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N.º 15

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Junho de 1973 

Os benefícios de uma visita Régia a Ovar

Por Arada e Costa

Em 21 de Maio de 1852, pela 1 hora da tarde, entrava em Ovar Sua Alteza Real a Senhora Dona Maria II.

Descera da Ponte Nova para a Igreja Matriz debaixo do pálio, acompanhada do seu numeroso séquito, clero, nobreza, burgueses e a massa anónima do povo, que em grande número a aclamava em delírio.

Como sempre, Ovar soube bem receber. Consertaram-se as calçadas das ruas, caiaram-se as casas e correu-se Seca e Meca para que nada faltasse a tão honrosa visita.

A Câmara viu-se em apuros e vai à Vista Alegre comprar um serviço de louça fina por 26$500 réis; para as roupas dos Vereadores adquiriu no Porto seis pares de meias de seda, seis côvados e meio de gorgorão branco para os coletes e mais longe não foi, porque não podia, pois alugou os chapéus de pluma para os mesmos.

Vinte e quatro frangões, vinte galinhas, peixe da Murtosa, morcelas de Arouca, 28 arráteis de queijo, 13,5 de presunto cru, 6 presuntos de fiambre, cinco arráteis de doce variado, 3 de doce de Aveiro e Pão de Ló de Ovar, num total de 28 arráteis oferecidos pelas Prosódias, Caladas e Russos, fabricantes vareiros desta ambrosia. Curioso que, passados 170 anos, os sucessores de alguns destes pioneiros ainda continuam a fabricar o nosso Pão de Ló.

Foi esta a ementa do banquete, servido nos velhos Paços do Concelho, que Deus haja.

A Rainha muito apreciou a nossa guloseima – o Pão de Ló – visto que até na doçura somos pródigos!

Poliram-se 18 castiçais, 10 salvas e um jarro e bacia, tudo de fina prata.

Na Matriz, pomposamente ornamentada, a Soberana assistiu a um solene Te-Deum cantado por 32 sacerdotes, todos de Ovar, fazendo o elogio o celebrante da missa, Frei Luís Santana Zagalo, nosso conterrâneo e pároco de Esmoriz. No coro, a capela da nossa Música Velha, sob a regência do talentoso maestro Valério. É de frisar que a Música Velha – A Banda Ovarense – conta hoje cento e sessenta e dois anos.

Contratou-se a Banda de Infantaria 6, de Aveiro, por 12$000 réis e à Música Velha deram-se 5$000 réis.

Aos cabos de ordem, chefiados pelo regedor António José da Silveira, deu-se pão e vinho.

As ruas por onde passou o séquito real estavam juncadas de verdes, alçaram-se mastaréus e festões e das janelas pendiam ricas colgaduras de bom damasco verde, azul e vermelho e outras de brocado e matiz.

A Câmara gastou com isto tudo 2375$49,8 réis.

A soberana partiu no dia seguinte para Aveiro, levando a mais viva saudade por este povo que tão carinhosamente a recebeu.

O trajecto foi feito pela ria, em oito barcos mercantéis, ornados em arco com festões e bandeiras. A escolta da rainha foi feita sempre por 87 homens de artilharia e cavalaria.

Daqui acompanharam o séquito os vereadores em traje de gala, o vigário e as pessoas gradas da terra.

A gratidão da Rainha não se fez tardar, extinguindo o julgado de Pereira Juzã e anexando a Ovar as Freguesias de Pereira e Válega. Decreta ainda, e além de outros benefícios, a criação da comarca de Ovar.

Com os benefícios concedidos Ovar progrediu vertiginosamente e, mais tarde, com o alargamento do seu concelho a Arada, Maceda, Cortegaça e Esmoriz, impôs-se preponderantemente na balança e economia da Nação pela grandeza do seu comércio e indústria.

É ainda uma das terras privilegiadas pelas suas belezas naturais, pela índole do seu povo acolhedor, hospitaleiro e franco.

Ovar, Junho de 1973.

 

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