com bastante
ilustração, honrado e bondoso, morrendo solteiro e sem filhos, impôs
à sua herdeira a obrigação de vestir anualmente cinco pobres da
freguesia. A herdeira, sua irmã D. Maria Benedita Sequeira de
Quadros foi casada com o Dr. Alexandre Soares Gomes Feijão. Esta
senhora cumpriu sempre com o maior escrúpulo todas as obrigações que
lhe foram impostas por virtude dessa legação testamentária e
forneceu durante toda a sua vida uma sopa aos pobres que ali se
apresentavam.
Seu marido, bacharel em direito e
natural de Ribeiradio, onde exerceu por espaço de onze anos o cargo
de administrador de Oliveira de Frades, foi depois juiz do julgado
municipal de Sever do Vouga. Por carta régia possuía o Hábito de
Cavaleiro da Ordem de N. S. Jesus Cristo, por serviços de mérito
prestados. Faleceu a 6 de Janeiro de 1894. Nesse mesmo ano, a viúva
fez disposição de todos os seus bens a favor de seu sobrinho por
afinidade Dr. Alexandre Soares Gomes Feijão de Almeida Aragão,
bacharel formado em direito e natural da Quinta da Água Levada,
freguesia de S. Vicente, do concelho de Oliveira de Frades. Exerceu
o cargo de Delegado do Procurador Régio na ilha de Santa Maria, nos
Açores, e mais tarde, na Comarca de Albergaria-a-Velha. Faleceu em 8
de Fevereiro de 1903. Por sua morte seus bens passaram a seu irmão
padre Cristóvão Aragão que, por fim, testou a favor do Sr. Daniel
Martins de Bastos, ex-chefe da Secretaria da Câmara Municipal de
Sever do Vouga, casado com uma segunda prima do referido padre.
/ 21 /
O Paço da Vala – Da
autoria da padre Alfredo Júlio Soares P. Coutinho Almas, cederam-nos
um opúsculo intitulado «Figueiredos e Terras de Santa Maria» que
trata largamente da genealogia desta família.
Antes da mais é nosso desejo
informar qualquer leitor menos avisado de que não somos um
historiador nato e, valha a verdade, não perdemos tempo a estudar os
calhamaços dos Nobiliários. Quere-nos parecer, no entanto, que o
estudo publicado pelo padre Almas se encontra eivado de erros, pelo
menos no que concerne à parte que vai até aos primórdios da
nacionalidade portuguesa.
No frontispício do Solar,
reconstruído há poucos anos, pode ler-se a seguinte inscrição
gravada no granito: «Paço da Vala – Casa dos Césares – Primeira Casa
datada século III antes de Cristo – Condes de Sever 510 – Duques de
Guterre 880 – Condes das Terras de Santa Maria 1124 – Barões de
Sever 1290».
|
Desconhecemos inteiramente as fontes
onde o autor teria recolhido todo o material para uma base sólida e
firme do seu trabalho e permitimo-nos, modestamente, duvidar da sua
autenticidade. É que a construção da História tem de assentar em
documentos autênticos e iniludíveis para, a partir daí, se ajustarem
os factos, coadunando-os no espaço e no tempo.
|
Brasão da Casa
do Paço da Vala. |
Na verdade, de uma mera análise do
texto, facilmente se pode verificar a inconformidade e
inconsistência do estudo apresentado. E isto ressalta precisamente
de documentos datados do final do século IX, que nos dão conta da
existência de um ilustre varão de nome Soeiro Gondesindes, que viveu
na região e fez importante doação de terras, conforme atrás
referimos. Ora no estudo apresentado pelo padre Almas, tal
personalidade aparece-nos no início do século VI e a encabeçar a
genealogia dos Figueiredos, o que de modo algum é verosímil, a menos
que outro Soeiro Gondesindes tivesse vivido nessa época, o que não é
crível, nem há documentos que no-lo atestem. Pelo menos assim o
pensamos até que alguma prova irrefutável surja em contrário.
Entretanto, e apesar de tudo, não
fugimos à tentação de apresentar à curiosidade do leitor a
genealogia dessa Família tal como consta do mencionado opúsculo, que
com a devida vénia transcrevemos:
1.º – D. Soeiro Gondesindo, conde
Sevéri, que se fixou no território, visigodo, tendo dado o nome à
terra, em 510. Era irmão mais velho de Teodorico Il;
2.º – D. Teodósio Gondesindo, também
conde Sevéri, título que todos os descendentes usaram e que mais
tarde, no tempo de D. Afonso III, foi considerado de Juro e Herdade,
usado, portanto, por direito próprio.
3.º – D. Lucílio Gondesindo;
4.º – D. Mumio Gondesindo;
5.º – D. Lucília Martim Gondesindo;
6.º – D. Martim Afonso Gondesindo;
7.º – D. Teodósio Egas Gondesindo;
8.º – D. Gonçalo Martim Gondesindo,
que governava estas terras quando da invasão dos árabes, e que
tendo-se defendido com valentia, estes lhe propuseram a paz mediante
o pagamento de um tributo de cem donzelas ao emir de Córdava.
9.º – D. Godofredo Afonso Garcia
Gondesindo, que sustentou várias lutas com os árabes para se
libertar do pagamento desse tributo;
10.º – D. Gaesta Gondesindo Ero de
Figueiredo Ansur, que continuou essas lutas que acabaram com a
derrota dos árabes na batalha de Clariiga, no ano de 882. Foi a
partir desta batalha, que parece ter-se dado num campo de figueiras,
que foi acrescentado ao seu nome o apelido Figueiredo, determinando
que os seus descendentes não mais deixassem de o usar.
11.º – D. Ordonho Soeiro de
Figueiredo;
12.º – D. Mem de Figueiredo, duque
de Guterre;
13.º – D. Formariges Soeiro de
Figueiredo;
14.º – D. Gilberto Muniz de
Figueiredo;
15.º – D. Teodomiro Gaspar Muniz de
Figueiredo;
16.º – D. Ero Gondesindo de
Figueiredo;
17.º – D. Gurdesindo Egas Eris de
Figueiredo;
18.º – D. Mem Lucílio de Figueiredo;
19.º – D. Mumio Viegas de
Figueiredo;
20.º – D. Ermígio Viegas de
Figueiredo;
21.º – D. Mumio Ermigues Viegas de
Figueiredo;
22.º – D. Ermígio Muniz de
Figueiredo. Foi este que, juntamente com D. Afonso Henriques e
partindo do Castelo da Feira, forçou D. Teresa a uma derrota no
Campo de S. Mamede.
23.º – D. Eanes Muniz de Figueiredo.
Contribuiu para o alargamento do território, ajudando os dois
primeiros reis na luta cerrada contra os sarracenos, tomando também
parte na batalha de Navas de Tolosa.
/ 22 /
24.º – D. Fernão Rodrigues Pacheco
de Figueiredo, senhor do Couto de S. Fins, e valente alcaide-mor de
Celorico.
25.º – D. Sueiro Martim de
Figueiredo, que ajudou a conquistar definitivamente o Algarve. Foi
este fidalgo o 1.º barão de Sever, cujo baronato foi instituído no
reinado de D. Dinis, e o fundador dos morgados do Paço da Vala e de
Figueiredo, no lugar da Senhorinha.
26.º – D. Ruy Vasco Esteves Sueiro
Martim de Figueiredo. Tomou parte na batalha do Salado;
27.º – D. Semeão Pacheco de
Figueiredo;
28.º – D. Gonçalo Garcia de
Figueiredo;
29.º – D. Gonçalo Garcia de
Figueiredo, do qual descenderam três filhos, que tomaram o partido
do Mestre de Avis;
30.º – D. Ayres de Ataíde Gonçalves
de Figueiredo, que tomou parte nas guerras com Castela;
31.º – D. Gil Eanes Pacheco de
Figueiredo. Dobrou o Cabo Bojador;
32.º – D. Diogo Afonso Coutinho
Pereira de Figueiredo;
33.º – D. Duarte Pacheco Pereira de
Figueiredo, último alcaide do Castelo da Feira;
34.º – D. Vasco Esteves Lobo de
Figueiredo;
35.º – D. Simão de Figueiredo.
Bateu-se no cerco de Diu;
36.º – D. Cipriano de Figueiredo.
Com um pequeno exército salvou a praça de Mazagão. Foi Governador
dos Açores, seguindo o partido do Prior do Crato.
37.º – D. António Eanes de
Figueiredo. Defendeu os nossos domínios em terras do Oriente, e
ficou sepultado no mar em resultado de um acto de bravura;
38.º – D. Soeiro Martim de Melo de
Figueiredo Lobo e Silva. Bateu-se na índia e no Brasil;
39.º – D. Diogo Lobo de Figueiredo.
Tomou parte nas batalhas da Restauração onde se notabilizou.
40.º – D. Vasco Eanes Soares de
Figueiredo. Tomou parte com seu pai na batalha de Montijo, apenas
com 16 anos;
41.º – D. César Máximo de Figueiredo
Lobo e Silva Pacheco de Moscoso Ataíde Pereira. Tomou parte, com seu
Pai, na triunfal entrada em Madrid, em 1706;
42.º – D. César Máximo de Figueiredo
Lobo e Silva. Tomou parte na vitória da batalha de Matapan, em 1716;
43.º – D. José Manuel César Máximo
Martim de Figueiredo Lobo e Silva. Ajudou a sufocar a revolta de
Minas Gerais, com a idade de 78 anos;
44.º – D. Manuel José César Máximo
de Figueiredo Lobo e Silva. Tomou parte em todas as lutas durante as
invasões francesas. Partidário de D. Miguel, exilou-se no
estrangeiro;
45.º – D. José César Máximo de
Figueiredo Lobo e Silva. Partidário de D. Miguel, atingiu em 1834,
apenas com 26 anos de idade, o posto de coronel de cavalaria;
46.º – D. César Máximo de Figueiredo
Lobo e Silva.
47.º – O Dr. Silvério César Máximo
de Figueiredo Lobo e Silva, falecido há poucos anos.
(Nota: o autor do presente trabalho
dispensou-se de transcrever todos os feitos desta ilustre Casa, por
entender que os relatados chegam e sobram para a equiparar às mais
altas linhagens destes Reinos).
Em síntese, vejamos agora quais as
armas usadas nos brasões das três casas apontadas:
As dos
Barros: Em campo de
púrpura, três bandas de prata e sobre o campo nove estrelas de
outro, uma na cabeça do campo, seis no meio e duas no fim. Timbre
uma aspa de púrpura com cinco estrelas de prata.
As dos
Cardosos: Em campo de
púrpura, dois cardos verdes, floridos, com flor e raízes de prata,
entre dois leões de ouro batalhantes armados de púrpura. Timbre uma
cabeça de leão de ouro, saindo-lhe pela boca um cardo como o das
armas.
As dos
Coutinhos: Em campo de
ouro, cinco estrelas de púrpura, de cinco pontas cada uma, em aspa.
Timbre um leopardo de púrpura, com uma estrela de ouro na espádua,
armado de púrpura.
As dos
Loureiros: Escudo
esquartelado, no 1.º, de púrpura, um torreão de prata e arrimada a
ele uma escada de ouro; no 2.º e 3.º, de púrpura, cinco folhas de
figueira verdes perfiladas de ouro (que são as dos Figueiredos, com
quem os Loureiros se aliaram); o 4.º, dividido em pala, na 1.ª de
ouro, bandeira de púrpura, de duas pontas, na 2.ª, de púrpura,
bandeira de prata também de duas pontas, e ambas com ferros da sua
cor e ásteas de ouro. Elmo de aço aberto e por timbre o dos
Loureiros, que são dois braços de leão, de púrpura, em aspa, e uma
folha de figueira das armas, em cada garra, e no meio um meio corpo
de homem, tendo as mãos atadas com uma corda de ouro.
Estas armas foram assim construídas
(acrescentadas às dos Figueiredos por ordem do rei D. João III, a
favor de Luís de Loureiro, adail-mor do reino e do seu concelho). A
carta régia que mandou usar destas armas a Luís de Loureiro foi
passada a 6 de Julho de 1551.
As dos
Quadros: Escudo
esquartelado de prata e azul, de três peças em faixa e três em pala.
Timbre meio leopardo de azul nas mãos. Outros Quadros fizeram
algumas variantes nas suas armas.
As dos
Sequeiras: Em campo azul,
cinco vieiras de ouro em aspa realçada de negro. Elmo de aço aberto
e timbre quatro plumas azuis, guarnecidas de ouro, com uma das
vieiras no meio. Outros Sequeiras aumentaram
/ 23 / as suas armas, quando
se ligaram a outras famílias que as tinham.
As dos
Tavares: Em campo de
ouro, cinco estrelas de púrpura de seis pontas. Elmo de aço aberto,
e por timbre, meio cavalo de púrpura, selado, com peitoral,
cascaveis e freio de ouro.
As dos
Gomes: Em campo de
púrpura, um pelicano, ferindo com o bico o peito, e dando a seus
filhos o sangue que dele corre.
As dos
Soares: Em campo de
púrpura duas albarradas (vasos de prata) de duas asas cada uma,
cheias de açucenas da sua própria cor, abertas entre uma banda real,
de ouro. Elmo de aço aberto e por timbre uma das albarradas das
armas. Outros Soares têm por armas, em campo de púrpura, uma torre
de prata lavrada de negro. Outros do mesmo apelido, trazem por
armas, em campo de ouro tronco verde, com pontas de prata e sobre
ele um leão azul, lampassado de púrpura. Todos estes têm elmo de aço
aberto e por timbre o leão das últimas armas.
V
Infelizmente não há em Sever do
Vouga qualquer individualidade que se tivesse notabilizado nas
letras, cultivando qualquer dos estilos literários de maneira a que
o seu nome passasse à posteridade através da sua obra. Apenas temos
conhecimento da existência de um vate popular, supomos que
completamente desconhecido no concelho, mas que no seu tempo
adquiriu algum merecimento, não obstante se saber nunca ter dado ao
prelo alguma publicação.
Chamava-se Aleixo Casalinho e nasceu
em Sever do Vouga, em 16 de Março de 1770. Era filho de Armando
Casalinho, modesto proprietário, tendo revelado propensão para a
música, canto e poesia, com bastante precocidade. Estudou em
Coimbra, foi guitarrista, e dedicou alguns versos à sua terra e à
mulher que amou.
São de sua autoria as quadras que se
dão à estampa:
Eu sou vizinho do Vouga,
a minha terra é Sever.
Nela chorei no meu berço,
também lá quero morrer.
Meu coração se prendeu
à menina que eu namoro.
Tenho seus olhos nos meus
quando canto e quando choro.
Ela vive tão pertinho
da habitação de meus pais,
que pode ouvir o meu canto,
meus suspiros e meus ais.
Mas há-de um dia morar
inda mais perto de mim,
quando ficarmos unidos
num amor que não tem fim.
Esta mulher chamava-se Salomé
Pernadas Ruivo, também natural de Sever do Vouga, e pelos vistos não
amava o poeta tanto quanto ele o desejava. De facto, a instâncias de
seus pais, que nessa altura entendiam já que o amor e uma cabana
estavam fora de moda, retirou-se para Penafiel onde veio a casar com
o filho de um bom proprietário.
O estudante, ao saber que a sua
amada aceitara docilmente o despotismo do pai calculista, procurou
esquecer na embriaguez, de mistura com fadinhos e guitarradas, o
amor que dedicava a essa mulher, e cantava:
Eu me quero embriagar
p'ra cair no esquecimento,
mas eu nunca poderei
esquecê-la um só momento.
Muda e queda, Salomé permaneceu
insensível às lamúrias do seu apaixonado, feliz e satisfeita por ver
cumpridos, com o dinheiro do marido, os desejos da sua vaidade
feminina. E o pobre poeta, perante os factos consumados, largou para
Lisboa, onde casou com Sara Milhentos, já viúva e dona da pensão que
frequentava. Ali possuiu um estabelecimento conhecido por «Café
Labrego», onde eram assíduos alguns intelectuais e patriotas. Isto
passava-se nos começos do século XIX, altura em que o domínio
napoleónico imperava no País.
VI
Não sendo muito famoso o património
arqueológico ou artístico do concelho, sem constituir mesmo um
permanente regalo à contemplação dos homens, alguma coisa há todavia
que suscita a nossa atenção e merece que lhe dediquemos algumas
breves palavras, porque através desse pouco encontramos uma
manifestação da arte de civilizações passadas, de gerações mais ou
menos próximas e até da própria Natureza, que é a maior dos
artistas.
Comecemos por evocar esse majestoso
penedo denominado «Forno dos Moiros», existente a meio da encosta da
serra do Arestal, próximo da Fonte da
/ 24 / Urgeira e que muito
bons severenses até nem sabem localizar.
Monumento que atesta a passagem do
homem primitivo, foi descoberto pelo eminente arqueólogo Dr. Alberto
Souto, já falecido, que disso fez uma importante comunicação no
Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-Histórica,
em Coimbra, no ano de 1930. Disse ele:
«A pedra do Arestal é notável por
apresentar a espiral e o círculo concêntrico em várias combinações,
sinais estes que se encontram no Mediterrâneo, Galiza, Bretanha,
Irlanda, Escócia e Escandinávia. A pedra do Arestal é o monumento
mais meridional dessa arte, no ciclo das espirais e dos círculos
concêntricos e diferente de todas as outras ao sul do Douro. Deve
tratar-se, possivelmente, de um monumento ou de um santuário ao ar
livre da idade do bronze, ou do princípio da idade do ferro.»
Também o distinto arqueólogo Padre
Celso Tavares da Silva, vice-reitor do Seminário Maior de Viseu,
cujos estudos sobre arqueologia, já publicados, são bem conhecidos e
apreciados pelos profundos conhecimentos que neste campo revelam,
teve a gentileza de nos informar o seguinte:
«Estes petróglifos fazem parte
integrante da chamada «arte rupestre» do Noroeste peninsular que tem
por centro de maior densidade o território à volta das rias baixas
da Galiza e daí irradia, através de uma vasta área, cujos limites
não se encontram ainda bem determinados, dividida em três zonas,
conforme a incidência de figuras que lhes são peculiares:
zoomórficas, cruciformes e de combinações circulares. A partir do
norte, a zona das combinações circulares desce ao longo de uma larga
faixa paralela ao mar e são precisamente os penedos dos «Fornos dos
Moiros» e da «Pedra Escrita» de Serrazes (S. Pedro da Sul) que
marcam o termo da sua expansão para sul.»
De resto, encontram-se disseminados
por todo o concelho vestígios que asseguram a passagem do homem
neolítico, ou da idade dos metais. O aparecimento, aqui e além, de
objectos como machados, pedaços de mós, testos, cacos grosseiros,
instrumentos de sílex, fragmentos de cerâmica, justificam plenamente
essa opinião e representam relíquias da indústria humana dessas
remotas épocas. Seria até muita possível que se determinados locais
fossem convenientemente explorados, outros objectos do maior
interesse voltariam à luz do dia e explicariam factos até hoje
ignorados.
As serras de Talhadas e do Arestal
possuem autênticos monumentos megalíticos, que espantam o visitante,
não podendo duvidar-se que aí viveram seres humanos muitos séculos
antes de Cristo. São dólmens, mamoas, castros, citânias, castêlos e
cristelos, o que tudo serviu para criar na mente do povo as mais
fantásticas lendas, que nem os séculos conseguiram apagar.
Nas eminências construíram esses
povos os seus castêlos ou castros, como em Cedrim, sobranceiro ao
Vouga, no Espinheiro, Pena e Rocas, onde viviam, arroteando os vales
adjacentes, ou se acoitavam quando atacados; em chãs solitárias
inumavam os seus mortos, construindo dólmens ou mamoas.
São ainda do Padre Celso Tavares da
Silva as palavras que reproduzimos:
«Descendo a vertente oriental do
Arestal, a caminho do Couto de Esteves, junto à povoação do Coval,
encontra-se o «dolmen» mais importante do concelho, com a sua
imponente estrutura megalítica completa e a galeria voltada a
nascente. Este «dolmen» foi descoberto e explorado por Amorim Girão,
mas o seu espólio, contra a expectativa do investigador, revelou-se
muito escasso.»
«Passando à margem esquerda do
Vouga, assinalamos a presença de um «dolmen» a pouca mais de cento e
cinquenta metros a leste da povoação de Santo Adrião de Cedrim e já
nos limites da freguesia de Ribeiradio, ainda bastante completo,
embora sem a pedra da cobertura. Finalmente, um pouco além das
Talhadas, no chamado Chão Redondo, encontra-se outro «dolmen» que
tem a peculiaridade de apresentar em seus esteios curiosas gravuras,
descobertas há anos por ocasião das escavações aí efectuadas. O
esteio da cabeceira ostenta uma grande figura palmiforme, com linhas
obliquamente ascendentes na parte superior e descendentes na parte
inferior. Os restantes esteios mostram covinhas e linhas sinuosas. A
interpretação destas gravuras apresenta-se muita enigmática.»
Sobre o «Castêlo» de Cedrim, diz-nos
ele:
«Sabemos que estas lendas,
associadas a determinados locais, assinalam geralmente a presença de
monumentos ou vestígios arqueológicos. De facto, em tempos
remotíssimos, existiu no «Castêlo» um pequeno castro. O pedregulho
que rodeia a cabeça resultou de desmoronamento das muralhas e
permite-nos, ainda hoje, determinar a área do povoado, sem dúvida,
muita reduzida. Não se constatam superficialmente vestígios das
habitações e toda a sua feição é acentuadamente arcaizante.
Num dos penedos cimeiros,
descobrimos uma curiosa figura gravada, constituída por três
quadriláteros rectangulares, inscritos dentro uns dos outros, e
alguns sulcos abertos nos rochedos deverão ter sido também obra do
homem.
Consta-nos terem sido encontrados
casualmente no local, há relativamente pouco tempo, um pequeno vaso
de cerâmica e um machado de pedra, cujo destino
/ 25 / ignoramos. Fazemos
votos por que se não percam, pois o seu estudo poderá contribuir
para a determinação da cronologia do velho «castro», que certamente
remontará a vários séculos antes de Cristo.»
Os pelourinhos de Couto de Esteves e
de Sever do Vouga, este último transformado em chafariz, foram
classificados como imóveis de interesse público pelo Decreto-Lei n.º
23-122, de 11 de Outubro de 1933. No preâmbulo deste Decreto
frisa-se que os pelourinhos «são mais símbolos de autonomia regional
do que locais de tortura».
Tal afirmação representa, para nós,
apenas a meia verdade. Se na época contemporânea se converteu na
coluna simbólica da autonomia local, representando os privilégios e
a jurisdição própria concedidos aos antigos concelhos, não é menos
verdade que eles foram locais infamantes de torturas atrozes
infligidas a pobres vítimas, para mais ainda expostas ao escárnio
dos passantes.
Quanto ao de Sever, transformado em
chafariz e implantado junto ao posto da GNR, não se conhecendo a sua
história, supomos tratar-se daquele a que o cura Jeronymo Roiz, de
Pessegueiro, alude na «memória» de 1758, quando afirma «que tudo se
passou para Sever, que hoje é Vila».
Quanto ao do Couto, porém, algo mais
se sabe de concreto. Este instrumento de tortura não ocupa
actualmente o lugar que primitivamente lhe fora dado, o qual era
junto ao edifício que fora Paços do Concelho, agora propriedade da
Câmara Municipal. A mudança foi operada em resultado da abertura de
um caminho.
Trata-se de um rude instrumento
penal, típico da época medieval, hoje bastante danificado pela acção
corrosiva do tempo. Compõe-se de três degraus de acesso com uma base
mal definida, de secção quadrada; sobre essa base assenta uma coluna
facetada, quase cilíndrica, lisa. A rematar, um corpo granítico,
como todo o conjunto, a lembrar um capitel mal trabalhado.
Ainda há poucos anos ali existiam
outros instrumentos de tortura, para completar aquele, como um
cutelo, correntes, mordaças, embutes (para o suplício da água), e
outros objectos cuja aplicação se ignora. Cremos que alguns destes
objectos se devem encontrar na Universidade de Coimbra.
Ali próximo, no sítio de Ramilo,
existiu outrora também uma forca de pedra para suplício dos
sentenciados.
Um dos monumentos que mais
agradavelmente surpreende o visitante é o cruzeiro implantado junto
à igreja matriz de Sever do Vouga. Composto de uma só peça de
granito, mede 28 palmos de altura, coluna em forma de espiral
encimada por um grupo de anjos, sobre a qual se ergue uma cruz,
sabiamente burilada. Desconhece-se o nome do mestre que o executou.
De qualquer modo ali transparece o génio do artista que tão
habilmente transformou o granito informe num verdadeiro monumento,
que embevece quem o contempla, pela perfeição da sua execução.
Até há pouco tempo encontrava-se
ladeado por dois ciprestes, quase seculares, embelezando todo o
conjunto e apontando, como ele, o céu. Desapareceram por
determinação sádica de um arboricida e foram aquecer-lhe a casa,
certamente, nas frias noites de algum passado inverno. Eram dignos
de melhor sorte!
Outro cruzeiro que nos merece também
um olhar demorado é o que se encontra no lugar de Couto de Cima, no
largo em frente à igreja paroquial. Todo ele de granito, compõe-se
de quatro degraus, com plinto onde assenta um fuste cilíndrico que
termina por um capitel, encimado por uma cruz. Constitui um conjunto
elegante e bem trabalhado, belo monumento, embora sem o valor
arquitectónico do primeiro.
Não podemos deixar de fazer
referência à tão conhecida Ponte do Poço de Santiago notável obra de
arte de que o concelho se orgulha de possuir, levantado sobre o rio
Vouga, em local verdadeiramente paradisíaco, e sobre a qual se
arrastava, até há pouco tempo, o torturante e incendiário comboio do
Vale do Vouga.
São do Dr. António Henriques Tavares
as palavras que transcrevemos, recolhidas da sua «Dissertação de
Licenciatura em História apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra:
«Impressiona pela sua altura, de
quase 28,5 m.
«A sua construção, que se arrastou
por uns 3-4 anos, ficou concluída em 1913, conforme se depreende da
inscrição gravada na parte superior do arco sob o qual passa a E. N.
16: FM 1913.
«Estas letras – F M – serão
provavelmente as iniciais do nome de engenheiro francês F. Mercier (Ferdinand,
François, ou qualquer outro primeiro nome), que dirigiu a construção
da ponte, que é projecto do também engenheiro Sejourné, da mesma
nacionalidade.
«Há quem defenda ser esta a mais
alta ponte do País em pedra, opinião que seguimos nós também. De
quantas conhecemos nenhuma se lhe assemelha, muito menos a
superioriza.
«É uma construção indubitavelmente
arrojada, com um comprimento de 165 metros e possuindo 12 arcos. O
maior, de forma parabólica, vencendo toda a largura do rio, tem de
altura 27 metros e de vão (comprimento na base) 53 metros. O fecho
deste arco, o central, apresenta somente 90 cm de espessura.
Dos restantes 11 arcos, dois
pequenos, estão totalmente assentes sobre o arco maior e outros
dois, um em
/ 26 / cada lado, têm uma das
bases comum a cada uma do arco central.»
A cruz processional da igreja de
Rocas, verdadeira obra de arte finamente trabalhada, figurou nas
exposições distritais de 1882 e 1895. Desconhece-se a sua
proveniência oficinal, tendo sido classificada como obra do primeiro
terço do século XVII. É uma das mais nobres peças da arte religiosa
do Distrito, não se encontrando similar em colecções de Arte Sacra.
A. G. da Rocha Madahil, na Revista
«Arquivo do Distrito de Aveiro», n.º 19, de 1939, faz a seguinte
descrição:
«Construída, como é de uso nas
cruzes processionais de grande vulto, por duas partes – a lâmina
cruciforme propriamente dita, e a base cilíndrica (evolução do nó
que estilos anteriores empregavam) com prolongamento inferior
destinado a receber a vara de suporte – a cruz de Rocas mede, em
conjunto, 1,125 m. de altura por 0,43 m. de haste transversal.
«A lâmina, de 49 mm de largo, toda
burilada de ornato característico de século XVII, muito fino,
recebeu em volta, a perfilar, uma delicadíssima guirlanda do mesmo
metal, renda graciosíssima, da maior distinção e bom gosto; nas três
extremidades livres, da cruz, rematam bem, e aligeiram muito o
efeito da peça, ornatos de castela, camafeus e CC burilados, muito
usados na ourivesaria seiscentista, reflexo da decoração
arquitectónica da época.
Cristo de boa modelação, medindo 190
x 170 mm, acusando já repetidas soldagens; três cravos o aparafusam
à cruz; o resplendor, cravado, apresenta na parte anterior da cruz
uma moeda de D. Pedro V, de 1861, a segurar o cravo, restauração
provinciana que urge eliminar quanto antes.
A decoração estende-se à base,
sempre no mesmo gosto, mas atingindo aqui grande relevo;
graciosíssimo friso de meios óvulos, corre na parte superior do
cilindro; quatro robustos e grandes SS, cinzelados, donde pendem
tintinábulos, ladeiam esse corpo inferior da notável jóia, de que a
nossa gravura não consegue dar suficiente ideia, tal é a delicadeza
do trabalho de buril que por toda ela se encontra distribuído
profusamente e a notabiliza.»
Na igreja de Cedrim existe também
uma custódia de prata dourada. É um objecto de grande valor e arte,
trabalhada com toda a delicadeza que a minúcia da arte impõe, e que
figurou também em exposições distritais. Pena é que não tenha ainda
merecido também um estudo pormenorizado por parte de conhecedores
devidamente credenciados.
Finalmente, importa também dizer uma
palavra sobre esses gigantescos monólitos com que a natureza dotou
especialmente a freguesia de Talhadas. Ao olhá-los, qualquer
visitante fica perplexo, extasiado perante tamanha grandiosidade e
proliferação, alguns dos quais bem mereciam a classificação de
monumentos nacionais, preservando-os de alguns atentados de
vandalismo já ensaiados.
Muitos deles têm designações
especiais, de sabor popular ou lendário. Destacamos o Penedo dos
Cucos, do Trigo, os Dois Irmãos, a Lapa da Fazenda, o do Vinagreiro,
situados nos cabeços da Gralheira e da Rangela.
O Penedo dos Cucos tem 20 m. de
comprimento, 15 de largura e 18 de altura; o do alto da Rangela, 68
m. de circunferência (26 na dimensão norte-sul, e mais 13 na
perpendicular) e 12 de altura descoberto. A Lapa da Fazenda conta
230 palmos de circunferência, 83 do nascente ao poente e 62 de norte
a sul. O do Trigo, que se separou da Lapa da Fazenda e dela dista
poucos metros, mede 273 palmos de circunferência e 115 de altura.
Outros têm dimensões próximas
destas, incluindo os dois que se crêem terem sido um só e que,
sendo-o, se avantajavam enormemente aos outros.
Sever do Vouga, 5 de Julho de 1974.
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BIBLIOGRAFIA
Cever do Vouga
– Monografia do padre José Luciano de Figueiredo Lobo e Silva –
edição de 1903.
O Domingo Ilustrado
– Vol. l, 1897.
Memórias Paroquiais do Concelho
– 1732 e 1758.
Figueiredos e Terras de Santa
Maria - Edição do padre
Alfredo Júlio Soares P. Almas.
Livros das Visitações da
Freguesia de Talhadas.
Dicionário Chorographico de
Portugal Continental e Insular
– De Américo Costa, 28.º Vol.
Grande Enciclopédia P. e
Brasileira.
Revista «Beira Alta»
- Fascículos lI, dos Vol. XXVII e XXX.
Revista «Arquivo do Distrito de
Aveiro» – Publicação
trimestral.
Subsídios para a História da
freguesia de São Martinho do Pessegueiro do Vouga – 1682-1855
– Edição do Dr. António Henriques Tavares – Tese de licenciatura. |