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N.º 16

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1973 

Importância dos prados temporários na renovação dos sistemas de produção agrícola na Região de Aveiro

Por Eduardo A. Ramalheira (Eng.º Agr.º)

Encara-se no texto a Agricultura do distrito estritamente sob o ponto de vista da sua actividade produtiva. Procura-se perspectivar a importância que os prados temporários, em rotação com culturas anuais, deverão assumir para o aproveitamento mais eficaz das potencialidades do meio regional para a produção forrageira e exploração de bovinos e manutenção ou aumento da capacidade produtiva do solo. (1)

O presente estudo não é um manual abreviado de divulgação de praticultura (por muito prestimosa que seja esta tarefa) e o seu escopo abrange a delimitação e caracterização de problemas levantados com a introdução na Região de Aveiro de sistemas de produção agrícola com base na cultura de prados temporários (o «ley-farming» dos povos anglo-saxónicos). Enumera, por outro lado, as complexas consequências, daí resultantes, sobre a actividade e funcionamento das explorações agrícolas.

Para a sua realização fez-se apelo constante ao trato e estudo directo dos problemas, e consequentemente aos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos, passando em revista e analisando os sistemas de produção agrícola correntemente usados, havendo também necessidade de pôr em questão e examinar conceitos técnicos generalizados. Se bem que se procurasse banir do texto um tecnicismo descabido, houve sempre, e acima de tudo, a preocupação de rigor, mesmo que forçadamente tenhamos recorrido (talvez demasiado!) a análises de teor qualitativo; em alguns casos, porém, a fundamentação numérica está subjacente à matéria apresentada ou foi relegada para referenciação em notas.

A revolução forrageira, com base na praticultura, parece-nos constituir uma premente necessidade da Agricultura regional. Explanamos as razões por que assim pensamos, mais por um exame atento das linhas da força da evolução da Agricultura regional do que por minuciosos estudos económicos, visto que os existentes são quase omissos neste particular. A utilização dos prados sob a forma de pastagem (em modalidades de aproveitamento da erva em que esta técnica seja preponderante) permitirá valorizar, quer extensos plainos na Região, quer terrenos ondulados cuja topografia dificulte as mobilizações frequentes do solo e as operações mecânicas.

As dificuldades a vencer para a reconversão da Agricultura são quase intransponíveis. Os dois factores que sobremodo interessa valorizar na Região, O Trabalho, através do agricultor e empresário agrícolas, e a Terra, como património sócio-económico herdado, são afectados por condicionalismos que os limitam na sua eficácia.

Após a II Guerra Mundial a migração acelerada de mão-de-obra agrícola para outros sectores e para o estrangeiro tem conduzido não só ao desmantelamento da Sociedade Rural tradicional, como ao envelhecimento da população activa agrícola. (2)

Ao contrário, a terra tem constituído, no mesmo período, um capital relativamente imóvel, «fixado ainda dentro dos quadros institucionais da Agricultura tradicional.

Para suporte das transformações produtivas que se antevêem para a Região, é obviamente indispensável um grande reforço da experimentação regional, pois está fora de dúvida constituir a Agricultura uma actividade eminentemente experimental.

Do ponto de vista climático e de solos (com excepção dos solos não evoluídos do litoral), o território delimitado no distrito de Aveiro (que, podemos, por convenção designar, embora impropriamente, por região de Aveiro) manifesta, ao mesmo tempo, influências atlânticas e mediterrânicas, atenuando-se as primeiras progressivamente do Norte para Sul e acentuando-se as segundas. / 50 /

O distrito é, a seguir aos do Minho e Douro Litoral, aquele que evidencia no continente influências atlânticas mais profundas, bem patentes no elevado nível das quedas pluviométricas anuais (e também, em parte, no regime das chuvas, não obstante a sua estacionalidade bem marcada), nos altos valores da humidade relativa do ar (no semestre húmido, sobretudo), no andamento das temperaturas próprio de um clima temperado-marítimo (com extremas pouco contrastantes) e noutros elementos de clima.

Pelo que respeita às chuvas (aliás com flutuações anuais apreciáveis) verifica-se, pelos postos meteorológicos do distrito, que a sua queda anual média vai de aproximadamente, 800 até cerca de 2000 mm., aumentando do Sul para Norte e do litoral para o interior até à linha de alturas formada pela serra da Freita, maciço da Gralheira e serras do Caramulo e Bussaco, barreira geográfica à penetração dos ventos marítimos constituindo uma zona de condensação.

Pelas suas condições fisiográficas, o noroeste, no qual se integra o distrito de Aveiro, é uma região, de um modo geral, favorável à produção de prados e forragens de qualidade, com vocação leiteira, contrastando, neste aspecto com os distritos do Sul.

Apesar de tudo, a rega impõe-se pelo menos no período estival para compensar o deficit hídrico, nomeadamente, dos prados.

De um modo geral, a exploração de bovinos é uma actividade artesanal, não especializada, inserida nas unidades de produção tradicionais: assim, por exemplo, o número médio de vacas de leite por estábulo é inferior a dois. No aspecto global avulta a sua grande importância económica. Com efeito, o distrito detém o primado no continente quer na dimensão do efectivo leiteiro com vacas de raça holando-portuguesa, quer na produção de leite e importância da respectiva indústria transformadora sendo ainda de muito relevo a produção de carne de bovino (com base na raça holando-portuguesa e raças autóctones, mirandesa, o seu tronco marinhão, e arouquesa) e a recria de novilhas leiteiras, o que atesta existirem potencialidades ecológicas regionais para a exploração destes herbívoros.

 

Segundo o Inquérito às Explorações Agrícolas do Continente, 1968 (I. N. E) – Dados provisórios (Estimativa a 5 %) – o distrito apresentava, numa superfície de 279 970 ha., caracterizada por extremo polimorfismo geológico e geográfico, um conjunto de 69320 explorações com terra com a superfície total de 116 889 ha.

Deste total a superfície com área florestal era de 63 612 ha correspondente a 38 980 explorações agrícolas. A área com utilização agrícola e subsidiária repartia-se do seguinte modo:

 
 

áreas

N.º de explorações agrícolas correspondente às áreas indicadas

Terras aráveis ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...

47 341 ha

67 580

Terras ocupadas por culturas permanentes (*) ...

7 998 ha

14 580

Terras ocupadas por pastagens permanentes   ...

1 336 ha

6 120

Terras com superfícies florestais subsidiárias da agrícola    ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...

29 541 ha

30 300

 

Como se verifica, sob o ponto de vista agrícola avulta a enorme importância dos sistemas aráveis intensivos de utilização da terra que, praticamente dominam a actividade produtiva regional, com mais de 80 % da área de utilização agrícola ocupada com culturas arvenses anuais, que, quase em exclusivo, ocupam as terras aráveis. Por vezes a vinha é um apoio económico saliente; a sua área, porém, é ligeiramente inferior a 20 % do conjunto das terras aráveis.

Contrastando com o que se referiu, ressalta dos números a muito modesta contribuição da praticultura à actividade agrícola regional. (3)

Nos sistemas de produção tradicionais são discerníveis diversas modalidades mais representativas, encaradas sob o ponto de vista da utilização do solo e que, esquematicamente, se podem referir: (4)

 

Ao Norte do Águeda e do curso inferior do Vouga

Sistemas intensivos em que a cultura sachada chave é o milho-grão (ou, melhor, os milhos, visto que vários tipos de milho existem, em regra, em cada exploração) associada ao feijão (de que existem várias formas culturais) e, por vezes, à abóbora ocupando o solo no período primaveril-estival.

No ciclo anual os milhos alternam nas diversas courelas, ora com os ferrejos (mistura de cereais para forragem – aveia, aveão, centeio a que se junta, por vezes, o azevém – com composição ditada pelas características do solo e as conveniências do agricultor), ora com o azevém anual, nas terras de várzea, de enxugo mais tardio, e, em regra, com rega de Verão mais fácil e abundante.

Parte das várzeas com azevém são submetidas à rega de «lima» no período frio do Inverno o que eleva muito a produção de erva.

No concelho da Murtosa e freguesia de Veiros do concelho de Estarreja têm importância local pequenas / 51 / nas courelas de prados (os «pousios», como são designados), para a alimentação de bovinos, sobretudo vacas de leite turinas.

As «ramadas» de vinha, à excepção do concelho da Murtosa, estão implantadas nas extremas das courelas, delimitando-as, assumindo economicamente importância significativa na área incluída na Região demarcada dos vinhos verdes.

A batata cultiva-se em pequenas parcelas, sobretudo, para auto-consumo. Em courelas bem drenadas o centeio e a aveia para grão, são também cultivados limitadamente, seguindo-se-Ihes o milho-grão nos regos.

 

Ao Sul do Águeda e do curso superior do Vouga

O polimorfismo cultural é mais evidente nesta área. A Gafanha, no litoral dos concelhos de Ílhavo e Vagos, com solos de areia que são explorados recorrendo-se, em parte, à sub-irrigação, sobressai pelos sistemas muito intensivos de exploração: uma cultura sachada (a batata ou o milho associado ao feijão) ou duas culturas sachadas sucessivas e mesmo, mais raramente, três culturas (batata, sobretudo, seguida de couve lombarda, de milho ou de chicória para café) alternam com a ferrã (mistura de cereais forraginosos em que, por vezes, figura a cevada). Limitadamente pratica-se também a cultura de cevada ou trigo para grão, seguidos de uma cultura sachada, seja milho, seja batata. Quer na Gafanha, quer na zona interior de solos de areia que lhe é contígua a tremocilha alterna com outra cultura, em regra, o milho; nesta última zona a serradela adquire importância como cultura intercalar outono-invernal antes do milho ou de outra sachada.

Nuclearmente assentes no concelho de Aveiro, e estendendo-se para áreas limítrofes de outros concelhos, duas culturas, a batata (alternando com a ferrã) e o trigo assumem importância económica, além da sucessão anual milho com feijão X ferrã (a ferrã nas sucessões indicadas é substituída, às vezes, por nabal). A vinha em «ramada» continua a delimitar muitos campos de cultura nesta área de transição para a Bairrada.

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Nos concelhos de Anadia e Mealhada é claramente predominante a cultura da vinha em forma «baixo» da região bairradina e, acessoriamente, nos campos a sucessão anual já referida com base no milho.

No concelho de Águeda a vinha em forma «baixa» tem também relevo económico e os sistemas de produção estabelecem a transição da Bairrada para os concelhos do Norte do distrito.

Finalmente os de Oliveira do Bairro apresentam afinidades com os de Aveiro e os de Anadia e Mealhada e, quer a cultura da vinha em forma «baixa», quer a cultura arvense intensiva têm importância: além da sucessão anual com base no milho, pratica-se largamente a cultura da batata de sequeiro, como intercalar dentro das vinhas.

Pormenor de um arrelvado natural no qual se nota o vigoroso crescimento da Leguminosa de valor forrageiro, Lotus uliginosus (Vagos, 1973)

Na Região, nomeadamente na vastíssima área de terrenos «altos» e de várzea (com enxugo suficiente) em que a utilização da terra se faz de um modo intensivo ou muito intensivo, como assinalámos, a estrutura agrária continua a ser muito deficiente, (5) caracterizada pelo predomínio de pequenas unidades de produção artesanais, de acentuada divisão e dispersão parcelar. Estas unidades de produção, que assentavam na utilização de fortes doses de trabalho manual, persistem ainda em face e apesar da emigração avassaladora e da fuga irreversível da profissão agrícola em ritmo acelerado.

Deste modo verifica-se que a função económica de tais unidades produtivas se degrada progressivamente e que do seu funcionamento resulta uma rentabilidade cada vez mais precária.

Perante as condições demográficas existentes, de rarefacção de mão-de-obra na actividade agrícola, torna-se cada vez mais evidente, de uma forma tendencial, a sobre-utilização do solo em sistemas aráveis muito intensivos. / 52 /

A praticultura praticada nas suas diversas formas (nomeadamente prados temporários de rotação sujeitos a rega e eventualmente prados temporários de sequeiro) será, como mostraremos, um dos meios de revalorizar a Agricultura regional.

Paralelamente à área descrita, o património da Região detém uma outra de menor dimensão relativa, não obstante considerável, ultrapassando 10 000 ha de solos na Bacia do Curso Inferior do Vouga e que foi designada Zona Integrada de Aproveitamento Agrícola.

Esta área é formada predominantemente por solos de aluvião, férteis a muito férteis, de textura argilosa e franca (e mais raramente arenosa, em campos marginais «areados» pelas «quebradas» das cheias).

Localiza-se nos vales dos rios Vouga, Águeda, Cértoma e de inúmeras linhas de água secundárias, algumas desaguando directamente na Ria de Aveiro.

De ordinário são solos de enxugo precário no Inverno, húmidos a muito húmidos ou mesmo encharcadiços, formando brejos e pauis. Por vezes são inundáveis pelas cheias e submersos ou não por períodos variáveis. Na proximidade da Ria a invasão de água salgada das marés vivas determinou a existência de manchas importantes de «salgadiços», parte com junco e caniço ou canízio, aonde abundam plantas tolerantes da salinidade e plantas halófitas.

Além da cultura do milho associada ao feijão, seguida ou não de azevém anual, existem nela outras formas de aproveitamento, como a cultura contínua de arroz, cujo superfície tem diminuído progressivamente e que era ao terminar a Il Guerra Mundial de aproximadamente, 2 000 ha.

Uma parte apreciável desta área de vale está revestido de vegetação natural ou semi-natural, formando prados permanentes de baixa produtividade, explorados com pastoreio abusivo e contínuo (ou sobrepascigo) no período estival. A flora da cobertura vegetal, mais ou menos modificada pela incidência de factores fisiográficos, bióticos e humanos é, por vezes, muito rica em espécies de interesse (como alguns inventários florísticos parciais revelam), nem sempre, porém, com tipos de plantas de valor forrageiro assinalável e, por vezes, medíocres mesmo, segundo observações pessoais que temos conduzido de longa data. As actuais condições de exploração traduzem-se, em regra, numa subutilização do solo atendendo à sua capacidade produtiva e às suas grandes potencialidades para a produção forrageira. A adequada valorização destes solos através de prados (quer se trate de melhorar os existentes, quer se recorra à sementeira de misturas de espécies previamente estudadas) dependerá, consoante os casos, de factores múltiplos entre os quais, a natureza e características de cobertura vegetal, o enxugo, o domínio económico da água (na drenagem e na rega), as condições de acesso ao terreno, etc., cujo exame e estudo permitirão tomar as soluções mais aconselháveis.

 

Duas preocupações fundamentais se inscrevem actualmente na Economia agrícola do distrito e, pode dizer-se, na do Noroeste do país.

Uma, de natureza macroeconómica, impele os economistas a estabelecer um balanço dos recursos agrícolas que fundamente uma esclarecida política de investimentos públicos. Visa-se, deste modo, criar infra-estruturas que permitam incrementar e valorizar as produções de leite e carne de bovino para os quais esta Região oferece condições favoráveis no Continente, de forma a responder à procura cada vez maior destes produtos no mercado português e a colmatar os déficits crescentes da produção interna que têm sido anulados pelo recurso à importação nos últimos anos.

Outra, de natureza micro-económica, que os poderes públicos não podem ignorar, toca de perto e afecta a grande massa de agricultores que suportam a crescente desvalorização relativa dos seus rendimentos. Com efeito, à reduzida dimensão da maioria das explorações (que, por isso, só atingem produções brutas globais de valor limitado e consequentemente baixos réditos), (6) juntam-se a deterioração dos termos de troca da Agricultura, relativamente a outros sectores da Economia, e dificuldades crescentes com a diminuição da mão-de-obra familiar e alta dos salários que tornam precária, "Ou economicamente inviável, o funcionamento de tais unidades de produção.

Para obviar a grande parte dos inconvenientes apontados às explorações agrícolas, é condição fundamental aumentar a sua superfície útil para níveis convenientemente estudados, (actualmente, em primeira aproximação, 20 a 30 e mais hectares para o tipo de exploração baseado na policultura-pecuária), tal que possa facultar lucros satisfatórios aceitáveis em termos de comparação intersectorial), assentes no aumento das produtividades da terra e do trabalho. Com este objectivo, pelo menos a curto e médio prazo, salientam-se, segundo nos parece, pela sua importância: a organização do trabalho dentro da exploração redimensionada, integrando-a com realismo na produção agrícola e na produção pecuária (sem esquecer as especiais dificuldades que o primeiro comporta pelo seu carácter flutuante, aleatório e, por isso, exigente em espírito de adaptação e audácia tantas vezes subestimado por quem nunca lhe pesou verdadeiramente as dificuldades), o investimento judicioso em factores de produção de grande e rápida reprodutividade com influência directa na produção (sementes de qualidade, fertilizantes, concentrados para complementação alimentar do gado, / 53 / melhoramento genético dos efectivos, etc.), a introdução persistente do progresso técnico que abarque as actividades da exploração e vise principalmente o aumento de eficácia dos referidos factores, verdadeira alavanca da produtividade da exploração e, por último, o planeamento metódico prudente, parcimonioso dos investimentos em equipamento, máquinas e instalações. (7)

É evidente que o aumento da dimensão da superfície agrícola das explorações não pode ser conseguido satisfatoriamente pela simples aglutinação dos minifúndios existentes (tão numerosas, reduzidas em área e dispersas são, em regra, as parcelas que os constituem). Sem emparcelamento, (8) mesmo com gestão cuidada, a aglutinação de minifúndios na actual situação conduzirá, por certo, a um aumento da superfície agrícola útil das unidades de produção, mas o progresso técnico na actividade do campo ficará inevitavelmente bloqueado, em agravamento de transportes e na reduzida eficácia económica de utilização das máquinas, na falta de oportunidade dos trabalhos, no desgaste de mão-de-obra, bem como na impossibilidade ou dificuldade de introdução de determinadas técnicas de interesse assinalável, nomeadamente, a utilização dos prados através do pastoreio.

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Excelente prado temporário com cerca de 3 ha, cuja instalação se fez à custa de uma composição botânica mista com base em Trifolium repens – trevo branco – (Mira, J.C. I., 1973).

 

A noção simplista de que basta substituir, nas explorações agrícolas redimensionadas, o braço humano pela máquina, mantendo os antigos sistemas de produção, pertence ao domínio das falácias e não das realidades tangíveis que resultam, por vezes, de insuficiente e superficial revalorização da Agricultura tradicional. O observador atento muito pode descobrir nas condições e modo como ela se exerce, nomeadamente no domínio dos solos aráveis, desde a dificuldade dos acessos até ao ondulado do terreno, passando pelas suas, por vezes, peculiares características topográficas, com planuras de extensão variável, entrecortadas por múltiplos vales, frequentemente abertos, nos quais as courelas de cultura estão implantadas longitudinalmente em vários níveis desde a várzea do talvegue.

Com o desejável aumento da dimensão económica das explorações agrícolas (entrevista sob o ângulo do aumento da superfície agrícola útil pois só a esta modalidade pretendemos referir-nos), em geral, toma-se necessário nas condições actuais e correntes do distrito, por imperativos humanos, técnicos e económicos, diminuir a superfície relativa do milho, substituindo-o em parte por prados temporários de regadio que alternarão com aquela cultura forraginosa anual, ou eventualmente com outras, nos afolhamentos e rotações. Nas condições referidas a introdução de prados temporários de regadio é uma urgente necessidade cujas vantagens podem, com brevidade, ser enumeradas do seguinte modo:

constroem e mantêm a fertilidade dos solos, constituindo, deste modo, o alicerce de uma Agricultura permanente (com forte probabilidade desde que a sua duração seja pelo menos de 3 a 4 anos, mas que só a experimentação local poderá determinar com segurança), quer pelo aumento do teor de matéria orgânica, quer pela melhoria de estrutura que podem proporcionar;

– e do mesmo passo reduzem substancialmente a necessidade de estrumes na exploração e, em média, a requerida por unidade de superfície e consequentemente os transportes que anualmente lhes estavam afectos; os estrumes continuarão a desempenhar, porventura, o seu importante papel como fertilizante, mas em escala menor, como é óbvio;

fornecem alimento barato para alimentação do gado vacum, nomeadamente ao gado de leite, rico em proteínas, sais minerais e vitaminas se a sua composição florística e manejo forem judiciosamente considerados;

diminuem o número de mobilizações e lavouras conduzidas anualmente, pelo que um sistema conservativo da matéria orgânica do solo é melhor assegurado;

diminuem os riscos de produção relativamente aos sistemas intensivos em uso e já evocados;

asseguram, em regra, melhores condições de defesa do solo contra a erosão, embora se não possa deixar de admirar, sobretudo ao Norte do Vouga, o que, sob este aspecto, múltiplas / 54 / gerações de agricultores conseguiram admiravelmente realizar com êxito apesar de utilizarem sistemas intensivos de produção.

O mecanismo de manutenção e melhoria da fertilidade dos solos nos sistemas intensivos em uso baseia-se fundamentalmente nos gados e matos e ainda no moliço e junco nas áreas mais próximas da Ria de Aveiro. Pode dizer-se que, durante muitas gerações, os pinhais têm fornecido, através da manta viva e manta morta do seu sub-bosque, um recurso muito valioso para a fertilidade dos solos, retirando ao pinhal o seu carácter de floresta. Em relação ao moliço (e ao junco, também, em parte) pode afirmar-se constituir fundamento precioso dos sistemas muito intensivos dos solos pobríssimos de areia do Moderno e Dunas, confinantes ou em relação com a laguna. (9)

Caracterizam também os sistemas intensivos tradicionais a reduzida importância que as forragens assumem directamente sobre a fertilidade do solo (posto que valiosas como base da alimentação do gado) e a grande soma de trabalho requerido na colheita, transporte e manipulação dos matos e do moliço, não obstante ser o seu custo muito variável com os condicionalismos de cada exploração.

Em resumo, e de um modo geral, pode afirmar-se que os sistemas tradicionais de manutenção da fertilidade dos solos, além de caros, são largamente tributários do pinhal (e da laguna), fundamentam-se na existência de gados e forragens de ciclo anual, reservando-se, porém, às culturas forraginosas um lugar modesto na indução directa de fertilidade.

E os sistemas modernos assentes nos prados temporários de regadio? Nestes consagra-se o prado temporário como a cultura chave ou «pivot» do sistema reservando-lhe um papel relevante na construção directa da fertilidade do solo (além de constituírem o suporte na alimentação do gado). Os benefícios directos resultam do aumento de matéria orgânica e do teor de húmus do solo, em relação com a massa de raizame das Gramíneas pratenses e também das Leguminosas que lhes estão associadas e também do enriquecimento do solo em azoto «fixado» pelas bactérias dos nódulos das Leguminosas e melhoria conferida, em geral, à estrutura do solo. (10)

O gado mantém nos sistemas modernos a sua grande importância sobre a fertilidade do solo, induzindo-a por reposição parcial, directamente através do pastoreio, ou, indirectamente, através das camas e estrumes (ou ainda por outra forma de retorno ao solo baseada na ferti-irrigação).

Sob o ponto de vista da alimentação do gado bovino, a adopção de sistemas baseados na cultura dos prados temporários tem uma finalidade dupla: o aumento da participação da forragem na alimentação de modo a torná-la mais económica e ou mais apropriada aos herbívoros, fazendo baixar a utilização de determinados tipos de concentrados, e também a diminuição do custo de produção da erva, pela substituição parcial de culturas forraginosas intercalares, por culturas de ciclo multi-anual. A substituição nos sistemas intensivos das forragens anuais por prados temporários pode ter o inconveniente de conduzir ao abaixamento da produção de erva por hectare (ou melhor, do número de unidades forrageiras por hectare). (11)

Dado que as despesas de alimentação representam a verba mais importante do custo da produção animal, compreende-se o grande interesse dos prados, principalmente quando explorados através do pastoreio ou também em verde através de corte da erva. Por isso se torna vantajoso regularizar a sua produção e alongar o seu período de utilização, antecipando-a na Primavera e prolongando-a no Outono. Este resultado pode conseguir-se pela exploração racional dos prados temporários com utilização de espécies e ou estirpes mais precoces, mais resistentes à secura estival e de rebentação mais vigorosa no Outono e por manejo adequado. Pode também recorrer-se em certos casos a culturas intercalares outono-invernais (cereais forraginosos, azevém anual e outras plantas).

A partir de plantas pratenses obtidas nos Centros de Melhoramento e devidamente ensaiadas na Região, a revolução forrageira que se impõe tem por objectivo utilizar ao máximo o seu potencial genético de produção, no sentido do abaixamento dos custos unitários da forragem para chegar aos melhores Rendimentos líquidos.

A alimentação do gado bovino nos sistemas tradicionais caracteriza-se por uma profunda variação estacional da forragem ou forragens utilizadas sendo marcada por flutuações de produção e qualidade, ritmadas estacionalmente com períodos de notória carência.

Nos sistemas baseados na cultura de prados temporários, observa-se uma melhor regularização de produção de forragem verde, cuja qualidade (se bem que dependente do regime de exploração e manejo, época e oportunidade de corte ou utilização) varia menos estacionalmente. Mercê de condições ecológicas favoráveis no distrito é possível, com o recurso à rega, em extensas zonas, produzir-se forragem verde, com maior ou menor dificuldade, em grande parte do ano. Deste modo mesmo na quadra outono-invernal de aproximadamente 6 meses (de Outubro a Março), em cerca de metade deste período, pode-se ensaiar a produção directa de forragem verde pela experimentação de técnicas adequadas, certamente e em regra mais interessantes do que o recurso sistemático e inconsiderado ao artificialismo da conservação por períodos demasiado / 55 / longos e não economicamente justificáveis. O recurso à fenação e à ensilagem em explorações agrícolas correntes seria, segundo nos parece, mais indicado para conservação de excedentes de produção em períodos de ponta para cobrir os «vazios» reais, nos quais não fosse possível obter forragem verde, mercê da ocorrência de factores adversos de clima ou outros.

Assim, e em resumo, a adopção de sistemas de produção baseados em prados temporários pode conduzir actualmente a níveis de obtenção de forragem verde da ordem de 6000 – 7000 e mais unidades forrageiros por hectare, correspondendo melhor à necessidade de alimentação dos herbívoros, com menor recurso a concentrados, tornando a alimentação mais barata (na produção de leite e em regimes semi-intensivos de recria), resolvendo mais economicamente o problema da fertilidade do solo, limitando, porventura, o espinhoso problema do sobre-equipamento e diminuindo quer riscos de produção forrageira, quer atenuando os seus desajustamentos estacionais. (12)

A experimentação para o estudo, cultura e utilização de prados e forragens na Região, exige uma consistente actividade técnica apoiada em ensaios de campo, mantidos contínua e persistentemente ao longo dos anos com o seu fluxo inacabado de problemas que se forem propondo e resultados correspondentes a que se chegar.

A necessidade de experimentação, que vise dar resposta urgente a múltiplos aspectos da cultura e utilização dos prados dentro das explorações agrícolas, convém que coexista com a ampla indagação de carácter científico e prático, enraizada nas condições da Região.

Com o fundamento da actividade da Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas, através dos seus organismos especializados, Estação Agronómica Nacional e Estação de Melhoramento de Plantas e actuação, em vários períodos, da Brigada Técnica da IV Região e pela observação local de muitos anos nalguns casos e ensaios culturais recentes, parece-nos de grande interesse a introdução em cultura e ensaio para constituição dos prados de regadio, nomeadamente de tipos e estirpes de valor comprovado, das espécies forrageiras que se indicam seguidamente. Entre as Leguminosas aptas a constituir a base dos prados sobressaem, pela sua importância, Trifolium repens (trevo branco), Trifolium pratense (trevo violeta) e ainda Medicago sativa (Iuzerna). Esta última espécie, de grande capacidade produtiva, parece oferecer maior interesse em oásis de solos e condições ao Sul do Vouga. Podem também estar indicadas, além de outras, para condições especiais e ou difíceis, Trifolium fragiferum e Lotus cornicolatus.

Nas Gramíneas para associar às leguminosas, sobressaem, além de muitas outras, pelo seu interesse, Lolium perenne e o seu híbrido com Lolium multiflorum e também esta última espécie anual, Festuca Arundinacea, espécie dotada de ampla flexibilidade de adaptação e de utilização, e Dactylis glomerata. Todas as espécies indicadas possuem numerosos tipos e variedades de valor agronómico distinto.

O estudo botânico da vegetação dos arrelvados naturais ou semi-naturais da Região foi abordado no interessante trabalho do Professor João de Carvalho e Vasconcellos – «Ervagens naturais – subsídios para o seu estudo», promovido e editado pela Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas em 1936, infelizmente sem continuidade. Existem também alguns inventários florísticos parcelares que fornecem alguma informação e esclarecimentos.

A um técnico preparado, estudos desta natureza podem constituir uma base para a determinação de tipos locais de possível interesse e valor, sob o ponto de vista forrageiro, após a sua individualização na cobertura vegetal a que pertencem, através de observações metódicas e por adequada relacionação de dados ecológicos. (13)

Os referidos estudos podem também interessar à zonagem forrageira da Região, cuja realização se baseia nas inter-relações de solo, topografia, exposição, chuva e humidade, comprimento da estação de crescimento e outros factores que afectem a adaptação, o crescimento, a produtividade e a utilização das leguminosas, gramíneas e outras plantas de valor forrageiro.

Em face da importância económica da produção pecuária a instalação de um Núcleo Experimental de Praticultura justifica-se plenamente como forma efectiva de valorizar a actuação técnica regional. Esse Núcleo poderia ganhar consistência através de um estreito trabalho cooperativo com Agências especializadas da Direcção Geral dos Serviços Agrícolas, como, por exemplo, a Estação de Melhoramento de Plantas e ou a Estação Agronómica Nacional. Após o arranque o Núcleo poderia estabelecer indispensáveis laços de colaboração com instituições regionais de exploração animal, como, por exemplo, a Estação de Fomento Pecuário.

Segundo nos parece, um Núcleo desta natureza deveria comportar, pelo menos, um, ou preferivelmente os dois, meios fundamentais de actividade e estudo, a saber:

a) uma exploração agrícola com as características e dimensão suficiente, representativa de uma determinada zona ecológica;

b) um campo de observação e estudo anexo à exploração ou considerado isoladamente. / 56 /

A exploração agrícola permitiria a inclusão de prados e forragens nos afolhamentos e rotações como forma de esclarecer aspectos técnicos e económicos fundamentais ligados à sua cultura e o apuramento das vantagens e limitações dos sistemas de produção baseados na praticultura e forma de os melhorar.

O campo de observação e estudo reuniria, através da cultura, material genético de diversa origem, sobretudo Gramíneas e Leguminosas, de possível ou reconhecido interesse para a zona considerada (e, porventura, para a Região), nomeadamente:

1) uma colecção de tipos locais devidamente individualizados, dotados de superiores características, de espécies nativas e naturalizadas, podendo, em certos casos, chegar-se à definição de ecotipos;

2) uma colecção de estirpes nacionais e estrangeiras, de possível ou reconhecido interesse regional;

3) uma colecção com produtos do melhoramento forrageiro para ser submetida a ensaios locais, depois de estudo prévio.

Patamar de influências climáticas distintas e zona de complexas condições geográficas e geomorfológicas (que a constituição e características dos seus solos e da sua flora traduzem), a Região de Aveiro é dotada de uma grande variedade de aspectos culturais, oferecendo ao agrónomo e ao ecologista vasto campo de observação e estudo.

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NOTAS

(*) – apenas a vinha assume importância nesta epígrafe, sendo de muito reduzida importância o olival e o pomar.

(1) – Serviu de base, em parte, a uma palestra integrada no Colóquio da II Exposição – Feira da Agricultura de Aveiro – 1973, acompanhado da projecção de diapositivos.

(2) – Pelo que respeita ao conjunto dos agricultores-empresários do distrito, verificou-se recentemente que, cerca de metade, tinha idade superior a 55 anos e apenas 14 % possuía menos de 35 anos (Inquérito às Explorações Agrícolas do Continente, 1968, I. N. E.).

(3) – Como relíquia do passada subsistem ainda os «lameiros» nas zonas montanhosas, entre outros, dos concelhos de Arouca e Vale de Cambra, prados permanentes explorados com Holcus lanatus (erva molar) e Plantago lanceolata (carrajó ou língua de ovelha), submetidos, em regra, a rega de lima e a rega estival, outrora com muito maior representação ao Norte do Vouga e Águeda.

A área de prados temporários no distrito incluída na superfície de terras aráveis no referido Inq. Expl. Agr. Cont., 1968, atingia apenas 194,0 ha.

(4) – Cf. os nossos artigos desta Revista a que nos reportámos nesta parte inicial: «Problemas da reconversão agrícola na orla marítima de areias de Aveiro à Figueira da Foz», 1970, n.º 10, e «Alguns traços essenciais da Agricultura como actividade económica dentro do distrito de Aveiro, no limiar da década de 1961-70», 1971, n.º 12.

(5) – Cf. o «Inquérito às Explorações Agrícolas do Continente», 1968, I. N. E.

(6) – Cf. nota (5) e também o excelente estudo promovido pelo C. E. E. A. da Fundação Gulbenkian: Alfredo Lousa Viana e José Manuel Barrocas, «Estudo Económico da Exploração Agrícola numa Região da Beira Litoral, 1970.

(7) – Se não erramos, a economia em equipamento, máquinas e instalações, a curto e a médio prazo, em explorações redimensionadas deverá ser uma preocupação dominante. Factores fixos de reduzida ou nula acção directa na produção quase todos eles fazem perder flexibilidade de adaptação a muitas empresas inexperientes, pela necessidade de amortização em um determinado número de anos, e pela sujeição a encargos de juros e a reparações por vezes onerosas. Ê manifesto que os gastos nestes factores fixos não estão em relação algumas vezes com a deficiente estrutura e dimensão do empreendimento económico e com a inexperiência e precariedade da preparação humana.

Não é verdade que a maioria do equipamento é importado e é comparativamente caro? Não é economicamente estimável que se valorize ao máximo a terra, factor de produção regional não importado, e o Homem, empresário-agricultor e familiares, de carne e osso (e não abstracções deles), com as suas virtualidades e também defeitos que, por ora, os caracterizam? Ou vamos continuar a embevecer-nos com realizações materiais de duvidosa eficácia económica?

(8) – O emparcelamento deveria ser estudado e realizado para cada casa de efectiva iniciativa empresarial que se proponha e não como panaceia geral, automática, para resolver dificuldades.

Parece-nos que talvez só em casos especiais, por exemplo, manchas importantes de solos de qualidade (aluviões de vales dos rios, etc.), afectados gravemente pelo regime de cheias ou outros factores, que imponham uma intervenção global e urgente dos puderes públicos para sua defesa e recuperação, se justificaria por si só o emparcelamento (além de outras modalidades).

(9) – Seria interessante estudar a possibilidade de colheita e utilização destes produtos, em particular do moliço, com recurso à energia motriz e secagem por ventilação forçada ou outro sistema, tão rico manancial constitui de matéria orgânica, de macro e micronutrientes com interesse na nutrição das plantas e na nutrição animal, como recentes e minuciosos estudos laboratoriais químico-analíticos revelam (comunicação verbal do Eng.º Agr.º V. F. Malha).

(10) – A. Burkart cita na sua preciosa monografia «Las Leguminosas Argentinas» (2.ª edição, 1952, ACME AGENCY, pág. 31) que Hopkins, trabalhando nos Estados Unidos com luzerna, encontrou que, pela sua actividade simbiótica, esta planta, em relação a um rendimento médio, «fixa» por hectare e ano, cerca de 200 kg de azoto atmosférico em solos comuns não fertilizados, o que corresponde, grosso modo, a cerca de 1250 kg (200 kg x 6,25) de proteína bruta por hectare e ano.

Muitos outros exemplos poderiam ser dados (alguns portugueses) que poderiam confirmar o que se indica.

(11) – Nem sempre a quantidade de unidades forrageiras produzida por hectare diminui quando a sucessão anual erva x milho-forragem é substituída por um prado com base em Trevo Violeta ou Trevo Branco e sobretudo em Luzerna. Depende das estirpes dos trevos e luzerna, depende das condições do meio, do manejo do prado que podem fazer variar muito a produção unitária em confronta com a sucessão indicada, com base num milho híbrido de boa capacidade produtiva.

Com estirpes muito produtivas de Luzerna obteve a Estação de Melhoramento de Plantas, em Ervas, em solos favoráveis para esta cultura, em regime de corte, produção superior em unidades forrageiras por hectare e muito mais rica em proteínas do que a proporcionada pela sucessão anual, erva x milho híbrido-forragem.

Na região de Aveiro obtivemos, há anos, sugestões, em ensaios de campo, de que assim acontece, em solos favoráveis para esta Leguminosa forrageira, e em determinadas condições climáticas. Só por via experimental, nas condições da Região, se poderá esclarecer devidamente este e outros problemas.

(12) – Numa exploração agrícola, em solos pobres de areia Mira, (J. C. l.) tem-se procurado resolver o difícil problema da manutenção de uma Agricultura permanente nestas condições desfavoráveis, muito propícias à oxidação rápida. da matéria orgânica da camada arável.

Os resultados parcelares obtidas nos últimos anos são encorajadores, tendo-se conseguido melhorar muito a qualidade, quantidade e regularidade de produção de forragem verde para alimentação de um efectivo de gado bovino da raça holando-portuguesa, composto de vacas de leite e de bovinos em recria.

Assim num prado temporário de 3 ha, com base em Trifolium repens e Festuca Arundinacea, que se apresenta vigorosa, obtiveram-se, no primeiro ano, cerca de 9030 kg de matéria seca por hectare e ano, o que correspondem, aproximadamente, 6 000 unidades forrageiras – produção boa, não constituindo caso único, pois têm sido obtidos resultados comparáveis noutros prados da exploração. Em relação ao prado referido, e para a produção indicada, verifica-se um encabeçamento médio de 5 vacas de leite por hectare durante o período de Abril a Setembro-Outubro.

Presentemente a encabeçamento média anual na exploração é de cerca de 2 vacas de leite por hectare, atendendo à baixa produção de Inverno. Pretende-se nos próximos anos, com a introdução de técnicas adequadas, elevar o encabeçamento médio anual, aumentando a produção de erva no período mais favorável e ajustando melhor a produção na desfavorável. / 57 /

(13) – A título de exemplo podemos indicar, com o suporte da nossa observação e estudo directo, a riqueza de tipos espontâneos com boas características, existentes nalgumas zonas da Região, de Dactylis glomerata. Porventura o possível interesse, para determinadas condições, de Lotus ulginosus, espécie que, desde 1955, nos impressionou favoravelmente quando a encontramos na Região como componente valiosa de arrelvados em locais húmidos. Outro tanto podemos referir em relação a Phalaris Arundinacea, espécie, pelo que temos observado, não isenta de defeitos, mas dotada de boa capacidade produtiva e merecedora de estudo atento, pela profusão de tipos que se nos têm deparado de manifesto interesse agronómico.

 

Nota Bibliográfica restrita

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páginas 49 a 57

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